Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 2 – Dispensando a Burocracia

Capítulo 49: Política Violenta (Parte 2)

No noroeste do mapa da Cidade Flutuante, a densidade urbana decrescia ao espalhar a grama e flores brilhantes em pedras pontudas e terrenos arenosos. Estavam fora do contorno do desfiladeiro, onde um clima seco rodeava a cidade que se tornou um oásis numa ilha sem água. 

Réviz dirigia o carro enquanto Feites indicava o caminho. Mark se atentava aos arredores, aflito pela luz fraca dos postes que mostravam somente a mera silhueta da rua. Sem sinal de trabalhadores ou visitantes. 

O alerta permaneceu de pé, as placas eram digitais e davam conselhos de segurança na direção: velocidade, cinto... terrorismo — “permaneçam em casa”. 

— Tá que nem durante o dia, só que... tem um rio imenso por perto e é pra ser a hidrelétrica aqui, né? Não devia ter o pessoal do serviço essencial ou algo assim?  

— Me indagava sobre isto.  

— A checagem... 

Os puros concordavam que tal local tinha de ser o único em estado fundamental de funcionamento, Réviz levantou o dedo para indicar a estrada bloqueada pelas pequenas barreiras.  

A iluminação estava funcionando como o planejado. E as guaritas estavam com janelas abertas, equipamentos a postos. Havia sinais de que pessoas estiveram há pouco tempo, apesar de ter nenhum ser vivo no momento. 

— Poderíamos passar normalmente sem o carro, e existe chance de sermos gravados para levantar mais provas falsas. 

— Olha! 

Um barulhinho agradável soou junto de uma luz verde, a barreira inclinou e subiu para fora do caminho.  

— Vazio. Neste caso, senhor Réviz, siga a estrada e vire à esquerda sempre que possível. 

— Algo em mente? 

— Uma suspeita. 

Durante mais uma longa reta silenciosa, o pouco visto dos arredores mostravam que a água do rio tinha um efeito contrário com a fluora; gramas quase não existiam, flores murchavam e galhos secos ficavam expostos nas proximidades do rio.  

— Caminho morto? 

— O antepassado do prefeito residia naquela mansão. Seja lá o que visavam, restava apenas a morte do ambiente. Esta cidade tem um custo, no fim das contas.... Este é o local, por favor, pare o carro. 

Feites fez uma pequena palestra das consequências de isolar e produzir uma cidade tão sofisticada, assim, a constância das palavras cessou no segundo que uma silhueta estrada ficou visível no lado oposto das águas. 

Distantes das quedas dos canais da hidrelétrica, o rumo que coincidiram levou para uma pequena ramificação de um rio. A depressão do relevo era alta, deixando a pista como uma visão paronímica para as águas que culminavam para um ponto único. 

Os terceiros níveis não tinham certeza sobre onde começar a procurar pelo prefeito, no entanto, o segundo puro puxou a caneta e deu forma a lança num olhar frio. 

— Aconteceu alguma coisa? É pra eu mostrar o rope dart também? 

— Ernec está naquele lago. Irei me esgueirar no flanco e garantir que nenhuma gravação ou ataque ocorra. Estarei por perto. 

 Feites soltou a ignição e oscilou o próprio contorno do corpo, a transparência subiu de nível e o fez desaparecer da vista do grupo. Pegadas fortes foram cravadas no solo mais argiloso fora da pista, mostrando a direção que precisavam ir. 

Após assentirem entre si, Réviz e Mark pularam a mureta da estrada e foram até o lago mencionado.  

 

A área natural fugia da iluminação o escuro predominou. Galhos quebravam, folhas amassavam, pegadas gravavam e nada mais dava impressões positivas. 

— Boa noite! Que bom que me acharam! Esqueci de especificar o local exato e fiquei com preguiça de subir até a entrada. 

A guarda se levantaram no soar tão casual de uma voz a frente, uma silhueta escura se movimentava e fizeram os olhos dos terceiros níveis se afunilarem pela falta de clareza. 

