Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Volume 2 – Destino Flutuante: A Entrada da Cidade

Capítulo 32: Chacina flutuante (Parte 1)


 

O resplandecer esbranquiçado tinha um significado curto e certeiro em sua mente: o seu eu dos sonhos, que o surpreendeu antes de conhecer Luri e que o observava de longe feito uma assombração que avisa o fim dos tempos.  

Mark, apenas por um segundo enquanto o holograma de outro homem surgia, pode ter uma certeza descomunal disto.  

Espera, esse… esse! 

O seu “si” observador distante estava no palco, mas se esvaiu da vista como fogo ao vento após um homem de roupas elegantes com cabelo fino e espetado aparecer num holograma que sobrepôs o chão elevado.  

Os vislumbres recordavam no consciente perturbado. Tinha algo de errado, muito errado na cabeça do jovem, que arregalou os olhos em desespero sucinto. 

— Réviz... Tem algo, algo diferente. A gente precisa… 

As conversas da plateia geravam um ruido de fundo tão considerável que o jovem precisou elevar a voz para falar com o pai adotivo. Porém, num esforço em vão, suas palavras não alcançaram o volume suficiente para trazer a atenção. 

Porque quem trouxe a atenção foi a presença aguardada pelos espectadores: 

— Muito obrigado! Agradeço a presença de cada um nesta humilde comemoração de nossa cidade. Bem-vindos e bem-vidas, pessoas carinhosas! — discursou o holograma tão fiel que parecia estar ali de fato. 

Os terceiros níveis prestavam atenção no clamar do pronunciamento. Um político cativava as pessoas com calor e compaixão apenas por aparecer. 

— Hoje é especial! Temos mais que somente atrações de nossa cultura, temos o potencial infinito de adaptação! A adaptação do prosperar sem fim! — Estendeu as mãos para o alto. 



Movimentos delicados e lentos, o sujeito parecia uma figura que transmitia o pico de toda educação e refinamento da sociedade, um comportamento corporal capaz de cativar na excelente performance.  

As telas do parque transmitiam o vídeo do palco, deixavam os espectadores sedentos por mais e mais palavras, hipnotizados. 

Prefeito mais bem dito de toda a terra, foi a impressão que o grupo teve. A concentração de otimismo era perceptível no ar denso. Embora, semelhante a um ponto preto numa pintura branca, Mark se destacava ao longe pelo azul vibrante e aflito. Pupilas gritavam e coração ardia. Colocou a mão no peito e apertou com toda força. O coração ia explodir e temia pela ansiedade. 

Tinha algo de errado, pois o fantasma apareceu. Mas o quê? 

— Antes de mostrar as novidades deste ano, quero apenas dar aos turistas o mínimo de contexto da nossa humilde história. Sei que se trata de lendas exageradas, mas percebam o brilho no flutuar do nosso povo trazido após a separação Leste e Oeste, o mesmo povo derivado da lenda dos reis imortais e pilares! O progresso severo do pôr do… 

Desprovido de elegância, o discurso foi interrompido por um tremor que fez o holograma quase cair sobre o palco. Ocorrido estranho foi percebido por todos, o barulho do impacto não foi no parque, foi concretizado no local onde o homem estava de fato. 

Aquele holograma era diferente de uma gravação, era uma transmissão ao vivo e remota, capaz de superar as barreiras físicas e projetar o palestrante no palco. 

O guarda dorminhoco, que estava sorridente como uma musa, assustou-se pelo desequilíbrio do irmão veemente em nervosismo. Correu para ajudar, entretanto, parou-se quando viu a palma estendida contra a ajuda oferecida. 

— Estou bem! Prossiga com o… 

Aquela fala foram reclusas somente ao palco, uma mensagem exclusiva ao guarda foi projetada assim que o inesperado ocorreu. 

Parecia tarde, um evento absurdamente forte e poderoso foi avistado por algo que somente a visão do prefeito podia capturar, então fechou os olhos como se aceitasse um destino diferente do planejado: 

— Sandir… — chamou seu irmão como um pedido, não era a postura de um verdadeiro palestrante, era um desejo sincero que se traduzia sobre a recusa de tais medidas em sua mente. — O selo do cristal foi rompido e liberou as sombras. — Apertou os dentes, indignado com a conclusão. 

