Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – O Orfanato

Capítulo 10: Ato de Garantia

Ainda era de madrugada quando despertou. A falta de calor satisfatório era algo que se tornava rotina. Respiração desajeitada, sinfonia de grilos, aperto no peito, questionamento de uma crise de ansiedade:

— O que eu deveria fazer? — perguntou, angustiado. 

O estado de alerta estava constante, a chance de ter enlouquecido cresceu de um mero fio a uma corda grossa e firme. Alucinações? De onde? Por quê? Seria justo se colocar no lugar de um sentenciado a um manicômio? 

O acidente no ônibus não foi o despertar disso, a manhã na janela via a mente como feito um soco que o fez cuspir fatos. Entretanto, devia permanecer são, o acidente piorou isso. Sensações amargas de estar a deriva de algo completamente incompreensível, deixou apenas anseios para uma contra medida.

O peito ardia, clamar por ajuda pioraria a situação, logo, apertou com a mão o fino fio da outra possibilidade: sonho. “Sonho, sim, só um deles”. Um rosto incrédulo concretizou sobre o chão gelado, Mark foi incapaz de enganar seu cérebro na justificativa simples.

— Não… Droga! — Levantou-se do chão por impulso.

Oxigênio ousava a transitar as narinas sem permissão, arrastava as insatisfações sob o peso da falta compreensão, ser realista num mundo surreal é um tanto… tolo. Mark decidiu ser um tolo então. Pensava que ainda podia estar em coma desde aquele dia. “Por que me adotariam depois de tanto tempo? Só pode ser isso. Não consigo achar outra res…”

“FERVA”. Barulho ignorante passeou pelos ouvidos, ao menos, transmitiu essa impressão. Um vocalista de metal em pleno verso de gritaria. Coçou as orelhas, achou ter ouvido da rua, correu para abrir a janela. Reparou somente na música dos grilos aumentar de volume. 

Pacote completo. Tomentos dos sonhos, tormento dos pensamentos, agora, tormento da realidade. Mark sentiu-se na pele de um louco, passou a mão pelos braços e as encorou no rosto.

— M-mas, o que eu... — Apoiou na janela ao abaixar com um rosto triste. 

Tinha medo do que acontecia, seu receio concentrou na capacidade disto significar algum aviso. “Talvez não seja o único”. O ar passou por muito tempo nos pulmões, acalmou a alma e fechou completamente o zíper da blusa.

— Concentração e elegância… apenas.

A noite chegava ao seu ápice, e o clima se tornava tão frio que era possível enxergar a respiração. Junto a determinação, avistou seu novo objetivo da madrugada: prosseguir, não com uma solução, mas com a investigação.  “Preciso descobrir algo. E precisa ser rápido”, pensou num suspiro. 

Foi rapidamente para a porta, porém, quando chegou próximo, começou a desacelerar os movimentos devido ao barulho no meio do silêncio do orfanato. Não tinha o costume de sair durante a madrugada, a madeira que estalava era imparcial com seus passos; sons que o fazia espremer a cara.

A preocupação se fortaleceu, andou para fora sem nem mesmo fechar a porta.

Caminhava, sorrateiramente, pelo corredor em direção ao seu objetivo, continuou até chegar próximo à primeira porta depois da escada, quando abriu, não teve tanto cuidado quanto a porta de seu quarto — ela não fazia o mesmo barulho.  

Lá estava a pessoa na qual queria conversar, no meio do quarto e na cama ao centro, onde havia mais quatro meninas. Se aproximou, devagar, até a cama e sentou ao lado. 

— Nirda, Nirda, acorda, preciso falar com você — sussurrou. 

A menina fofa abriu os seus olhos e, lentamente, se ergueu em direção do irmão, sonolenta. 

— Ma-Mark? 

— Quero perguntar uma coisa. A gente pode ir pro corredor? Não quero acabar acordando as outras sem querer — sussurrou.

Nirda assentiu ao pedido, as perninhas finas eram imunes ao sistema de segurança sonoro das madeiras — até objetos podem ter suas preferências. Mark fechou a porta do quarto com as mãos trêmulas. Estavam os dois, agora, sem qualquer risco de incomodar os outros. 

— Por algum acaso, reparou alguma coisa estranha nesses últimos tempos? Tipo, qualquer coisa... 

A menina o encarava no fundo dos olhos enquanto uma pausa de longos segundos permanecia — como se processasse uma resposta. Pupilas iam e voltavam de forma, sono custava em abandonar a pequena. A câmera recém-acordada 

— Você escu... 

— Sim, eu reparei em algo. 

A câmera recém-acordada balançou, piscadas voltaram num instante ligeiro, entretanto, Mark percebeu um ritmo estranho. No meio das piscadas, sua pupila estava quase imperceptível. Primeira vez que pensou nisso. Era normal? 

— Reparei que estão me dando muitos “bons-dias” e “boas-noites” — continuou. 

— Tá... Tá bom... — Abaixou a cabeça em decepção.  

O comportamento desequilibrado de Nirda era algo cada vez mais aparente. Louco, Com certeza. Imaginar e até usar sua irmã como prova de suas loucuras se tornou um processo impensável. Acordou a pobre doçura na madrugada, teve sensações esquisitas até nela, precisava parar logo.

