Volume 1

Capítulo 5: Técnicas e equipamentos poderosos tornam divertido e fácil progredir. (PARTE 1)

No sábado, saí com Hinami e no domingo seguinte, memorizei diligentemente tópicos de conversação e pratiquei reagir com entonação real, como ela me ensinara, além de continuar meu treinamento de expressão e postura. Para memorizar os tópicos, usei uma das minhas técnicas de estudo padrão, que é escrever com caneta vermelha e depois usar uma folha translúcida vermelha para bloquear as respostas.

Consegui criar dez tópicos e os memorizei todos. A prática de resposta foi um pouco mais difícil, já que não tenho ninguém com quem realmente converse, e meus pais... bom, nós também não conversamos muito. Tive que recorrer a ligar a TV e reagir junto com os convidados em programas de entrevistas.

Foi bem triste.

Enquanto fazia isso, notei algo. Pensei que minhas reações eram exageradas porque só conseguia usar vogais, mas não havia muita diferença entre minha entonação e a dos convidados nos programas. E ainda assim, quando assistia a TV como espectador passivo, as reações deles não pareciam exageradas. Ou seja, o que eu considerava demais provavelmente pareceria natural para as pessoas ao meu redor.

Cara, eu devo ter parecido muito sombrio antes.

— Putz, eu tenho muito o que aprender!

Declarei o mais animadamente que pude, estufando o peito e segurando a boca em um semblante de sorriso. Eu me sentia tão diferente de mim mesmo que não pude deixar de rir.

Eu estava certo de que seria capaz de alcançar várias coisas que o velho eu não tinha conseguido.

Segunda-feira, na aula:

— Oi, Izumi-san, você fez a tradução para o inglês?

A pergunta pode ter parecido casual e confiante — e eu espero mais do que tudo que tenha sido —, mas na realidade, meu coração estava acelerado. Desde a Sala de Costura #2 até a sala de aula, eu estava me preparando mentalmente e repetindo — Vou dizer isso, vou dizer isso, vou dizer isso.

Então, quando me sentei na sala de aula, consegui dizer sem uma pausa estranha antes. Claro, a tradução para o inglês era um dos tópicos que eu tinha memorizado antecipadamente.

— Oi? Tomozaki-kun? O quê, você não fez?

A resposta revelou sua surpresa, mas como eu tinha iniciado uma conversa, ela não teve muita escolha a não ser responder.

— Não, fiz.

Izumi-san me olhou sem entender. Não, hoje seria diferente!

— Sim?

Ela recuou um pouco na cadeira, olhando para mim. Sua guarda estava subindo. Ih, estou em apuros? Não, tudo ainda está bem. Isso é apenas uma vida perdida; eu tenho mais tópicos!

— Você não achou engraçados os nomes estranhos em inglês? Tipo, de onde veio 'Marcus Purdy'?

Eu disse, tentando usar a entonação e expressão mais naturais que eu conseguia reunir.

— Marcus...? Desculpe, não sei do que você está falando. Quero dizer, nem comecei a tradução ainda...

...Hum. O que faço agora? Quais eram os outros tópicos que memorizei? Espere um segundo. O quê? Hum. Eu ainda deveria ter mais de dez restantes. Uau! Minha mente estava completamente em branco.

A vasta confiança de momentos antes foi varrida sem deixar vestígios, deixando apenas minha pulsação estranhamente distante.

— Ah, sério?

Eu disse desesperadamente. Estava tão chateado que não faço ideia de como consegui falar.

— É, mas por que você trouxe isso de repente? Era só isso?

— Ah, é, desculpe.

Eu disse, suspeitando que desta vez tinha falhado completamente em manter o tom animado.

— Tudo bem, mas... você terminou?

— Hum, bom...

— O quê?

— Um... ah, deixa pra lá.

Depois de dar a ela uma desculpa fraca para um sim. Izumi-san inclinou a cabeça com curiosidade e se dirigiu ao local perto das janelas dos fundos, onde as pessoas normais sempre ficavam.