Ergueu o corpo cansado e desafiou algo na sua frente de peito levantado, virou ligeiramente o pescoço e continuou, de postura firme: 

— Salve todos que puder. Retorno a cidade assim que... 

O holograma cessou em uma piscada. O guarda estava perplexo, não pode nem perceber o apagão que abraçou o parque, petrificado pela informação difícil de acreditar. No parque da cidade flutuante, no meio do festival, a energia elétrica foi cortada e a escuridão começou a se rebelar contra a luz do luar, que insistia em manter o local minimamente visível. 

— Réviz! A gente precisa sair daqui! Tem que me escutar!  

Pessoas conversavam mutuamente, evidenciando um polo no clima já desproporcional do palco. Sandir e Mark estavam com medo enquanto o resto não passava da mísera de confusões e dúvidas.  

O uníssono de desespero estava em duas pessoas. A silhueta branca alertou Mark, e Ernec avisou Sandir.  

Os outros terceiros níveis estavam vidrados no desenrolar, mas não deram a devida atenção. Mark cutucou o pai e líder, e curvaram as sobrancelhas com o anseio sem sentido do jovem. 

Ambos tingidos sucintamente pelo esperado. Porém… Apenas Sandir tinha uma concreta ideia da maneira correta de interpretar o destino no curto prazo. 

A líder e o vice, enfim, corresponderam a ideia igual ao entreolharem: perigo assolaria. Réviz notou que o inimigo da noite passada perdeu o controle e desmoronou emocionalmente, que o fez ainda mais curioso pelo desenrolar.  

Feito uma ordem intencional, ouvir o passo apressado de salto-altos pelo piso acabou por roubar a atenção e a compaixão de muitos com facilidade óbvia, o silêncio surgiu na aparição surpresa.  

As curvas grandes de uma mulher, que aproximava enquanto parecia estar fantasiada, foi revelada pelo holofote surpresa ao anunciar, esperançosa, a continuação do espetáculo no palco: 

— Olha só! Quanta gente! Realmente, show ver isso. 

O chão tremeu, as escadas até o parque flutuante retraiam, isolando os visitantes de dentro do lado de fora como uma verdadeira ilha. As luzes não voltaram, parecia um movimento orquestrado que seguia o roteiro da mascarada, totalmente a parte de qualquer um que organizava o festival. 

— Vamos, povinho! Significa que não sou carismática que nem o prefeito? Tudo bem, não há problema. 

Os dedos da misteriosa apanhou uma pedra brilhosa, um cristal que brilhava incessantemente em uma luz preta, como se engolisse qualquer outra luz. 

— Réviz, aqui é perigoso, vamos sair daqui! — protestou Mark, que estava com a mão tremendo em aflição. 

— Um momento. 

Sem dar crédito a preocupação, reconheceu o formato daquela pedra; pois é a mesma encontrada na sala de vigilância do museu. 

— Amanda! Explique isso, AGORA! — Sandir, em uma exaltação que expulsou qualquer sobra da aparência carinhosa, propagou o desentendimento com fúria.  



Nojo e desprezo era o que a moça trazia à face quase imperceptível. Girou a pedra brilhante como uma bola sobre seu indicador, jogou para cima e segurou com desdém. Naquele momento, apreciava a vista da plateia com um prazer psicótico, não pela atenção obtida, mas pelo sucesso alcançado do objetivo em mente. 

— Muito bem! Vejam a pedra simples e muito cara em sua frente Hahaha. Digamos que as lendas que Enerc conta todo ano fossem verdades, o que aconteceria com isto em uma ocasião tãooo especial quanto esta?! Ah, é. Você não sabe, porque Ernec nunca conta essa parte. Ele nunca iria contar sobre a profecia. — Se balançava em dancinhas, pulava de felicidade sem cautela. 

— Deixar só positividade? — respondeu uma criança. 

Apesar de ainda acreditarem ser uma apresentação orquestrada pelo prefeito, a plateia começou a exibir desconforto com a moça, que tomava esses sentimentos para a alma em mais puro bem-estar medonho. 

— Isso! Ou, sendo precisa, retirar as energias negativas! 

— Ré-Réviz, por favor! — O jovem puxou com força a camisa que o pai usava. 

