Volume 3
Capítulo 1: Quando você volta para a cidade inicial com o grupo completo, coisas novas costumam acontecer. (PARTE 3)
Hinami e eu estávamos na Starbucks.
— S-se eu tocar aqui...
— Ela é adicionada à sua lista de contatos!
— Uh, e uma notificação é enviada imediatamente...
— O quê? Claro! Obviamente.
— O-o-okay...
Eu estava encarando a tela para adicionar Fuka Kikuchi como amiga no LINE, travado em uma luta interna. Hinami estava de volta ao modo heroína, mas desde que perdeu no Atafami, ela estava ligeiramente irritada.
Assim que me sentei na Starbucks, meu telefone vibrou com uma mensagem dela contendo o ID do LINE da Kikuchi-san. Tudo o que eu tinha que fazer era tocar no botão ADICIONAR. Tecnologia impressionante. Ainda assim, vários minutos se passaram sem eu fazer nada.
— Mas se eu adicioná-la assim do nada, ela não vai ficar confusa?
Quero dizer, se eu a adicionasse, ela receberia de repente uma mensagem dizendo [Fumiya Tomozaki adicionou você como amigo], né? Estamos falando de mim, afinal; só de pensar nisso, meu estômago dava voltas.
— O que você está dizendo? Isso não é um problema.
Hinami sorriu.
— O que?
Ela estava falando de forma um pouco mais brusca do que o habitual, e eu não tinha certeza do que ela queria dizer.
— Quero dizer, eu já disse a ela que você queria adicioná-la no LINE e perguntei se estava tudo bem!
— Hei...!
Eu me controlei antes que minha voz aumentasse além do volume apropriado para a Starbucks.
— Uau, Tomozaki. Você aprendeu a baixar a voz quando está surpreso. Você está realmente melhorando.
— A-a melhoria que eu preciso não é exatamente essa...
A leve dose de sarcasmo de Hinami no modo heroína doeu dez vezes mais do que o normal.
— O ponto é que você teve a audácia de perguntar a ela sem a minha permissão...
— Mas seria errado dar o ID dela sem perguntar primeiro, então eu teria que perguntar a ela de qualquer jeito... e pensei que seria melhor apenas fazer isso...
Hinami heroína abaixou os olhos tristemente. Eu quase pedi desculpas por deixá-la triste, mas o leve movimento dos lábios dela a entregou. Ela só queria brincar comigo. Eu não sou tão ingênuo, Hinami.
De qualquer forma, ela já havia falado com a Kikuchi-san.
— O que Kikuchi-san disse?
Perguntei, ficando tenso.
— Oi? Ela disse que estava tudo bem, obviamente!
Hinami inclinou a cabeça adoravelmente.
— Ta brincando...?
Sua resposta simples tirou o meu ânimo.
— Okay, então.
Concordei, como se estivesse seguindo suas ordens. Era tão frustrante. Mas adicionar alguém como amigo não era algo tão grande, certo? Eu já havia pedido à Mimimi se poderia adicioná-la, em comparação com isso, isso deveria ser fácil. Eu me animei e prendi a respiração.
— ...Aqui!
Toquei corajosamente no botão ADICIONAR. Eu havia feito isso.
— Muito bem. Teria sido ainda melhor se você tivesse perguntado diretamente a ela, mas... você realmente não teve a chance, né?
— Uh, sim.
Concordei, meu rosto corando com o elogio dela. Por favor, pare com isso, Hinami.
Mas pelo menos eu havia cumprido uma tarefa. Soltei um longo suspiro e dei meu primeiro gole no iced latte que tinha pedido.
— ...Ei, Tomozaki-kun? Você ainda não mandou uma mensagem para ela, certo? Para que foi aquele suspiro de alívio?
— Oh.
Outro golpe da Hinami heroína. Ela estava certa, no entanto. Eu estava muito satisfeito comigo mesmo apenas por adicionar Kikuchi-san como amiga. Eu já estava agindo como se tivesse alcançado algum tipo de objetivo, mas a verdade era que o objetivo de hoje era convidá-la para sair.
