Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – Lembranças de um Passado Perdido

Capítulo 39: O Sorriso Característico

A aura anormal de confiança doentia pairou no interior da torre. Os ombros tencionei e coloquei um pé na frente do outro, me preparei para o embate que iria acarretar o alívio certeiro. Se não, também cabia a mim a aliviar a situação de outras formas… Mas, sinceramente, creio que só quero matar este maldito.

— Creio que me deves muitas respostas.

— O quê? Acho que não ouvi direito, fala mais… Ah!

Perdi a paciência logo cedo, batizei meu punho de “dialogo” e avancei num soco na altura do queixo. Este desconhecido é rápido também, pude notar o desvio forçado, mas ainda com alguma técnica. A experiência em combate era palpável, vi a ponta da lança apontar para mim e carregar a ponta com energia, que brilhava em roxo. Antes que a inércia do soco me deixasse os pés cair no chão, girei o corpo no ar. O raspão de impacto rasgou minha farda. Que desgosto ver esta roupa de orgulho ser desrespeitada assim. Tomei distância e analisei melhor a situação.

— Hahaha… Animadinho, né não? — O sorriso aumentou imensamente. É um doente sem fundamento, apenas me dá mais nojo. — Esta lança realmente é prestável, hihi! Ar comprimido realmente agita as… coisas. — Como ousa passar os dedos na ponta?! — É uma pena que é tão manjada quanto o tal rope dart de Marcus, as manoplas de Sofia, ou aquele troço de Teres, o mu…

— Posso concluir que é o responsável por aquelas fotos e a carta. 

— Eu? — Corou o rosto. Se me dissessem que é uma criança na minha frente, acreditaria, pois ninguém quer me deixar furioso se seguir... — Tá mais pa um “nós”.

Desgraçado mal-amado. Veias surgiram na testa, e a ignição fluiu pelo ódio que vinha de mais uma dúvida surgia. Ninguém devia ter ciência destas informações, foi impossível passar pela minha cabeça uma outra vez se a procedência era um blefe ou uma mentira estruturada, era preciso demais para apenas arriscar em uma conclusão rasa assim.

Estalei o dedo. Uma fumaça densa e roxo-escuro irradia por baixo da unha do meu indicador. Inundei o local com baixa visibilidade e prossegui com passos pesados. Fechei o punho e mirei no queixo da silhueta que me copiava. Já está na hora de dar um basta. 

— Oh, não! Me pegou!

Espera… O toque que imaginei tanto acontecer só prosseguiu na imaginação. A silhueta por dentro da fumaça desapareceu. Virei, surpreso, para trás e pude sentir o zumbido característico da arma longa. Ele não pode ter ido tão contrário da minha visão em pouco tempo, teria que ter sido rápido suficiente, embora ninguém seja capaz de fazer isso sem perturbar a fumaça… 

— Bastardo!

A frequência se tornava maior e mais agudo o som vinha. Joguei minha cintura avante e fiz minha coluna no angulo de noventa graus. A ignição saiu e garanti minha resposta. Pude sentir o gelado do aço especial da minha lança raspar pela ponta do nariz. Pude sentir a parede ruir e jogar os ventos ao redor pelo poder perfurante avassalador.

Um buraco foi forçado pelo véu roxo e resplandeceu novamente a iluminação do fogo ao redor. Ergui meu corpo e remanejei a postura defensiva perante o inimigo que tentou me atingir na reta guarda. Mais e mais abria o campo, afinei a visão e tentei focar no… 

— Boa tarde, General Felipe. 

Santo Reinado… Quando? E.. e-e Por quê? Por que a maquiagem de verde, vermelho e cinza apareceu aqui? Por que estou a ver o meu fiel colega sentado num pilar caído? Pisquei muitas vezes. Inferno, inferno e inferno! Eventos incomuns e dúvidas! Quado isso vai acabar? Quando?! 

O meu pescoço agiu sozinho e me apontou de volta para a parede atingida. NADA! A destruição criada há um segundo estava a se provar inexistente com meus olhos. Tudo isso, eu devia achar um significado imediato para tudo isso? Meus joelhos contestaram e voltaram para o meu ami… inimigo. A figura inesperada me fitou e levantou, girava a cabela como se negasse o que viu. Está me testando?! 

— Chefe, tenho que admitir que é um bom oponente. Entretanto, traz junto a necessidade de afirmar o quão inocente… é!

— Vitrax!

A última piscada não intencional do dia. O simples fato de ter a noção da respiração, sentir as roupas, piscar propositalmente, ou lembrar de um arrependimento pode ser útil a despertar uma profundidade melhor da realidade. O simples reconhecer que, neste momento, devo estar esquecendo de algo. Ou que posso estar lembrando de algo que não é verdade. Reconhecer a si, é reconhecer o outro, mesmo que não seja de imediato. 

