Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 2 – Destino Flutuante: A Entrada da Cidade

Capítulo 32: Chacina Flutuante (Parte 3)


 

— Obedeça! 

Os passos lentos de Mark aceleraram como um foguete que tinha o combustível o puro nervosismo. Atravessou a linha de fogo de Réviz com olhos fechados. As criaturas eram mortas logo na sua frente, seu pai não permitiu que qualquer obstáculo prevalecesse ao aproximar do filho. 

Abriu os olhos e já estava percorrendo o caminho próximo do bate-bate. As vibrações estavam claras o bastante. Do outro lado da montanha de destroços, o seu horizonte, viu a colega lutar com agilidade num terreno plano que formou uma arena de destruição. O que era aquilo? Luzes roxas e alaranjadas piscavam com os impactos.  

— O rapaz do palco... 

Continuou o caminho, o arpéu ia e voltava, guiava seu caminho em meio a trilha quase inexistente. Após chegar perto deles, Sandir pulou e o jogou no chão feito um verdadeiro segurança, porém, abordou o protegido junto do ódio que tinha só o touro como alvo até então. 

— Some daqui, suicida! 

— Eu-eu consigo ajudar... eu acho. — As chamas de cor ciano invadiram a blusa azul. 

O apresentador pulou, espantado pelo fogo estranho. Os olhos o fitaram com surpresa… e desmanchou de maneira absurda em seguida. Luri, atrasada pelo touro, pode perceber a falta de movimentação do seu colega de luta de última hora. As chuquinhas balançaram, se afastou e pulou de parede em parede até chegar próximo aos dois. 

— Impossível. É a chama ciana. Moleque, novo plano. Nossa arma agora é você! 

— Ficou maluco de vez, é? — questionou Luri, entrando na frente de Mark. 

Sandir coçou o nariz e sorriu pela descoberta. Luri girou o quadril, irritada. O jovem não queria acreditar na situação. Tudo ali era fora do comum. Devia ajudar. Insistiria nisso com vontade, mas sem a coragem. Arrumou o cabelo hipérbole e respirou fundo ao emitir uma confiança sem jeito.   

— Eu e terceira à esquerda somos inúteis pra derrubar aquela perua metida a psicopata ali. Mas você... você é a arma perfeita contra as sombras! 

Os olhos de Mark e Luri se encontraram num só pensamento. Intrigados pela afirmação, piscaram algumas vezes. Deram a brecha para que o outro continuasse: 

— Sei que apenas pode regenerar, mas existe o efeito reverso nas sombras! 

— Tá dizendo nada com coisa nenhuma! Quem é você afinal?! 

A líder, tentando conservar os esforços de Mark, retomou a conversa para as ideais absurdas que o estranho contava. Realmente precisaria conferir a fonte dessas informações. Mas, num evento de absurdos, qualquer esquisitice parece verdade.  

— Olha! Ele voltou. 

O rabo metálico invadiu o centro dos três, se enrolou em Mark e o puxou para si. Os dentes de Sandir trituravam em raiva novamente, o brilho de sua bochecha veio. Luri rapidamente o chutou, lançou ele numa cabine próxima. 

A moça simplesmente foi rápida demais para o guarda se preparar.  

A violência que podia ser confundida com fogo amigo. O touro foi arremessado com o Mark preso.  

O jovem sentia dor aguda por ter os ossos esmagados, a blusa ia rasgar e os olhos davam a impressão de saltar. 

Chamas vieram e tentou reverter tudo.  

A visão falhava, o vento do ar livre o tocou, e o chão atingiu com força. Não escutava bem e a cabeça doía, porém, mesmo com os membros quase revirados, pode sentir o tremor mais adiante. 

Visão turva contava poucos detalhes: um borrão preto que brilhava em ciano, sacudindo como peixe fora d’água.  

O ciano ardente ainda estava no rabo do touro, haviam se espalhado pelo contato físico. Gemidos vinham como um socorro do monstro. A aparência de metal reforçado pedia a consistência e derretia devagar. 

— Está queimando… de verdade. — Luri esfregou os olhos e testemunhou. 

— E pensar que a profecia é verdade — sussurrou Sandir. 

Sandir apareceu, sujo por poeira e com cabelo desarrumado. Os perigos de transferir o dano ao inimigo estava cravado apenas em aparência. 