— Um dia, me contaram sobre uma condição peculiar que inflige um incomodo agudo nas pessoas que notam postes desligados no escuro, acho que posso ser uma delas. 

Em meio ao alto desfoque da visão, tiveram a impressão de que um dedo mindinho levantou com a afirmação curiosa. Uma faísca apareceu na ponta das unhas e percorreu o ar, se chocou com uma pequena estrutura no chão, que começou a tremer. 

Luzes circundaram o lago, o caminho deteriorado que percorreram ficou claro. Postes, disfarçados entre as pedras e as poucas árvores, revelaram a presença da figura que os abordou.  Um gerador de energia ligou e tornou-se parte do ruido de fundo. 

— Que pena que Feites não veio. Sem problemas, meu assunto é com os terceiros níveis. 

— Aquilo foi a ignição dele? 

— Olá, novamente, tive minhas suspeitas mais cedo, mas tenho certeza que é o correspondente da energia de Marcos, certo, certo? Ah! E você... meu irmão me falou sobre você. 

Mark cutucou o pai, em dúvida se faísca podia ser algum tipo de habilidade. Réviz não retirou a atenção do sujeito, o prefeito. 

Ernec os notificou dos conhecimentos que lembrava, apontando para cada. O jovem revelou o rope dart preso ao pulso, que fez o prefeito balançar a cabeça, negando sutilmente. 

— Tão tensos! Quero só conversar, oras.  

— Apresse-se. 

— Por favor, só diz logo. 

— Claro... 

O prefeito virou-se para o lago e ponderou rapidamente. Chegava mais perto do grupo, ainda vidrado na água e o reflexo das estrelas.  

Os terceiros níveis afastavam a cada passo que viam se aproximar, Mark começou a ficar nervoso, sussurrando adjetivos aleatórios. O pai, no entanto, levantou a sobrancelha por uma observação. 

“Ele vai só esperar?” Mark se perguntava sobre o comportamento de Réviz, que se demonstrou muito cauteloso para o que viu nos últimos dias.  

— Antes disso, é necessário conferir a credibilidade que a profecia tem. 

— Mas não disse que acredi... 

— Mark! 

Pela mão que girou suavemente, um raio amarelo percorreu o ar na horizontal e buscou acertar o jovem de blusa azul. Réviz abraçou o filho adotivo e desviou num salto largo.  

— Droga! 

— O escudo não funcionou? 

O vice-líder foi atingindo de raspão, parte da eletricidade alastrou pelo corpo e impediu que as pernas se movessem. Ambos rolaram sobre a terra com a inercia do pulo e abriram mais distância do prefeito. 

— Para que eu diga o que desejam ouvir ou que eu diga o que quero que ouçam, precisam tocar a minha cabeça! Certo?! Certo? 

Ernec nem precisou retirar as costas dos terceiros níveis, a vista continuava centrada no lago e fez um deboche com o acordo proposto. Finalmente, girou um pouco o pescoço e revelou a seriedade do objetivo verdadeiro da reunião. 

— Não vou atacar, vou me defender. Ah, não, espera. Ataco se tentaram sair daqui.  

Outro dedo veio, um outro relâmpago veio e atingiu Mark, que não conseguiu mais se levantar do chão. Os nervos tremiam, dentes batiam e músculos contraiam. Réviz não pode ajudar, tendo as pernas imóveis. Tentou tocar no filho, mas a eletricidade afastou seus braços. 

— In... in... in-ci... nere. 

— Hmmm! O fogo é mais bonito ao vivo. 

A chama ciana revigorou os movimentos e baniu gradativamente os efeitos sobre o corpo, Mark espalhou o calor para Réviz, que conseguiu colocar forças nas pernas logo em seguida. 

Após segundos de falta de equilíbrio, os dois terceiros níveis estavam completamente ilesos dos disparos realizados.  

— Se levantaram, que ótimo!  