Pensei que poderia conseguir fazer isso depois de todos os meus esforços, mas foi um fracasso total. Ha-ha-ha. O que diabos? Não, você deveria ter esperado por isso. Estamos falando de você. O que você estava pensando? Não esqueça quem você é. É assim que você sempre foi. Não tem como você conseguir isso.

Eu não estava pronto para os testes práticos ainda, Hinami.

Com meu espírito de luta e confiança totalmente destruídos, não ouvi uma palavra do que o professor disse. Tudo o que conseguia pensar era no que Hinami diria durante a revisão depois da escola, e como eu me defenderia. Mas durante o intervalo entre o segundo e o terceiro período, quando voltei do banheiro, havia um bilhete escrito na folha de trabalho que deixei na minha mesa, me informando que ela não estava nem aí.

Duas vezes por dia. Dizia.

Você está falando sério...? Hinami, pelo amor de Deus. Você está me dizendo para passar por aquele inferno de novo...?

Minha confiança quebrada me desviou por um momento, mas Atafami e outros jogos haviam me incutido um ódio por perder. Eu acendi manualmente meu espírito de luta. Se eu desistisse agora, estaria perdendo para mim mesmo. Pá! Eu dei um tapa em ambas as bochechas. Você decidiu fazer isso, então faça. Você decidiu fazer isso, então faça. O momento de desistir é quando você decide que tudo é lixo, e não antes. Continue até lá.

De qualquer forma, Izumi-san não era meu principal interesse amoroso, e nós não tínhamos interagido muito no início. Não importa! Tudo está bem! Mesmo que as coisas tenham ficado estranhas, foi apenas um tropeço embaraçoso! Sem preocupações!

Eu me dei uma pequena palestra motivacional enquanto esperava o momento certo para falar com ela novamente, mas de alguma forma falhei depois da terceira aula, e novamente durante o intervalo para o almoço, e novamente depois da quinta aula.

Seria uma coisa se não houvesse oportunidades, mas fugir de chances perfeitamente boas era absurdo. Argh, isso não vai funcionar! De alguma forma, eu tinha que encontrar a força de vontade para fazer isso acontecer.

Foi depois da escola, logo após o professor terminar a última aula. Se eu deixasse essa chance passar, Yuzu Izumi provavelmente iria para as janelas dos fundos novamente para se encontrar com os outros normais e ir a casa a partir daí. Esta era realmente e verdadeiramente minha última chance. Eu ainda tinha uma reserva de tópicos de conversa memorizados à mão. Não seria tão estranho.

Você está bem!

Respirei fundo e consegui dizer algumas palavras.

— Um, Izumi-san?

Minha voz estava tão baixa que só eu podia ouvi-la.

Naturalmente, ela não percebeu que eu havia falado com ela. Como sempre, ela se juntou ao seu grupo habitual e foi para casa.

 


 

— Eu te parabenizo por ao menos aparecer aqui.

Hinami e eu estávamos na Sala de Costura #2 depois da escola. Era como se ela pudesse ver diretamente a minha alma.

— ...sinto muito.

O pedido de desculpas saiu naturalmente. Eu realmente me sentia terrível. Deprimido, até, e isso não é exagero.

— Se eu fosse sua amiga, provavelmente tentaria te consolar.

Disse Hinami.

Minha cabeça estava baixa, então ela não podia ver meu rosto.

— Mas eu sou sua instrutora. Se eu sou sua amiga, sou sua companheira de guerra. Então vou me ater a instruí-lo. Cada palavra que ela dizia era verdadeira.

— A reunião de revisão de hoje será curta. Tenho duas coisas a dizer.

— Só duas?

— Sim. Primeiro, se você procurar por conforto em mim, acabou. Se você arrumar desculpas, acabou. Quero que você pense muito bem sobre o que deu errado.

Seus olhos brilhavam severamente.

— ...S-sim, senhora!

Suas palavras ecoaram com força na minha mente.

— Segundo, quero que você continue com a mesma atitude amanhã.

— ...Mesmo?

— O que você fez hoje não foi algo que eu não previa. Eu sabia que havia uma chance de isso acontecer quando te dei a tarefa. Não é um problema; você ainda está aprendendo. Mas você deve fazer todo o esforço para atingir a quota de duas vezes por dia. Isso é tudo. Entendeu?

