Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – O Orfanato

Capítulo 7: "Ré"

Ambiente vibrante, calmo, sereno, tranquilo, silencioso, aconchegante, receptivo e distorcido; com um chão levemente frio. 

Deitado em meio as árvores verdes, tinha um cabelo branco, corpo todo sujo de terra e roupas rasgadas, existia um corte maior em sua perna, mas só estava gravado em sua calça. 

Lá despertava Will, no local do acidente. Ao se levantar devagar, vagamente retomava a consciência. Seus olhos piscavam ao tentar focar em outra pessoa, que estava estirada no chão logo ao seu lado.   

Começou a olhar em volta, via pedaços de metal e vidro por toda parte. Acima, atentou-se para a pista enquanto tentava reunir forças.  

Viu uma silhueta de um homem muito estranha e turva, uma aparência familiar que trazia curiosidade. "Perdi alguma coisa?" Esfregou os olhos ao dar passos mais a frente e, quando retomou o para a figura, não havia mais nada.  

Sua mente estava tão em branco quanto seus cabelos até que, de repente, a ficha caiu. Agora, entrou em choque junto do seu velho nervosismo. 

— Mark! — gritou ao reconhecê-lo. 

Levantou rapidamente e soltou alguns espirros com o movimento. Observou o deitado de barriga para baixo e tentou acordar balançando-o.  

Retomou com um rosto agoniado aos céus, percebeu que ainda estava de manhã... céu ensolarado; estavam a ligeiros minutos depois do acidente. Recusava pensar em quaisquer chances dele estar morto, colocou o ouvido sobre o peito do irmão, saliva travou na garganta... saiu feito um tobogã de alívio. 

Não devia perder tempo, já que, apesar do coração ativo, poderia ter acontecido muita coisa.  

Will subiu um pouco mais o morro até chegar perto do ônibus, que havia sofrido o acidente. Avistou o motorista ainda acordado, preso no banco do ônibus com o sinto que o deixava de cabeça para baixo.  

Tentou entrar no veículo para socorrer ele, mas tudo ao redor tremia junto ao nano passo para dentro. Era questão de tempo para que o ônibus saísse de sua posição. 

— Não chega perto! — gritou o motorista enquanto apontava. 

Will hesitou em dar outro passo impulsivo. 

— Esse ônibus vai sair do lugar. Você precisa sair daqui! — continuou. 

— O senhor está sagrando, você precisa... 

— Ficarei bem! Já acionei a ajuda antes de apagar, o sinal já chegou lá. — A direção do seu indicador foi para um botão embaixo do painel. 

O via com a cabeça suja de sangue, queria muito ajudá-lo, só ficava ainda mais nervoso quando o ônibus tremia.   

— Se você quer me ajudar, vá lá em cima na rua e ajude-os a nos encontrar, por favor! 

Saiu com passos delicados, a tentativa de segurar as mãos que se viciaram em ir aos fios de cabelo eram inúmeras. Assentiu com esforço. Olhava para trás ao subir o morro, verificava, mais e mais vezes, como os dois estavam.  

Mark permaneceu logo mais abaixo do ônibus instável. Uma cena com potencial ainda mais perigoso vinha em sua mente. “Nunca quis tanto faltar aula!” 

Alcançou a rua, notou as densas marcas de pneu sobre o asfalto, os ombros arrepiaram com a sensação de ser arremessado feito um boneco. 

Caminhou só por alguns segundos e já pode ouvir a sirene dos bombeiros. Não sabia quanto tempo passou inconsciente, então gostava de imaginar que a ajuda chegou realmente rápido.  

— Que bom.  

Bombeiros desceram velozmente e seguiram a indicação da direção de Will. Logo, avistaram o ônibus e começaram a agir. 

— Vejo um garoto e homem adulto, senhor! — disse um dos bombeiros, que descia o morro. 

Outro bombeiro, cuidadosamente, tocava no ônibus, que percebeu a sua instabilidade. 