Ernec coçou as sobrancelhas e terminou o elogio apontando o dedo para o chão. Um estrondo tremeu o solo e fez raios de luz penetrarem de dentro para fora. Eletricidade envolveu o entorno junto de um terremoto pontual. 

— Réviz, Réviz! 

Mark apontou o rope dart para a ponta de uma enorme rocha e segurou o braço do pai antes de disparar o gancho. O chão abriu uma fissura abaixo deles e cada centimetro ficou encoberto pela descarga. 

— Ainda não acabei. 

Ernerc girou o dedo e apontou para os pendurados. A eletricidade se concentrou no buraco feito e adquiriu impulso para ir de encontro aos alvos, atravessando pedras, árvores e a água.  

— Vá para o outro lado. 

— T-tá! 

Vendo a energia escalar por dentro da rocha onde estavam, Réviz saltou para o lado e Mark se projetou para se separar. A ponta da rocha rui e estilhaçou inúmeros pedaços. A eletricidade viva que os perseguia se dissipou, chiando no ar. 

— Parabéns, são muito bons! 

— Por que tá fazendo isso?  

— Cuidado onde pisa, garoto. 

A poeira dos destroços acidentou a vista como uma névoa densa. A silhueta do prefeito de costas estava meramente um borrão a frente. Sedento pela verdade, fez a pergunta enquanto avançou até o sujeito. 

Um vago brilho amarelo veio do chão, pequenos orbes apareceram como vagalumes que preferiram se arrastar invés de voarem. Contudo, a silhueta do tênis que o jovem usava ficou cintilante. Quando retirou do chão, havia outro orbe embaixo da sola do calçado. 

— Cacetada... UhAAHhh! 

O orbe brilhou mais forte e pulsou rapidamente, emitiu três barulhinhos antes de apagar de vez. Mark tentou correr. E não conseguiu, o corpo parou, pois uma descarga atingiu e permaneceu sobre ele.  

As pernas travaram e olhos reviraram, caiu na terra sem conseguir mitigar qualquer coisa. Pensamentos não saiam e a voz desapareceu. Dedos abriam e fechavam, mas nada conseguiam segurar. Lutou para levantar os membros, e os membros decidiram por conta própria que nada iam fazer. 

— Que pena. 

Tsc. 

A poeira foi perfurada e começou a dissipar pelos buracos que foram expostos. Balas foram disparadas e descarregaram o pente das pistolas douradas. 

Costas erguidas e sem qualquer centímetro sujado, Réviz se irritou quando notou que seu fogo não surgiu efeito. Uma parede translucida e amarelada de eletricidade apareceu e reduziu os projeteis a pó. 

— Mark... 

— Tô-tô-tô... te... tentando! Ferva! 

Uma chama forte se levantou sobre as roupas de Mark, que demorou mais que o necessário para se levantar. Os efeitos da eletricidade eram diferentes de machucados comuns, mesmo que o corpo esteja saudável por inteiro, a energia não conseguia garantir que os movimentos voltassem instantaneamente. 

— Vejo que vai ser tediante. É impossível chegarem perto de mim. Meio triste ver que foi meramente isto que Ádnis conseguiu chegar com vocês. 

— Vou tentar amarrar ele. 

— Minhas balas não passaram, o gancho não irá também. Enrolar a corda nele vai apenar ser um atalho pra energia dele de atingir. 

Réviz se reuniu com Mark novamente e discutiram as opções para prosseguir. A insatisfação do pai transmitiu insegurança para o jovem.  

— Se minha habilidade não tivesse mudado... 

— Sua habilidade? 

— Vamos recuar — continuou Réviz. 

— Sinto muito. 

O grupo tentou colocara a concentração para fora do embate marcado, no entanto, Ernec levantou dois dedos de uma vez, fazendo um raio duplo passar e atingir os dois em suas pernas. 

— Estou me segurando bastante aqui, tá bom? Suas habilidades são extremamente defensivas, e a minha é ótima para controle de grupos a curta-média distância. Não quero ser ignorante, mas... vocês não são capazes de fugir de mim. 

