Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 2 – Dispensando a Burocracia

Capítulo 48: Armadilha burocrática


 

O grandioso prefeito da Cidade Flutuante irá narrar daqui em diante. Isto é o certo, acostumem-se rapidamente com minha valorosa presença. Presumirei que conhecem minha identidade, embora seja meu personagem público a fonte de qualquer ciência prévia. 

Feites é um ótimo rapaz, seu jeito incomodo de tomar para si cada etapa formal é indelicadamente educado. E eu? Sou o que preciso ser. Um prefeito? Um amigo? Um singelo colega? Ou um pilar da estrela sorridente.  

Com esta vaga introdução, destacarei os tópicos tão prudentes desta conversa junto a Feites e os inconvenientes terceiros níveis: um pilar da estrela sendo prefeito — barulhos de surpresa no fundo, por favor —, profecia — que chatice —, sombras ambulantes e a tão informal Amanda — vulgo biscate.  

Foi eu que fiz algo malvado na noite de ontem? Nããão, longe de mim. A estrela sorridente não é uma organização criminosa qualquer, é um ecossistema. O mais importante comanda, ou seja, nada mais ou menos que a minha pessoa — assim certo devia.  

A estrela está por muitos lugares, e isto não é algo necessariamente ruim! Polícia? Até lá nós já estamos. Logo, vem a razão de eu precisar de ajuda de terceiros níveis — eles sãos os únicos que acham que também não são da estrela! — pois estamos em todos os lugares. Não entenderam, obvio que não captariam minha genialidade. Vou desenhar para vocês.  

Feites me contou que apresentou as memórias do Felipe, revisarei brevemente para mentes mais lentas como as suas: os puros, usuários de energia que surgiram antes da guerra do pôr do sol, comandavam as ODSTs com auxilio de simpatizantes do velho reinado. Afinal, a guerra foi apagada com o tempo — como ajudinha de uma lavagem cerebral —, e os ideais foram mantidos pelo puros.  

Mas as convicções que a causaram não foram apagadas.  

Puros, simpatizantes de Adnis, fecharam a guarda. A estrela sorridente, simpatizantes de Édnis, apenas continuaram as atividades após os desaparecimentos dos dois reis imortais.  

Todos perderam as memórias da guerra, menos os pilares de Édnis e os puros de Adnis. Que conveniente, não?  

Cada rei tinha sua carta na manga para manter suas motivações ainda vivas, somos nós que continuamos o jogo. E já sabem quem ganhou.  

Desta forma, a profecia de Édnis surgiu e espalhou pela organização. Precisamos nos preparar para que nosso rei volte a este plano terreno e, para isso, os cristais entram em jogo.  

Após enxotar cada um dos puros de dentro para fora, tínhamos todo o poder necessário para localizar os cristais. Quando todos estivessem em nossas mãos invisíveis, a profecia daria início.  

A “rivalidade” é só uma fachada para controlar os terceiros níveis, mal sabem eles que brincam de gato e rato ao lutar contra os sorrisos estelares de um céu tão imenso. Logo, os pilares seriam os substitutos do centro de poder de uma ODST, contudo, não significa que o pilar precisa estar em uma.  

Cada pilar age por sua motivação, escondidos dentro de seus planos e mentes conturbadas. Meus conhecimentos são detalhes acumulados dentro dos territórios que tenho influência, sendo somente a Passagem, já que cada pilar se mantém fechado em bolhas, para evitar qualquer suspeita. 

Hm, parece que estamos seguindo a mesma lógica dos puros.   

Infelizmente, não pude ver os puros originais caírem, sou descendente do pilar que concebeu esta cidade. E, felizmente, aqui tenho a linhagem dos descendentes de Felipe, comendo nas mãos da estrela desde que nasci.  

Somente os pilares correspondentes fizeram o que foi necessário para tal poder controlarem. Os outros usuários ficaram presos em suas ODSTs, seguindo um senso de justiça sem sentido que carregavam da guerra; podendo usar o poder criado por Adnis a nosso favor.  

Mas eu sou diferente — deveras —, não compactuo com o propósito real dos cristais, tal visão tão calorosa e valiosa que carreguei é uma visão sem os reis. Para o que manter um raciocínio fechado no passado se temos o poder em mãos no agora?  

Agora que tenho a conveniência de ter dois terceiros níveis de outra ODST, foi muito útil, porque o jogo de gato e rato pode tomar forma de verdade: perseguir aqueles que não enxergam a minha visão como verdade absoluta — os verdadeiros sorrisos maléficos da estrela.  

Sou prefeito há quase vinte anos, conheci inúmeras pessoas “boas” que vieram de mais linhagens da estrela, porém, sempre há de existir o polêmico no sereno.  