— Senhor, fique calmo, vamos prender o ônibus. Respire fundo e devagar — disse outro, que averiguava pelo lado de fora. 

O motorista deu um sorriso com a chegada da ajuda, mas não durou tanto por sentir dor na mesma hora.  

Will observava o trabalho dos bombeiros e ficou impressionado. “Só tem brabo aqui”, pensou ao arregalar os olhos. O último a chegar o abordou ali na pista, começou a checá-lo de cima para baixo: 

— Você está bem? Seu nome? — perguntou rápido. 

— S-sim, eu estou, sim. Meu nome é Will — respondeu, assustado com a aparição repentina. 

O bombeiro emitia uma presença bem segura, analisava suas roupas e, especialmente, o corte grande que havia em sua perna. 

— Você tem sorte, seja lá como foi, você ficou a centímetros de não se machucar. — Apontou para perna. 

Will assentiu, porém, seu olhar destacava receios. Seu irmão estava em uma posição estranha no acidente, precisaria perguntar a ele mesmo depois que acordasse. 

— Não vamos conseguir retirar o veículo agora, vamos nos certificar que ainda esteja aí quando a outra equipe trazer as "armas grandes" — continuou. 

— Senhor! — exclamou outro perto do ônibus ao acenar. 

Tinha Mark nas costas, subia de volta a pista para prestar os devidos socorros — era o mais forte. 

— Bom trabalho. Coloque-o perto do caminhão e deixe os outros cuidarem dele, agora, vá auxiliar com o ônibus.  

O que houve de verdade? Ele foi literalmente projetado de um morro através do vidro do veículo, por que ele está bem? Por que seu irmão estava tão mal mesmo com apenas roupas empoeiradas? Estava... confuso. 

— Conhecido seu?  

— É o meu irmão... de-de criação. 

Abaixou a cabeça depois da pergunta, estava com um rosto abatido. O bombeiro, que comandava o resgate, deu um tapinha nos ombros.  

— Vamos cuidar de vocês. Poderia nos contar o que aconteceu de fato?  

Engoliu seco e tentou explicar, desde a saída em frente ao orfanato até simplesmente tentar ajudar o motorista com o ônibus no meio do ar. 

— Coloque muita sorte nisso! — exclamou o bombeiro depois do depoimento.  

Não parecia estar preocupado, a situação, no geral, não envolvia risco de morte de ninguém, mas um caso de sorte em que a maioria teria bons atestados. 

— Já pegamos todos, senhor! — disse o bombeiro mais forte, carregando o motorista. 

O motorista olhou de volta e fez um joinha, o jovem de cabelos brancos respondeu ao dar um sorriso forçado. “Mas eu fiz nada”. 

— Vamos encaminhá-los para um hospital aqui perto. Já sabem que estamos indo. Pode nos dar o contato dos seus responsáveis? 

— Responsáveis? Ah, tá. T-tá… já entendi.  

Pegou seu telefone do bolso, tinha um aranhado na tela. Mostrou o número das empregadas. 

Deixaram o ônibus para ser retirado depois. 

A figura encapuzada ainda observava, retirou o capuz e revelou uma franja branca com formato de hipérbole. 

 

 

Quando chegaram no hospital, fizeram uma checagem superficial. O motorista estava bem, recebeu alguns pontos e já foi liberado mais tarde, mas, para o outro, era outra história. 

As enfermeiras o levaram a sala de emergência, Will esperava um bom tempo no lado de fora. Meia hora se passou, a posição de medo permaneceu clara mesmo de longe. Uma enfermeira o encontrou e contou o que foi concluído: 

— Tentamos acordá-lo enquanto já adiantávamos alguns exames. Ele não corre risco de vida. Tudo indica que está sobre um estado de coma — disse a enfermeira, calmamente. 

— Ma-mas por quanto tempo? — perguntou Will, receoso. 