Julgando os adversários na última afirmação, Ernec decidiu interromper a apreciação do horizonte do lago e encarou os terceiros níveis. 

Mark não perdeu tempo, as chamas já contornavam o corpo e conseguiram se levantar a ponto de dar outro passo e... Outro raio veio. Réviz tentou puxar a arma e... Outro raio veio. 

— Essas chamas são um incomodo mesmo... Bom, se não conseguem fazer o que pedi, não podem me ajudar. Logo, assim como Feites, não são mais necessários. 

— Te... te-temos que... sa... sa-ir! — exclamou Réviz. 

Conduza. 

Ernec abriu completamente a mão direita e mostrou a palma para os dois, que continuavam paralisados no chão. Um raio foi lançado entre os terneiros níveis, arremessando os dois para lados diferentes no impacto. 

Pouco a pouco a iluminação enfraquecia, escuridão suavemente instaurou e deixou o local mais escuro... mais amarelado. O ar começou a ter cor, um tom amarelo-queimado que dava ânsia de focar por muito tempo. 

Nuvens minúsculas apareceram sob o chão e começaram a possuir luz. Raios de eletricidade apareciam no centro delas e condensavam as cargas dentro da nuvem. De repente, estas cargas de espalharam pelo ar e cobriu os terceiros níveis. 

Uhihasasaggahhg! 

In... fer... nuhhaaasgh! 

Uma focada tempestade de raios se instaurou num lado do lago, o prefeito havia desaparecido e o que restou foi os clarões amarelos. Todas as direções e ângulos eram atingidos; olhos reviraram de novo, músculos perderam a função, ossos batiam e ar se recusava a entrar pelas narinas.    

— Tinha fé que a profecia daria frutos, é uma pena que terei que ficar por mim mesmo. 

No amarelo que foram mergulhados, a voz do prefeito ecoava com tanta reverberação que causava oscilações nos tons, eram como se muitas pessoas falassem juntas, humores diferentes, intonações diversas. 

— A derrota está certa. Já que não conseguem se levantar então... 

Não se esqueça. 

Um dos sons se distorceu mais do que devia, a continuidade da palavra foi cortada por um limpo som — ou melhor, um som mais limpo do que do prefeito, um gutural sinistro. 

Mark, estirado no chão, olhava forçadamente para frente, sem conseguir mover o pescoço. Perdeu a noção de profundidade quando tudo se resumiu a uma cor amarela, mas, embora paralisado, conseguiu sentir um arrepiado incomum. 

Calafrio. 

— Então não se esqueça. 

Outra vez a mesma frase. Diferia das anteriores, era um chamado carinhoso e cuidadoso de uma mulher. Calafrio. Algo se aproximava para perto, começou a perfurar os tons monótonos num branco ofuscado como de um farol. 

Centímetro a centímetro, uma silhueta completamente distinta surgiu para Mark, o seu próprio eu misterioso, o fantasma que tanto carregava confiança cega.  

Parou e olhou para baixo, encarando o seu eu de carne, indefeso e a mercê de qualquer ação.  

— Não se esqueça. 

— E-es...esque... cer? 

— Não se esqueça! 

O fantasma, embora sem uma boca, emanou uma voz feminina que dizia a uma só frase. Contudo, a igualdade das palavras se tornou o contraste do que presenciou: chamas brancas começaram a possuir o fantasma, imitando as que o jovem costumava a usar. 

— Não se esqueça. — Mais fortes a chamas saiam. — Não se esqueça. — Mais fortes. — Não se esqueça! — Mais e mais fortes. 

— Re-re-viz! 

Tentou procurar pela presença do pai, forçou o corpo que tremia involuntariamente e o folego escapava pelo nariz sem sinal que poderia voltar, não conseguia respirar ou pensar direito.  

E forçou pra valer. Os punhos contrairam e veias começaram a pular no braço, a mente implorava pelo controle do corpo, inutilizado pela eletricidade que fluia sem parar.  

