Volume 1

Capítulo 6: Às vezes você conquista uma masmorra apenas para encontrar um chefe forte de volta à sua vila. (PARTE 2)

Ufa.

Agora eu tinha feito.

Para passar por essa situação de alta pressão, eu realmente me concentrei no jogo, e como resultado, o destruí completamente.

— ...Merda.

Murmurou Nakamura, como se estivesse contendo sua raiva e angústia.

A plateia assistia em completo silêncio. Com razão. Ele havia sido derrotado em uma partida de quatro vidas sem levar uma sequer das minhas. Não havia outra explicação além de que eu era simplesmente muito melhor.

Quando tirei sua primeira vida, as pessoas estavam dizendo coisas como era assustador o quão bom eu era, mas provavelmente porque Nakamura parecia tão mortalmente sério, eles haviam caído em silêncio agora.

Olhei para o fundo da sala. Além de Erika Konno, ninguém estava nos olhando. Eles estavam trocando olhares constrangedores entre si, sorrindo na tentativa de amenizar a tensão ou olhando para o chão. Desculpe, Nakamura. Mas eu não tive escolha. Eu realmente não queria fazer isso!

— Bem, acho que vou indo.

Eu disse, esperando escapar da sala incrivelmente desconfortável. Mas três palavras inesperadas me pararam no meio do caminho.

— Uma partida a mais.

A pessoa que falou não era ninguém menos que Nakamura.

Que diabos ele estava dizendo? Uma partida a mais? Depois do que acabou de acontecer? Ele não podia estar falando sério. Era impossível. Sem exagero, se jogássemos cem vezes, ele não ganharia uma vez sequer. Não havia absolutamente nenhuma razão para ele jogar contra mim novamente.

— Uh, mas...

— Eu disse, 'uma partida a mais'. Pegue seu controle logo.

— ...Um, eu quero trocar de personagem.

— Não, está bom assim. Eu vou manter o meu também. Não estou culpando os personagens, então não zombe de mim.

— ...Tudo bem.

Nakamura nem sequer olhou para o pessoal lá trás. Ele manteve os olhos fixos na tela enquanto falava. Todos atrás de nós estavam olhando para a parte de trás da cabeça de Nakamura chocados, e apenas com um leve toque de medo.

Não tive escolha senão pegar o controle.

Meu cérebro não estava acelerado como na primeira partida, então levei um pouco mais de dano, mas mais uma vez, o venci sem perder uma única vida.

Claro que venci.

Olhei para a plateia.

Entre todos os rostos cabisbaixos, vi o de Hinami. Merda. Ela deve ter entrado durante a nossa segunda partida. Ela e Izumi estavam cochichando uma para a outra, provavelmente atualizando Hinami.

Mas duvidava que mesmo Hinami pudesse consertar essa situação. Não via isso sendo resolvido a menos que Nakamura ou eu nos tornássemos o vilão condenado a morrer.

Quando Izumi terminou de falar, Hinami parecia extremamente preocupada. Então ela olhou para mim e balançou a cabeça.

Não sei exatamente o que ela quis dizer, mas certamente não foi algo bom. Minha situação provavelmente não ia melhorar muito.

— Uma vez mais.

...Eu não podia acreditar.

Ele anunciara na frente de praticamente todos os membros importantes do grupo normie que queria vingança, e então perdeu duas partidas seguidas. Por que ele ainda não desanimou? O que se passa na sua mente, Nakamura? Por que você ainda quer lutar?

— Anda logo.

Parece que minha opinião não importava.

— ...Tudo bem.

Pela terceira vez, eu ganhei sem perder nenhuma vida.

O clima estava ficando cada vez mais pesado. Se até eu pudesse sentir isso, esses normies sensíveis deviam estar prontos para sufocar. Olhei para trás. Todos, exceto Erika Konno e Hinami, estavam olhando para baixo. Em circunstâncias normais, eu diria que estavam sendo melodramáticos.

O rosto de Hinami estava vazio. Erika Konno estava nos encarando com firmeza.

— Eu tenho aula de reforço hoje....

Disse um dos amigos dela, tentando sair.

— Ah, eu também....

Acrescentou outro.

— Parem de mentir. Vocês duas têm aula de reforço às quartas-feiras.

Nakamura não se virou, mas seu tom continuava intimidador.

— Uh, bem...

— Ha-ha...

E então...

— Uma vez mais.

Você está mentindo, certo Nakamura? Por que está fazendo isso?

Mas não havia como convencê-lo.

— ...Tudo bem.

De novo, eu o derrotei sem perder uma única vida. Ainda assim.