Mark ficou com medo daquilo. Os gritos da besta agoniada por cada fio de sua alma. Se levantou e retornou aos outros com rapidez. As roupas rasgadas se contorciam de volta a forma original.  

Luri sorriu por um momento, porém, a mulher egoísta não dava espaço para alívios: 

— Sincronia perfeita! 

Uma luz ligeira pairava o corpo da fera como uma fada. Ficou acima dela e deixou a gravidade atrair a trajetória até o cristal. A pedra resplandeceu num tom que rivalizava com o sol. Uma explosão surgiu, varreu os arredores e… mais nada. 

Não houve danos, o barulho dos motores, que levitavam o parque, se engasgou. Os três combatentes sentiram os pés deslizar na mesma hora. O parque inteiro lutava a fim de recuperar o equilíbrio de sua massa para flutuar.  

Os motores travaram, sentiram a inércia, quase os jogaram ao chão. 

O lugar era incapaz de voltar a posição original. A inclinação aumentou, o destino era ao ponto atingir o chão sem hesitar. 

O touro se calou. Recuperou a postura raivosa, entretanto, se segurou para avançar e vingar sua dor. A mulher de máscara estranha estava ao seu lado, saiu da besta ao emergir da superfície da pele de armadura como se saísse de uma piscina, deixou claro a diferença do tamanho dos dois. 

— Nossa! Adoraria ficar mais. Só que, sabe, damas bonitas tem muito o que fazer. — O cristal estava em sua mão, era equilibrado com destreza na ponta do indicador ao pulsar com a luz acumulada. — Não fiquem tristes, tá bom? Depois eu apareço por aí, hehe... 

A mão apoiada no touro se transformou na ponte que transferiu a si mesma. O corpo havia virado gosma, se liquidificou e se juntou novamente ao monstro.  

Apenas esperava sua vez, a grande sombra ambulante, que comandava as demais espalhadas por todo o parque, virou água negra. Se espalhou pelos arredores como se conectasse a todos os ralos próximos. 

A inimiga que concluiu uma chacina conseguiu seu objetivo principal, seja qual tenha sido.  

Mark estava congelado, sem reação, e Luri mordia os lábios. Os dois estavam aflitos sobre as luzes dos brinquedos e postes que ainda tinham algum grau de funcionamento.  

Ao olharem para trás, a presença do mega estressado não estava mais lá. Havia uma presença totalmente oposta no lugar, um gato branco, que miava intensamente para os dois.  

Quando os terceiros níveis tiveram a atenção tomada, o animal foi direção à entrada. 

— Precisamos evacuar os sobreviventes! — Exclamou Luri. 

O jovem não conseguiu alcançar a moça, o nervosismo dela estava claro, mesmo com a distância crescente.  

Réviz estava incrédulo. As sombras ambulantes que atirava derreteram para literalmente o vazio. Pisou em cima de uma poça negra com irritação. Notou o correr da líder em sua direção e… formou o rosto ranzinza de imediato. 

— A mascarada desapareceu. 

— Escadas retraídas, elevadores bloqueados e sem eletricidade. 

Outro problema. Todos podiam morrer se as estruturas terminassem a inclinação e despencassem. Mark chegou lá com dificuldade, nunca correu tanto em um dia só. 

Antes que pudesse se apoiar nos joelhos, o lugar vibrou e caiu mais alguns metros. O folego escapou dos pulmões, e a fadiga o dominou por completo. Precisava também sair. Quantas vezes se forçou a continuar sem querer? 

Apertou os punhos contra o chão e levantou o tronco. Acima das ferragens que cortou, o pilar imenso da entrada estava rachado. O torque da inclinação deixava iminente a queda da peça. 

Ainda no seu pulso, o rope dart parecia intacto. Uma das belas armas do Segundo Setor reluzia e refletiu uma dica.  

O miar ligeiro passou pelos ouvidos, o gato branco foi até o pilar e sinalizou com as orelhas. Os pelos dele, simplesmente, arrepiaram. 

As vibrações se tornaram diferenciáveis e contínuas. Aquela peça enorme podia fazer todos atravessaram como uma ponte até o chão? Podia mesmo? Mark foi até os dois líderes e concluiu: 

— Tenho uma ideia! 

Os olhos determinados passavam a mensagem para Réviz, que assentiu e trouxe os sobreviventes para longe da entrada. 