Contextualizando de forma incrível e soberana: cada pilar recebeu uma missão de preencher os cristais com energia da criação, todo o ser humano tem um pouco, mas nem todo pode usar uma ignição e chamar a sua criação, está aí a diferença de um zé qualquer com um usuário dos dias atuais.  

Minha secretária me entregou o cristal há semanas, aposto que os demais pilares também receberam um e aposto que já tinham em mente um método para captar tal quantidade esmagadora de energia necessária.  

Eu ia utilizar o dia do festival para transportar vários presos sentenciados a morte de muitas regiões da Passagem para as pedreiras distantes no extremo da área industrial da cidade. Esse pessoal fez besteiras e dei um jeito de justificar suas vindas, independente do crime ou sei lá o quê.  

Resolveria muitos problemas num ato. Meu irmão contou que teve problemas em proteger o cristal na câmera de vigilância do nosso museu, então agi para transportá-lo junto para um local mais seguro: meus próprios braços.  

Antes de executá-los e absorvê-los ao cristal, fiz minha transmissão de lá mesmo, diante dos presos amarrados — um holograma do meu corpo no palco do festival foi ótimo para desfaçar o cenário do que uma câmera comum, haha! 

Ai, aparecerem as tais sombras ambulantes do meu lado, tentaram atacar os presos antes de mim. Foi neste momento que a ficha caiu. Estes monstros são a criação do pilar central da estrela sorridente, não sei muito sobre ele, mas apenas disseram que estariam juntos do cristal para facilitar a captação. De qualquer forma, precisava enviar o cristal pronto pare ele.  

E mais uma vez, de qualquer forma, não fui eu que invoquei estes monstros do cristal.  

Pois a pedra linda em minhas mãos era falsa.  

Meu pesar da mente foi real naquele momento, quem me entregou estre cristal foi a minha secretária, a Amanda, a mesma mulher que meu irmão relatou aparecer no festival fora do planejado, atuando por sí mesma ao sacrificar inúmeros visitantes desnecessariamente.  

E acreditar que meus agentes podiam ter evitado o envolvimento dela. Agora, tenho pessoas que estão contra mim em todos os ângulos. Sandir me contou que agora a bruaca tem uma máscara — como se fosse impedir algo.  

Por sorte, não fui sozinho para o abate nas pedreiras. Uma gatinha branca percebeu este fato junto comigo, rapidamente, se transformou num falcão-peregrino e foi auxiliar na tragedia — um poder muito útil.  

Logo, me restou finalizar os monstros— uma honra em serem mortos por mim.  

Depois de tudo isso, precisei reavaliar meus planos: não posso carregar o cristal e deixar a mercê do pilar central, pois direi não a Édnis sempre, mas isso denunciaria minha posição contrária ao resto da estrela.  

E Amanda não pode fingir que fará o que quer por conseguir controlar os monstros com facilidade. Todavia, esta situação foi vantajosa certamente certo.  

Como? Vou fazer a ilustração final.   

Os terceiros níveis podem pegar esta mulher para mim, ficando dentro da farsa do seu jogo e responsabilizando outro pilar pelas brincadeiras fora do setor deles, eu ficarei no meu personagem de bom prefeito e ainda terei informações de locais mais distantes. É perfeito demais.  

Arranjarei a brecha para identificar o pilar central no processo, acabando com essa baboseira rei ali ou rei lá.  

Desta incrível maneira, resumi as informações. Minha nobre narração terá que sessar por motivos de força maior, eu voltarei em breve, não se preocupem meus queridos leitores e ouvintes.  

 

— Me impressiona sua capacidade de ter um ego enorme e sinceridade desprazerosa.  

— Quer dizer que tem um dos mandachuvas da estrela na minha frente e posso encher ele de porrada agora mesmo?  

— Exatamente.  

— Não me toca! Senhor-dizia-saber-de-tudo.  

A longa explicação cessou e Feites havia balançado a cabeça com tamanho desconforto. Uma batida forte alastrou pela mesa de escritório e anunciou o descontamento de Luri, que estava com as presas a mostra.  

O anfitrião da noite anterior estendeu o braço ao levantar da cadeira e segurou o punho que tinha como alvo o rosto sereno e calmo do prefeito.  

— Se fazer isto, afirmo que não encontrarão quem procura. “Cento e dezessete”, não é? Sei tanto quanto o Feites sobre o desaparecimento de um ente querido, já que tivemos a mesma fonte: os livros escritos por uma criança que via o futuro e um puro frustrado.  

— Ah, é?! Algum livro previu isso aqui? 

— Luri! 

— Até... você?  