— Acho que tudo o que você precisa fazer hoje é enviar uma mensagem curta para ela.
— É mesmo? E se ela responder?
— Bem, com alguém como Yuzu, se você enviar uma mensagem no LINE, ela responderá imediatamente, mas com alguém como Fuka-chan, mesmo que ela leia imediatamente, você não receberá uma resposta por um longo tempo. O tipo dela tende a tratar o LINE como e-mail e cartas!
— Sim... isso soa como a Kikuchi-san.
A maioria dos jovens como nós dispararia mensagens o tempo todo, mas ela levaria o seu tempo e responderia de forma tranquila, como correspondência em papel. Isso soava bem para a fada da biblioteca. Eu podia totalmente ver isso.
— Deixo o conteúdo com você. Acho que você ficará bem, desde que mencionei que dei a você o ID dela e que você quer vê-la em um filme durante as férias de verão!
— O quê? Você está deixando isso comigo...?
Me sentindo um pouco atordoado, lembrei que ela tinha me dito antes que era hora de eu treinar minha habilidade de pensar por mim mesmo agora que aprendi a agir.
— E-então... pensar no conteúdo é parte do meu treinamento agora?
— Éxatamente.
Ela disse com um sorriso. Acho que ela usava essa palavra mesmo no modo heroína.
Eu não tinha ideia por onde começar com a mensagem.
— ...Isso é difícil.
Ainda assim, tudo o que eu podia fazer era dar o meu melhor. Lá vamos nós, então. Tudo em nome do treinamento.
Concordei rigidamente e comecei a digitar silenciosamente. Olhando para cima entre os pensamentos, vi Hinami chupando sonhadoramente um líquido alaranjado semelhante a um sorbet de seu copo. Ela estava perdida em seu próprio mundo. Ela só ficava tão feliz assim quando estava comendo, mesmo que não fosse queijo. Honestamente, em momentos como esses, ela era incrivelmente fofa.
Enquanto eu a observava impotente, olhando para sua expressão estranhamente feminina e inocente, ela me encarou. Seus olhos eram afiados quando encontraram os meus.
— ...O que?
— ...Nada.
Hinami de repente e ameaçadoramente saiu do modo heroína e voltou à verdadeira Hinami com tanta força que me deu um torcicolo. Concedi uma derrota completa e voltei para minha mensagem. Eu tinha sido brevemente encantado por sua expressão, mas estava errado. Ela não era fofa.
De qualquer forma, hum... por enquanto, achei que deveria me concentrar em não escrever algo estranho. Sim, esse era o caminho a seguir. Afinal, era tudo o que eu era capaz de fazer. Puxa vida. Todo mundo age como se o LINE fosse tão fácil, mas eu estava realmente tendo dificuldades.
Depois de alguns minutos, olhei para cima.
— Ufa. Pronto.
Quando terminei a mensagem, notei que Hinami também havia terminado sua bebida alaranjada. Você não acha que deveria diminuir o ritmo com essas bebidas doces?
— Ooh... me mostra, me mostra!
Passei meu telefone para Hinami, que havia voltado ao modo heroína como se nunca tivesse saído dele. Esta era a mensagem digitada na tela:
[Hinami me deu o seu ID do LINE.
Li outro livro do Andi desde a última vez que conversamos. Esse também foi muito bom.
Então, que tal a ideia que mencionei antes de irmos ver o filme baseado no livro dele em Shibuya?
Me avise quando você estiver livre!]
Hinami olhou para a mensagem com preocupação. O-oi?! Qual é essa expressão?
— O-o que você acha...?
Perguntei ansioso.
Hinami olhou para mim, sua expressão inalterada.
— Bem, talvez a estranheza seja o melhor...
— Um, o-que você quer dizer...?
Perguntei baixinho. Aquele comentário só me deixou mais preocupado.
— Acho... que está tudo bem se você enviar assim.