O arpéu saiu e se enrolou na base do pilar com leveza. O gancho estava preso, a vontade tinha seu jeito, a força de Mark veio por efeito. Energia piscou em descarga e o rope dart respondeu à altura.  

— Vai! Urgh! Quebra! 

Resistiu a força contrária, firmou o pé no chão e sentiu como se rasgasse o próprio pulso. O pilar cedeu a comoção e arrebentou pelo corte do gancho. Mark foi jogado para trás e os arredores reverberaram no estourar do impacto. 

O movimento parabólico deixou o portão destruído, melhor que isto, firmou uma ponte gigante para alcançar o chão. 

— Réviz, Luri! — Apontou para a abertura, ofegante junto aos joelhos no chão. 

O gato branco correu do tumulto de pessoas, foi até a ponte com os pelos arrepiados. Os arredores, agora, reverberaram em tons desesperados e indecisos, porém, com ligeiros passos sequenciais, as pessoas dispararam para atravessar. 

O lugar tinha a queda planejada para míseros e pequenos segundos. Réviz segurou a mão de Will e o puxou com força para fora. Luri pegou Nirda nos braços e saltou até a frente. E, assim, Mark ficou por último. 

Correu e correu. “Correr” tornou-se vago. Na verdade, ascendeu em velocidade para alcançá-los, mas o chão cedeu no passo pesado e não vago. O parque despencou e teve a sensação de não ter gravidade. O último sobrevivente deu o último passo para a terra firme abaixo e não conteve o olhar preocupado daquele que o curou. 

Mark disparou o gancho e se puxou para a saída improvisada. O pilar teve a frequência igual. Colapsou com o reverberar do parque flutuante. Não teve a oportunidade de sentir segurança tocar os pés. Se atirou numa queda livre, totalmente exposta para o fim fatal. 

A espinha gelou e sentiu a hipérbole do seu cabelo virar uma reta. Nada para o rope dart segurar. Nada para aterrissar. O rosto congelou e os olhos arregalaram. Só havia o chão e observadores que esperavam o pior resultado com mãos na cabeça. 

Resista! 

Luri empurrou as pessoas para fora da visão e gritou sob força incrível. As mãos faziam um pequeno enquadramento que tinha Mark como foco da atenção no centro. Apenas via o jovem em queda, eletricidade fluiu dos olhos até os polegares e indicadores. O enquadramento de sua mão brilhou e apagou no mesmo segundo. 

A ventania estava imponente. Mark se rendeu ao medo e fechou o rosto. Porém, numa quebra de expectativa não tão ruim, a ventania e o ar parado se tornaram iguais. Uma áurea em forma de um cubo prevaleceu ao redor do seu corpo. 

Cinquenta, quarenta, vinte ou zero. A distância diminuiu e exclusivamente o soar de vidro apareceu. A queda livre foi amortecida por inteiro pelo vidro que o protegeu à distância. Seu corpo tremia, pairava poucos centímetros do chão, mas o brilho desapareceu e seus cotovelos tocaram gentilmente o destino, agora, não tão cruel. 

— Um escudo a distância? 

— Me agradece depois… — comentou Luri, com o suor que escorria na testa. — Precisamos sair daqui. AGORA! 

O parque se pulverizou na frente de todos pela queda total. A demolição de última hora fez janelas dos prédios quebrarem. Entretanto, as sirenes cruzavam os ouvidos. Policiais apareceram, e Réviz sentiu os sentidos à toda.  

— Luri, leve-os para mais adiante. 

— Mas pra… 

— ANDE! 

Réviz foi na direção hotel, subiu um dos prédios no outro lado da rua e apenas percorreu com os olhos brilhantes e capuz erguido. 

A moça segurou Nirda, ajudou Mark a levantar e sequestrou Will, apenas fugiram do foco do caos. Nirda tinha lágrimas por todo o rosto. 

O jovem de cabelos brancos tinha a cara amedrontada e cabelo bagunçado. Até agora, parte de seus dedos estava na mesma posição de quando segurou a irmã enquanto notou o ciano. 

Mark apenas não conseguia aguentar, seu irmão estava de forma nunca vista. Nervosismo… não, muito pior. Naquele fatídico dia, viu seu irmão contrair o pior dos traumas.  

E aquilo era culpa dele. Sua irmã aguentava o choro nos braços de Luri, o seu olhar fitava Mark como se pedisse socorro.  