A mulher se esforçava para chegar mais perto do prefeito, o terno amassou e conseguiu aliviar das garras de Feites, que não aguentou a força. Subiu na mesa e preparou para mergulhar o punho direito nos dentes que sorriam levemente de Ernec.  

Um ato de violência viria a ocorrer. Viria, sim, se não fosse pela corda de aço que envolveu pela barriga e a derrubou para trás.  

Ao olhar para cima depois de cair no chão, Luri notou que Mark estava um pouco confuso, apertando os lábios com os dentes.  

O jovem a impediu ao disparar o rope dart, o arpéu a enrolou com precisão demais para uma sala pequena, então, o que determinou esse fato foi o que disse a seguir:  

— O fantasma quer você longe dele.  

T-tsc. — A líder engoliu as próprias palavras.  

No mesmo dia, acabara de comentar sobre a ignorância de um suposto fantasma ter custado o desaparecimento da irmã, agora, o homem-coincidência impôs em prova se tinha o verdadeiro arrependimento.  

Ignorar novamente ou confiar no que achou entender. A decisão foi dela. Levantou com calma e arrumou o terno amassado, sentando-se na cadeira. E, em silencio, permaneceu; abraçando a si mesma, sem retirar o olhar do prefeito.  

— Quer impedir sua própria organização. Quer impedir a Amanda. Quer nossa ajuda... pois então dê o esclarecimento a esta mulher.  

— Como disse, minhas informações são limitadas. Mas darei todo o meu ponto de vista.  

Mark desarmou a arma e sentou-se ao lado da líder, que demonstrou nenhuma reação que desse dica do que pensava.  

Presenciando que não haveria interrupções, Ernec levantou o dedo mendinho e deu mais um gole no café antes de fazer outro pequeno discurso:  

— Tudo que sei se resume a vontade do pilar central, ordens e nada mais. Creio que quem planejou e executou esse sequestro, visando obedecer ao “mandachuva dos mandachuvas”, foi o próprio chefe da ODST do Segundo Setor.   

— O quê?   

— Ele arquitetou uma emboscada e isto que foi me passado. Só pude ouvir a figura tênue do pilar central numa chamada de vídeo que ocorreu há uma semana. Se o que for, estão mobilizando o Primeiro Setor para receber outro cristal. Não sei do objetivo real que visavam ao raptar alguém numa simples missão de reconhecimento. Afinal, seu chefe é da estrela, e a vítima foi raptada pela estrele, trabalhando para estrela sem saber enquanto achava que impediria a estrela. Que estranho, não? Mas conheço quem poderia desvendar tal estranheza. Seria falar como uma estátua... No entanto... Perdoem-me.  

Ernec não deu atenção para o sussurro de Luri, que não processou a informação de seu chefe ter feito algo de mal, e prosseguiu com as deduções. Assim, apertou um botão embaixo da mesa e todo o lugar sacolejou.   

Uma parede de aço surgiu do chão e separou o cômodo em dois, isolando o prefeito do grupo que invadiu a prefeitura.  

Janelas fecharam, os blocos flutuantes se conectaram um a um e os guardas criaram o fervor do chamado de emergência: um alarme tocou pelo edifício recém montado, que estava flutuando em peças segundos atrás.  

— Tenho um personagem para atuar e uma população para saciar com entretenimento.  

A voz abafada do prefeito veio do outro lado, fazendo Feites sacar a lança e tentar perfurar a parede, não tendo sucesso.  

— Venham me encontrar depois. Estarei preparado para a verdadeira reunião marcada. Façam o favor de fugir daqui enquanto estou de bom humor.  

A porta do escritório abriu sozinha, ruiu o barulho comum da falta de óleo e governou os três pares de olhos para o corredor, que tinha agora três caminhos diferentes para seguir.  

— Que surpresa, né — disse Luri, de braços cruzados. — Qual o plano, Mark?  

— Não se exalte por favor, devemos achar a saída — interviu Feites.  

— E-eu? Quer que eu faça o quê?  

— Usa essa fantasminha camarada aí.  

— Ele não aparece só de eu querer!  

— Poha!  

A sirene de alerta aumentou o volume e passos apressados ecoavam pelo corredor, que se construía num labirinto extenso. Luri avançou pela porta e perdeu o senso de direção com tantos lugares para ir.   

Sem qualquer abertura para o horizonte, poderiam acabar por ir na direção de mais guardas. O suor frio desceu pela pele delicada. Para um lado ou para o outro? Não sabia decidir. Pensou uma única vez, criou escudos para cada um. Feites estendeu seus poderes e criou uma cópia do grupo.   