— Nada que você não previu?

— Sim. Então você absolutamente deve continuar amanhã.

— Mas... falando honestamente, não sei se tenho confiança para falar com ela de novo... e meu tópico foi um fracasso total.

— Hoje foi uma coincidência. Yuzu aconteceu de não ter feito a tradução, então a conversa terminou antes de começar. Mas o próprio tópico não foi tão ruim, e seu tom e expressão foram aceitáveis. Mal, mas aceitáveis.

— Re-realmente?

— Sim.

— Mas não sei se meus outros tópicos são bons...

— Você está se preocupando demais. Você pode começar uma conversa sobre praticamente qualquer coisa. Se ficar sem ideias, a outra pessoa pode ser o tópico, como a expressão dela ou o penteado. Sério, qualquer coisa está valendo.

— S-Será...?

— Sim. Se você continuar com a mesma atitude amanhã, é altamente provável que uma conversa normal aconteça.

— ...Mas...

— Ah, para com isso! Escuta aqui. Mas não é uma palavra para se desculpar e fugir dos seus problemas. É uma palavra que você usa para encontrar soluções e se mover numa direção melhor. Eu disse alguma coisa que não era verdade? Cala a boca e faça.

Então, do nada, ela apertou minha bunda.

— Aieee?!

— Você está trabalhando na sua postura mesmo enquanto estou te dando uma palestra, e essa é a melhor prova de que você está se esforçando genuinamente. Entendeu? Não estou dizendo que todo esforço vale a pena, mas esse tipo, o tipo voltado para um objetivo razoável, vai dar certo para qualquer um desde que seja feito direito.

— Hinami...

Você é realmente...

— ...O quê? Não, não diga nada. Você provavelmente está se preocupando com algo irrelevante de novo, né? Se tem tempo para isso, então gaste pensando no que fez até agora e planejando o que deve fazer daqui em diante. Você tem mais problemas do que imagina. Você é um idiota confuso envenenado usando equipamento amaldiçoado.

Eu estive à beira de pensar que ela era realmente uma pessoa gentil. Muito perigoso.

O próximo dia chegou. Se Hinami disse, então talvez eu realmente tivesse uma boa chance de iniciar uma conversa, apenas fazendo a mesma coisa de antes. Quer dizer, basicamente fazia sentido. Começar uma conversa em si não deveria ser tão difícil. Até eu conseguia ter conversas com minha família e com Hinami. E eu conseguia me virar com Mimimi também. Eu deveria ficar bem contanto que tivesse um tópico e uma apresentação decente. Além disso, tudo o que eu precisava era de coragem... certo?

Depois de voltar para casa ontem desanimado, recebi um e-mail de Hinami com algumas informações sobre os amigos de Yuzu Izumi e outras coisas. Usei isso para preparar mais dez tópicos, que memorizei perfeitamente. Fui muito cuidadoso para poder me lembrar deles mesmo se ficasse nervoso e entrasse em pânico. Eu estava em boa forma... pelo menos, era a impressão que eu esperava criar.

Não tive chances de falar com ela na sala de aula, mas depois da primeira aula, uma oportunidade surgiu.

Agora ou nunca!

— Oi, Izumi-san.

Yuzu Izumi virou-se para mim. De forma muito dramática — bem, dramática para mim, de qualquer forma — abaixei minha voz e continuei.

— Um, você acha que a Nakamura ainda está brava comigo?

— O quê?

Ela parecia brevemente confusa, mas então baixou a voz como eu e sorriu um pouco.

— Ha-ha-ha, por que você está me perguntando?

Seu sorriso natural e feliz dissipou parte do meu nervosismo, e eu respondi sem pausas constrangedoras.

— Bem... eu ouvi dizer que vocês dois são bons amigos.

— O quê? Quem disse isso?

— Um...

Melhor ser honesto.

— Hinami.

Estávamos cochichando de um lado para o outro. Eu não podia fazer muito com o tom nesse volume, então concentrei-me nas minhas expressões faciais.