O vice-líder virou e se surpreendeu com o tom desesperador do seu filho. Lá não era um mero pressentimento, foi possível descrever em seu rosto o mais puro grito mudo ainda de boca fechada. A mensagem mortífera da necessidade de fugir para longe — a expressão severa de mais pura controvérsia, o rosto que fez no dia do acidente, o terror encarnado. 

— Sabe, existem muitas outras lendas. O prefeito de vocês já disse o quanto foram importantes para roubar o lugar onde moram hoje? 

O olhar parcial se perdia em pensamentos descontextualizados durante a fala, aquela mulher realmente entregava que era precipitado ser tratada como um plano b de uma apresentação encerrada às pressas. Na verdade, o giro de quadris e cabelos no ar clamava pela definição de atração principal da noite. 

Deixou o imenso objeto luminoso escorregar pelos braços envoltos de escuridão. O cristal caiu de ponta no centro do palco e se estilhaçou, gerou sons que ressoaram em frequência graves, diferentes do que o cérebro esperaria.  

Não pareceu cerâmica ou outro material comum; se travava do ruído de um anúncio de uma guerra, um ruído de criaturas vivas. 

O tom baixo alastrou pelos ouvidos da grande plateia ao mesmo tempo que os restos do cristal se convertiam a uma massa negra. Pelo imenso palco, criaturas deformadas, monstros, aranhas, lobos, gorilas e até presenças humanoides surgiram, tomaram forma dos pedaços separados feito um líquido que conquistavam forma sólida e… sem expressões, só silhuetas negras.  

Sem características visíveis, eram, com certeza, sombras que pareciam estar de pé, vivas e pobres de detalhes em breu infinito.  

Réviz foi pego desprevenido, por reflexo, soltou a mais pura declaração que fez Luri amedrontada com pálpebras também trêmulas: 

— Os seres que levaram a Quiral. 

— O quê?! 

O prevalecer do desespero foi alto, Sandir deixou a ignição fluir perante aos olhares confusos sem cautela com um ódio mortal, caminhou até ao lado de Amanda e exibiu a agressividade como parte da apresentação sucinta: 

— Por que Beatrice não está com você? Você fez alguma coisa com ela?! 

— Ai, ai, bobinho. Sua familiazinha devia estar junto com aquele projeto do Oeste metido a robô estátua sem alma, vulgo usuário de energia. Só digo que devia se afastar. — Ignorou a hostilidade, desviou com passos na ponta do pé para ficar novamente em frente ao público. — Resumindo, meu povo curioso! A mensagem que Ernec queria passar é que “vocês são a negatividade”. 

Sentidos de Mark dispararam, foi correspondido por Luri, que rapidamente raciocinou o ato. Uma criatura surgiu do último caco logo a frente do palco, enfim, era uma árvore com aparência morta — mesmo que fosse negra de cima a baixo, foi notório os galhos secos e insaturados de cor.  

A planta estranha cresceu e espalhou as raízes pelo aço sem demonstrar esforço. Se apossou do palco e começou a brilhar como se esquentasse, as pessoas na frente do palco afastaram. Apesar da distância ligeira da flutuação e o recuo dos espectadores, conseguiram sentir parte do calor tocar seus corpos. 

Gradativamente, o vermelho incandescente instaurou nas cascas secas.  

Dentre as inúmeras criaturas desconhecidas e abstratas, um lobo foi em direção a Amanda e se desmanchou em preto sobre, mergulhando na moça ao torna-se líquido que dava a forma de uma armadura medieval. 

Prevenção!  

Luri deixou o azul percorrer e gerou escudos para os órfãos e Réviz, evidenciou a família de mentira no meio da multidão em um ascender de aura que os envolvia.  

— Réviz, você conseguiu ver meu fantasma? 

A líder, que se colocou na frente do grupo, virou de uma olhadela para Mark. Seus olhos arregalaram um pouco com a menção da palavra-chave que a fez contrair os ombros.  

 Com o pânico a assolar o público num movimento instantâneo, o jovem de cabelo hipérbole entendeu o que acabou de sentir.  

Aquele fantasma era realmente uma ferramenta de aviso. 

— Vadia do caralho! — Sandir, em um pulo para matar, tentou alcançar Amanda. 

—  Tchau, tchau! 

Além do vermelho alarmante. 

Um zumbido. 

Aço derretia. 

O ar escapava dos pulmões. 

Plateia gritou. 

