Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – Lembranças de um Passado Perdido

Capítulo 42: Acordo Nocivo

Na realidade, verdadeiramente, sinceramente… Ah! Não tenho nem mesmo uma pouca noção do que irá proceder. Este garoto tem e não tem ciência da guerra ao mesmo tempo. São demasiadas coincidências para considerar e ter a ignorância de continuar chamando de “coincidências”. Desde que me tornei um agente dos reis, ou melhor, um “puro”; reavi a razão como guia e jamais ousei tomar decisões sem embasamento forte. Eu… fiquei tão desleixado que tive o raciocino levado por uma criança. 

Estava a percorrer pelo terreno branco, as pegadas eram fundas e cansavam, porém, tinha que manter o movimento constante para achar um novo plano: tal plano que tinha como a origem o garoto que saltitava para sair dos buracos que os pés criavam.

— Ei! Me espera! A gente não vai voltar para casa?

— Não sou bem-vindo nesta cidade. É fato que seu pai pense da mesma forma.

— Pai? Aquele preteifo me trata como filho de barriga, é… Só que ele me encontrô anteontem! Pelo menos ele num é um desconfiado e acredita na minha voz…

— Compreendo, vá à frente.

— Hein?! Acredita agora?! 

Permaneci na inércia da caminhada, embora ainda tenha sentido a neve se agitar pela surpresa daquele menino. O vi correr adiante e acelerei o passo para acompanhar. A animação dele era notável. O rastro da neve fez a curva e apontou para o centro da cidade.

Perdi minha sanidade com a calma de um ancião. O que me fez tomar essa direção igual ao do garoto foi a manifestação que presenciei ontem. Se Marcos realmente mo… sumiu, este prefeito talvez possua informações da energia. Se tem posse destas informações, existe a probabilidade de me contá-las, embora seja a força.

As pessoas que me perseguiram eram distintas dos cidadãos. Aquele simbolo da estrela começou a exigir uma cautela maior da minha parte. Apertei meus punhos e fiz a ignição surgir. A clareza da eletricidade fortaleceu a afirmação: estou preparado para entrar em um confronto novamente. Minha bateria, um termo criado para dizer o quão carregado estou, estava completa. 

— Vou acreditar no que devo acreditar.

— A preteifura fica pertin da praça. Venha, venha! 

Neve exagerada havia encerrado há menos de meia hora e já via muitas pessoas circularem pelas ruas. A praça havia guardas com armaduras elegantes e cidadãos que erguiam os comércios novamente. Mais e mais próximo, o lugar se tumultuava igual ao litoral que ancorei. 

Olhares diversos me pressionaram. Com certeza, uma situação divergente da cidade da minha ODST. Medo, indiferença, curiosidade. Aqui, minha presença poderia ser comum caso retirasse o minucioso detalhe da criança como líder do destino. Ao menino, todos exibiam um alívio fulminante pelos passinhos leves.

— Vejam! O filho do prefeito! 

— Hum! Estamos agradecidos por o encontrar, teríamos que passar o resto da noite o procu… Um segundo, acho que te conheço.

“É um deles?” Um dos guardas me parou para agradecer, contudo, afinou os olhos ao examinar meu rosto. Preparei a caneta do bolso e estava prestes a pressionar o botão com o dedão. O garoto passou pelo meio e ninguém o impediu. “Podia muito bem ser uma emboscada!”

— Foi mal, haha! Minha filha arranjou um namorado de cabelo colorido, não fui com a cara dele.

— Sinhô! Simbora!

— Perdoe e inconveniência dele, pode se dirigir ao prefeito. Bom, acho que o menino vai te mostrar o caminho até os andares superiores.

Por pouco, minha lança não tomou a forma devida. O outro guarda se colocou a frente e abriu o caminho, logo, guardei a caneta e entrei no prédio. Escadas, corredores extensos. Apesar do ambiente monótono que pareciam um tanto com a ODST em menor escala, os cartazes espalhados revigoraram a visão. A notícia sobre Marcos estava gravada na imagem de uma pessoa desaparecida. O cabelo repartido em branco e preto característico… não tinha mais dúvidas.

— Nesta porta! Vem!

— Daniel! Me preocupou muito desde que saiu. Vejo que trouxe uma presença ilustre. Tinha suspeitas que a voz deste menino traria algo intrigante. E aqui está algo mais… puro?

— Creio que devo assumir que sabe quem sou.

Fechei a porta e pude sentir a intenção fria me cumprimentar de cima a baixo quando destaquei o que pensava. O garoto ficou ao lado do tal prefeito e recebeu um cafuné que o fez corar a cabeça. Cabelo loiro, um blazer elegante e uma gravata dourada. Endireitei a pose e o encarei de pé, preparado para qualquer reação agressiva.

— Nossa… Para quê esta desconfiança? Claro, claro, lhe conheço, mas só das histórias dos já esquecidos daqueles reis, etc. Seria possível esclarecer à vontade tudo que tenho ciência ou o que este usuário aqui vai nos mostrar. 