— Ah, você e Aoi realmente estão amigáveis ultimamente, não estão, Tomozaki-kun? Está acontecendo alguma coisa?

— De jeito nenhum, não está acontecendo nada!

— É mesmo...?

Ela perguntou suspeitamente. — Ok, tudo bem. Sobre o Shuji estar bravo?

— Sim.

— Ele não está realmente bravo, apenas frustrado. Pelo menos é o que eu   percebo.

— Frustrado?

Questionei, franzindo as sobrancelhas para deixar meus sentimentos claros.

— Sim. Ele tem praticado Atafami sem parar. Tipo, tanto que é meio assustador.

Fiquei surpreso — e magoado por ela ter dito que praticar Atafami era — assustador.

— Mesmo?

Eu disse. Então lembrei-me de outro tópico.

— Depois de vencer o Nakamura, eu tinha certeza de que ele ia me intimidar na sala de aula.

— O quê? Por quê?

Izumi-san sussurrou. Ela foi gentil o suficiente para sorrir.

— Sim, ainda estou preocupado com isso.

— Você se preocupa demais! Duvido que isso vá acontecer. Tenho certeza de que você vai ficar bem.

— Mesmo? Isso é um alívio.

Suspirei.

— Ha-ha-ha, bom.

— Sim.

Sim! Consegui! Sobrevivi! A conversa parecia ter acabado, então achei melhor parar por aí, enquanto estava na frente, para não continuar e revelar minha falta de preparação. Eu teria que fazer isso duas vezes por dia até sexta-feira, o que significava mais sete vezes. Não force! Não force!

Depois disso, consegui passar todas as sete vezes, às vezes em uma confusão, às vezes de forma desajeitada, mas sempre avancei com pura determinação.

Para ser honesto, a conversa sobre Nakamura foi a mais longa, e todas as outras mal contavam como conversas. Falando francamente, todas as sete estavam bem próximas de uma nota baixa, e eu diria que três ou quatro foram verdadeiros fracassos. Talvez apenas três, se você contar essa conversa como uma aprovação:

— Oh, Izumi-san, você está usando um cardigã diferente do de ontem?

— Não, é o mesmo...

— Ah, acho que estou imaginando coisas.

— É, é.

— ...

— ...

Sim, tenho certeza de que passei.

Ha-ha-ha.

Ah.

Eu odeio tudo.

 


 

— Você passou.

— Sério?

Estávamos na Sala de Costura nº 2. Eu realmente acreditava que devia ter falhado, então isso foi uma surpresa.

— Sim. Você completou a tarefa de falar com ela duas vezes por dia, então você passou.

— ...Mesmo? Não foi um problema que algumas das conversas foram terríveis?

— Não.

Uma ideia me ocorreu.

— Então o objetivo era praticar ter coragem para falar com alguém!

— Errado.

— Huh...? Então, o quê?

Hinami levantou dois dedos em um sinal de paz.

— Você conhece os dois tipos de game over?

— Isso é um pouco aleatório. Dois tipos de game over?... Do que você está falando? Não faço ideia.

— É assim.

Ela disse, virando primeiro a palma da mão direita e depois a da esquerda para cima.

— O tipo em que você volta a um ponto de salvamento e faz tudo de novo, ou o tipo em que você tenta de novo a partir de onde errou.

— Ah, ok. Sim, varia dependendo do jogo... E daí?

— Esta semana, você conversou com Yuzu. Estes foram como os seus 'combates'. Você errou, foi derrotado e depois game over, certo?

— Então eu falhei mesmo.

— Obviamente. Uma conversa que termina após três trocas não conta como uma conversa.

— Ah, é claro.

— Então, se você tem um game over em uma batalha de conversa, que tipo você acha que é?

— ...acho que é o tipo em que você tenta de novo.

— Correto. Não há pontos de salvamento na vida real. Por outro lado, mesmo se você perder, não vai perder metade do dinheiro que tem na carteira ou algo assim. Então não há desvantagem em perder uma batalha. Lutar o máximo que puder vai beneficiá-lo. E com batalhas suficientes, você pode ter sorte e vencer, certo?