Uma vez mais, uma vez mais, uma vez mais — mais três vezes. O clima era como chumbo nos arrastando para baixo, mas Nakamura não mudou sua atitude nem um pouco. Finalmente, na última partida, perdi uma vida antes de vencer. E juro que não segurei nada.

Ótimo! Isso deveria satisfazer um pouco a sede de vingança de Nakamura. Falhar em eliminar seu oponente sequer uma vez ao longo de tantos jogos causaria mais do que um pouco de dano ao seu orgulho; eu entendo.

Então...

— Nakamura, vamos...

— Mais uma.

Ele estava encarando a tela.

— Não, já chega.

— Você achou que eu ficaria satisfeito com uma vida? Eu disse para não zombar de mim. Mais uma rodada.

Pela primeira vez desde que começamos a jogar, ele desviou o olhar da tela e me encarou. Não havia o menor traço de autodúvida em seus olhos; ele estava pronto para lutar. Aparentemente, isso era mais do que mera teimosia.

— ...Tá...

— Ei, Shuji, desiste logo, ok? Estou começando a achar que você é um esquisito nerdsóide também.

Olhei por cima do ombro. A voz pertencia a Erika Konno.

— Quer dizer, sério. Por que você está levando um jogo tão a sério? É idiota.

Nakamura voltou seu olhar penetrante para Konno.

— ...O que isso tem a ver com você?

— O quê? Você me impede quando estou tentando ir para casa e me diz para assistir, então diz que não é da minha conta? Sério? Eu realmente não acho que você é insano, mas você está agindo como um estranho.

Ela zombou com uma risada debochada. A grande demonstração de intimidação de Nakamura não teve o menor efeito sobre ela.

— Eu não lembro de ter te impedido. Por que você está me seguindo por aí, Erika? Isso sim é esquisito.

O rosto dela se contorceu.

— Nossa. Você realmente se acha, né? Acha que é o máximo só porque eu disse que gostava de você outro dia? Meu Deus, que idiota. Parabéns por interpretar tudo errado. Eu só disse porque pensei que teria sorte de sair com o cara no topo da hierarquia. Nunca, jamais teria dito isso se soubesse que você era tão esquisito.

Ela parecia animada, mas suas palavras cortaram como uma espada.

— Eu não dou a mínima para o que você pensa. Não muda o fato de que eu não gosto de você.

Nakamura disse.

Erika Konno coçou a cabeça desconfortavelmente com o dedo indicador.

— Quer dizer, você pode jogar com ele um milhão de vezes; você não vai ganhar. Ele é muito melhor que você, é hilário assistir. Se até eu consigo ver isso, você deve ser bem ruim, não é mesmo, Shuji?

— ...

Pela primeira vez, Nakamura hesitou. Aproveitando a chance, Konno se virou para um de seus amigos para confirmação.

— Certo, Miho?

A hora dela foi cruel.

— Ah, é, é tão estranho. Tipo, eu queria que ele fosse embora logo.

O desprezo da garota soou completamente sincero.

— Exatamente, né? ...Alguma coisa mais?

Erika Konno estava atiçando as chamas. Eu mal podia acreditar nas técnicas que ela estava usando.

— Ah, é, quero dizer, o Nakamura é tão patético para começar. Sério, eu queria que ele morresse.

— Exatamente?!

Erika Konno exclamou.

Foi o sinal para o resto da turma dela atacar Nakamura.

Izumi estava em silêncio.

— Ele nos disse para assistir ele se vingar, lembram? Que idiota.

— Completamente! Agora olhem para ele. É insano. Eu quero meu tempo de volta!

— Ouviu isso, Shuji? Você é patético e fraco, e sempre foi. Você. Perdeu. Entendeu?

O abuso de Erika Konno foi um nível mais cruel do que todos os outros.

— O que você tem a ver com isso? Vai para casa então. Se manda logo daqui.

Até o arsenal verbal de Nakamura estava murcho sob a força dela.

— O que eu tenho a ver com isso? Isso é engraçado. Ei, espera um segundo, é uma lágrima que eu vejo no seu olho, Nakamura?

— Meu Deus, é verdade! O quê? Ele está chorando? Que idade você tem?

— Você está chorando porque perdeu num jogo de vídeo? Você está brincando? Você não está na pré-escola! Quer dizer, ouvi dizer que você está treinando aqui todos os dias depois da aula ultimamente. Ha-ha-ha, idiota. Isso é o melhor que você conseguiu? Todo o seu esforço foi em vão. Eu ficaria tão envergonhada se fosse você. Esse jogo é uma porcaria.

Com isso, Konno reuniu sua turma e saiu pela porta. Hinami assistia, movendo os lábios tão sutilmente que apenas eu poderia ter notado.