Hinami parecia incomumente insegura, e de repente tudo ficou estranho. Será que era por causa do modo heroína dela? Ou será que minha mensagem era tão questionável que até minou a confiança da Hinami?
— Uh, ent-então...?
— Sim... vamos enviar isso... certo?
Ela inclinou a cabeça para o lado. Acho que era um sinal verde?
— Okay...
Conjurei coragem e pressionei o botão ENVIAR. Em seguida, pedi para Hinami confirmar se eu realmente tinha enviado.
— Sim. Agora é só esperar por uma resposta. Acho que deve vir hoje ainda!
— Ah, okay.
— Bem, bom trabalho. Isso deve ser o suficiente para hoje. Entre em contato comigo quando ouvir de Kikuchi-san, tudo bem? Na verdade, esqueça — você pode muito bem pensar no que responder por conta própria. Eu deixo com você! Eu te aviso quando tiver mais informações sobre a viagem de acampamento.
— O-okay.
— Quanto ao seu último dever de casa...
— Huh?
Justo quando pensei que tinha terminado, lá vem outro dever. Chocante.
— Eu disse que poderia haver outro dever depois do encontro, não disse?
— D-da...
Isso não era um encontro; era treinamento especial! Mas quando ela disse essa palavra no modo heroína, ainda assim teve o mesmo impacto. Mesmo enquanto seu sorriso malicioso desferia o golpe, eu me lembrei do que ela havia dito.
— Ah, é verdade. Você disse que poderia ter mais um para mim, dependendo de como as coisas estavam indo.
— Certo. Eu estive pensando...
Hinami olhou para o recibo de nossas bebidas.
— Ultimamente, você tem comprado roupas e comido fora, e se você vier acampar conosco, também terá que pagar por isso.
— Sim.
Eu estava um pouco preocupado com isso.
— Então, eu estava pensando que logo suas economias podem acabar.
Lembrando do conteúdo da minha carteira antes, respondi solenemente:
— Para ser honesto, você está certa.
Hinami suspirou e assentiu.
— Pensei que sim. É melhor você começar em breve, então.
— Começar o quê?
Ela franziu a testa, exasperada.
— Um emprego de meio período? Obviamente!
— Um emprego...?
Minhas férias de verão já estavam parecendo suficientemente espartanas com as tarefas da escola e hoje, mas adicionar um emprego a isso...?
Hinami mexia no telefone.
— Se você tiver apenas um relacionamento insular, você não está vendo realmente o quadro completo, e outras coisas podem parecer arbitrárias e imprevisíveis mesmo que tenham total sentido. Então, você não só ganhará algum dinheiro, mas também terá a chance de aprender com uma nova perspectiva!
— Ah, entendi... Sim, acho que isso era inevitável...
Isso era definitivamente verdade no que dizia respeito ao dinheiro. Se eu fosse comprar um monte de roupas novas e sair para fazer coisas que normalmente não fazia, minha mesada regular não daria conta. Meus pais presumiam que eu não tinha amigos, então, além do dinheiro de Ano Novo, eles mantinham minha mesada no mínimo absoluto. Eles realmente conhecem o filho deles.
— Por isso, quero que você faça entrevistas para alguns empregos por aqui!
Hinami me mostrou o telefone dela. Ao mesmo tempo, meu próprio celular vibrou.
— Hã?
Mesmo que eu tivesse alguns amigos a mais do que costumava ter, ainda recebia poucas mensagens ou ligações. Pulei um pouco de surpresa e verifiquei a tela.
— ...Um, Hinami?
Senti como se meu cérebro tivesse atingido a capacidade máxima. Tudo ficou em branco.
— Sim?
Ela respondeu docemente. Vamos lá, pare de brincar comigo! Espera, isso não é o problema agora.
— V-você disse que ela demoraria um pouco para responder...
— ...Hã?
Ela olhou para o meu celular.
Havia uma mensagem no LINE da Kikuchi-san. Hinami tocou na tela sem expressão.