Luri prendeu o fôlego. 

Aura ficou densa. 

Réviz levantou a guarda ao abraçar os filhos sem energia. 

Will remexia os cabelos. 

Mark sentiu um calafrio. 

E Nirda... deixou lágrimas caírem. 

A árvore monstruosa explodiu, atingiu a extensão completa da área do show numa bola de fogo. Caos reinou pelo impacto, e o flutuar do parque ficou desequilibrado, tendendo ao lado da apresentadora inesperada, que se tornou uma com o clarão. 

 

Tremores. Gritos, choros e pedidos de socorro eram interrompidos antes da garganta terminar de propagá-los, eram nítidos mesmo aqui, um lugar mais isolado e escuro. A parede estava marcada pelo buraco. Destruição sem avisos alastrou pelo parque, e o jovem nem pode reagir com um singelo respirar de surpresa. 

Mark acordava miseravelmente, sua pequena percepção falha do ambiente se tornava clara com as piscadas lentas, que demonstraram o desgaste de simplesmente aguentar o impacto, o mesmo evento na qual sentiu como uma intuição ligeira desde mais cedo. 

Não podia sentir seu corpo direito, estava grudado no chão, amortecido pelo imprudente concreto. Olhou para baixo e viu restos da explosão do palco tão distante da visão. 

— Deus... 

Apesar de estar longe do ponto inicial, a cascata de rupturas era evidente. O teto estava aberto e a parede em sua frente foi reduzida a poeira na frente de seus pés, deixando intacta a inocente placa que descrevia: “cabine de manutenção, somente pessoal autorizado”. 

Sem entender onde estava, tentou levantar o corpo, porém foi bombardeado por o grito de dor irradiou pelo cérebro e forçou a boca a reagir numa pressão aguda; havia um pedaço de metal preso ao seu braço.  

Grunhiu, assustado com o escalar dos fatos. 

Iaargh! Incrível, magnifico, ótimo, perfeito, maravilhoso... Ahhh! 

Era incapaz de retirar os destroços de seu corpo sem um dos braços. Automaticamente, sua agonia voou da imaginação em forma censura em simples adjetivos.  

Sabendo o que a situação cruel pedia, infelizmente, precisou engolir a dor em um ignorante apertar de lábios, tirando o metal à força. 

— SUPIMPAAAAA! Iuhh! 

O jovem de cabelo hipérbole, que perdeu sua forma característica, tinha um buraco no seu braço. Sangue escorreu e a dor triplicou, era a hora, a melhor hora, o momento, o segundo e o milissegundo.  

— Fe-Ferva! — exclamou após a ignição surgir. 

Pouco tempo bastou, as chamas de cor ciano preencheram o buraco, deu vida ao tecido morto. De alguma maneira, rasgos da blusa se desfizeram. 

Contudo, algo se destacou enquanto a chama reconstruía sua roupa, um tom de branco reluziu na luz da lua, perto da sua cabeça: o pano que foi lhe dado quando criança e que usou como justificativa no interrogatório estava ainda rasgado. 

— Não, não, não! 

Pegou o pano e amarrou no braço direito, evitando que se arriscasse a perder mais partes. 

 A dor sumiu como se tomasse um remédio milagroso. Colocou o braço novinho à prática, removeu o peso sobre as pernas e se dirigiu ao lado de fora da cabine. 

Cambaleou, o desequilíbrio era constante. Apoiou no pilar caído ao lado e prosseguiu até a enorme abertura improvisada na parede.  

— Fui arremessado. E estou vivo. Will! Nirda! Onde eles foram parar? Tá só eu aqui. Eles... Se eles estão machucados. Luri não ia deixar, não ia, não ia, não ia. 

Sim, era complicado ter fé nesta sequência de eventos. O seu nome agora descrevia comportamentos atormentados e desesperados. Como ele ficou vivo? “Luri…” A aura conseguiu espalhar no último segundo pelo seu corpo. 

O queixo levantou. Onde estavam seus irmãos, o que houve com o resto? A multidão estava toda unida e… Tempo para examinar era escasso. O objetivo era simples em sua cabeça: encontrar os outros.  

— Meu senhor. 

Atônito com o cenário, levou as mãos aos olhos por impulso. Construções e alguns brinquedos arruinados não eram o que lhe traziam ansiedade, eram… as pessoas.  

