Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – O Orfanato

Capítulo 1: Permissão

Um lugar tão calmo, onde os barulhos minuciosos ecoavam como verdadeiros alarmes, existia no meio de um silêncio frio e agoniante duma cidade adormecida.  

A brisa do vento gelado expulsava seres vivos que tentavam permanecer fora. A tensão do vazio era inconstante. Postes mantinham a rua visível na cidade, entretanto um deles se revoltava em manter a segurança. 

Piscava, várias e várias vezes, com tentativas de iluminar não só a rua, mas também um beco entre os prédios. Causava uma sequência incessante de breus. O soar dos ventos alertavam uma chegada.  

Passos vinham do beco, cada vez mais fortes, mais altos e mais... calmos. Até que, pouco a pouco, a silhueta de um homem surgia lentamente.  

Os intervalos entre as falhas do poste aumentavam a cada segundo, mas foi completamente inútil, o escondido se revelava junto a uma naturalidade anormal.  

A rebeldia da luz acabou. A presença daquele homem, de alguma forma, foi o suficiente para o ter consertado. 

Lá estava com os olhos fixos no final da rua. Alto, um cabelo longo e cinza, olhos cor de prata e cílios que tinham um grande destaque amarelo, blusa e calças jeans. Descrições numeradas e simples demais para a ocasião. Civil quase sem destaque; uma máscara preta, que cobria sua boca e nariz, deixava curiosos nas janelas assustados.  

O item estranho não trazia sinal de justificativa, porque estava suspenso sobre seu rosto como se a pele apossou dela para si. 

Através de um rosto calmo, ignorou os arredores. O silencio frio não era nada. Caminhou devagar e atravessou a rua com passos que não eram mais notados.  

— Por que você está aqui? — perguntou, devagar, enquanto parou a caminhada. 

Um instinto perspicaz, o barulho anormal do vento trouxe consigo um gato branco, que permanecia sentado em sua frente, num piscar de olhos. 

Olhou para sua trajetória, retomou ao gato, e só caminhou novamente. O gato o seguia sem disfarçar. 

— O jeito que você é me dá arrepios, Dourres. — Soou uma voz feminina da boca do gato.  

Ele parou quando escutava, e não demonstrou nenhum alarme, seus passos desaceleraram e colocou as mãos no bolso. 

— Vou anotar esta mesma reclamação. 

— Sério? Caminhadas noturnas? Você ficou lélé? Tem que ser num lugar esquisito assim? E nem sequer fala... 

— Primeiramente, eu sempre fiz isso e, por último, não é da sua conta.  

Voz diferente, possuía um comportamento esperado por pessoas desanimadas, sem demonstrar interesse em nada.  

— Arrepios! Muitos deles! — comentou, exageradamente. 

Prosseguiram até se aproximarem do lugar que o homem tanto olhava. Estavam perto de um banco.  

Um ruído pairou pelos ouvidos, o homem se jogou atrás de uma máquina de bebidas com velocidade notável. 

— O que você está fazendo? — perguntou, assustada. 

— Abaixe-se — sussurrou. 

Alguns segundos se passaram, três figuras apareceram como um grupo de encapuzados. Dois deles tinham barbas bem perceptíveis, e todos continham uma tatuagem com uma estrela que sorria nas mãos.  

Sobrancelhas de Dourres contraíram ligeiramente seu olhar afiou ao reconhecê-los. 

 

Um deles pegou do bolso um dispositivo estranho, que parecia um celular, e prendeu-o na porta do banco. Os outros dois vigiavam qualquer movimento nas redondezas.  

Uma sequência de três “bips” foi emitida do dispositivo — um processo de hack. 

Os observadores noturnos estavam atentos a cada centímetro do ato. Viram a porta do banco se abrir e revelar todo seu interior. As figuras entraram rapidamente e fecharam a porta com pressa, saltitavam e sorriam. 

O homem suspirou, bastou ver o sucesso que já retomou ao seu verdadeiro objetivo. Foi cautelosamente até a porta do banco. Seu rosto estático não demonstrava qualquer motivação...  nada — homem-estátua. 

— QUÊ?! Você não vai fazer algum absurdo, né? ? — indagou a gata enquanto controlava sua voz, que saia alta por um momento. 