— Hei!
Exclamei enquanto líamos a mensagem juntos.
— Eu adoraria ir!
Posso qualquer dia, exceto terças e quartas de agosto!
Como está sua agenda?
Hinami ficou levemente surpresa com a mensagem, que chegou em menos de dez minutos. Em seguida, ela apoiou o queixo na mão, como se estivesse tramando algo, levantou as sobrancelhas provocativamente e me lançou um de seus sorrisos sádicos.
— Parece que ela está realmente ansiosa para ver aquele filme com você.
— O quê...?
Com isso, meus circuitos cerebrais pipocaram, meu rosto esquentou e não consegui dizer mais uma palavra.
E assim terminou o nosso primeiro encontro — quero dizer, o primeiro dia de treinamento especial do verão.
Mais tarde, depois de esfriar o suficiente para ouvir os conselhos de Hinami, Kikuchi-san e eu trocamos alguns e-mails extremamente educados e conseguimos marcar um encontro para ir ao cinema. Segunda-feira, 1º de agosto. Faltavam quatro dias.
Eu sentia que ia explodir se precisasse pensar em mais alguma coisa.
Honestamente, porém... eu estava um pouco feliz também. Afinal, mesmo que sejamos apenas amigos que gostam dos livros do Andi, ela concordou em ir ver um filme só comigo. E se fosse o caso, eu tinha a responsabilidade de me preparar o máximo que pudesse.
Achei que passaria o dia seguinte memorizando tópicos de conversa, praticando meu tom, fazendo treinamento de imagem e me preparando de maneira geral para o nosso encontro. Mas as coisas não saíram bem assim, porque neste verão Hinami-san estava no comando.
Era a noite seguinte, e eu estava me preparando para dormir.
Deitado na cama, folheava cartões de memorização com tópicos de conversa neles, incomumente tenso porque o encontro no cinema estava a apenas três dias de distância.
[Não faça nenhum plano para 4 ou 5 de agosto.]
A mensagem do LINE da Hinami foi direta ao ponto, e seria a primeira de várias sobre a viagem de acampamento. Coloquei os cartões de memorização ao lado do meu travesseiro e peguei meu celular.
[O que foi?]
[Yuzu, Mimimi, Nakamura, Mizusawa, Takei e eu vamos fazer um churrasco, e você pode vir.]
[Espera um segundo.]
Ela decidiu compartilhar de repente seu grande segredo, vejo. Acho que a faz feliz testar meus limites. Sim, definitivamente faz.
[Nós vamos passar a noite. Você está livre?]
[Sim, mas espere um segundo]
[Nós vamos nos encontrar na casa da Mimimi para planejar tudo. Você está livre amanhã ou no dia seguinte?]
[Você pode desacelerar?!]
Mais uma vez, meus circuitos cerebrais estavam prestes a fritar enquanto digitava minha resposta agressivamente no telefone.
[Sim ou não?]
[Estou livre nos dois dias]
[Achei.]
[O que isso quer dizer?]
Eu entendo por que ela diria isso, é claro.
[De qualquer forma, vamos nos encontrar amanhã à tarde na Estação Kitayono.
Eu te aviso quando decidirmos um horário exato.]
[Ei, como vai ser esse churrasco? Quando? Onde? É essa a pernoite da qual você estava falando?]
A notificação apareceu mostrando que ela tinha lido minha mensagem, e um instante depois, meu telefone começou a tocar música.
La-la-la...
Surpreso com essa ocorrência incomum, deixei meu telefone na cama, o que tornou o caos várias vezes pior. Quando o peguei cuidadosamente e olhei para a tela, vi que Hinami estava me ligando pelo aplicativo. Huh? Dá para fazer ligações no LINE?
Com dedos tímidos e trêmulos, deslizei o botão para atender a chamada.
— Al... alô?
— Você está me ouvindo?
Aquela voz estranhamente bela, clara e confiante alcançou meu ouvido.
