Volume 3

Capítulo 2: A experiência necessária para subir de nível muda constantemente. (PARTE 2)

Era dois dias após o encontro no cinema e um dia antes da viagem.

Em breve, eu estaria cercado por normies por mais de vinte e quatro horas seguidas para um grande evento, mas agora estava nervoso com outra coisa.

Eu estava em pé na frente do karaoke com meu currículo na bolsa.

Sim, eu estava prestes a ter minha entrevista. Perdi a conta de quantos eventos sobrevivi desde o início das férias. Todos estavam me ajudando de alguma forma, então não foi em vão. Eu ainda estava me sentindo motivado.

Entrei no karaoke. A garota que trabalhava lá me recebeu apaticamente, depois bocejou. Sério? Prova de fogo.

Seu cabelo loiro ondulado, até os ombros, estava preso atrás de uma orelha. Ela parecia ter mais ou menos a minha idade.

— Um, tenho uma entrevista de emprego às dez. Meu nome é Fumiya Tomozaki.

— Oh, estão te esperando. Espere aqui um minuto, okay?

Ela disse em um tom monótono antes de desaparecer nos fundos. Não muita empolgação para o trabalho, huh...?

Um cara na casa dos trinta veio dos fundos. Era alto, bastante musculoso e imponente.

— Oi. Tomozaki-kun, certo?

— Uh, sim!

— Eu sou Yanagihara, o gerente aqui. Me siga!

Ele disse rapidamente, me levando para uma sala para começar a entrevista.

— Okay, primeiro de tudo...

Para uma entrevista, foi bastante informal. Ele me perguntou coisas como — Quantos dias por semana você pode trabalhar? —  e — Você já teve algum emprego antes? —  e — Por quanto tempo você planeja continuar trabalhando?

Além disso, basicamente conversamos sobre coisas não diretamente relacionadas ao trabalho, como meus planos para o verão e se eu estava envolvido em algum clube.

Eu tenho bastante certeza de que consegui passar sem grandes erros, usando as técnicas que havia cultivado até agora para controlar meu tom para uma conversa clara e concisa.

Mais importante ainda, o nível de dificuldade era relativamente baixo em comparação com ser jogado no meio de um grupo de normies ou falar com uma garota em um café. Eu não estava absolutamente certo se consegui o emprego, mas, no que diz respeito a sobreviver à situação imediata, acho que me saí bem com meus truques usuais. Acho que estou no ponto em que consigo lidar com algo assim.

 Na verdade, é mais fácil falar com uma pessoa mais velha do que com alguém da minha idade porque há mais formalidades predefinidas.

— Isso é tudo para a entrevista! Entrarei em contato mais tarde para informar se você conseguiu o emprego ou não.

— Ótimo! Muito obrigado!

Yanagihara-san e eu saímos da sala juntos.

— Ei, aquele ali é o Fumiya?

— Huh?

Eu me virei na direção da voz e encontrei Mizusawa lá, vestido com um uniforme da equipe.

— Ei, cara, o que você está fazendo aqui? Espera, você era o agendado para uma entrevista hoje?

— Esse é um amigo seu, Mizusawa?

— Estamos na mesma classe na escola!

— Ah, você também vai para Sekitomo? Uau. Tomozaki-kun, você sabia que ele trabalhava aqui?

— Não...

Algo me ocorreu. Foi a Hinami quem sugeriu que eu aplicasse aqui. Mais uma vez, ela me preparou para uma surpresa gratuita...

— Bem, que coincidência!

— S-sim, é mesmo...

Sorri ironicamente.

— Ansioso para trabalhar juntos, Fumiya... se ele conseguiu o emprego?

— Ei, você está me perguntando isso aqui? Bem, eu tive a impressão de que ele seria capaz de interagir profissionalmente com nossos clientes, então eu estava planejando oferecer a ele o emprego...

— Escutou isso, Fumiya? Legal.

— Huh? Ah, ótimo!

A avaliação positiva do gerente me deixou tonto, e tudo o que pude fazer foi acompanhar esse tsunami de conversa. Alheio a tudo isso, Mizusawa continuava falando.

— Ei, eu saio daqui meia hora, que tal você cantar um pouco sozinho e me esperar? Podemos pegar algo para comer depois.

— Uh, um...

— Espere um segundo, Mizusawa. Você ainda tem uma hora e meia!

— Droga, você me pegou. Mas está tão morto hoje, não posso sair mais cedo? Ninguém apareceu enquanto você estava fazendo a entrevista. Se você não reduzir seus custos trabalhistas, o gerente da área vai ficar bravo com você de novo!

— Uh... se você colocar dessa forma... Cara, você sempre tem uma resposta pronta...

