Volume 3

Capítulo 2: A experiência necessária para subir de nível muda constantemente. (PARTE 3)

— Desculpe a espera, cara!

Mizusawa saiu dos fundos depois de terminar seu turno e trocar de roupa.

— Oi.

Eu o cumprimentei com um sorriso casual. Em breve, esses pequenos sorrisos se tornariam naturais. Pelo menos, eu gostaria de pensar assim.

— Até mais tarde.

Ele disse a caminho da saída.

O gerente, que estava trabalhando atrás do caixa, sorriu alegremente.

— Sim, até a próxima vez. Você também, Tomozaki.

— Sim, estou ansioso!

Narita-san saiu dos bastidores.

— Tchau, pessoal!

— Tchau.

— Tchau.

Eu me intrometi.

— Não relaxa, Gumi.

Disse Mizusawa.

— Não vou! Aff.

Respondeu Narita-san amigavelmente. O que era esse Gumi? Talvez viesse do primeiro nome dela, Tsugumi?

O chefe e Narita-san acenaram enquanto Mizusawa e eu saímos juntos do Karaoke Sevens.

— Vamos lá!

Mizusawa disse, indo em direção à estação.

— P-para onde?

— Há muitos lugares por aqui. Alguma coisa que você esteja com vontade de comer? Você está com fome?

— Uh, sim, um pouco.

— Tenya está bom para você? Eu paro lá bastante no caminho para casa.

— Ok!

Eu estava ficando mais acostumado a usar o — Ok  — no estilo de Izumi. Acho que, contanto que eu tenha modelos suaves o suficiente prontos para usar quando a oportunidade se apresentar, conseguirei ter conversas normais.

Caminhamos em direção ao restaurante de tempurá Tenya, perto da saída leste da estação, andando lado a lado.

— Então, por que decidiu arrumar um emprego assim de repente? Está sem dinheiro?

— Yeah, basicamente.

Pensei por um segundo.

— Com a viagem e tudo mais...

— Ha-ha-ha. Isso é pesado.

— Verdade? Dez mil ienes é muito para um estudante do ensino médio.

— Eu te entendo, cara.

A conversa estava fluindo bem.

Incrível. Parecíamos amigos.

— Mas...

Assim que Mizusawa começou a dizer algo, chegamos ao restaurante. Ele tomou a frente, abriu a porta e entrou, e eu o segui. Sentamos e fizemos o pedido.

— Isso foi uma coincidência, no entanto.

Eu disse, introduzindo um tópico por conta própria. Com Mizusawa, apenas isso já era o suficiente para me deixar nervoso.

— Uma coincidência, huh? Sim, acho que sim.

Ele disse de forma desanimada. Isso me deixou levemente ansioso, pois suspeitava que Hinami havia armado toda a situação.

— Ok, seja honesto comigo.

Ele disse, apoiando os cotovelos na mesa e apontando para o meu rosto.

— Esse emprego faz parte da sua estratégia anti-nerd?

— Uh...

Mizusawa já tinha me dito que achava que eu estava lendo livros sobre como me livrar da minha persona nerd, quase exatamente o mesmo que minha irmã tinha dito para mim. Ele sabia que eu estava tentando mudar algumas coisas sobre mim mesmo; ele não tinha descoberto as contribuições de Hinami, mas era perspicaz. E agora ele pensava que o emprego era parte de tudo isso. Ele acertou em cheio; eu não sabia como responder.

De repente, ele explodiu em risos.

— Huh?

— Cara... mesmo que eu esteja certo, não seja tão óbvio sobre isso.

— Não... quer dizer, uh.

Eu disse, lembrando da minha reação.

— ...V-você está certo.

Agora que ele apontou, tive que admitir que responder com — Uh — era bastante incriminador.

— A forma como você fala mudou muito. Tenho certeza de que você tem se esforçado, mas tem muito a percorrer quando se trata de manter a pose.

O comentário dele foi um pouco duro, mas o tom era tão animado que não soou rude. Ele era tão bom em manter as coisas leves quando brincava com as pessoas. Eu estava procurando minha própria chance de dar uma cutucada nele, mas ele não deixava muitas oportunidades.