— Sim, eu posso te ouvir... mas por que você me ligou?
— Huh? Porque seria chato escrever uma mensagem de texto.
— Ah, certo.
Acho que falar ao telefone não era grande coisa para pessoas normais. Eu, por outro lado, ficava nervoso só de ouvir a palavra telefone. Não confio em mim mesmo para manter uma conversa.
— De qualquer forma, a história básica sobre a 1pernoite é que estamos tentando juntar a Yuzu e o Nakamura.
Como eu não podia ver sua linguagem corporal, estava especialmente focado em sua voz. Deveria estar acostumado a isso agora, mas sentia como se aquele som claro e melódico estivesse penetrando diretamente em meu cérebro.
— Hum.
Por algum motivo, eu estava sentado na cama com as pernas cruzadas como um discípulo adequado enquanto conversávamos. Claro, era a primeira vez que estava falando ao telefone com alguém da minha idade do sexo oposto, então parecia meio que uma conversa secreta. O fato de estarmos conversando logo antes de dormir também me abalou, então mal registrei o que ela estava dizendo.
— Recentemente, você tem conseguido ter conversas normais com Yuzu, Mimimi, Hanabi e Fuka-chan, mas ainda não tem muitos amigos homens, e isso é um grande problema.
— Ah, é verdade... isso é verdade.
Tentei absorver o que Hinami estava dizendo apesar do meu coração pulsante. A questão de não ter amigos homens já tinha me ocorrido antes.
— Na viagem, você desenvolverá suas amizades masculinas. Além disso, passar dois dias cercado por pessoas normais lhe dará uma grande experiência. Esses são seus objetivos.
A brisa do ar-condicionado esfriou ainda mais o suor frio escorrendo pelo meu pescoço.
— Então, o que você estava dizendo sobre juntar o Nakamura e a Yuzu?
— Esse é o principal objetivo da viagem. Eles se recusam a sair, então a ideia partiu dos outros cinco de nós. Queríamos fazer isso acontecer.
— Ha-ha-ha... Que plano de normies...
Eu ainda estava sentado perfeitamente imóvel com as pernas cruzadas, minha coluna reta.
— Como esse é o ponto da viagem, espero que você não interfira, e se houver algo que você possa fazer para ajudar, gostaria que fizesse. Mas duvido que haja muito que você possa fazer, e é difícil focar em dois objetivos separados, então não se preocupe muito com isso.
— Entendi...
Socializar com Nakamura, Mizusawa e Takei e tentar fazer amigos homens já era uma carga considerável para mim. Se eu tivesse que elaborar estratégias para unir Nakamura e Izumi em cima disso, estaria trabalhando em excesso.
De qualquer forma, agora eu sabia qual era o objetivo aqui. Estive lá com a Izumi enquanto ela tentava escolher um presente que o Nakamura gostaria, então eu realmente esperava que desse certo entre eles. Além disso, eu sou o mentor da Izumi, afinal de contas.
— Não deve custar mais de dez mil ienes... Você tem essa quantia?
— D-dez mil...
Pensei em meu saldo bancário.
— Talvez... por pouco.
— Bem, na pior das hipóteses, posso emprestar algum dinheiro para você, mas se realmente for difícil para você, não precisa vir, okay? No que diz respeito ao dinheiro, quero dizer.
— Um...
Meu cérebro, que estava rapidamente fritando, vacilou por um minuto. Seria apertado. Por outro lado, eu conseguia imaginar o quanto ela tinha trabalhado para me fazer ser aceito no grupo. Eu começaria um emprego de meio período em breve, e essa seria uma grande oportunidade de treinamento...
Meus dedos se apertaram ao redor do telefone.
— Não, eu vou.
Disse muito claramente e decisivamente.
— ...Certo. Nesse caso, nos encontramos amanhã na Estação Kitayono como eu disse. Provavelmente por volta das duas. Estaremos discutindo a estratégia Yuzu-Nakamura, então será apenas Mimimi, Mizusawa e eu.