— Não há como saber — completou o médico mais atrás. Tinha muitos papéis em sua mão, mexia neles como se tentasse os organizar em uma ordem específica. — É muito difícil lidar com esse tipo de coisa, pode ser em segundos, minutos ou até dias, mas, de qualquer maneira, é algo incomum — continuou. 

— Vamos ter que deixá-lo aqui no hospital até acordar — comentou a enfermeira. 

A atenção de todos foi voltada para a porta da sala de espera, onde havia chegado uma mulher e uma menininha com passos apressados. 

— Cadê os dois!  — disse Maria, preocupada. 

As duas procuravam pela sala com os olhos frenéticos até encontraram o jovem de cabelos brancos. Maria correu em sua direção. Nirda olhava para os dois com uma cara triste.  

— O-o que aconteceu? Só falaram. Que. Teve um acidente. E. Que era para vim aqui no hospital — indagou enquanto tentava engolir o choro. 

— Tá tudo bem, Maria, apesar do susto... deu quaaase tudo certo — comentou ao abraçá-la. 

Lágrimas escorriam dos olhos de Maria, tentava os secar com as mãos, incessantemente. 

— Quase? — perguntou Nirda. 

Respirou fundo, percebeu que, mesmo sem contar todos os detalhes, as duas já estavam naquele estado. Queria muito evitar ter que contar aquilo, porém prosseguiu: 

— O motorista está bem agora! Os bombeiros fizeram um ótimo trabalho com o ônibus, acho que já foram tirar o ônibus de lá, também acho que… — Sacudia as mãos. 

— O Mark. O que aconteceu com o Mark? — dizia Maria, pausadamente. 

Nirda fechou os olhos, esperava apreensiva a notícia que iria escutar. Ao notá-la, agachou e colocou a mão sobre a cabeça da menina, olhou nos olhos de Maria ao seu lado e respondeu: 

— Mark está num estado… estranho, segundo o médico. Não se machucou, seu coração está normal e… 

— O médico te disse tudo isso? — perguntou Maria, em um choro. 

Nirda ergueu sua cabeça novamente e prestou muita atenção, sua preocupação esvaiu instantaneamente como se já esperasse — uma reação esquisita para aquela hora. Os três permaneceram em silêncio. Apesar de ter outras pessoas ali na sala de espera, era notório o clima de tristeza próxima à entrada. 

— Ele vai ficar internado, o médico e a enfermeira, provavelmente, irão permitir que alguém o acompanhe. 

— E eu posso ficar aqui? — disse Nirda, esperançosa ao cutucar Maria. 

— E-eu não posso ficar aqui muito tempo... 

Maria respirou fundo e secou com as mãos as lágrimas que haviam escorrido, a tristeza e a angústia se controlaram.  

— Eu sei, mas eu já vou ficar aqui queira ou não, afinal, até agora eu não entrei em pânico, então tá tudo ok, não é? — comentava com um sorriso no rosto enquanto disfarçava a talvez nada perceptível a tremedeira tão aparente. 

Maria soltou um sorriso singelo, e o seu clima de tristeza sumiu ao notar o esforço dos dois. Nirda, invés disso, estava impaciente: 

— E eu! Vocês não me responderam! — gritou. 

Todos ali da sala voltaram seus olhares para os três, porém, ao ter a atenção dispersado, continuou: 

— Eu também quero ficar aqui, eu também quero ficar com o Mark, eu também quero ficar com o Will — sussurrou, com vergonha. 

Will deu um leve cafuné na cabeça de menina. Se levantou e depois olhou nos olhos de Maria. 

— Sem objeções, hum? 

Vinha um enfermeiro do corredor. Se atentaram para ele e esperavam se aproximar. A imagem de um verdadeiro enfermeiro era esquisita. Tudo ali deu calafrios em Will, que sentiu que detalhes fugiam constantemente. Ainda falta algo nessa história. 

— Já está tudo certo com a sala, vocês são os familiares do Mark, não são? Podem me acompanhar. — Indicou o caminho. 