— ...Bem, se você colocar assim, eu acho que sim.

— Mas isso não é o ponto realmente importante. Escute. Há uma coisa sobre o fracasso no jogo da vida que é diferente de todos os outros jogos... você sabe o que   é?

Ela sorriu e olhou nos meus olhos.

— Uh... isso é muito amplo. Talvez...?

Hinami interrompeu minha busca mental.

— Vou te contar.

Ela disse, depois explicou lentamente.

— Na vida, você ganha EXP ao perder batalhas, não ao ganhá-las.

— ...Hmm.

Gostei do som disso.

— Esta semana, você lutou incansavelmente contra Yuzu Izumi, uma oponente forte, e perdeu repetidamente. Mas cada derrota se tornou um ponto de experiência, e esses pontos estão se acumulando dentro de você. Você estava pensando na melhor maneira de fazer isso o tempo todo, certo?

— Sim, acho que sim.

Eu fiquei um pouco feliz por ela ter confiado que eu tinha feito isso.

— Honestamente, acho que ela ficou com a impressão de que você é o cara estranho que sempre fala com ela.

— Mesmo? Eu pensei isso.

— Mas você também ganhou muito, não percebeu isso? Quanto mais você avançava, mais sua tensão se dissolvia e você ficava mais tranquilo.

— Uh... eu acho que sim.

Era verdade. As conversas em si eram curtas, mas especialmente nas últimas duas vezes, foi como... eu não sei, como se a vibração estranha que eu venho emitindo desde que nasci tivesse desaparecido em grande parte. Quero dizer, não sou eu quem vai julgar, mas de qualquer forma.

— Ok, então o exercício desta semana acabou, agora que você praticou ganhar pontos de experiência através da derrota... Havia mais alguma coisa que você queria trazer?

— Oh, um, sim.

Na verdade, havia. — Você disse que a Kikuchi-san gostava de mim ou algo assim, certo?

— Sim, eu disse. E?

— Bem, eu não diria que ela gosta de mim, exatamente, mas eu descobri por quê.

Hinami se aproximou de mim. Bem perto. Pare já, meu coração está fraco.

— O que você quer dizer?

Ela estava franzindo a testa, mas seus olhos estavam cintilando com algo como esperança.

 


 

Era o quarto período na sexta-feira. Eu tinha mais uma conversa com Yuzu Izumi para fazer antes de atingir minha cota. Como eu já tinha falado com ela tantas vezes, eu meio que me acostumei com isso — ou fiquei entorpecido, talvez — então sempre que uma conversa terminava rapidamente, eu pensava, seja lá o que for, eu apenas tentaria novamente.

Eu tinha sido libertado da minha ansiedade em relação à empreitada.

Então, eu estava bastante relaxado, pensando que conseguiria encontrar uma oportunidade fácil para fazer uma conversa casual, e fui seguir minha rotina usual antes de trocar de sala — isto é, ir à biblioteca para matar o tempo e depois aparecer na sala de aula pouco antes de começar.

A única diferença era que onde eu geralmente fingia ler um livro enquanto inventava estratégias para Atafami, desta vez eu planejava revisar os tópicos de conversa que tinha memorizado.

Foi quando aconteceu.

— Tomozaki-kun.

— Whoa?!

De repente, ouvi meu nome em uma voz assustadoramente clara. Virei na direção do som e lá estava ela, segurando um livro com as duas mãos e olhando para o meu rosto, um anjo de luz — quer dizer, Fuka Kikuchi.

— ...Oh, Kikuchi-san? O que você está fazendo aqui?

— Um, eu sempre estou aqui...?

— ...Sempre?

O que ela queria dizer? Sobre o que ela estava falando? Um cheiro como um campo de flores no paraíso pairava sobre ela e suavemente sufocava meu cérebro, tornando difícil pensar.

— Sabe... sempre somos só você e eu aqui quando precisamos trocar de sala...

— Um... sempre?

— Sim... quero dizer... você nunca percebeu?

Então...

— Oh, você quer dizer...

— Você está sempre aqui quando precisamos trocar de sala, não está...?

— Sim, sim.