Ciano brilhou. Dedos conseguiram fechar e se apoiou no chão apropriadamente. 

Dentes exprimiam e olhos travavam. O ciano brilhou mais. Fogo abraçou cada célula e os efeitos paralisantes ainda permaneceram. Vagarosamente, Mark conseguia se mexer sobre muito esforço ainda com os poderes regenerativos.  

— Não se esqueça. 

A presença fantasmagórica se virou e adentrou mais na névoa amarela, relutante, o jovem decidiu segui-lo, cambaleando pelo fato dos joelhos se recusarem a cooperar. 

— Ghhghhg... 

— Leeee...le-levaantaa! 

Mark viu o guia pálido parar. Perto dos pés, seu pai estava deitado no chão, lutando para manter a consciência ligeiramente estável. O jovem estendeu o braço e alastrou a regeneração constante para o pai, que relutantemente conseguiu se levantar. 

Suor escorria e a respiração pesava a cada segundo, as chamas não podiam cessar para não despencarem imediatamente. Desmaiar significaria morte, a chance de manter a energia e ignição ativas o tempo todo era a chave para conseguirem sair de lá. 

— Não se esqueça. 

— Esquecer... O-o quê?! 

Seu eu fantasma não deu a mínima para a pergunta, se virou e foi para uma direção diferente, um lugar que o amarelo ficava denso a ponta dos pés desaparecerem. Cada milímetro que adentrava na névoa, as chamas do fantasma cegavam. 

O farol em forma de guia atraiu Mark, que não tirava a mãos dos ombros do pai.  

— É pra cá. É prá... aahhhhgigh! 

A paralisação voltou em totalidade. Ao adentrarem na região densa, os efeitos da eletricidade aumentaram e inutilizou as chamas. Cairam novamente, o nariz de Mark começou a sangrar e Réviz se preocupou, tentando alcançá-lo... mas o corpo decidiu não mexer.  

E o fantasma... continuava a adentrar sem problemas, a silhueta se tornou difusa e definiu como uma verdadeira luz no fim do túnel.  

— Ferva! 

O ciano fortaleceu, e somente sangue veio em resposta. As chamas não conseguiam acompanhar o ritmo dos danos. 

— F-ferva! Fer... 

— Não se esqueça... meu puro. 

— Mark! Mark! 

A fala incomum do fantasma, que se virou para o jovem com um olhar triste, veio. Réviz usou as forças restantes e chamou pelo filho adotivo e apontou para a forma característica do prefeito. 

Outra silhueta escura apareceu, Ernec estava perto deles e poderiam pegá-lo desprevenido. Poderiam apenas, pois não conseguiam fazer mais nada que não seja esperar por uma morte lenta. 

— Esquecer de quê? De quê? DE QUÊ!? DE QUÊÊ!? 

Saliva escorria pela boca, suor continuava a aflorar, dedos tentavam esmagar a terra, pernas sacudiam e a garganta gritou. Réviz, permitiu o último suspiro passar pela surpresa, Mark forçava tanto o próprio fogo que... começou a ter uma coloração azul-escura. 

— Cacetada de... de... como? 

O fogo escuro tomou forma e continuava a arder involuntariamente, os olhos brilhavam e os cílios ficavam reluzentes. Por um segundo, teve a impressão que seu corpo se tornou uma chama, mas durou o suficiente para um piscar de olhos confirmar que foi um engano. 

Engano. O fantasma, que emanava luz a frente, sumiu. Mark era quem emitia uma luz tão forte quanto o guia confiante. A voz saiu limpa, o esforçou do corpo desapareceu e ficou leve. 

— Que brilho é este? Como se levantaram? — ecoou as milhares de vozes de Ernerc. 

— Réviz, vem! 

— Está diferente. 

Nada ainda conseguiam ver, mas Mark insistiu e não questionou mais a procedência do seu poder, apenas estendeu o braço livre e repartiu esse sossego momentâneo com o pai.  

— Anda, você tem que alcançar ele! 