Mas foi apenas um segundo antes disso que a voz de um garoto furioso ecoou pela sala.

— Ei! O que você acabou de dizer?

A máscara em branco de Hinami se transformou em surpresa, mais chocada do que eu já a tinha visto.

Com razão.

Afinal, não foi Nakamura ou um dos membros de sua turma quem acabara de falar.

Fui eu.

— O que!?

Konno me encarou, enfurecida por um dos ralé ter se atrevido a responder assim a ela.

— ...O quê? Tomozaki? Eu disse algo que te ofendeu? Hem, esquisito?

Ela disse em um tom leve, reservado para os menores dos pequenos.

— ‘Esquisito’ é a única palavra que vocês conhecem?

Retruquei causticamente, forçando-me a manter o olhar fixo nela.

— O quê? Claro que não! Por que está falando comigo desse jeito? Argh, nojento!

— Você está bem convencido de repente, Tomozaki. Mal posso lidar com o quanto você está parecendo um esquisito agora.

— Quero dizer, por que você está protegendo ele? Sério, não faz o menor sentido.

— Verdade? Ele nem está dizendo nada! É hilário.

— Os esquisitos se juntam aos esquisitos, né? Eu vou ficar longe, obrigada.

A maldade em cada uma de suas palavras cortava através de mim. Eu havia contra-atacado antes, mas desta vez, minhas mãos estavam tremendo.

— Isso é estúpido. Vocês não entenderiam de qualquer maneira.

— O que?

Todo aquele treinamento de tom, treinamento facial, treinamento de postura, treinamento de discurso... pela primeira vez desde que comecei, eu entendi o ponto deles. Eu não era nada comparado a essas garotas quando se tratava dessas habilidades. Elas tinham polido suas habilidades dia após dia. Podiam usá-las à vontade, muito melhor do que eu, nem valia a pena nos comparar.

Elas sabiam muito bem que eu não estava nem perto do nível delas, e zombavam de mim por isso. Qualquer coisa que eu dissesse provavelmente não importaria — elas não iam prestar atenção em mim.

— Sabe. — comecei devagar, tornando minha voz tão alta e sincera quanto podia, — não tem nada que eu deteste mais do que uma pessoa que perde e depois coloca a culpa nas circunstâncias ou no personagem ou algo assim, em vez de fazer qualquer esforço para melhorar.

— O que?

— E daí?

— O que ele está falando?

— Fique quieta! — gritei o mais alto que pude.

— Quando eu venci Nakamura antes, ele arrumou desculpas. Ele disse que era culpa do personagem. Eu pensei que ele não valia nada. Mas e agora? Ele perdeu tão feio, na frente de todas essas pessoas, mas não fez uma única desculpa! Ele continuou lutando e lutando! E eventualmente tirou uma das minhas vidas! Vocês provavelmente não têm ideia de como isso é incrível! Não é qualquer um que pode fazer isso!

Há coisas que nem eu posso ignorar.

E o que Eriko Konno tinha dito estava entre elas. Não havia como deixar isso passar.

— Hã?

— O que ele está falando?

— Quer dizer, qual é a graça se você não ganha, certo?

— Nakamura não está arrumando mais desculpas!

Respirei fundo e gritei minhas próximas palavras.

— Mas isso não importa agora mesmo!

Minhas palavras totalmente sem sentido deixaram a turma de Konno sem palavras. Olhei Erika Konno diretamente nos olhos. Ela me encarou de volta. Eu estava com medo, mas recusei a baixar o olhar.

Quando se tratava disso, eu tinha coragem.

— Konno. Você disse algo há um minuto. Você disse que este jogo é uma porcaria.

Meu nível e meu equipamento eram insuficientes para essa batalha, e eu não tinha como compensar isso. A derrota estava diante de mim, mas eu me recusava a ceder nesse ponto. Essas pessoas provavelmente não sabiam sobre as batalhas de enredo, onde os jogadores não desistem mesmo quando sua saúde chega a zero. Isso é comum em jogos de RPG.

Claro, nem eu sabia se era uma dessas situações!!

— Escutem! Eu odeio pessoas que perdem e arrumam desculpas em vez de tentar melhorar! ...Mas!

Despejei o máximo do meu ódio pessoal genuíno nas palavras que gritei a seguir.

— ...Mas eu odeio ainda mais pessoas que zombam da Atafami!!

A turma de Konno ficou completamente atônita. Foi um duelo de olhares entre Konno e eu.