Dourres encarava as mesmas figuras pelo vidro com seu rosto gravado em tom monótono de indiferença, ao contrário da gata que continuava a olhar atrás da máquina. Os pelos se levantaram, seus dentes foram pra fora e seus olhos arregalaram. 

— Vem ver isso.  

— Arreepiiiios! 

As figuras estavam desatentas sobre o lado de fora, corriam tão à frente no banco.  

O homem percebia o prazer maléfico dos assaltantes. Estendeu o braço e não importou com o que brilhava, uma luz surgiu feito um curto.  

As orelhas da gata se voltaram atentamente para escutar a eletricidade que fluía. A postura dos dois estavam rígidas por igual, o chiado soava e a energia destacou seu o lado mais estranho de Dourres. 

Os invasores se espantaram ao terem notado aquilo, correram em direção à porta, raivosos por terem sidos descobertos. 

— Permissão. 

Um pico de barulho prevaleceu, ecoou pelos arredores. A descarga ascendente se espalhou de sua mão, varreu o banco por cada centímetro. Os assaltantes viram as faíscas procurarem objetos específicos.  

As portas trancaram e todas as luzes do banco se acenderam uma de cada vez. Uma das figuras tentou abrir as portas e, depois de uma única tentativa, tentou quebrá-la com empurrões.   

Hum... 

Somado com o fato do seu rosto estático milimetricamente desde o início, seu rosto pálido fez os outros dois darem pessoas para trás. 

A caminhada noturna se encerrava com a mais fácil tarefa de capturar os assaltantes. 

O outro suspeito puxou rápido o mesmo dispositivo anterior, tentava destrancar a porta, mas o terceiro som da sequência não se propagou.  

— Era isso que queria fazer?  

— Vou usá-los como aviso. — Ele apontou para seus objetos ambulantes.  

— Vou PEGAR você, seu filho da p... — rosnava a figura próxima à porta. 

O alarme tocou a todo volume no banco. Os chutes e socos inquietos aceleraram para sair. Ainda era possível ver suas bocas mexerem, porém, o alarme e o vidro deixavam as palavras inaudíveis. 

Dourres seguiu seu caminho e continuou a descer a rua que existia à direita do banco. 

— Vamos, Beatrice. 

Ela deu a língua para as figuras ainda presas e prosseguiu com o parceiro.  

— Da próxima vez, não me preocupe. 

— Por acaso, achou que iria me machucar? Você devia ficar mais na linha de frente. 

Voltaram para o caminho. Adentraram na escuridão, se uniram ao desconhecido. 

 “Simples”, encerrou o homem. Uma proeza feita sem demonstrar qualquer alteração em seu rosto. 

【No amanhecer em outra cidade ao leste】 

— Recebemos imagens importantes do Primeiro Setor. Um banco foi invadido em um evento peculiar. Câmeras não capturaram o momento da invasão, pois as filmagens apenas mostraram segundos posteriores em que as luzes acenderam e revelaram bandidos que se trancaram no banco. A polícia foi acionada no momento em que o alarme foi disparado. Dessa forma, as análises evidenciam um dos suspeitos falando enquanto emitia gestos para algo no lado de fora do banco. As investigações foram inicia... 

A voz de uma mulher, que vinha de uma TV simples, reverberava numa sala de um orfanato. As cores vibrantes em volta traziam otimismo, e a sensação de imensa liberdade vinha na sala grande.  

O evento da noite passada apareceu em um aviso de perigo e receio. Quando a notícia foi interrompida por um impiedoso controle, evidenciou o alarmar sincero sobre o sofá: 

— Nossa! Acordo de manhã e a primeira coisa que vejo são coisas esquisitas, já sei que o dia vai ser normal. 

Tinha um cabelo e pele de cor escura, e estava estampado em suas roupas que acabou de acordar.  

Atrás estava as escadas, era possível ouvir passos que as desciam e avisavam a chegada ao redor do grande cômodo.  

— Martia! Mal acordou e já está na TV, que folga a sua, não é? — comentou a outra mulher, que chegava com passos rápidos e desajeitados.  

Era alta e usava um pijama com estampa de animais coloridos, seu cabelo petrificado era a prova de sua pressa e a falta de sono.  

— Acabou de dizer quem acordou só agora, Maria. 

Uuah. — Bocejou. — Foi mal, tive uns problemas de insônia. 