Corpos carbonizados estavam espalhados por todos os lados. Sangue criaram poças, ferragens criaram obstáculos e a escuridão completou o inferno. 

O parque da cidade flutuante foi arrasado num instante. A área inteira do show estava dilacerada e retorcida em dor. Nenhuma palavra saiu de Mark. Os singelos grunhidos eram resultados do enjoo acumulado na alma por ver a destruição de vidas e felicidade em minutos. 

E lá estava ele, de pé, perante o desastre. 

Ouviu gritos ao longe; calafrio.  

Pôs seu olhar na direção de origem e viu o que não queria.  

Uma horda de criaturas negras estava cercando um rapaz. 

Estava perto do caminho que levaria para as outras partes do parque, mas foi obstruída por entulhos. 

Monstruosidades, que assemelham com caranguejos e aranhas, se aproximavam pelos cadáveres com frieza. Uma pedra reluzente estava no peito do maior deles, um tipo de touro que sua pele não mostrava curvas suaves, constitui-se em ângulos retos que formavam a silhueta negra do animal, uma armadura metálica e negra — no fundo, um touro mecânico e demoníaco.  

O cristal brilhava intensamente quando pisava nos cadáveres; outras pequenas luzes negras iam até a criatura, onde eram absorvidas pela pedra. 

Único significado era entendido, Mark sabia quem era os próximos, e se arrependia de notar isto. 

— Supremo, esplêndido, a-afável… — Andou com cautela rumo aos monstros. 

Por que estava indo? Por que não pensou direito? Por que agora? Por quê? E porquê “Por quê?” 

“Instinto”, soou a voz gutural 

— ARMAR!  

Fechando os olhos como se negasse a sua própria decisão, o rope dart apareceu em seu pulso. Apontou e lançou o arpéu de qualquer jeito, que fixou o gancho no braço de um dos monstros; perfurando a carne escura como se fosse algo realmente vivo. 

A criatura berrou e se atentou à presa, raivosa. Mark deixou a ignição aflorar, e o instrumento respondeu como se fosse o bastante. O gancho foi puxado novamente, carregando o braço do alvo ao arrancar dos ombros tortos sem prestar esforço. 

— Eita! 

Seja por simplório impulso ou mais bela estratégia avançada, o jovem tinha a atenção de toda a horda.  Tarde demais, parecia pouco para descrever a ação irracional. Os monstros foram impetuosos para cima da presa corajosa, exceto o touro, que observava como se comandasse lacaios.  

Mark, em um resfolegar desesperado, tirou o braço do gancho como se espantasse baratas e disparou o arpéu até um telhado próximo. Antes mesmo de colocar os pés, as pinças do inimigo o alcançaram. Foi lançado ao chão ao atravessar o teto. 

Ahg! Pelo amor de… 

Os inimigos eram implacáveis, já estavam em queda na sua direção, prontos para finalizar o alvo, mas o jovem usou o arpéu para desviar novamente. Se reposicionou no centro do lugar que invadiu sem querer. Era possível ver de relance pinturas espalhadas como uma galeria e o chão fosco em marrom. 

Um mapa estava atrás dele, estampado num enorme cartaz na parede. A pequena ilha estava ilustrada lá, inclusive o local que estava: “Galeria de arte cultural”. Os olhos passaram com agilidade e procurou a saída do tormento que estava logo à frente.  

A horda pousava do buraco do teto, violentamente.  

— Que diabos são esses monstros!?  

Formavam um arco na sua frente, cercaram igual à futura vítima da chacina que presenciou. Se aproximavam calmamente. Dedos aceleram no mapa, Mark conduzia um caminho imaginário em imprudência. 

— Sem desespero, sem desespero. Concentração e e-elegância, isso... Droga! Vou morrer de novo! — Tentou se acalmar. 

Aproveitando a cautela daqueles que se aproximavam lentos, estendeu o braço para brandir de certa forma a sua arma. A corda saiu, mas tornou-se estática no ar, ficando firme como metal.  

O rope dart moldou a forma de uma lança, empunhou e usou a próprio braço como cabo. Sem nem estranhar, manipulava o equipamento como muita naturalidade. 

Naturalidade ou coincidência do instinto. 

