Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 2 – Lembranças de um Passado Perdido

Capítulo 35: Caminhar do Sol


 

As pisadas suaves do convidado necessário finalmente ressoaram pela mansão. Na frente da porta que lava ao vazio, os três penetraram no branco sem fim para encontrar o mordomo tão educado.

— Maravilha! Ótimo!

— Após tantos tentarem interromper meus treinamentos, somente estes são capazes de me fazer repensar.

Junto a Frederico, que tentava conter a satisfação enquanto ajeitava as roupas longas, os olhares de Feites e Luri se entrelaçaram, comunicaram estranheza parcial. Luri retomou a atenção, notou os dois colegas de esquadrão acompanhá-lo mais atrás.

— Pedi para Nirda e Will descansarem no quarto…

A maneira com que Réviz apareceu emanou uma preocupação, um incomodo, a falta de controle. A moça não conseguia aguentar tal comportamento sem tentar ajudá-lo, entretanto, foi ignorada. O vice-líder apenas puxou uma cadeira pare se sentar.

— É ele — consolou Mark, tocando o ombro dela.

A moça carente não podia manter a respiração constante, se tornou inútil em tentar executar sua principal tarefa, aliviar a pressão do seu amigo — a pressão do coração inquieto de pedra. Deslizou os dedos pelas chuquinhas pretas. Sua franja engoliu seus olhos.

Por um único misero pequeno momento e minúsculo segundo seu desejo foi curar as dores, as dores não físicas desta vez. “Posso ten…” O desejo sincero fez surgir amenas chamas transparentes, envolveu o… dispersou. A observação fria de Feites expulsou qualquer outro ponto no período construído:

— Perder tempo é um pecado, pecado no qual me arrependo.

Sem qualquer delicadeza, esticou o corpo e alcançou um livro alto na biblioteca do éden. Tal peça era tão importante quanto um museu de obras de arte. Resplandeceu no toque do segundo puro. Voltou para todos os convidados e esclareceu sua intenção:

— Acredito que meu avô tenha os explicado ou subtendidos que tais livros compreendem a interpretação da história de vários indivíduos, que incluem seus futuros.

Folheou, parou, folheou. Realmente, o comportamento enigmático se fortaleceu no laço sanguíneo. O cabelo conversava mais do que o outro, sua emoção, raciocino, vontades, almejos e determinações… os pulsos de roxo convertiam em palavras não ditas em voz alta das leituras que teve.

O mordomo estalou a língua, desgosto o atingiu, consumiu sua postura que vacilou num pigarrear quase raivoso. Ato exagerado que demonstrou reconhecer o percurso que seu neto andava.

— Embora… sendo grosseiro e ignorante, não há expressão superior e suficiente que aglomere estes livros… “imperfeitos” é o bastante.

Esse termo causou o afloramento de veias na testa de Frederico, se segurou para impedir que acabe por desfazer a cautela do evento daquela noite. Os terceiros níveis sentiram a grandiosidade de tal fala quando Feites fechou o livro com as duas mãos.

— Futuro? Como isso é possível? — perguntou Luri.

A pegada perdeu aderência. O livro deslizou para baixo, cortou o vento e atingiu a mesa logo abaixo. Páginas viraram e reviraram, todo o passar de trechos vagos se tornou simples. Letra a letra, a velocidade parou.

O objeto permaneceu aberto novamente, porém, a anotação retratada deixou Mark com espetos de gelo por dentro das costas. As duas páginas visíveis colocaram um mesmo sentimento horrendo. “Pôr do sol”, sibilou mentalmente a frase estampada com o vermelho eloquente e desbotado.

Uma frase encontrada na última página do livro, escrita em sangue.

— Contarei tudo que existe de mais importante aqui... porém, buscando a cooperação mútua, exijo a confirmação de um único testamento.

Feites encarou a visão no homem rígido no centro, desconforto percorreu em resposta. Réviz franziu o cenho, foi forçado numa negociação repentina. Se não ajudasse o “segundo puro”? Cabia a ele decidir isso?

— Prossiga.

— Como detentor das grandes informações, descrevo meu objetivo como: identificar a origem das sombras ambulantes e rastrear o criador de nossa energia. Para tal... para que isto seja assuntos baseados na realidade... Tornou-se fundamental me confirmar os detalhes da missão desastrosa que teve há um pouco menos de duas décadas.

Mark sentiu o peso crescer nos ombros. Ao seu lado, a moça astuta perdeu todos os motivos que mantinham o tronco em pé. O jovem cutucou os cabelos azuis e não sentiu uma reação digna de quem quase o matou há dias.

Esse assunto era delicado. Citar isto trazia resultados tão anormais e contraditórios no par de colegas. Havia sentido esse contexto chegar perto mais e mais. Agora, estava prestes a encará-lo, mas a mulher recusou, entregou ao jovem a não-clareza de seu rosto. A franja corajosa serviu num escudo de emoções pesadas.

— Luri, o que…

Erm… — Réviz pigarreou, antes de respirar fundo. — Considere o acordo como certo.