— Desencana!

Eu disse, mantendo também de forma leve.

— Mas sério...

Ele ainda estava sorrindo, mas os olhos estavam sérios.

— Você não brinca, né?

— Huh?

Foi uma surpresa vindo dele.

— Foi a mesma coisa quando você se meteu com a Erika, e com sua estratégia anti-nerd, e com o Atafami. Pelo que pude perceber, você esteve envolvido naquela coisa do discurso da Mimimi também, não é?

— Uh...

— Ha-ha! Peguei você de novo.

— Sim.

Eu comecei a rir também. Tenho que admitir, isso foi ruim.

— Então eu estava certo, né? Você é fácil de ler, Fumiya.

Já que ele já me tinha me decifrado de qualquer maneira, decidi admitir.

— O que posso dizer...? Eu queria ajudar a Mimimi a vencer...

Por algum motivo, Mizusawa piscou para mim dramaticamente em choque. Em seguida, ele inclinou a cabeça e sorriu por um segundo.

— Quer dizer que você queria vencer a Aoi?

— Yeah, bem.

— ...Huh.

Mizusawa olhou para baixo e mexeu o gelo barulhento em seu copo. Seus cílios longos escondiam seus olhos languidos. Tenho certeza de que ele tinha alguns pensamentos próprios.

Droga, ele se parece demais com a imagem de um cara bebendo uísque com gelo. Isso é água lá dentro, certo? Enquanto eu examinava seu copo, o garçom retornou com meu tempurá sobre arroz e a versão deluxe do mesmo prato para Mizusawa. Mesmo comendo em um restaurante de tempurá barato, estávamos em níveis diferentes.

— Estou impressionado que você se esforçou tanto para vencê-la. O que te impulsionava?

Ele perguntou calmamente enquanto separava seus hashis descartáveis. Pensei por um minuto.

— Não tenho certeza de como explicar exatamente, mas... é como se eu não quisesse que ela me vencesse no jogo...

— Jogo?

Ele me encarou em branco enquanto mastigava seu tempurá de camarão. De volta ao mesmo ritmo de sempre.

— Oh, eu quero dizer, a eleição para o conselho estudantil parecia uma espécie de jogo, em um sentido...

Eu gaguejei enquanto pegava um pedaço de abóbora frita.

Mizusawa assentiu.

— Posso ver isso.

— R-realmente?

Fiquei um pouco animado; não esperava que ele entendesse. Além disso, a abóbora estava realmente boa.

— Ah, sim. Mas você leva a derrota tão a sério, mesmo quando é apenas um jogo?

— Huh? Eu levo mais a sério quando é um jogo.

Ele fez um som impressionado.

— Você é um lutador, não é?

Ele comentou, dando uma mordida no arroz misturado com molho.

Eu tinha alguns pensamentos próprios, no entanto. Quer dizer, olha para o Mizusawa...

— Mas e você? Você é ótimo em falar com as pessoas, e não murmura... Você deve ter colocado algum esforço em tudo isso.

— Ah, é mesmo? Que tipo de esforço?

Ele pressionou.

— Huh? Tipo o quê? Uh, copiar pessoas que são boas de conversa, ou...

Na minha pressa para dizer algo, mencionei uma das minhas próprias estratégias.

— Então você quer dizer...?

Mizusawa sorriu.

— Você faz coisas desse tipo?

Merda. Ele me provocou.

— Uh...

Isso saiu antes que eu pudesse me conter. Mizusawa riu de novo.

— Você realmente é um livro aberto!

— Você me pegou nessa...

— Ei, a culpa é sua por cair nessa! Mas sério, eu não copio ninguém!

— Hã, r-realmente?

E ele era tão bom nisso? Acho que os normies eram naturalmente abençoados...

— Eu sempre fui do tipo que pega rápido as coisas. Eu apenas sei qual botão apertar, eu acho? Me chame de gênio!

Ele brincou.

— Ok, mas você parece ser o tipo...

Para que serviu todo o meu trabalho, então? Todo esse tempo gasto memorizando e copiando, e eu ainda estava longe de Mizusawa. Ele se inclinou na minha direção, sorrindo seu próprio sorriso levemente sádico.