Os três o seguiram. Repararam que só havia o jovem lá sem sua blusa favorita. Maria puxou o celular de sua bolsa e tirou uma foto, mandou para todos que eram conectados com o orfanato, visava não só para espalhar a notícia, mas diminuir a preocupação de Martia.  

Quando a outra mãe recebeu a mensagem, pulou dentro na cozinha e, com as mãos molhadas e sujas de sabão, pegou seu celular a analisou cada detalhe da foto.  

Ficou um silêncio levemente desconfortável ali na sala de internação. Clima de velório e a necessidade de algum acompanhante contestavam. 

— Se vocês quiserem, podemos permitir até dois acompanhantes. Costumava ser apensar um, só que, dada as circunstâncias do paciente e do preenchimento da sala...  

O lugar vazio não era problema, pelo contrário, detalhe crucial era a maneira que a menininha olhava em volta, o rosto sutil de uma observadora das entrelinhas. 

— Não poderei ficar essa noite... Deixarei Will aqui. 

— Maria! Nirda já é grandinha e eu posso cuidar dela. E-eu tenho dinheiro guardado para ocasiões assim e… — Averiguou os bolsos furados. 

Os dedos petrificaram, seu rico dinheirinho voou junto dele pelo ralo chamado de “janela”. 

— Eu sei, eu sei. Queria saber se você tinha certeza! Hi. — Cutucou as bochechas do garoto. 

Nirda ficou muito feliz com a aprovação. A empregada olhou para o rosto de Mark, rapidamente desviou o olhar. Os deixou ali e saiu da sala. A mulher se transformava a cada passo. Pouco antes de sair, chamou o enfermeiro para conversar no lado de fora da sala; os outros dois não repararam, pois discutiam como iriam dividir a noite. 

— A-algum problema, senhora? — O enfermeiro olhou para ela, desconfiado. 

— ESTAVA AQUI QUANDO OS BOMBEIROS CHEGARAM? — despejou tormento em um tom sério e irritado. 

Se aproximou, cada vez mais perto, o que fez o enfermeiro se afastar para não cair. 

— C-calma, senhora… Sim, eu estava. 

— Por favor... me diga o que aconteceu! — pôs seu indicador próximo ao rosto dele. 

Ele disse tudo que sabia, desde a chegada dos bombeiros no local do acidente, o depoimento do motorista, os exames e até depois que saíram para auxiliar a retirada do ônibus. 

 

No momento atual 】 

 

Era de madrugada no hospital, estava muito escuro e quieto.  

Na sala de internação tinham apenas três pessoas, que dormiam em paz, até que um barulho surgiu ao lado de fora, onde apareceu uma figura estranha na janela. Em um pulo, entrou e se aproximou de Mark antes de emitir luzes estranhas. 

Nirda estava ali e tinha os olhos arregalados em um sentimento de ódio. Uma expressão que nenhuma criança conseguiria ter em seu rosto. 

Depois que o sujeito estranho saiu, ela se levantou e fechou a janela. Encarava o lado de fora com os olhos vermelhos, macabros e brilhantes, então retomou para Mark dormindo, dizendo: 

— Tem algo de errado. Não era ele quem devia vir aqui. “Ré”... “Ré” e alguma coisa. 

O comportamento estranho permaneceu ali na janela. Olhava para os morros e teve uma percepção que não devia: 

— Parece que finalmente acharam o paradeiro de Marcos. — O vermelho dos seus olhos se transformava em rubis brilhantes. 

A menininha que agia como uma adulta, ficou lá até mais tarde. A vista das montanhas realçou sua presença feito uma assombração do pior dos pesadelos. A menina fofa, não estava lá. Era outra coisa. 

Foi à cama, inconformada junto a passos pesados. Se sentou e permaneceu lá, encarava os dois em sua visão. Uma guardiã sombria que virou pedra até amanhecer. 