Existia uma certa formalidade informal naquele sujeito. Agia de acordo com seu posto enquanto me contava com tanta eloquência as respostas para as mesmas dúvidas que me fariam tenso em apenas as escutar. 

Permaneci quieto. Somente quieto. Meu punho fechado estava logo acima do bolso que a caneta estava. Meu cabelo estava no estado que me deixava ver a visão com clareza. Vim aqui para que conseguisse extrair algumas informações… Tenho que ressaltar que o desenvolvimento desta missão estava a seguir fácil demais. Sempre pode ter uma reviravolta, e não será a minha pessoa quem sofrerá com isto.

— Sente-se, por favor. Vou insistir até que desista desta postura acuada. Está aqui para descobrir um rumo diferente, certo? Todavia, te recebo aqui, sem alertar a estrela sorridente, num porquê de barganha. 

A mão esbranquiçada numa luva fina me apontou a cadeira próxima à mesa. Vou manter este joguinho a cegas com empenho. Uma fagulha de minha energia reagiu quando toquei no meu bolso, a caneta se tornou invisível e a posicionei entre os dedos ao puxar a cadeira.

Meu punho estava apontado para o peito deste prefeito, e a ponta da caneta estava mirada no pescoço. No pior das situações, bastaria o pressionar do pulso para ativar o botão e fazer a ponta se formar e fazer o impensável.

— Bom, irei reconsiderar esta ameça singela da sua parte. Denunciaremos o prosseguir desta forma: minha energia tem habilidades de persuadir a eletricidade convencional. Nesta distância, sou capaz de te imobilizar ou fritar seus neurônios… Oras, ainda acho que vou ser decapitado antes que minha ignição apareça. 

Que sujeitinho esquisito! No segundo, que levantou o queixo ao ler meu corpo, anunciou sua jogada e balançou a cabeça com as mãos nas bochechas. Que tipo de orgulho te faz admitir a derrota? Os olhos de cor laranja me fitaram, incertos. “Não quero perder tempo”. Se tudo e todos neste lugar me conhece, tanto faz um general agir de acordo com o cargo. “Que seja assim então”.

A ignição apareceu em totalidade e revelei a caneta invisível, coloquei-a no centro da mesa com a ponta virada até mim. Uma resposta fisiológica veio quando meu cabelo começou a brilhar em roxo. Cruzei os braços e fui extremamente curto:

— Conte-me o que sabe; penso na barganha. 

— Sinhô, calma! A voz tá gritando aqui!

Humm, interessante. Esperava qualquer outra ação. Daniel, aguarde lá fora. Após está reunião improvisada, termino de recebê-lo apropriadamente. 

Daniel ficou cabisbaixo e tampou os ouvidos com o rosto espremido. A dedicação enorme para atuar ou uma agonia que demonstrava a veracidade das palavras. Uma criança que já tem a energia? Que tipo de energia que atua em forma de vozes? 

O meu olhar seguiu a criança até a porta, mantendo a cabeça ainda apontada para o prefeito. Ouvi o resfolegar relaxado quando a porta se fechou. O sujeito esquisito estava quase deitado na cadeira.

— Certo, certo, certo. — Esfregou a cara. — Antes de barganhar, vou esclarecer tudo que quero. Primeiro: o Daniel é uma criança perdida que encontrei e, obviamente, tem a energia. Parece estranho, claro, fiquei abismado com o quão útil esta “voz” pode ser. Não irei mentir que estou a usá-lo. Este comportamento peculiar é similar a pesquisas que declaram como “esquizofrenia”, pois não tem o controle da ativação desta “voz”. Ha! Me pergunto se o resto dos similares são usuários também.

— Não é por isto que permaneço aqui.

— Certo, certo e… Certo. — Endireitou a postura. — Sinto que devo admitir que aquela explosão no fim da guerra foi, sim, um truque formidável. Sério, tentaram apagar a memória de todos, entretanto, os usuários de energia persistiram, ou resumindo: apenas os quatro puros. Não me olhe deste jeito, hein! Meu lado não é completamente com Édnis. Afinal, era para este nome nunca mais ser lembrado, certo, certo?

Os dedos começaram a formigar. A paciência ia embora e mais meu olhar estreito tensionava. Usava minha completa força interior para manter a  mente calma e ficar surpreso após esta reunião sem jeito. Vou aguentar ouvir alguém dizer tão casualmente sobre os incidentes da guerra e… da tentativa de ocultá-la.

Hihi, sei que é certo afirmar que algum usuário que conhece a guerra apareceu. Uau! Mas como?! Se tinham só quatro antes da lavagem cerebral, como os mais recentes saberiam? Hummm, simples: Ádnis não foi o único a ensinar a energia. Ao contrário, Édnis provocou o despertar atrasado propositalmente. 

— Espere! Tem noção do que está a dizer!?

— Opa, opa! Mantenha a postura, general. Não queira derrubar as flores da mesa.

Impossível. Os pés impulsionam e fiquei acima da mesa. O lugar balançou, e o prefeito continuou sereno feito um espantalho. Droga! É inviável retroceder agora, vou escutá-lo, tenho que prosseguir.

— Certo… Irei insistir que se sente uma outra vez… 

— Meça as palavras com delicadeza. A “assombração” existe por um propósito.