— A verdadeira pergunta é, quem você tem copiado?

— Uh, é...

Ele estava realmente perguntando? Agora o que eu faço? Breve confusão enquanto procurava uma resposta antes de decidir que ele descobriria de qualquer maneira. Melhor confessar.

— Uh, muitas pessoas, mas principalmente...você.

— ...O quê?

Por um segundo, ele olhou para mim como se eu o tivesse pego de surpresa. Depois gargalhou.

— Quem chega e diz isso para um cara?

— Bem, você perguntou...e você saberia se eu estivesse mentindo, certo?

Desta vez, seu sorriso parecia exasperado.

— Você é tão estranho, cara.

— E-eu sou?

Do meu ponto de vista, sou tão medíocre que fico enterrado na multidão.

— Como posso dizer isso? Por exemplo... —, ele disse, olhando nos meus olhos. — Hinami e eu, somos inteligentes até a medula. Entende?

— Inteligentes até a medula?

Como isso era diferente de simplesmente inteligente? E se fosse a mesma coisa, não era presunçoso da parte dele dizer isso de si mesmo? Ele estava me fazendo sentir da mesma maneira que Hinami fazia. Eu esperei para ele continuar.

— E então você tem pessoas como Shuji e Yuzu e Takei, que são idiotas até a medula.

— Idiotas até a medula... Ok, eu queria perguntar, mas como isso é diferente de um idiota comum?

— Não, é basicamente a mesma coisa, mas...

— Mas?

Mizusawa franziu a testa.

— Acho que você é um idiota inteligente.

— ...O que isso quer dizer?

Era uma linha tênue entre elogios e insultos às vezes, e eu não conseguia dizer qual era.

— Quando vejo o que você faz e como pensa, muitas vezes eu acho que você é inteligente... mas na verdade, você é um idiota.

— Ok, você está definitivamente me insultando.

— Não, não estou!

Como sempre, sua autodefesa brincalhona estava totalmente sem veneno. Sim, ele era um personagem de alta qualidade.

— Ta falando sério? Isso é um elogio?

— Esqueça isso por enquanto.

— Como eu deveria esquecer disso?

Eu respondi animadamente.

Bem suave, né?

— Ah-ha, esse é o estilo de fala à la Mizusawa do qual tanto ouvi falar?

— P-pare com isso...!

O sorriso de Mizusawa era como um ataque que me deixou constrangido, e a força se esvaiu imediatamente das minhas palavras.

Ele era forte. Nunca se deixava expor. Brincava comigo o tempo todo. Um normie clássico.

— Ha-ha! Ei, aliás, você já arrumou suas coisas para amanhã?

Ele mudou o tópico com despreocupação. Ele tinha o papel de líder firmemente sob controle para esta conversa.

— Yeah, coloquei o que achei que poderia precisar na minha mochila.

Especificamente, a preta que Hinami me deu. Em retrospecto, eu estaria em apuros sem isso.

— Oh, é mesmo? Será que aqueles dois vão acabar ficando juntos amanhã.

— Q-quem sabe...?

Conversamos sobre a viagem por um tempo, e antes que percebêssemos, o jantar acabou.

Voltamos juntos para a estação e nos separamos na plataforma da linha Saikyo, já que nossas casas ficavam em direções opostas.

— Até mais, cara.

Eu me recompus para dar uma resposta curta de forma descontraída.

— Sim, até mais.

Consegui. Tenho vergonha de me orgulhar de algo tão pequeno, mas progresso é progresso! Peguei o trem para Kitayono, saí da estação e peguei meu telefone.

[Consegui o emprego], eu escrevi para Hinami no LINE.

E então: [Você me preparou para uma surpresa estranha, não é?]

Alguns minutos depois, ela respondeu, e ela sabia exatamente do que eu estava falando: [Você se testa em um ambiente novo, ganha algum dinheiro e melhora seu relacionamento com o Mizusawa. Três coelhos com uma cajadada, certo?]

Ela não dá ponto sem nó, né? Eu estava certo; ela fez de propósito...

Ok, Hinami, eu entendi que você quer ser eficiente, mas pode parar com as surpresas gratuitas?



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