Tinha algo no chão? Nada, o rosto amedrontador se perdeu nos pensamentos. Sua atenção acabou após ser sequestrada pelo despertar do sujeito próximo à janela, Will, que estava a se espreguiçar e estremecer tudo ao redor. 

O rosto infantil retrocedeu a presença. O irmão nervoso olhava apenas coçava os olhos enquanto o delay mental agia até que deparou com a menina.  

— Ai, não! Eu dormi na minha vez, de novo... — disse, desanimado.  

— Fica tranquilo.  

— Tranquilo? Você não ficou acordada o tempo todo, né?! 

— A enfermeira revezou comigo — respondeu Nirda ao sair da cama. 

Logo depois, ele se levantou e encarou Mark. Respirou fundo e olhou pela janela atrás dele — destacou a decepção de não o ter visto bem. 

Os olhos de Nirda se contraíram ao ver seu irmão naquele estado, então, deu um passo à frente e... macabro. Rubis apareceram e a menina transfigurou para o sorriso distorcido. 

— Ele acordou.  

Will reagiu rapidamente com espanto ao se virar para ela, imaginava em ter ouvido algo completamente diferente.  

— C-como assim?  

— Na madrugada. — O rosto fofo estava lá. 

Will se apoiou na cama de Mark em um pulo e olhou diretamente para a sua irmã.  

— Pode mexer nele, dessa vez ele acorda, hahaha — continuou Nirda, com um sorriso no rosto após vê-lo animado.  

Ele analisou o corpo em sua frente, notou o cabelo de seu irmão com atenção — estava ligeiramente diferente do que lembrava.  

— Mark! Mark! — gritou Will.  

Sacudiu seu irmão inúmeras vezes até que, enfim, começou o despertar tão aguardado. A não tão belo adormecido capturou o rosto um sorriso maior que a cabeça.  

— Q-que é? — perguntava, sonolento.  

Ergueu seu corpo, ainda sentado, e Will deu um abraço muito forte nele.  

— Contei para ele — destacou a menina.  

Lembrava de ter pedido para que não contasse sobre ter saído do coma, mas não conseguia ficar com raiva, já que, recebia um abraço da pessoa que salvou. “Nada de sonho”.   

— Cara! Me fala! O que aconteceu? Do que você lembra? Ainda lembra seu nome? Idade? Onde você mora? Quem é a ge...  

— Um momento, rapaz! Devagar, por favor, eu vou contar o que lembro — afastou com delicadeza para longe.  

Nessa hora, pensou em todas as coisas esquisitas que testemunhou no dia do acidente. Tentou prosseguir com uma explicação, mas se interrompeu; não teve coragem de dizer algo sobre qualquer coisa e só inventou o mais óbvio. 

Will não havia percebido, mas a falha tentativa de iniciar algo foi muito claro para Nirda.  

— Quando acordei e vi você, após ter caído para fora do ônibus, tentei ajudar. Fiquei desesperado e corri para te socorrer, mas acabei caindo quando tropecei em um pedaço do ônibus que tinha no chão. Só ladeira abaixo, e-eu acho...  

— Entendi. Você estava no chão de barriga para baixo, logo em minha frente.  

Nirda prestava atenção cada detalhe, tentava absorver tudo com olhos grandes que brilhavam em vermelho.  

Mark ficou feliz em ter sucesso na sua explicação. Estava determinado a não contar coisas que não tinha certeza, afinal, sabia que existia algo anormal.   

A menina notou o relógio na sala com preocupação, pois, agora, deveria concluir sua tarefa da madrugada.  

— Vou chamar a enfermeira! — Exclamou ao ir, apressada, para a porta.  

Os dois estavam felizes, apesar de rápido, o objetivo de Mark estava concluído. A porta se abriu e os alertaram. Sua irmã trazia, os mesmos enfermeiros de antes.  

— Que bom que acordou, Mark! Sua amiguinha nos avisou que está tudo bem, já chamamos alguém do orfanato para passar aqui. Assim, devido ao procedimento padrão, nós faremos uns exames rápidos para que médico possa analisar, tudo bem? — disse o enfermeiro.  