A última visão do meu amigo desapareceu da minha frente. Foi revoltante lembrar do meu passado polêmico da guerra e… Se eles estiverem mortos, nada garante que vou viver. Se, depois de tanto tempo, tenho que admitir esta maldição de energia como parte de mim novamente, então… eu creio que vou deixar meus sentimentos saírem de novo, que eu não devo esquecer mais, que tenho que me lembrar de me exaltar uma última vez. 

Deixei meus olhos ficarem fechados e sentir os arredores como se o oxigênio e paredes fosse minha pele. Revigorar os sentidos é decisivo para um guerreiro habilidoso. Relaxei os ombros e pude ignorar toda a preocupação recente. Para superar meus desafios, irei canalizar meus sentimentos e transfigurar minha persona. Vou apenas… ser a aparição que me apelidaram.

— Oh, Alma pálida, aqui jás minha provação, pois me tornarei um como tua assombração. 

O ar ia e vinha em muitas direções devido ao fogo, mas havia um fluxo que desenhava até mim que vinha do teto. Já posso descrever o que estava havendo como se estivesse a ver… Vitrax vai tentar me acertar com a lança diretamente na cabeça por cima, mas é uma ilusão. Vai me abordar de cara e me acertar, mas é uma ilusão. O ataque verdadeiro é a distância, diria que vai projetar cinco lanças ilusórias. 

Existe uma enorme fraqueza na minha arma, qualquer um experiente podia julgar pelo porte penetrante. Basta focar a atenção no cabo. Mas não preciso focar em nada.

— Não vai reagir, General?  

A ordem da previsão foi exatamente como o previsto. Até os cinco zumbidos aparecerem, as tentativas de ataque só me atravessaram e desapareceram. Joguei a cabeça de lado e deixei uma das lançar passar rente ao meu lado. Os dedos conseguiram alcançar o cabo e e- também é falsa?

— Que engraçado, achou mesmo que ia jogar a lança? 

— Sim. A diferença que não foi só nisto.

Han?!

O meu eu pensativo derreteu. Desfiz minha invisibilidade e contra-ataquei com um gancho no queixo que senti o gosto antes de penar! Vitrax ficou atordoado, mas fortaleceu a pegada e impediu que a mim de tomar a lança.

— Hihihihiihi… Nem parece o irritadinho de antes. 

— Uhgh!

Esse desgraçado me devolveu uma cabeçada. Coloquei a segunda mão no cabo e transferi cada medida de força para meus braços e pernas. Sangue escorreu por nossas testas, a maquiagem esquisita começou a se distorcer. Vitrax está gostando dessa violência?! Como um doente está aqui em primeiro lugar?

— Já observou o céu estrelado por muito tempo? Sabe… Pode ser que você veja as estrelas sorrirem HAHAHAHHA!

O sorriso do canalha estendeu e manobrou o sangue que deslizava sobre os lábios. Aproximei minha mão da dele e levantei o pé esquerdo, que avançou ao redor da cabela e o fez cair no chão. Era para se arrepender de mexer comigo! A chave de braço prendeu um dos braços que mantinha a lança ainda presa. Se ele não ceder, vai perder o braço.

Girei o corpo e puxei o pulso para baixo. A ponta estava apontada para mim, porém, com um dos braços contidos, era incapaz de ativar o canhão de ar. Os grunhidos deles me davam um alívio para a alma, estendeu e… o braço quebrou.

A força oposta cedeu e a resistência pareceu mole, dei um chute na cabeça desse imbecil e… Vi o verde enraizado de luz percorrer pelos olhos e atingir a base do cabo. Droga! Tenho que sair logo da…

— Perfure! 

Esta arma tem uma capacidade de causar um estrago pontual de forma precisa, acumula o ar comprimido e usa a favor de explodir alvos que a ponta toca e adquirir velocidade crescente para se tornar uma cola de canhão em forma de agulha. Contudo, de alguma forma, a arma reagiu ao comando de voz de Vitrax. Um ataque que consome muito vigor, para ser ativado, travado pelo uso da energia da criação certo, que seria somente minha… A lança brilhou e ascendeu o cabo como ferra incandescente, dispensando a anergia acumulada para um projetil de aceleração instantânea.

Era também impossível imaginar que alguém podia manipular miragens assim como eu, e ainda usar os artifícios, as informações que deviam estar guardados a sete chaves, a arma dada por Adnis foi lida por inteiro, havia nada de novo para o inimigo, foi um embate planejado há muito tempo. 

Meu fim. Devia ter imaginado que qualquer assunto que sei foi já descoberto…

— Releia.

Bastava que somente descobrisse algo novo. Ou melhor: usar o de antes de forma diferente.