— Você teve algum pesadelo... não foi? — Inclinou o corpo para ver o rosto de Mark. 

— Eu... tive. Estou ficando muito ansioso. 

— Deve ser por causa de amanhã, não é? 

— Amanhã?! — Levantou ligeiramente a cabeça. 

Relâmpago, trovões, raios. A espinha de suas costas sentiu a amargura do choque reverso, foi chocado e chocado de novo para aliviar os efeitos do choque anterior com um efeito novo de um novo choque!

Bom, o rosto pálido descreveu isso, o ato do dia seguinte mudaria suas vidas, esqueceu-se de forma sem graça. Esteve lá o surgimento de ma preocupação de retirar preocupações.

Engoliu saliva e passou os dedos nas sobrancelhas. Parecia menos preocupado depois da pergunta de Nirda. Não conseguiu respostas nas quais buscava, mas foi um alívio momentâneo para sua cabeça; pediu para a sua irmã voltar a dormir, dessa forma, seguiu para o quarto com um joinha até o contato visual cessar pela porta.  

Da entrada, a janela estava avista. Duas aberturas inteiramente abertas sem delicadeza, cama desarrumada, o lençou ainda estava no chão. 

A sensação dos ventos tocar a blusa e não sentir a temperatura abaixar foi o suficiente. Combinou sua vontade nisto. Viu uma preocupação nova surgir e não se deixou a outra passar impune.

Mark, o órfão mais velho daquele orfanato, tinha uma missão para cumprir. Renderia distrações a troco do sucesso que amenizaria a ardência guardava; se a certeza que não estava bem for certa, a certeza que seus irmãos estavam bem tinha que tirar prova.

O último passo pesado recaiu a frente da porta. Moveu os ombros para trás, admirou o novo objetivo.

— Só mais uma vez... 

No corredor de portas, logo a frente do seu quarto, uma roubava o foco total, ficou ali por alguns segundos, até repetir: “Só mais uma vez”. Andou em sua direção e a abriu; quando o interior foi revelado, havia um jovem de cabelo branco a dormir. 

— Will, cara, acorda aí, por favor... 

Will não tinha um sono leve como Nirda, precisou insistir mais um pouco para conseguir despertá-lo; queria respostas, mas não queria demorar muito. A delicadeza morreu e agarrou seu irmão, balançou ele como um cachorro feroz fazia com um pano.

— Will, Will, Will, Will, Will... — insistia. 

Will, calmamente, começou a despertar, porém, assim que viu Mark com sua franja branca enorme, grande, gigantesca, imensa e… O rosto desproporcional vinha na imagem fantasmagórica de um devorador de pessoas indefesas que dormiam em paz, Mark.

— M-mano, faz isso comigo não — Resfolegou.

Ergueu o troco e se refugiou nos confins no canto da parede. Se tornou um homem-lagartixa que tentou subir a parede, mas a chuva forte não precisava aparecer. 

— Calma. Só queria te perguntar uma coisa — sussurrou. 

O fantasma se desfez numa semelhança de alguém próximo, covardia da parte dele em assumir a forma de seu irmão.

— Sai daqui, ruim! Meu irmão não acorda de madrugada. xô, xô!

Mark passou a mão pelo rosto e a esticou, frustrado. Se arrependeu de tentar buscar outro objetivo no seu irmão com um parafuso a menos.

— Você... têm notado algo de estranho ultimamente? 

— Fantasma compreensivo… Ah! Entendi! Uma alma penada vingativa de um psicologo! — Medo aflorou e se contorceu mais no canto da cama. 

— Sério mesmo? — Insistiu com seriedade. 

— Caso fosse o Mark de verdade, ele não acordaria de madrugada… mas tem o negócio de amanhã também. 

A tremedeira dele surgiu na conclusão. O detalhe importante fez seu raciocino ruir num tom abatido que o fez esquecer da presença supostamente maligna, olhando para baixo.

Olhos pairavam de cima a baixo do corpo, notou de fato que era seu irmão ali do lado:

— Mark?! Primeira vez que te vejo essa hora. — Perdeu seus poderes de lagartixa, aproximou do seu irmão. — Tá bom, agora despertei…

Will percebeu uma chance que ele sempre queria ter, que era de finalmente se mostrar útil emocionalmente. Seu irmão não continuou, esperava a resposta da pergunta inicial de forma estática. Mark sentou na cama e respirou fundo, aquilo bastou para Will tomar coragem: 

— Lembra como a gente imaginava esse dia quando éramos crianças? Sempre um mar de rosas com várias flores, eu chorando, você me ajudando… — Levantou o indicador ao lembrar do ponto importante: — A gente tem a Nirda no barco e a intenção é mantê-la, ou seja, ficarmos juntos. 

As cenas de quando foram crianças reavivaram, os órfoãos que entravam e sairam, mo final, somente eles restaram. Esse resto seria convertido ao nada, reduzido também a meras lembranças, assim como seus antigos amigos de infância.