— Ah, certo.
Com base em quem estava vindo, a reunião de amanhã não seria muito difícil para mim.
— O Takei vai na viagem, mas ele é geralmente inútil e provavelmente só atrapalharia; ele não vai para a reunião. Ele nem sabe qual é o propósito da viagem.
— Oh…
Nossa, que forma de zoar o cara.
— Quanto ao seu trabalho para a reunião de amanhã...
— Sim?
Então ela tinha um trabalho em mente. Claro.
— Quero que você provoque o Mizusawa três vezes amanhã.
— P-provocar ele?
Aquilo soava meio agressivo; agora eu estava ficando nervoso.
— Sim. Está tudo bem discordar do que ele diz. Você sabe por que quero que faça isso?
— Não....
Respondi honestamente, e Hinami começou uma explicação concisa.
— Há um problema muito comum que os não-normies enfrentam quando querem mudar seu status social, que é concordar com tudo o que os normies dizem.
— Concordar com o que eles dizem?
— Sim.
Disse Hinami com sua voz suave e bonita. Senti como se o alto-falante do meu telefone estivesse suspirando.
— Quando um não-normie tenta se juntar a um grupo de normies, muitas vezes concorda com tudo o que o grupo diz e age como se estivesse feliz com tudo em uma tentativa desesperada de pertencer.
— ... Sim, consigo entender.
Faz sentido quando se pensa nisso. Se você não sabe como se tornar amigo de alguém, provavelmente começa tentando demonstrar que é igual a eles. Mas eu tinha algumas dúvidas.
— Você está dizendo que isso está errado?
Foi uma pergunta sincera. Quer dizer, se você pudesse se tornar amigo apenas concordando com alguém, seria uma ótima maneira de se tornar um normie.
— Sim, é um erro enorme. A melhor posição que você alcançará através dessa estratégia é ser um saco de pancadas designado. Você pode ser temporariamente aceito, mas nunca será um igual. Você é apenas um impostor.
— Um impostor...
Eu já tinha visto essa palavra várias vezes online. Acho que significava um normie que sempre mudava com base no que parecia estar na moda ou legal.
— Os impostores são aquelas pessoas estúpidas que baseiam toda a sua identidade em pertencer ao grupo popular. Eles não têm amigos que os tratam como iguais, e tudo o que fazem é definido por suas tentativas de se encaixar nos valores do grupo ao qual desejam pertencer. Nesse sentido, eles são ainda piores do que os solitários, então você definitivamente deve evitar ir intencionalmente nessa direção. Basicamente, você só precisa lembrar do objetivo final que estabelecemos logo no início, que é você se tornar um normie no mesmo nível que eu.
Não pude deixar de sorrir de forma cínica para Hinami enquanto ela entregava essa explicação clara e direta.
— Entendi. Não me tornar um impostor, porque então eu nunca serei um igual. Mas você está dizendo que a tarefa que me ajudará a fazer isso é provocar o Mizusawa três vezes?
Baixei minha voz para que meus pais e minha irmã não ouvissem nossa conversa. Eles com certeza ficariam surpresos se me ouvissem falando sobre impostores e amizades iguais. Eu ainda estava ajoelhado.
— Sim. É uma maneira de construir uma amizade onde você pelo menos seja igual. Em vez de concordar com a pessoa o tempo todo, você a provoca um pouco, faz alguns comentários diretos, a desafia quando discorda dela. Dessa forma, é mais difícil para eles tratá-lo como um idiota ou mexer com você.
— ... Faz sentido.
Algo me ocorreu naquele momento. O que ela estava dizendo parecia semelhante ao que eu chamava de Método Mizusawa, onde você dizia algo ácido, mas de alguma forma não estragava o relacionamento. Huh. Então o efeito disso era criar um relacionamento onde você fosse pelo menos igual à outra pessoa. Era incrível como Mizusawa fazia isso naturalmente.
— Em termos simples, a hierarquia do ensino médio é, em última análise, baseada em se uma pessoa é capaz de provocar muitas outras pessoas ou não.