Hm! Agora serei eu quem pedirá por cautela sua. Certo. Quero constar que talvez alguma ODST tenha sido atacada e que, talvez, os responsáveis sejam seguidores de Édnis. Certo. E que talvez, general Felipe, tais responsáveis sejam reconhecidos melhor com o símbolo de um sorriso característico numa estre… Ahh!

Bastava pensar direito por menos de um segundo. Numa hipótese de Vitrax, ao assumir que é usuário despertado e seguidor de Édnis, e a multidão que apoiou este prefeito são da estrela; meus motivos para permanecer nessa conversa, sem qualquer suspeita, tendiam a zero.

Minha presença e a caneta ficaram fora da existência. A silhueta ondulou e ficou esverdeada até que se misturou ao ambiente numa verdadeira ilusão. Desfiz o teatro tão arrogante que tinha minha própria miragem como ator principal. 

Estava atrás do prefeito, meus dedos firmaram para estabilizar a ponta da lança um pouco abaixo do queixo. Vi as mãos ligeiras desapoiarem da mesa pelo susto em desgosto. Aproximei a ponta e encostei no pescoço, encerrei o movimento de defesa no milésimo que iniciou.

— Como não pensei que uma assombração sua entraria. Esteve invisível o tempo to… Ih!

— Contente-se que acredito em ti a ponto de não ceder a minha vontade de te matar. Diga-me como vocês mantiveram as mórias.

— É-é… Certo, ce-certo. Édnis conseguiu planejar um despertar programado com a energia dele, que continha parte das memórias. Não queira me matar, ainda nem me disse o acordo! Tem muita gente inimiga sua aqui que vai te pegar antes de sa… Ahhhh!

Que pena. No fim, a conversa sucedia a uma ameaça disfarçada, falhando completa…

— Mar-marcos está vivo.

Hm?

— Permita-me corrigir: ouvi dizer que marcos foi “digitalizado”.

Vagabundo de uma figa… queria me elogiar por finalmente manter um raciocínio constante, porém… porém, eu… Ah! Porém, não posso arriscar minhas opções por seguir o que acho. Sou eu quem está no controle aqui. Sim… sou eu.

— Pelo menos, este corte é superficial, apesar de arder em demasiado. 

— Chance final: me diga o que está acontecendo.

Tremi os braços por um momento. Decidir recuar mentalmente, mas meu corpo reagia com os temores da guerra, e pensar que hesitaria em matar alguém só por benditas informações. Os passos ecoaram pela sala enquanto dava a volta para alcançar a cadeira. 

O prefeito tinha aflição em me olhar, forçava a pose reta com lábios trêmulos. Não foi de todo inútil, agora, a casualidade estava morta com qualquer talvez que o desse a vitória na luta verbal e física.

— Cer… Vou ser muito direto. Apesar de ter as memórias, tenho meus próprios princípios que divergem dos reis. Passaram quase sessenta anos, agora, os seguidores querem executar o plano de derrubar os puros e trazer Édnis de volta. Nesta execução, cabe os pilares de Édnis agirem: tais são cinco, incluindo a mim. Contudo, tenho apenas informações vagas do plano, mas creio que o último a ser derrubado foi ti.

— Totalmente impossível trazerem o de volta. Adnis o levou para o centro da dimensão cristalina. — Endireitei a coluna, ação que foi o suficiente para ver o prefeito arrepiar com anseio.

— Penso da mesma forma. O ponto vital é que Édnis descobriu que algumas rochas possuem capacidade para conduzir energia. Ele previu a derrota e traçou o plano para o trazerem de volta numa condição da energia da criação ser acumulada o suficiente em algumas delas. As pedras mães, o-os cristais, que poderiam aguentar muito mais, continuam para serem encontrados…

Levantei e segui a porta. Ouvi a cadeira cair mais atrás e uma voz trêmula em sincronia. Quando me revirei: o responsável político da cidade se ajoelhou ao colocar a cabeça no chão. Realmente algo que se via pouco. 

A perna firmou e o joelho endureceu. Desiste de sair e cruzei os braços, no aguardo do que a figura queria me suplicar.

— Imploro para ouvir meu acordo

— Ande!

— A-assim como a ti, quero impedir isto. Tudo o que sei é limitado a este distrito do Segundo Setor. Independente do que agirem, posso te acobertar aqui nesta cidade. A Estrela age em constância e mantenho um personagem grande. Preciso que fique aqui e me conte tudo.

— Posso impedir isto sozi…

— A profecia!

O prefeito entrelaçou os dedos e ergueu o tronco ao gritar. O cabelo dele... brilhava em amarelo e a sua ignição surgia pouco a pouco. Naturalmente, fiz a minha responder calmamente. O roxo e amarelo contrastavam e o tom tremulo da voz se acalmava num pedido sincero:

— Num futuro distante, culpado e inocente irão seguir o cheiro do instinto feito estátuas e recuará do início do desastre alegre. Quando as neves se tornarem quentes em fogo; as estrelas estarão sorrindo, e o pôr do sol surgindo. 



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