Silhuetas apareciam em sombras até revelar os policiais que responderam ao alerta do prefeito. A instalação virou um cubo completamente isolado do exterior, faltava apenas perseguir e encurralar os invasores.  

— Parados! Ei! Ei! Quê... — O oficial da frente parou o passo com o que presenciou: clones dos desconhecidos foram para todas as direções. Sacudiu a cabeça e esfregou os olhos até voltar com a adrenalina para recuperar o seu dever. — Vamos, andem! atrás de todos!  

Com os policiais anunciando a ordem, Feites correu para o lado contrário e os outros o seguiram. Os clones criados pelos poderes ilusórios dividiram os policiais que os perseguiam.  

Enquanto corriam, o chão inclinou levemente e quase forçou o equilíbrio dos perseguidores, que se apoiaram nas paredes para não caírem. Um rastro de luz apareceu, era o caminho adiante dos pés deles que deslocou do prédio e flutuou para longe.  

A abertura forçada revelou a seção de mais outro pavimento. Mais guardas apareceram no outro lado do corredor, separados pelo vão que abriu. Se pulassem para o mesmo pavimento, seriam cercados.   

Em baixo, cercados. Acima, cercados. Opções se afunilaram e apenas o lado de fora estava livre de guardas. Livre, claramente, pois estavam a dez pavimentos do chão. O pequeno prédio que facilitou o acesso estava do outro lado.   

A configuração da saída mudou. E uma opção precisou ser escancarada:  

— Mark! — Ressoaram Feites e Luri em uníssono.  

— Tá-tá-tá! Beleza, maravilha, esplendido, magnifico, adorável, fervoroso...  

Adjetivos foram e vieram enquanto preparou a corda do rope dart. Pernas tremeram e dentes bateram. Para fugir, precisavam pular. A sala flutuante destacada pairou brevemente ao lado. Mark apontou e atirou o gancho no concreto voador.  

— Parem, malandros! — O oficial mais perto estava.  

— É mais alto que no parque. É mais alto que no parque. É-é... aaaahah.  

Antes da mão do policial atingir a blusa azul, a líder do Segundo Setor e o anfitrião deram casual empurrãozinho em Mark, que teve a linha de raciocínio interrompida por livre e espontânea pressão.  

— Ainda bem que nem fiz questão de pentear o cabelo hoje.  

— Idem.  

Comentaram os apreciadores de cabelos longos que balançavam no ar, com o doce ruido de um jovem gritando ao lado.  

Tiros disparados pelos guardas que fracassaram tentaram acertá-los, embora a maioria tenha errado, um deles acertou Feites, mas nada sentiu; o escudo de Luri fez a bala encravar poucos milímetros acima da pele, permitindo que fosse tirada com uma simples limpada com a mão.  

A corda tensionou e, logo em seguida, o gancho rompeu o concreto que segurava o grupo voador, que foram jogados para frente como dignos projeteis suscetíveis a gravidade.  

Resista!   

Luri uniu os punhos e depois enquadrou nos dedos a visão que centrava os dois colegas a frente. A aura se espalhou e formou um escudo que assemelhava com uma espécie de imenso prisma apareceu em volta e tornou-se luz sólida.  

Voaram mais ao longe, prédios passaram, aves cumprimentaram e os ventos zumbiram. Vagarosamente, o alvo de aterrisagem se tornava mais claro... uma árvore que cobria a extremidade da praça.  

Adentraram nas folhagens e fizeram um rastro da queda, cortando galhos e esculpindo um formato circular que deixou a luz do sol passar.  

— Aí, ah, uh... Ahhh, ai... Pera... nem doeu! — Junto as costas no chão, Mark olhou pelo corpo e tudo que reparou foi um monte de nada, nem um átomo de poeira.  

A dor que sentiram foi inteiramente psicológica, pois a líder estufava o peito pelo valor que sua energia tinha. O resto aterrissou em pé, finalizando o que o escudo devia aguentar antes de uma rachadura do prisma que envolvia o grupo se desfazer em vidro estilhaçado.  

— Obrigado, de nada. Valeu e falou! — Finalizou Luri.  

Uma idosa presenciou os três jovens que caíram do céu ao seu lado enquanto alimentava pombos, sentada num banco. O raio de sol que abriram a força na árvore iluminou a senhora, que sorriu ao ver o grupo correr para longe.  

— Esses jovens tão animadinhos, heheef...  

Contudo, os guardas não conseguiram persistir na perseguição, os policiais foram para a praça procurar sinais dos invasores, encontrando nada que desse indícios.  

O objetivo criado após a devastação do parque foi concluído. Precisaram dar os toques finais na consequência de fugirem ao chegarem no carro, que saiu a toda velocidade em direção a mansão. 


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