— ... Ah.
Entendi intuitivamente o ponto dela. Agora que ela havia explicado para mim, eu podia ver que a razão pela qual Nakamura estava entre as pessoas mais poderosas de nossa classe era que ninguém podia mexer com ele, mas ele podia mexer com quem quisesse.
Quer dizer, Nakamura não seria Nakamura se não implicasse com as pessoas, e também não conseguia imaginá-lo sendo alvo das piadas de todo mundo... Sabe, nesse contexto, as relações humanas começam a parecer meio assustadoras.
— Claro, se você exagerar, as pessoas vão vê-lo como excessivamente agressivo ou irritante, e sua posição cairá. Por isso, coloquei um limite em sua tarefa.
— Ah, entendi.
O fato de ela ter dito três vezes em vez de pelo menos três vezes aparentemente era importante.
— Enfim, essa é sua tarefa. Você deve ter cuidado para não provocá-lo com algo muito estranho, mas ele basicamente acha você interessante por causa da forma como você repreendeu a Erika Konno, então acho que ele vai deixar passar um ou dois erros. Por isso, o escolhi para esta tarefa.
— Nossa, você realmente pensou nisso...
— Obviamente.
Consegui imaginar sua expressão triunfante habitual.
— Isso é tudo. Você entendeu a ideia geral? Alguma pergunta?
— N-não, estou bem. Entendi.
— Mesmo? Ok, então vejo você amanhã.
— Certo, até amanhã.
De repente, a ligação foi encerrada. Fiquei sozinho, ainda ajoelhado, com o zumbido silencioso do ar-condicionado preenchendo o quarto fresco. Percebi o quão nervoso eu tinha estado durante toda a conversa.
Então, amanhã. Eu tinha mais trabalhos de férias pela frente. A tarefa era provocar o super-normie Mizusawa três vezes...? Eu conseguiria fazer isso?
— Bem, por enquanto...
Abri a gaveta da minha escrivaninha e guardei os cartões de memória que preparei para a Kikuchi-san. A reunião de amanhã seria com Hinami, Mimimi e Mizusawa.
— Nesse caso... isso e isso devem funcionar.
Tirei dois novos baralhos de cartas de conversação e folheei-os. Eu sabia que se fosse contestar alguém no grupo, teria que garantir que minha base de tópicos memorizados fosse especialmente sólida. Se não fosse, meu cérebro não seria capaz de participar da conversa em grupo e pensar sobre minha tarefa ao mesmo tempo.
Eu sabia que quanto mais eu memorizasse, mais suaves seriam minhas conversas e mais fácil seria para mim interagir com outras pessoas, e eu sentia uma pequena onda de realização toda vez que memorizava um novo tópico.
Estava começando a ser divertido, na verdade. Acho que quando você vê os resultados de seus esforços, fazer esse esforço deixa de ser um fardo.
Eu já havia memorizado a maior parte dos tópicos quando percebi que havia algo mais que eu precisava fazer. Poderia muito bem aproveitar o momento e fazer isso agora mesmo. Tirei meu telefone, fui para o site que Hinami havia me enviado antes e disquei o número de telefone. Ele tocou algumas vezes antes de alguém atender.
— Obrigado por ligar para a unidade Karaoke Sevens Omiya. Como posso ajudá-lo?
— Um... estou ligando sobre o aviso de emprego de vocês online...
Dentro de alguns minutos, consegui marcar uma entrevista para 3 de agosto, daqui a cinco dias.
Isso significava que amanhã, 30 de julho, eu iria para a reunião estratégica na casa da Mimimi. Em 1º de agosto, eu iria ver um filme com Kikuchi-san. No dia 3, eu teria uma entrevista para um emprego de verão. Depois, nos dias 4 e 5, eu iria para a viagem de churrasco noturno.
Realmente estava se configurando para ser umas férias de verão sem descanso, mas talvez não fosse tão ruim afinal.