— O que significa — vejo você em breve, Fumiya!

Mizusawa me deu um soco leve no braço.

— Uh, okay, entendi.

Impotente contra o ímpeto dele, concordei, e Mizusawa desapareceu pelo corredor para fazer suas tarefas de zelador. Droga, a conversa realmente acelerou quando várias pessoas estavam envolvidas...

— Nunca imaginaria que você era um colega de classe do Mizusawa. Ele fala rápido, esse. Um verdadeiro encrenqueiro.

— Ha-ha-ha... muito verdade.

— Então, o que você quer fazer? Vai cantar um pouco?

— Uh, bem... eu disse que faria.

— Ah-ha-ha, então você disse. E eu disse que você conseguiu o emprego, então o emprego é seu. Daqui para frente, eu sou seu gerente. Entendeu, Tomozaki?

— Um, sim, senhor!

Sua mudança repentina para um tom mais autoritário me pegou de surpresa.

— Uh, é aqui que registramos as pessoas. Veja como eu faço, okay? Como você vai trabalhar conosco, tem direito a um desconto de funcionário. Metade do preço. Certifique-se de merecer, okay?

— S-sim, senhor! Muito obrigado!

— Uh, como eu disse na entrevista, todo mundo costuma desistir logo após as férias de verão, então eu gostaria de terminar o treinamento até lá... Você pode começar o treinamento no meio ou no final de agosto?

— Sim!

Foi assim que acabei conseguindo o emprego e cantando por meia hora enquanto esperava o Mizusawa. Exceto pelo fato de que minha primeira experiência de karaokê acabou sendo solo, tudo corria bem.

 

 

 

— Yeah... fico feliz por ter decidido fazer isso sozinho.

Eu estava sozinho na sala aprendendo por tentativa e erro. Eu nunca tinha sequer tocado em uma máquina de karaokê antes.

— Ok, então este botão encerra a música... e há várias maneiras de pesquisar.

A interface era intuitiva, então eu entendi rapidamente, mas se eu tivesse que explicar para um cliente sem nunca ter feito isso antes, provavelmente teria entrado em pânico. Por pouco.

— E isso é...

Assim que comecei a mexer no dispositivo principal, houve uma batida na porta antes que uma funcionária entrasse.

— Oh, oi, prazer em conhecê-lo... Quer dizer, de novo, eu acho.

— Huh? Ah, certo, oi de novo.

Virando-me para a voz monótona, vi a mesma garota com quem falei quando cheguei pela primeira vez. Após minha resposta desajeitada à saudação dela, ela se sentou apaticamente na cadeira em frente a mim.

Hum, ela não está no meio do expediente? Ela pode fazer isso?

— Meu nome é Tsugumi Narita. Trabalho aqui meio período. Passou pela entrevista, né?

 

 

— Sim, e é um prazer conhecê-la! Eu sou Fumiya Tomozaki. Estarei começando aqui em breve.

Eu me apresentei em um tom o mais alegre possível. Não sou tão ruim em conversas educadas.

— Você está no segundo ano do ensino médio, certo, Tomozaki-san?

Desleixada na cadeira sem um pingo de vergonha, ela continuou em seu tom monótono.

— Sim. Estou no segundo ano.

— Eu estou no primeiro ano, então você não precisa ser tão educado comigo.

Ela não perdeu tempo em dizer para eu abandonar as formalidades.

Isso ficou mais difícil. Espere aí; as coisas estão se movendo rápido para um personagem de baixo nível. Estou sozinho em uma sala pequena com uma garota que acabei de conhecer. Eu sei que tenho falado mais com as garotas ultimamente, mas isso está em outro nível. Por enquanto, tentei lembrar como eu falava com a Mimimi e a Izumi.

— Ah, entendi... A propósito, Narita-san, você não está trabalhando agora?

Eu não tinha certeza do que fazer com essa garota que simplesmente apareceu aqui como se fosse dona do lugar, então minha única opção era implantar uma estratégia básica e tornar a outra pessoa o tópico da conversa.

— Oh, isso não é um problema. O chefe foi quem me disse para passar aqui para me apresentar a você, e tenho certeza de que ele sabia que eu sentaria aqui por alguns minutos.

Ela se jogou sobre a mesa enquanto falava, olhando para o telefone para verificar a hora. Ela fazia o que queria — qual era a dela? Enquanto a olhava, revisei mentalmente minha tarefa de me tornar amigo do Mizusawa — provocar e argumentar de volta.

Se esse era o segredo para estabelecer relacionamentos equitativos, eu deveria estar fazendo isso agora, certo? Hinami me disse para melhorar minha capacidade de pensar de forma independente... então, por que não tomar a iniciativa e tentar? Engoli, planejei o que dizer e ajustei minha voz.