Correu completamente desajeitado para tentar atacar, lançou a ponta no peito do monstro mais perto. Foi em direção à saída enquanto usava o espetado como barreira. O peso da monstruosidade o fez abaixar a coluna. Girou o corpo feito um arremesso de peso e forçou cada veia para lançar o monstro na parede.  

Retraiu o gancho e correu pelos corredores que levariam para a saída.  

E congelou no mesmo instante.  

Se viu logo à frente da porta dupla, abaixado e quase deitado como uma estátua, seu eu cintilante estava imóvel. O fantasma...

— Eu vou enlouquecer! Que diabos é você?! Ein?! 

O vento coçou as orelhas, virou o pescoço para trás e a dor nas costas foi forte de mais, uma ser aracnoideo usou sua perna para chutá-lo até a porta de saída. Foi projetado até o lado de fora, arrancou a porta no caminho no embalo. Isso era muito para um jovem despreparado. Era caçado por bestas horripilantes.  

As paredes da entrada de outro brinquedo amorteceram abruptamente, tossiu sangue em um último folego do choque. Rolou pelo chão, com espasmos em cada membro.  

Chamas vieram a salvação. Habituou-se ao uso delas, mas não com a luta de fato. Cambaleou para longe, atravessou o caminho coberto por destroços e mortos sem hesitar. O fogo mitigava as feridas, mas o enjoo de pisar em mortos fazia o estomago protestar contra os passos.  

As sombras vinham para persegui-lo e não deixavam raciocinar, as lágrimas no rosto vieram sinceras. Se tornou uma definitiva presa. 

Não pode fugir com o arpéu, foi abordado por mais uma, estendeu como a lança e cortou o rosto do inimigo.  

Exatamente poderosos, Mark não sabia com lidar corretamente, conseguia manter a luta o quanto quisesse e encerrar com esforço notável. 

Desespero era combustível para inúmeras situações, inclusive para um instinto duvidoso. 

Antes que o pé tocasse o chão, o frio na espinha o atingiu. O rosto ficou mais calmo, e a mão limpou as lágrimas. Firmou o pé e girou o corpo para os oponentes. Foi incapaz de notar o floco de neve que caiu no cabelo. 

— Vamos! Venham! — Provocou os caçadores, sem credibilidade com a aparência cansada. 

“Avance”, soou nos ouvidos. 

Sua face dizia socorro, sua mente pedia clemencia, mas, com a certeza parecia de outra pessoa, dava prioridade para a luta que salvariam outros, e não ele. Desde quando um jovem ficou assim? 

Na corrida sanguinária, as últimas três criaturas foram até o encontro. Criou uma guarda com sua lança, preparado com uma fajuta determinação e um pouco de ar que lhe restava.  

Cortou a cabeça de uma, desviou em um pulo e finalizou outra, puxando com o arpéu as pernas do monstro que amarrou. 

Restava apenas a aranha deformada e esquisita. Viu as patas acelerarem pelos objetos no caminho, era muitas direções para Mark cobrir com apenas a certa intuição. Pulou novamente numa parede e persistiu numa corrida para manter distância. Era corajoso e receoso ao mesmo tempo, não devia ser os dois, tinha que dar preferência de um comportamento.  

Olhou em volta e notou que se aproximava de mais atrações, pisou forte e subiu nos trilhos da montanha-russa com o gancho. Percorreu até deparar com a decida ingrime, que, horas antes, foi momento de alegria, mas levava o medo nos olhos do jovem de blusa azul no momento. 

A escolha era única: decidiu, ao voltar-se para trás, encarar a besta que vinha em alta velocidade como um verdadeiro carrinho desgovernado. 

Aguentou apenas três golpes até desequilibrar. Ainda faltava destreza, caiu dos trilhos rumo ao chão. Não pensou duas vezes. No meio do ar, a ignição retomou a luz do corpo a acendeu mais forte. O gancho foi lançado e firmou o corpo do perigo da gravidade ao pendurar na aranha.  

O ser gemia em dor. Sacudiu o corpo e agiu instantaneamente após o peso aliviar. Como uma presa na teia, usava as pernas para puxar o jovem pela corda do rope dart. 

Se permanecesse, Mark morreria. Se soltasse o gancho, morreria. Entretanto: 

“Mexa-se”, soou outra vez. 