— Sem problema... Aliás, como estão os dois? Já não deviam estar se preparando? — Apontava para o andar superior. 

— O Will já acordou, e o Mark deve estar nos seus cinco minutinhos. Vou lá dar uma olhada.  

Os passos ligeiros retornaram para o início da escada. Martía se levantou para que a ouvisse: 

— Se ele não acordar, deixa que levo um copo d'água para acordar ele de novo!  

O corpo de Maria se tornava menos travado a cada passo. O sorriso tímido apareceu ao ver o corredor extenso do segundo andar. Colocou os ouvidos na última porta e ouviu um despertador, que tentava incontáveis vezes acordar alguém. 

— Humm... ainda não sei não, hein, rei — soltou bem baixinho. 

Não estava consciente de verdade quem estava no outro lado. O seu corpo agia sozinho para acertar o interruptor e desligar o barulho.  

Maria ria de forma contida, olhou para os lados e sucintamente seus cabelos se tornaram lisos, atingiram o chão — agora, o sono partiu por completo. 

— Minha chance. 

Deu pulos para trás, balançou os ombros e correu à porta. 

— BOM DIA, FLOR DO DIA! — O chute forte abriu a entrada. 

— MAs que... ai! 

Foi pego de surpresa ainda inconsciente. Ela o fez cair da cama e acertar o chão, arrastou o lençol que ainda estava preso em volta do seu corpo. A moça não conseguia aguentar mais os risos. 

— Eu ainda vou morrer por causa disso — resmungou o garoto, baixinho.  

— Pff. E ainda é exagerado, se eu fosse você, me apressaria. Will acordou e você está atrasado! 

— Um minuto ou dois não fazem tanta diferença assim. — Deixou o rosto emburrado. 

— Vamos! Levanta e se arruma aí! — concluiu antes de fechar a porta. 

O garoto se recompôs e retirou o lençol de seu corpo. O coração palpitava e a visão se embaçava. Um despertar assim era mesmo necessário? Apenas negou com a cabeça, olhar para fora já trazia justificativa.  

Quase tropeçou em um rodo, pulou uma vassoura e pegou um detergente do chão. O seu quarto foi a adaptado para se tornar capaz de abrigar alguém. Como seus pertences estavam, agora, rearranjados pelo cômodo, existia pouco espaço para andar. 

Arrumou a cama e olhou para o espelho preso em um dos armários, olhava para si após ter soltado um suspiro. Cabelo preto, que lembrava um formato de hipérbole, uma franja branca e espetada, olhos e cílios da cor do ciano, era alto e possuía dezessete anos. 

Lentamente, o processo de se examinar deixou o coração calmo. 

  

Se encarava e via suas pupilas contraírem. “Tô bem! Tá tranquilo e favo...”    

— MARK! — gritou outro que invadiu. 

Fechou o armário devido ao susto, com um ímpeto que fez o estalo do armário deixar o espelho ao perigo do pior dos resultados.  

— P-preciso de sua ajuda. 

"E eu preciso começar a trancar a porta", pensou Mark em resposta. Entretanto, fechou os olhos e abanou as mãos ao comentar:  

— Calma, Will, acabei de acordar... Pega leve aí. — Esfregou o rosto. 

— Eu sei, eu sei, é que tô nervoso. Tenho aquela prova matemática hoje, eu não vou bem na matéria, né, sabe, tipo... FERROU! 

A preocupação podia ser exagerada, mas, feliz ou infelizmente, suas roupas desarrumadas e cabelos amassados traziam um alívio recorrente. 

— Relaxa, cara! Te ajudei a estudar, e você sabe, sim, a matéria. Me deixa terminar de acordar que converso com você.  

— Tá bom, tá bom., ótimo, certo, maravilha... — Fechou a porta lentamente. 

O rosto de Mark relaxou, a presença repentina carregava uma tensão para uma resposta mal planejada. 

 

Mark se pôs a abrir a janela que existia atrás de sua cama. Teve dificuldade em achar um ângulo que sua cabeça passasse, mas conseguiu após um instante. 

Sempre vislumbrava algumas memórias enquanto via através da janela em seu “quarto”. Crianças que brincavam na rua pela manhã... Sempre lembrava daquele dia, o mesmo que fez uma promessa. 

 

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