— Também estou muito nervoso. Hahaha! Tive muita dificuldade para conseguir dormir hoje, pensando que a partir de amanhã nossas vidas tomam um rumo que a gente sempre esperou. Fico pensando nas nossas mães, eu não quero me desfazer delas, mas isso era algo inevitável, no final...  

— Pelo menos... ficaremos junto, pelo menos, a maioria — Interrompeu Mark, abatido.

— É, se não fossemos adotados, a situação iria piorar e a gente não só ficaria longe delas... 

— E separados.. 

Mark estava triste, e a de Will não estava muito diferente aos poucos. Entendeu a situação e, pela primeira vez, fez algo que imaginou que não iria acontecer; Will se aproximou mais e colocou as mãos em cada ombro de Mark, enquanto dizia: 

— Fica tiste naum, vamos manter contato com elas. O nosso pai adotivo parece ser uma pessoa ótima, tudo será uma questão de tempo, tenho plena confiança no tempo. O “sempre” e “nunca” podem ficar sozinhos, tentamos e tentamos tanto que fica conveniente tirar da frase, porque sempre estamos tentando e nunca paramos de tentar, não é?

Will entendia completamente o raciocínio de Mark. Levantando um sorriso de alívio, teve os questionamentos, que o atormentavam, expulsos de sua mente; sabia que, mesmo com esses problemas, os seus irmãos estavam bem e prontos para apoiá-lo.  

A sua ansiedade havia se perdido. A razão de continuar ali também. 

— Obrigado, e me desculpa ter te acordado essa hora, só queria ter certeza que estava tudo bem. 

— Tranquilidades. — Retirou as mãos ao devolver um sorriso. 

Mark se levantou da cama e retornou. Quando chegou a porta, olhou novamente para Will, que fazia um “joinha”. Ele viu a porta se fechar, a madeira rangiu e seu modo defensivo voltou, enrolou na coberta, tremia a ponto de fazer o quarto acompanhar o movimento.

— Psicologo vingativo. Psicologo vingativo. IHHH.

O ritmo dos resultados da operação do órfão mais velho estava diferente a cada ponto de vista. Após retornar ao seu quarto, Mark gentilmente tentou fechar a porta. Estava logo em frente à sua cama, olhava em pé para ela. “Está tudo bem por agora”. Se jogou com tudo na cama e esperou o sono chegar de qualquer forma.

Talvez realmente estaria tudo bem, entretanto não era o que a Nirda interpretava, ainda estava acordada. Fixou a visão no teto, tentava desvendar o comportamento esquisito do seu irmão

— Por que ele está assim? Será q... 

Engoliu suas palavras, arregalou os olhos, a pupila podia ter seu tamanho comparado a de um átomo. O interpretar da sua perspectiva se encerrou na face incompatível para uma criança.

— Vislumbres. 

Essas palavras tinham um sentido muito forte, não era um simples questionamento esperançoso, era uma afirmação de confiança.

 

Réviz, que estava em sua casa perto das montanhas, sentiu um calafrio que o fez surpreso enquanto segurava a xícara de café. O atentar momentâneo, criou uma onda no líquido, causou desconforto naquele que tentou aproveitar aquilo.

Necessito de um planejamento, haverá dificuldade em convencê-lo. No entanto, Luri será ferramenta para tal. Levarei a ODST do segundo setor — Remexia a xícara.

Tomou mais um gole e apoiou a cabeça com os braços na mesa. Sobrancelhas estreitaram e os ombros tencionaram. 

— Prosseguir. Tornar-me-ei capaz em desvendar responsáveis depois de todos esses anos.

Colocou a mão no bolso de sua calça, puxou um chaveiro que era uma pequena plaquinha de borracha que tinha uma palavra escrita; um nome apagado, onde deixava enxergar somente as primeiras letras “QUI”. Segurou mais forte ao fechar os olhos. “Não só posso... Como também devo”, pensou. Se levantou da cadeira e deixou a xícara na mesa. 

 

Em algum lugar do Primeiro Setor 】 

Estava claro como num dia ensolarado, pessoas trabalhavam e um esquisito som de botões sendo apertados, era Cortax, que jogava vídeo game no prédio do terceiro nível. 

— Você sabia que dava para fazer isso nesse jogo? Se tivesse me contado antes, eu tinha matado esse chefe ontem — Apontava, irritado para a TV. 

Falava com o indivíduo de cabelos cinza no outro lado do cômodo: Dourres 

— Que tal imaginar, hipoteticamente, que não tenho tempo para isto. Estou para começar os preparativos. 

— Tu fica só nisso mesmo, né? Boa sorte... — disse, frustrado. 

Dourres organizava alguns equipamentos. No meio da bagunça de uma grande mala metálica sobre as mãos aceleradas do líder, havia instrumentos estranhos com uma carta do jovem cientista.

— Chegou agora... — Virou-se para trás. — Espero que tenha motivos para essas ausências.

Ninguém mais perto de Dourres, examinou a porta de entrada como um convite nobre, deixou a mala em cima da mesa e prosseguiu para encontrar com a aparição repentina.

— Xiiiiii, ela apareceu — comentou Cortax.

 

 

 

 



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