Tocado pelo desespero, esticou e encurtou as pernas. Acumulou o momento no corpo e direcionou para balançar pelos pilares, enroscou a corda em várias voltas pelas ferragens que dava sustento a montanha-russa. A criatura foi prensada ao enfincar as grandes e enumeras patas sobre os trilhos. 

— Vira carne moida! 

Com a ignição aflorando, o instrumento retraiu sua extensão, forçando o gancho a trazer a sombra de aranha pelos buracos finos, onde era triturada e esmagada. A distância com o chão diminuiu, mas da forma do agrado do jovem.  

Após a corda voltar pelo último pilar enrolado, caiu no chão de costas enquanto os restos do embate choviam nele feito uma chuva negra e pegajosa. Órgãos eram inexistentes, somente massas pretas como vazio de luz.  

— Não aguento… Não. Não aguento. — Remexia a cabeça, lágrimas sutis saiam num lamento. — Pesadelo! É um pesadelo! 

Ainda deitado, colocou o pulso a vista. O bracelete estava manchado por preto e a mão também.  

— Cacetada, não consigo falar nem palavrão nessa… JOÇA. 

Era forçado a aceitar os perigos repentinos, ainda mais após escutar o ranger da sustentação da montanha-russa. 

Subiu o tronco velozmente. Os parafusos soltavam e as ferragens gritavam. Se projetou para o ar longe com o rope dart, desviando dos pilares. Não deu tempo nem de olhar para trás, a atração ruiu logo após sair para o lado fora.  

Colocou suas mãos no joelho e procurou recuperar o folego.  

“VOLTE” 

Assustou-se.  

Mark pensou ter ouvido algo anormal, dava giros para procurar, alarmado. Sua face desgastada e olhos marejados desejavam tudo menos outro inimigo. Nada nos escombros, nada no horizonte, nada nos telhados. De onde veio essa voz que gritava só pelos seus ouvidos? 

— Alguém! Por favor… Por favoor! — Um grito choroso estava perto.  

Sem pensar duas vezes, foi para o socorro. Atravessou escombros, usou o instrumento para retirar as pedras de concreto que ocultavam o estranho. Um homem que havia sido cercado pela destruição, estava sentado com os braços ensanguentados e pernas retorcidas. 

O jovem o fitou por segundos, respirava agitadamente como se o ar não entrasse pela cena que presenciava: 

— Eu... não… — Água escorria em amargura do homem, que chorava em voz alta: — Não sinto nada dos ombros pra baixo! Me-me ajuudaa. — Soluçou em mais pura tristeza. 

O coração de Mark disparou de vez, o corpo daquele rapaz estava marcado para vida toda. Engoliu seco, mexeu as mãos, tremeu os dentes, o olhar tremia e seu pensamento se amedrontou — via quase um cadáver vivo. 

— Me. A-ajuda, eu não sei o que fazer! Deus! Deus! 

O jovem estendeu a mão, seu olhar desesperado tinha dúvidas. “Ainda... tenho que esconder?” 

Devia mesmo usar as chamas? Devia obedecer a seu pai e deixar a morte programada para a vítima atrasada? Não.  

Porque decidiu esquecer isso. 

— FERVA! 

Como faísca em gasolina, o ciano ardente se concretizou em chamas que iluminavam o local. Uma chuva leve começou a molhar o chão. O fogo de regeneração era imparável, a água virou apenas um elemento de cenário para o poder que não queimava de fato. As pernas foram reconstruídas, fechou as feridas e deixou apenas o sangue como lembrança do temor. 

— Um anjo? Anjo. UM ANJO! — A dor se esvaia, o estranho via partes do corpo surgirem lentamente, tecido por tecido. 

O cabelo hipérbole perdia forma e sua franja branca murchava, Mark curou outra vítima de um acidente, que olhava, ainda assutada, para o jovem. “Tem mais gente assim, tem mais gente assim”, pensou. 

— Me desculpa! — Saiu do local, atravessando as poças de água sem dar importância. 

O mais novo terceiro nível entendeu de fato, pois era quem tinha o verdadeiro poder capaz de reduzir o estrago daquele lugar. A energia que tinha que fazer as coisas todas.  

Andou e andou, viu mais cadáveres, destruição e tristeza. Entretanto, viu também uma oposição a tudo aquilo, uma luz forte ao céu como um sinalizador que vinha da direção da entrada do parque. 