O que de fato aconteceu? Treinamento? Instinto? Mark sabia mesmo o que fazer?  

Embora a culpa recaísse sobre a mulher mascarada, sentia um receio sobre o fantasma que tinha a mesma aparência sua. 

Sobreviventes abordaram as autoridades com espanto, alegria, medo, desespero e… dúvida. Os entes queridos foram assassinados no dia da abertura do parque do festival flutuante.  

O apagão da eletricidade da cidade atrasou a resposta da ajuda, aumentou os danos e deixou a responsável impune.  

As grandes sirenes preenchiam em vermelho a rua por sua extensão.  

— Preciso de alguma explicação — disse o policial ao testemunhar o inferno psicológico e físico. 

Os medos, receios, alegrias e o que restou se conectaram. As vítimas se olharam, e somente um homem, que deu um passo para a frente, pode dar uma satisfação: 

— ANJOS! Anjos nos salvaram. Sim, ANJOS! 

Um ronco de um carro esportivo surgiu, o veículo desviou das pessoas e viaturas. De fato, o piloto extremamente habilidoso foi o pai adotivo. Parou perto do grupo que corria e abriu as portas. 

Luri, rapidamente, pegou os irmãos e os jogou nos assentos. O rosto nublado de Réviz estava muito claro, ajeitou o retrovisor da frente e comentou: 

— Vai chegar agora! 

— O que… Aaaah!  

Mark sentiu a pontada em seu cérebro feito uma cirurgia sem sedativo.  

A visão embaçou e outra imagem encheu a cabeça. 

Outro vislumbre revirava seu interior num purê de memórias e sentimentos… familiares. Um campo verde e aberto, trilha de terra que adentrava no horizonte sem vida. Um portão com árvores e flores mortas na frente. Por fim, uma mansão vibrante em roxo e branco. 

— Aquele caminho morto... 

— Então vejo que convenientemente sabe o que é. Iremos lá. 

— Como assim, Réviz?! — indagou Luri. 

— Do transtorno monumental que passamos, um vislumbre apareceu na hora mais certa. Temos um destino novo para fugirmos. 

— E se for perigoso?! Hein! 

Réviz pisou fundo, e todos sentiram a inércia puxá-los pela potência do carro. Apertou um pouco os lábios, a resposta sobre a decisão impulsiva foi acobertada. 

— Precisamos que não seja. Estamos sobre olhos de pessoas que podem ser mais inimigos. 

As pessoas que estavam no lado de fora desacreditavam na tragédia do parque, mas sentiam o deslizar dos pneus pelas ruas do carro que parecia desgovernado, que desviavam do trânsito. 

 

Foram até o lado de fora da cidade, rodaram as extensões até chegarem no local que trouxe tanta atenção de Mark durante a entrada. Se aproximavam do lugar que tinha morte como recepcionista. Tudo estava cinza e seco, um contrário ao do começo do vislumbre verdejante. 

— Mas qual é o porquê que só a gente tem esses vislumbres. 

— Eu... Eu não sei.  

Réviz sentiu o pesar da falta de clareza e segurou mais forte o volante. Abaixou o queixo como se negasse uma lembrança que veio a mente. 

Andaram por minutos até o primeiro sinal de luz aparecer. Atrás do morro estreito, o lugar chique e fino recebeu os olhares de todos.  

Na frente da imensa porta da frente, um mordomo velho tinha um livro entre os braços. A família de mentira desceu do carro com respirações confusas. Luri segurou Will, que quase caiu, sem forças. Nirda parecia tão tensa que virou pedra na pegada da moça. 

A motivação da chegada melancólica era estranha, porém, de forma esquisita. O mordomo arregalou os olhos ao notar os estranhos abordarem a mansão. O livro escapou do atrito dos dedos após aterrissar sua atenção no jovem de azul. 

— A profecia começou. … Oh, não.  

As páginas se abriram no impacto. Da mesma maneira que sentiu outras vezes, a pele de Mark estremeceu com a sensação, porém, não tinha medo. Sentiu um quente que o receba com afeto e carinho.  

O lugar onde pararam pertencia a… 

Felipe... — O jovem e a voz soaram juntos. Por um instante, tornaram-se um, mesmo que Mark não tenha a ouvido de fato. 

Por um mero reflexo de um instinto, um nome surgiu na mente. 


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