— Narita-san... você não gosta muito de trabalhar, ne?

Eu perguntei em um tom provocador.

Ela riu.

— Descoberta já, né? Sim, eu sou basicamente uma baiana.

— Ah... ha-ha-ha.

Eu não esperava que concordasse imediatamente, então, em vez de dizer algo de volta, apenas ri de forma cínica. Coisas nunca vão suavemente.

— Mas eu sempre me sento, não importa quantas vezes ele me diga para não fazer isso, então acho que ele vai desistir em breve.

Narita-san levantou a cabeça da mesa, brincou com as pontas do cabelo e me deu um sorriso bobo. O que havia com sua determinação poderosa?

— Você quer dizer o chefe...?

Pensei com pena no gerente que acabara de conhecer. De repente, Narita-san soltou um — Ah. — Sentou-se e me olhou seriamente.

— O que foi?

— Você está com fome?

— Huh?

— Quer pedir alguma coisa?

Minha mente congelou momentaneamente com a ousadia dela.

— As batatas fritas aqui são sempre boas. E elas vêm com dois molhos. Vamos pegar um de molho de ovas de bacalhau salgado, certo? E você pode escolher o outro.

— N-Narita-san, você está com fome...?

— Oh não, estou pedindo principalmente para você. Quando eu fizer uma pausa no trabalho e passar novamente, talvez eu queira dar umas mordidas se sobrar alguma coisa. Eu não sou uma total devoradora.

Ela fez beicinho, como se minha pergunta fosse algo rude.

— Uh, um...?

Eu estava pensando em como questionar sua lógica — fazer eu pedir algo para que ela pudesse comer as sobras quando era ela quem estava com fome — quando ela se inclinou na minha direção e disse: — Ah, eu estava querendo te perguntar...

Vamos lá! Isso está indo rápido demais para mim. Eu não treinei o suficiente para isso!

— O q-que?

— Você realmente vai para a mesma escola que o Mizusawa?

Um toque de excitação de repente apareceu em sua atitude indiferente.

— Um, sim, eu vou.

— Mesmo? Posso te perguntar uma coisa, então?

— ...Uh, o que?

Ela se inclinou para frente com um sorriso alegre.

— Bem... eu vou direto ao ponto. Ele gosta de alguém agora?

Ela perguntou, a voz abaixada como se isso fosse realmente importante. Ela tinha algo na manga, eu podia dizer.

— ...Não tenho certeza.

— Isso significa que há alguém?

— N-não...

Lembrei-me da minha conversa muito breve com a Hinami sobre o assunto e que eu estava errado sobre o relacionamento deles. O que significava que o Mizusawa não estava saindo com ninguém... não estava?

— Uh... bem, não ouvi nada em particular... então talvez não?

Narita-san assentiu pensativamente algumas vezes.

— Ah, entendi... Muito obrigada pelas informações!

Ela parecia satisfeita. Eu não conseguia dizer como ela realmente se sentia, mas pensei que esta poderia ser uma boa oportunidade para provocá-la novamente. Eu pensei em algo para dizer e tornei minha voz muito séria.

— Isso significa o que eu estou pensando? Você... tem uma queda por ele?

Eu não estava totalmente à vontade provocando uma garota que acabara de conhecer, então hesitei um pouco no meio da frase. Mesmo assim, consegui soar provocador o suficiente. Narita-san riu um pouco.

— Bem, Mizusawa-senpai é bem atraente, então várias garotas aqui gostam dele. Foi por isso que achei que seria divertido perguntar...

— Ah, é mesmo.

— Quanto a mim... se eu tivesse que dizer se realmente gosto dele, bem, não estou completamente apaixonada.

— ...Ah, mesmo?

Sua expressão boba me convenceu de que ela não estava escondendo nada.

— Ele é fofo, no entanto.

Ela acrescentou.

Com isso, ela olhou para o telefone, soltou um suspiro como se acabasse de perceber como estava tarde, levantou-se com seriedade mortal e se dirigiu para a porta.

— Eu preciso ir. Vai ser apertado, mas se eu sair agora, não devo ter problemas!

— Ah, entendi.

...O que é essa calculadora?

— Obrigada pelas informações valiosas.

Ela disse, mais uma vez em um tom monótono. Com uma saudação afiada, ela saiu da sala.

Ela tinha me envolvido com suas maneiras livres e descontraídas. Eu me senti como se uma tempestade acabasse de passar. E aquela coisa sobre ele ser fofo...

Sim, Mizusawa era um cara bonito.



Comentários