— Escutem! Este é um jogo incrível! O balanceamento é bom. Se você praticar, não há limite para o quão bom você pode ficar, e não há movimento do qual você não possa escapar. Se você praticar o suficiente, não há combo que possa te matar instantaneamente. Os personagens são todos únicos e cheios de ideias. Cada um deles poderia ser o protagonista de outro jogo!

O jogo tem muitos segredos e muitas coisas para fazer como jogador solo, o suficiente para competir com o modo online. E o ambiente online é excelente, então você pode lutar sem estresse! O suporte ao usuário é bom também! E! Você tem técnicas normais, mas os especiais e super-ataques são vistosos e divertidos mesmo para quem não é hardcore.

Atafami combina consideração pelos jogadores hardcore com os efeitos chamativos que os casuais gostam. Os dois opostos existem em um equilíbrio perfeito. É uma obra-prima imortal!!

— Hã? Seu esquisito. É só isso que você queria di—?

— Mas absolutamente nada disso importa agora!!

Gritei tão alto que minha voz começou a ficar rouca. Até Eriko Konno pareceu chocada.

— Você está cheio de merda! O que diabos você quer dizer com 'todo o seu trabalho foi inútil'? Nem ouse com essa porcaria! Você está sendo uma vadia enorme e nem sabe do que está falando! E eu não estou falando apenas sobre agora! Tem semanas!! Nakamura está se esforçando como nunca!!

Nakamura me lançou um olhar surpreso.

— Eu sei do que estou falando!! Me escutem! Aquela técnica que ele usou para escapar do meu combo na segunda vida do segundo jogo? É incrivelmente difícil!! Normalmente, leva meses para dominar!! E é ainda mais difícil de fazer sob pressão como hoje!! Não é algo que você faz por acidente, me ouviu?! E isso não é tudo! O movimento que ele usou na última partida para me derrubar? Isso é um combo superdifícil; nem mesmo eu consigo acertar todas as vezes! Chama-se MLJ! Moonlight Jail! É um combo insanamente difícil!! Ele é incrível! Nakamura é incrível, entendeu?! Limpe seus malditos ouvidos e me ouça!! Você provavelmente não entenderia, mas o Nakamura? Ele tem um objetivo! Todo santo dia! Ele não desistiu! Ele continuou e continuou e continuou e continuou mesmo quando não queria! E ele conseguiu! Talvez não seja a coisa mais importante! Mas ele obteve resultados!!

Eu estava praticamente gritando.

— Então parem de rir dele!! Parem de rir do trabalho duro das pessoas!! Pessoas que realmente se esforçam por algo? Elas estão fazendo isso certo! O que fazem é algo lindo! Mais do que qualquer outra pessoa, sem dúvida alguma!!

Meu campo de visão estava ficando branco — ou preto, eu não conseguia dizer.

— Eu odeio pessoas que perdem e depois arrumam desculpas em vez de trabalhar para melhorar!! E odeio pessoas que zombam da Atafami!! Mas mais do que tudo isso!!

Continuei gritando com todas as minhas forças.

— A coisa que eu mais odeio, no mundo inteiro, são idiotas como vocês que não sabem fazer nada além de rir do trabalho duro dos outros!!

 

 

Silêncio.

Erika Konno não disse uma palavra. Sua turma a observava. Nakamura me encarava, congelado de surpresa. A turma de Nakamura se remexia desconfortavelmente. Os olhos de Hinami estavam úmidos. Sério? Vamos lá. Hinami era uma atriz mestra. Incrível.

A primeira a se mexer foi Erika Konno.

— Deus, do que você está falando, esquisito?

Foi o sinal para as garotas de sua turma voltarem à vida.

— Sério!

— Por que ele está tão agitado por causa de um jogo idiota?

— Que esquisito.

Não adiantava. Então esse era — o clima.

O comentário de Erika Konno acabara de estabelecer uma nova regra dizendo que — levar algo a sério é ruim.

Senti isso com todo o meu corpo.

Meu momento acabou. Eu atirei todas as balas que tinha. Hinami, o resto está com você. Consegui chegar até aqui. Você provavelmente teria feito melhor.

Olhei para ela. Ela estava sorrindo levemente e assentindo. Então ela se virou para frente e abriu os lábios.

— Na verdade, eu não acho que seja uma coisa tão ruim... ser sério com algo, quero dizer.

A voz alegre, amigável, ecoou pela sala.

—Alegre, amigável, mas um pouco assustada.

O que? Assustada?

— ...Hã? O que você quer dizer? Yuzu?

Os olhos de Erika Konno se voltaram para Izumi. O quê?! I-Izumi?!

Olhei ao lado de Izumi, onde Hinami estava. Seus lábios estavam congelados em um círculo aberto antes de terem formado qualquer palavra.