Pernas retomaram as forças e conseguiam ter o controle de volta. Imersos na tempestade, foi a vez fogo azul-escuro inutilizar algo. Começaram a correr em direção ao borrão preto. 

— Ah, entendi. Certo, certo. É realmente um poder muito inconveniente... 

Depois do borrão desaparecer, uma barreira de eletricidade apareceu entre os terceiros níveis. As pontas dos dedos de Réviz foram impedidos, impulsionados para longe do alcance que tocaria Erncer. 

— Argh! 

Uma ligeira fumaça surgiu, roupas e pele eram queimadas com o ligeiro toque. A dor profunda fez com o que afastassem.  

Cof! Uh... carambolas. 

O corpo do jovem protestava pelo que a mente definiu como resposta. Réviz tinha que tocar Ernec, no entanto, dor profunda circundava em volta. Mark segurou o ombro do pai mais forte e ignorou o sangue que escorreu dos olhos. 

— Não vai sentir nada, anda! Anda! Andaaaa! 

As chamas começaram a se aquecer novamente, era acometido por fadiga e a regeneração sofria para manter o ritmo. Não bastava a área densa da névoa, precisavam atravessar uma inteira parede maciça. 

— Mark... 

— Eu e você vamos aguentar. Vamos, sim! Aaaah! 

— Aaaah! 

Forçaram os dedos para dentro, Mark segurou as costas e o ajudou para impedir que fosse jogado para longe. Réviz sentiu e viu a força de vontade, que convertia em mais sangue no rosto do filho. 

Ernec estava atrás da barreira, tinham que insistir. A mão brilhante e queimada de Réviz apontou para onde estaria a cabeça e forçou mais ainda.  

Dor vinha, dor ia. A regeneração tentava apagar os efeitos da eletricidade mortal, embora não apagasse a sensação de dor que não cessava. 

Mais perto, mais forte a repulsão. Os dedos atravessavam e o pulso de Réviz tinha passado quase por inteiro, estava perto. Só mais um pouco. 

— Cof... — Mark soltou a mão. 

A tosse úmida por vermelho. O pai contraiu cada músculo do corpo para aguentar a dor, e o jovem mal conseguia manter os olhos abertos. A falta do apoio nas costas foi como um alerta fatal, o primeiro puro estava gastando toda a vitalidade para subir além do limite. 

Chamas enfraqueceram levemente, a pele de Réviz começou a correr e aparecer em carne viva, a conta não estava em equilíbrio. Daquele jeito, iam finalizar a morte e serem pulverizados pouco a pouco. 

“Então não se esqueça...” 

O fantasma apareceu? Talvez... Na verdade, Mark alucinou com a voz deste fantasma. A cabeça ficava tão leve a ponto de dizer que não era sua. As pernas enfraqueciam a ponto de dizer que não eram suas... 

— E-eu! Não! Vou! Desmaiar! Eu... eu... 

“Meu puro...” 

Quando abriu os olhos... Réviz estava dando tudo de si para não perder o progresso. Perfuraram a barreira na base da força bruta e pagava com a própria carne. A pele estava escura, fumaça, roupas viraram cinzas... 

A sensação de que estava prestes a perder alguém. 

A sensação de que podia fazer alguma coisa. 

A sensação de que havia algo esquisito. 

A mesma sensação de ver uma ferida aberta de um irmão. 

A sensação fria de... pisar na neve. 

— INCINERE! 

O toque nas costas ressurgiu. Chamas arderam num azul galáxia. A pele morta retomou vitalidade. Um alívio descomunal aflorou no vice-líder, que teve até as roupas reconstituídas. 

— Impossível! 

— Senhor Réviz! 

Um barulho de canhão apareceu de forma no nevoeiro amarelo. O som característico do disparo de uma lança acertou o lado, fazendo com que uma onda de água espalhasse feito uma chuva. 

A figura borrada de Ernec tornou-se clara, o nevoeiro se difundia e perdia os efeitos. Eletricidade que corria solta no ar se dissipou para os ares e sumiu. A parede desapareceu e deixou o caminho completamente livre para o vice-líder.  