Foi difícil até para aquele adulto concordar com os termos. Logo em seguida, Feites puxou uma cadeira na vigésima partição de um segundo, esperava por aquilo com satisfação. Sentou-se educadamente e, de fato, prosseguiu.

Energia aflorou dos olhos; mundo transfigurou e assentiu com desejos de um preservador dos tempos. Feites, quem esbanjou de sua posição de discurso, colocou a perna por cima da outra. O nariz escorreu um sangue tímido, constatou uma dor triste.

Apenas com a determinação das palavras, permaneceu em anunciar o título da história:

— Testemunhem, na perspectiva de Felipe, a razão e conclusão de seu papel e destino na guerra do Pôr do Sol.

A situação mudou rápido demais. Demais… demais para o meu gosto. Milhares de anos bastaram para o movimentar de deuses, poderosos, guerreiros, armas, amor, alegria… e desespero, e medo, e angústia, e terror, a frieza, a tristeza, a desonra. Posso continuar o quanto queira, embora, a mim, também bastou terminar com “e derrota”.

Imaginar possibilidades que justifiquem minha falta de atenção é imperdoável, encarar responsabilidades é único fio da verdade. Uma pena, pena mesmo que eu precise testemunhar meus inimigos, inimigos do povo do Oeste, consumir o controle dos meus companheiros.

Humilhação passou por minhas veias claras, saciou as células com o sentimento indigno daquele que foi reconhecido como um herói… um “puro”.

— INACEITÁVEL!

Aflito pelos fatos, esmurrei a mesa desta cabana, lugar provisório que conteve meu desabafo físico. Ha! Podia eu dizer que insisto? Por um acaso, insisto numa mentira chamada de “meia-verdade”?

— Em que lugar deixei de ter o controle?

Meus pensamentos aceleravam em dúvida. Aquele cajado… Por que ainda o tenho? Han?! Não aguentei, arremessei para longe o objeto, que atravessou a janela. Neve… Sim, o inverno aproxima nessas colinas. A sensação gélida era calma, rendi-me a curiosidade e examinei o local onde minha arma aterrissou pela abertura.

— Marcos... O que faria no meu lugar?

O vento soprou pelos meus cabelos, por um momento vazio, senti lembranças percorrerem meu cérebro. Eu sou realmente um herói? Se espantei um suposto “deus imortal” para os confins sombrios do inferno, por que esta maldita depressão me dava tanto trabalho?

— Seja o que for, sei o que farei.

Aquela sensação incrível de me dar ao luxo de lutar… viria em outro momento. Voltei à mesa e deixei minha criação aflorar. O brilho que me aguentava apagou no intensificar da nevasca. Ah, é verdade, não me ensinaram a trocar essa tal de “lâmpada”, acho que vou só criar a impressão da luz por enquanto.

Coloquei o indicador a apontar para teto, o curto percorreu e incandesceu meu dedo. Lá estava a luz, no teto. Estranho imaginar que tenha outro tipo de energia, energia elétrica que cria luzes assim.

A noite chegava, o frio invadia pelos arredores. Não me importei, usarei a vontade da natureza como combustível de minha ira. Ha! Era isto que Sofia também pensaria.

Cotovelos tocaram a madeira gelada. Ato imaginário e simples para impedir mais erros: repensar sobretudo desde o começo.

— Treinamento que me foi ensinado, persistir à vitória, e não insistir à derrota.

Firmei todo o meu ser daquele momento, a temperatura se tornou nula, a pele pareceu secar, os olhos aquietaram, caos cessou. Naquele momento, transformei-me numa escultura viva e pensativa.

— Fim reverso, loop constante; desde o início do verso, o meu meio virou o “nada” constante…

Mesmo depois de tanto tempo, ainda não consigo fazer meu cabelo parar de gritar em roxo. A noção do espaço pedia forma e tudo ficava escuro, porque, na mente de um general de guerra, tudo se reaviva em cores profundas de um certo rancor.

 

[Algum lugar de Quiral] 

Quando ainda era um jovem guerreiro, sempre me voluntariei como linha de frente do nosso vilarejo. Simples, calmo, sereno. Nosso rei, um ser esbelto que carregava o brilho consigo, brilho na qual era de atos, e não luz, foi visitar as áreas próximas de minha morada.

Meu vilarejo recebeu a visita ilustre dele e sua escolta, sobe os olhares contraditórios em desgosto e alívio, nada pude fazer, ele era nosso rei afinal.

— Felipe.

Em cima de um cavalo albino, direcionou sua atenção logo a mim. Os soldados com armaduras de placas, que cobriam o corpo, saíram da frente para que o animal passasse. Havia muito contraste naquela vista. O homem bem-vestido e de pele escura criou um corredor que deixava olhos com contato direto.

— Aproxime-se.

Meus ombros endureceram e caminhei feito um boneco de madeira, naquela idade jovem de dezessete anos, tinha uma noção completamente inexistente de boas maneiras. Tentei fingir um respeito ao colar meu peito estufado.

— Conhece a razão desta chegada?

— Na-não, vossa excelência.

Hum! Fique ciente! Eu, Adnis, viria pessoalmente para recolher um objeto de nossa perfeição!