Mark estava contente que ia voltar tudo ao normal, apenas assentiu sem hesitar. Teve o soro retirado pela enfermeira.  

Nirda estava ao lado do enfermeiro, ficou ali parada ao olhar para os papéis que ele segurava. Acabou por perceber uma anotação incomum em hospitais daquele tipo: “nível três”. Desaprovação reinou sobre seu ser de forma raivosa. Conhecia o significado disto. 

Após um tempo, os três estavam na cozinha, onde terminavam de comer. Will devorava os pães, Mark comia alguns biscoitos e Nirda terminava um leite, porém, todos foram interrompidos quando duas mulheres se aproximaram; as empregadas.  

Elas se identificavam, com pressa, para os enfermeiros e médicos ali no local. Mark ficou muito feliz em vê-las, se levantou e deu um abraço nas duas.  

— Não me dá um susto desses não, cara! — disse Martia, com lágrimas no rosto.  

Maria também estava emocionada. Os outros dois assistiam, aliviados por tudo acabar.  

Nirda estava atenta para qualquer palavra, principalmente vinda dos médicos e enfermeiros, seu olhar se estreitava para qualquer movimento que faziam: 

— Concluímos uns exames durante a chegada de vocês, tudo deixa a entender que Mark está bem e que não há razões para mais preocupação. Mark acabou de receber alta e já pode retornar para casa. 

Mais tarde, Mark finalmente saiu de volta ao orfanato junto a todos os outros. Foram atacados por crianças sorridentes enquanto outras choravam pela chegada feliz.  

Depois de toda a recepção, pegou suas coisas e foi para o seu quarto organizar tudo novamente. Ao se trocar em frente ao espelho, pegou sua blusa favorita em sua mochila. Se olhava no espelho e reparou listras brancas diferentes. “Tem mais do que lembrava”.  

Will, em um chute, invadiu o quarto.  

— Mark! Mark!  

Se assustou e fechou o espelho — sentiu um déjà-vu.  

— Acabei de ver aqui, tá tudo certo com o colégio!  

— Ah tá, tá bom. Eu não iria precisar ir depois do dia do acidente mesmo — comentou, sem preocupação.  

— Ah, só para garantir, né? Afinal, tá tudo bem com você, né?  

Mark lembrou novamente daquelas coisas todas. Parecia que não queriam que só ignorasse tudo como um enlouquecer aleatório. Respirou fundo e respondeu:  

— Tá, sim. Se der algum problema, pode relaxar que dou um jeito.  

— Beleza — encerrou, aliviado, antes de fechar a porta.  

Will saiu novamente para o corredor, estava indo direção à cozinha.  

Tinha algo diferente, extremamente diferente. Depois de um bom tempo, um desconhecido andava pelo orfanato. Teve seu pensamento totalmente centrado a um homem estranho que subia as escadas.   

Passou por ele, mas não se preocupou. 

O estranho foi até a sala da diretoria, estava sob o atentar constante da menininha que tinha a expressão quase desumana.  

Depois de um longo tempo na sala, a reunião continuava:  

— Você sabe que isso é muito importante — afirmou a diretora.  

— Já estou pensando nisso há alguns anos — respondia o homem com as mãos inquietas. — Sou novo aqui, queria dar um jeito na minha vida depois de servir por muito tempo.   

— Muito bem. Analisei os documentos e parece estar tudo certo — comentou em um suspiro.  

— Já posso prosseguir com a adoção?  

— O processo é meio lento, embora o mais importante seja eles receberam a notícia. São os mais velhos... será difícil para todos nós.  

A diretora passava os olhos nos documentos, não para verificar, mas para aceitar que os veria ir embora. Pegou as folhas e guardou em uma gaveta, assim, com um olhar abatido, abriu a porta da sala ao olhar para o sujeito.  

— Vai lá conversar com eles, Réviz.  

 

 

 

 



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