Atrás do prefeito completamente enxarcado, Feites o abordou com a ponta da lança nas costas. 

— Agora! 

Contradição! 

Desta forma, o prefeito foi pego de surpresa pelo contato físico do examinador de memórias, que logo começou a usar sua energia finalmente. 

Ao menos, era isso que presenciavam. Mark, que caiu no chão, estava prestes a perder a consciência... vendo muita neve ao seu redor. 

  

Réviz apressou o passo, o vazio restaurou a nova biblioteca da mente de Ernec e... 

— Um único que livro?! 

Nenhum corredor ou estantes, apenas uma mera mesa que flutuava pelo nada, que tinha um livro de capa preta em cima.  

Apertou os punhos em desgosto, o esforço que tiveram tinha de ser compensado neste momento. Não remediou eu dar passos pesados, consumidos pela raiva. Apanhou o livro e folheou para propagar seu ódio. 

— PÁGINAS EM BRANCO? ESTE SUJEITO NÃO TEM MEMÓRIAS, NÃO TEM... Hm?! 

No sumario do livro, indicava que existia um único capítulo perdido no meio do livro, seu título era: 

— “Um aviso para o Segundo Setor”... 

O escritório do prefeito, dentro da prefeitura. Os blocos flutuantes se dispersavam novamente e o alarme de cada andar se desligavam. Guardas voltavam-se para patrulhar no lado de fora  

— Conseguiram escapar, ótimo! Certo, vou escrever a carta, certo, certo. 

Pegou uma caneta e um papel na gaveta da mesa, porém, hesitou antes que o bico encostasse e escrevesse o que desejava.  

— Ah, é... Certo, irei me ajeitar apropriadamente, deve estar vendo minhas memórias neste momento. 

Guardou as ferramentas para gravar a carta novamente na gaveta, estendeu o braço um pouco por baixo da mesa e apertou um outro botão. A mesa abriu um pequeno compartimento, que levantou um espelho para refletir o rosto do prefeito. 

— Bom dia... Quer dizer, boa tarde! Não sei o seu nome ao certo, mas suponho que conseguiu tocar na minha cabeça; era o que eu desejo afinal das contas.  

Arrumou o penteado e cultuou a própria aparecia junto de uma leve passada de dedos na sobrancelha e queixo. 

— Sem perder tempo, certo? Afinal, consegui uma maneira de limitar seu acesso a memórias. Esse detalhe está em comum com muitos tópicos, inclusive a busca pela tal “Quiral”.  

Suspirou por um segundo e se rendeu a vontade de tomar mais um gole do café, o vapor continuava a sair, deixando um leve sorriso no reflexo do prefeito. 

— Quero que impeçam os cristais e a Amanda, no processo, vão encontrar pistas sobre a Quiral. Óbvio que usarei o meu poder político que me resta para facilitar para vocês, já que preciso me manter aqui para cumprir minha parte com a Estrela Sorridente. 

Apoiou o queixo com a mão e balançou suavemente a xícara de café, a visão abrangente da cidade chamou a atenção do prefeito, que continuou falando para si mesmo no espelho: 

— Não têm nenhum lugar seguro para ir. Desta forma, se aceitarem minha ajuda e me ajudarem, irei retratar a gravações alteradas.   

Levantou-se da cadeira e ergueu a xícara para a explicação final: 

— Vão para a Terra Exilada. Tenho certeza de que o próximo cristal será enviado ao pilar que cuida daquela área. Quando chegarem, encontrem-se com meu informante: o Diego. Devo ressaltar que também tenho certeza de que Amanda estará lá. Façam a sua parte que Diego será a extensão do meu braço auxiliador. Caso a Quiral esteja viva, com certeza, passou por lá. E... 

Com o dedo mindinho levantado, trouxe uma formalidade extra para o comando que encerraria o poder de Réviz. 

Fim da memória. 



Comentários