Fiquei sem graça, o rei desceu do cavalo e me deu um abraço forte que expulsou meu folego. De fato, havia a força para controlar uma nação.

— Objeto de perfeição!

— Nosso Felipe foi escolhido!

— Estou tão orgulhosa!

Logo, percebi os rostos contraditórios se unirem ao mesmo proposito: prosperidade. Pularam e comemoraram a notícia que saiu direto das palavras do rei. Meu coração disparou e não consegui controlar a felicidade.

Rapidamente, me segurou e apontou para a multidão, abraçou meu ombro e anunciou caridosamente — e sem qualquer jeito de um rei — a notícia aos aldeões:

— Meus amados senhoras, senhores e crianças! Venho em busca de potenciais melhoras a nossa perfeição! — Perfeição isso, perfeição aquilo. Se isso estava na frase, todos adoravam. — Peço a permissão de vocês para levá-lo ao centro do Oeste!

Impossível. Espera um rei podia reverenciar assim? A saliva travou na garganta e me senti errôneo por dentro. As pessoas ficaram boquiabertas e comemoraram ainda mais. Adnis ergue-se e deu um tapa nas minhas costas.

— Considerei a comoção como um “sim”!

O sol recaia sobre as montanhas, e a noite se alojava sobre o céu. O rei estava mais animado do que eu, chamou os guardas para relaxarem e aproveitarem a grande festa que fizeram em comemoração.

Acenderam a grande fogueira, dançavam e até pulavam sobre ela. Havia acabado de recolher madeira para tentar durar algum tempo, mas esbanjei. Foi meu dia, o rei estava comigo, bebíamos cerveja como irmãos de sangue.

Armaduras nos soldados perderam o sentido de medo, nosso rei do Oeste era justo e bondoso, todos assim sempre pensavam... Inclusive a mim, não foi tolo concluir isto, foi tolo de minha parte ser incapaz de potencializar lógica em feitos de tua história.

Era convenientemente bom.

Arrependimento, termo fantasmagórico que me prende ao passado. Não existiu trejeito a minha pessoa de agir pela mudança deste passado. Concretou a necessidade de ter notado anteriormente o pesar do fardo que crescia nas minhas mãos.

O rei foi justo. Não existia festa de comemoração, existiu um velório de bons-tempos. Coube a Adnis buscar os homens fortes e… lá eu estivera.

O dia seguinte prevaleceu no presente. Festejastes que sobreviviam a ressaca puderam ver-me partir com o rei. A carruagem estava mais próxima à saída, foi a primeira hora que importância passou a integrar meu cotidiano.

— Muito bem. — Adnis suspirou — Contigo, finalizei uma tarefa importante de meu reinado.

— Algum problema, vossa…

— Pode me chamar pelo nome. Não se tem conhecimento de verdadeiros problemas, no momento. — O tempo descontraído se diluía em seriedade de uma rocha. — Es o último escolhido para ir ao meu castelo.

— Fa-farei meu melhor.

Tentei relaxar meu rei, embora a tentativa fosse igual a nenhuma tentativa. Pude também notar aquilo pela primeira vez. Nosso pilar da sociedade entrelaçou as mãos, nervoso, dava leves passadas no cabelo e roupas.

— Aliás, a viagem demorará.

Realmente demorou, quando percebi, a estrada levava somente à frente, adentrou áreas sobre areia, chuva, cascalho e musgos. Nossa terra é tão rica, fico grato por tudo aquilo. Entretanto, o objeto descomunal carregava minhas noções básicas de moradia.

O castelo estava no horizonte, toda a passagem da imensa cidade chegou a minha pele. Eletricidade? Ouvi um morador comentar a nova invenção do rei. Tudo era incrível demais.

Adnis me guiou pelo castelo por lados que eram recebidos com muito fervor de servos e nobres. Relação estranha com a hierarquia, incomodava a ordem construída enquanto tratava todos por igual.

Passos pesados ecoavam pelo lugar todo, na frente do trono, outras três pessoas completamente distintas ousavam a esperar o rei de pé. Homem com óculos imensos e vidros grossos; uma caipira desajeitada e ruiva, como uma mulher dessas tinha essas presas quase do tamanho dos meus lobos?

Aquele outro… seu cabelo estava dividido em dois pelo branco e preto. Eram esses os escolhidos? Eu sou bizarro que nem… Sim, aquele toque na qual Adnis deu revigorou os pensamentos.

— Fique ao lado deles.

Engoli seco, suor frio dilacerou minha confiança. Logo, pude perceber que os outros três estavam da mesma maneira, nervosos pelo que ouviriam. Adnis foi ao trono e sentou-se com as mãos trêmulas, ajeitou as roupas e ergueu o queixo com esforço.

— Sofia, Pedro, Felipe e Marcos, os nomeio como meus guerreiros pessoais a partir de hoje…

Nossa, que bom. Tínhamos um peso nas costas que foi arrancado de…

— Infelizmente, terei a intenção de contar a minha história neste plano físico e existencial — Foi levado pela dor dum sentimento… imperfeito — Desta mesma exata e precisa forma, contarei como a minha história irá se encerrar.


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