— Não, quero dizer, tipo... É uma coisa bonita de um jeito meio infantil, sabe o que quero dizer...?

— O quê? Você está defendendo o Tomozaki em vez de mim?

Um arrepio visível percorreu os ombros de Izumi.

— Não, não é isso! Mas ultimamente, eu tenho jogado Atafami — é assim que se chama, né? Eu tenho experimentado, e tem muita profundidade nisso! Você deveria tentar também, Erika!

— O quê? Você está tentando mudar de assunto?

— N-não, claro que não! Quero dizer, ele estava falando sobre Atafami, certo? Então tipo, tem uma coisa chamada short hop, e é realmente difícil. É difícil acertar! Ah, mas tenho melhorado bastante nisso ultimamente!

— ...O que?

Era doloroso assistir a ela se atrapalhar. Izumi era tão boa em ler o ambiente; não havia como ela não saber o que estava acontecendo.

— Além disso, parece sempre que as técnicas mais fortes demoram muito para começar, então é difícil acertá-las. Mas eu descobri algo! Primeiro você usa uma que entra rápido, e então você conecta o movimento forte a partir daí! Isso é um combo, certo? ...é óbvio? Ha-ha...

Ela estava indo puramente por força de vontade. Era difícil, mas ela estava perseverando. Na superfície, no entanto, parecia bastante estranho. A multidão estava incrivelmente confusa com a luta desajeitada e incompreensível de Yuzu Izumi e a frenética obstinação incompreensível de suas palavras. Era como se o foco da cena tivesse borrado.

— Certo! Então o que estou dizendo é que Found é um personagem bem difícil de dominar. Eu ainda tenho um longo caminho a percorrer. Mas Foxy é ainda mais difícil, porque, tipo, ele cai mais rápido! E isso significa que ele morre por acidentes com mais frequência. Sem brincadeira, Atafami é difícil. Eu pretendo trabalhar nisso, porém. O motivo é um segredo, é claro, ha-ha...

Todos na sala estavam com os olhos em Izumi. Para alguém que se importava tanto com o que as pessoas pensavam, isso devia estar sendo angustiante para ela.

— Também, quando se trata dos outros personagens...

Incapaz de suportar mais, Hinami deu um passo à frente. Mas um segundo antes de fazê-lo, a mão de Erika Konno alcançou o ombro de Izumi.

— Chega, Izumi. Estou ficando entediada.

Ela se virou para sua turma.

— Vamos sair daqui.

O batalhão de Konno saiu da sala, deixando Izumi para trás. A turma de Nakamura aproveitou a oportunidade para sair também.

A porta bateu, e por um segundo a sala ficou em silêncio. Então Izumi desabou no chão.

— ...E...Eu estava tão assustada...!

Ela começou a chorar. Sério?

Nakamura se aproximou dela.

— Ei, o que foi tudo isso? Não é seu estilo se esforçar assim.

— M-mas...mas...!

Nakamura colocou a mão no ombro de Izumi. Ei, não toque na minha aluna sem pedir antes! Ah, espera, talvez esteja tudo bem, eles parecem gostar um do outro. Sim, está tudo bem.

— Shhh, você não precisa falar sobre isso. Você fez um bom trabalho.

— Ngh...! Shuji...!

— Está tudo bem agora. Ei, você não quer que todos vejam você chorando, né?

Nakamura estendeu a mão para Izumi.

— N-não, eu estou bem...!

Izumi enxugou suas lágrimas ferozmente com a manga, se recompôs e ficou de pé com as próprias pernas. Os dois saíram da sala... ou estavam prestes a, quando Nakamura se virou e olhou fixamente para mim. Em uma voz tão baixa que mal ultrapassou sua própria boca, ele murmurou algo.

 Definitivamente não era alto o suficiente para me alcançar, mas por algum motivo, ouvi com extrema clareza. Pelo que pude perceber, a determinação por trás das palavras era genuína.

— Na próxima vez, eu vou vencer.

Com isso, Nakamura e Izumi saíram da sala.

Um...?

— …O que acabou de acontecer?

Eu disse.

— …Eu não faço ideia.

Hinami respondeu, boquiaberta. Pela primeira vez, ela estava sem defesa.

Enquanto eu olhava para o rosto dela e tentava juntar as peças dos eventos, eu percebi algo.

— Ah, é verdade...

— …O quê?

— Dessa vez...

Eu imitei conscientemente o tom irônico favorito de Hinami.

— Você não fez absolutamente nada.

Pela primeira vez desde que conheci Hinami, pude perceber pela expressão dela que minhas palavras haviam acertado em cheio.



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