Comecei a suspirar, insatisfeito. Obviamente, não daria tempo para suspirar com o tiro a queima-roupa. É triste ter que usar isso. Caso o contrário, podia fazer ainda mais. É um golpe covarde que até Sofia odeia, ela faz parecer que eu goste de fazer isso. É inevitável não sentir o gosto de sangue ao usar essa habilidade.  É nojento.

— HAHAHAH… ha? Não. Não. Não! Era para ser impossível com outo usuário de energia! Não. Não. Não! Tem algo de errado. Você só consegue usar duas vezes! E a última devia ser inútil… inútil! Cade a gra…

— Calado.

— Não tem nada disto nos ensinamentos!

— O NULO DA GUERRA!

A minha raiva tinha passado. Na verdade, as minhas forças por completo iam embora. Usar o… nulo… com mais de sessenta aos foi cruel. Havia vitalidade somente para me manter em pé enquanto segurava a lança. 

Assim como mais cedo, reescrevi o mundo físico como uma miragem improvisada, um efeito de uma droga que se manifesta a tudo ao entrar numa área física. Passageiro, eficiente. Enfim, precisei ampliar o ápice, que trouxe o tal apelido que recebi na guerra. Antes da lança se mover a setecentos e cinquenta metros por segundo, citei o gatilho de ativação da minha energia quando o cabo começou a brilhar.

A ligeira faísca que saiu a tempo da ignição se tornou preta. Meu cabelo parou de brilhar e se tornou preto. Meus olhos se tornaram pretos. A percepção por completo do meu ser se tornou preta. “Nulifiquei” aquilo que me definia, deixei a criação esvair na sua natureza. Criei, com o vigor que me restava, uma miragem que se vingou na realidade como verdade. O ambiente ao redor estava intacto de qualquer manifesto de desordem. Chamas pararam de existir, os destroços do teto e pilares destruídos anteriormente foram apagados. Aquilo que vejo pode ser reescrito, mas somente aquele que tem uma alma pode buscar mais interpretações da mesma realidade escrita. Logo, interpretei a lança em minhas mãos e a torre em perfeito estado. E sim, não consegui interferir na mente do meu inimigo, talvez ele esteja correto sobre isto. O máximo que consigo para me manter em pé.

Hahahahhahah… Um poder assustador deste contido num fim de mundo. Me entristece imaginar que uma mente pequena possa acabar assim hihihih!

Vitrax estava sentado, apoiado na parede enquanto segurava o braço quebrado. Mal consigo nem provar minha raiva, ergui a lança contra a cabeça do meu antigo amigo. Na ponta do cabo, o indicador mostrava que havia somente o bastante para um único tiro. Depois, a lança voltaria a ser só uma lança.

— Mate-me e nunca saberá o que houve. Mate-me e prove seu verdadeiro eu.

— Abaixe a arma!

Esta voz… era do soldado que acompanhava a equipe do jornal. O efeito da cúpula da entrada deve estar acabado em sincronia do meu desgaste aqui. O caos voltou e aqui estou, apontando a arma para um dos renomados militares e prestes a ter uma foto que… não é fruto de uma ilusão desta vez.

O meu rosto apontou sozinho para a direção da voz, senti-me um fantoche próprio de minha consciência, sem vigor para ao menos conseguir levantar o queixo; somente e apenas com o movimentar de algo que me guiava. Um instinto talvez.

Acabou… para mim. A ODST estava uma bagunça e o clarão da máquina fotográfica irradiou meu olho, acabei por perceber o sorriso retornar deste desgraçado que finge estar indefeso. Usei cada faísca da minha bateria para transformar a minha morte num retrato de uma miragem. E, assim, estava perceptível que Vitrax ainda tinha o controle da situação e podia lutar novamente… Mas não, era conveniente me por no papel de vilão da história. 

Enfinquei no chão a lança, que pareceu uma bengala para o meu joelho que perdeu as forças. Passos numerosos preenchiam o local, extintores, pedidos de ajuda, o ruir da madeira consumida pelo fogo. A perturbação caía em mim como causador, que lástima infernal que me ocorreu. Atrás do fogo que foi apagado, estavam os funcionários que emitiam o ódio e nojo gravado nas personas. A aura negra e sutil penetrou minha alma e nem pude protestar, pois minhas cordas vocais falharam.

Correram na minha direção e senti os tremores do chão transmitirem a raiva dos meus militares. Apanharam minha lança e a jogaram para longe. Enfim, o chão tocou meu queixo.

— Ah…

— Tirei este psicopata daqui! Tomarei responsabilidades por enquanto! Vamos! ANDEM!

Senti os ombros flutuarem, alguém ergueu meu corpo a força. Minha visão perdia a nitidez, turbidez tomava conta e vultos borrados me rodeavam. O som característico de uma espada a sair da bainha apareceu, o vulto do cabo subiu e desceu rapidamente, e…



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