Há! Imaginei que ia encontrar o tal puro da ilusão, mas achei algo muuuito melhor. 

Vindo do alto em uma queda triunfante, o touro grande reapareceu. Emitiu seu comentário em uma voz doce e calma. Sua boca não mexia e seu corpo era ainda mais escuro que o resto, a monstruosidade parecia não encarar, mas interpretar. 

Mark reconheceu, era a voz da apresentadora, a responsável por separar o grupo e começar a chacina do parque. 

— Achar quem tem o poder do Marcos é surpresa demais, acredite, hehe! 

O jovem simplesmente começou a correr até à luz. O sentimento do touro retratava o desapontamento mais delicado como uma dama.  

— Vai cedo? 

Perseguiu ele, lançou o par de chifres em um ataque que mataria de forma instantânea, mas foi desviado pelo rolar sem prática e sem treinamento do outro.  

Os chifres se enterram em um prédio próximo. Mark tinha sua visão escura, o cansaço o atingia com precisão.  

A construção ruiu quando o touro se libertou, admirou e inclinou o rosto como um amável cachorro para aquele que fugia. 

— Vamos lá! Você é a prova viva da profecia! Não quero te matar sem presenciar o puro favorito de um dos reis imortais. 

Balelas sem fundamento abordavam o jovem. Chances de continuar tendiam a parar de existir, antes que pudesse dar mais um passo, o touro se colocou na frente em um pulo que tremeu os arredores.  

Mark armou o instrumento como uma espada e propagou o golpe na cabeça da criatura. 

Nada aconteceu.  

O rope dart, que podia romper o chão com facilidade, não causava um arranhão no touro. O golpe foi parado. A armadura era dura demais, acabou por desequilibrar o jovem, que esperava outro resultado. 

— Tem algo pra me contar? 

Gelo percorreu a espinha. Sua visão analisou o inimigo dos pés à cabeça, viu o terror de uma sombra deformada e declarou a afirmação mais sincera da indústria vital desde os dias que foi capaz de definir a si como um humano pertencente de uma sociedade civilizada: 

— Caralho! 

Novamente, tentou correr. Foi atingido pela cabeçada do touro, que arrastou para longe e fez feridas profundas nas pernas ao passar pelos aços retorcidos no caminho.  

— Cure-se — disse o touro. 

Tentando manter o tronco levantado, as pernas tremiam em completa agonia. Apenas concordou sem saber, ascendeu as chamas e se colocou de pé. 

A velocidade da sua cura não era constante. Quanto mais grave, mais tempo levaria. No calor do combate, cada segundo valia. 

— É de verdade. Agora, permita-me. 

Mark lançou o gancho por baixo das pernas e se lançou para atrás do inimigo. Continuou numa corrida que concretizaria o resultado a cair sobre o destino, ouviu passos pesados que vinham de trás costas e continuou a se locomover adiante. 

Se balançava pela destruição com facilidade, escorregou por baixo dos obstáculos, pulou muros, tropeçou em pedras e recuperou no exato instante. Era horrível na coreografia, mas eficiente, conseguiu manter distância com o uso do rope dart.  

O treinamento na ODST parecia ter justificativa pelos resultados em tão pouco tempo. Porém, a falta de resistência era grande. Ofegante até o fim.  

Mesmo sendo efetivo na fuga, o adversário atravessava na perseguição com ignorância, destruindo o caminho ao reduzir a mais poeira sobre corpos e tendas de venda. 

A luz chegava perto, pode ver a roda-gigante e…  

Um gato branco cruzou sua visão. Podia jurar ter notado um miado rítmico, como se transmitisse uma mensagem. 

Muitas coisas para reparar ao mesmo tempo. As informações cresciam em cascata e nenhuma folga aparecia. Enfim, a distração do gato o condenou. Atirou o gancho sem perceber e errou o alvo, que era a beirada de outro telhado. O gancho apenas arqueou pelo céu e nada se firmou. 

Quando sentiu a brisa fortíssima logo atrás, se virou como se aceitasse a morte.

Aquela chifrada por um touro gigante iria matá-lo.

Chuquinhas brilhavam em azul sob a aura de pura firmeza.  

O virar de eventos trazia a energia, que rachou e transmitiu o vidro que estilhaçava em soar agoniante. E o gato se arrepiou. 


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