— Eu sempre faço a mesma coisa, então pensei: 'Ah, lá está ele de novo...’

— Ah mesmo? Desculpe, eu estava provavelmente distraído...

...pensando em estratégias para Atafami. Quando olhei para Kikuchi-san, percebi que ela estava olhando para o livro aberto em minhas mãos.

— ...Você gosta de Michael Andi...?

— Ah, é?

— Ah, é? Você não gosta? Você está sempre lendo os livros dele...

Ah certo, o livro que eu estava fingindo ler. Eu praticamente sempre sentava na mesma cadeira na biblioteca e pegava um livro no final da prateleira mais próxima, então sempre seria o mesmo... Mas eu não tinha ideia se deveria dizer isso a ela, então, em vez disso, fui e disse: — Ah, é, claro. Quer dizer, ele é legal...

O que fazer? Percebendo que não seria capaz de sobreviver a essa conversa sem entender a essência do livro, olhei para suas páginas pela primeira vez, apenas para encontrar uma série de palavras tão indecifráveis que deviam ter sido algum tipo de código secreto, — Ebi daite! — foi seguido por — Mozun lekuku! — e então pelo mesmo conjunto de palavras mais uma vez. Um mergulho raso neste livro não me levaria a lugar nenhum, infelizmente.

— Eu pensei que sim...!

Os olhos de Kikuchi-san sempre tinham aquele brilho mágico, mas agora estavam cintilando especialmente forte.

— Eu amo os livros do Andi também...!

— Ah, v-você gosta?

Droga, o que eu faço agora?

— É, é uma coincidência...

— Eu sei, é incrível!

Kikuchi-san juntou as mãos suavemente na frente da boca.

— É como O Poppols e Ilha Raptor, não é?

— Uh, O Poppols...?

— Você sabe, o livro do Andi... oh, você não leu ainda...? Faz sentido, eles não têm na biblioteca...

— Verdade? Ah, certo! Quer dizer, eu realmente quero, mas é difícil, sabe, para...

Eu disse, tentando improvisar. Os olhos de Kikuchi-san brilharam mais forte, como se Spirit Droplet tivesse dobrado seus poderes mágicos ou algo assim.

— Exato! É tão difícil encontrar aquele!

— Mesmo?

— Aquele livro não foi reimpresso desde que foi traduzido há vinte anos, então não muitos lugares o têm. Você pensaria que teriam, considerando que é um dos livros mais importantes dele...! Eu gostaria que fosse mais fácil de encontrar!

Ela até se apegou ao fato de eu ainda não ter lido, aniquilando minha última rota de fuga.

— Serio? Ah, é, claro! Concordo totalmente, ha-ha...

— Uh, um....

Kikuchi-san começou, aparentemente, reunindo sua determinação.

— Tenho certeza... tenho certeza de que posso te contar.

Ela sussurrou, como se estivesse se convencendo de algo.

Oh... uh-oh. Suspeitei que ela estava prestes a revelar um segredo importante. Quero dizer, isso definitivamente aconteceria se isso fosse uma light novel ou um jogo pornô.

Eu definitivamente senti uma flag, mas neste caso, estava ligado ao nosso relacionamento como colegas de leitura de Andi-alguma-coisa.

O que significa que é melhor eu impedi-la agora... mas quando esse pensamento entrou na minha cabeça, Kikuchi-san já estava continuando.

— Na verdade, eu estou... escrevendo um romance... É muito influenciado pelo trabalho do Andi... Se você estiver interessado, você acha que poderia ler para mim?

— O quê?! Um romance? Você está escrevendo um romance?!

O ataque mental veio de um ângulo inesperado, especialmente poderoso por causa de um par de olhos embaçados pela névoa da manhã ao redor de uma árvore sagrada.

— Sim... me desculpe, não deveria ter perguntado... Foi um pedido tão repentino... Desculpe incomodar você...

— Não, de jeito nenhum! N-não é problema algum! Eu ficaria feliz em ajudar, muito feliz! Quer dizer, se você acha que eu sou qualificado!

As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse detê-las, e Kikuchi-san se iluminou com um sorriso ensolarado.

— S-sério? Obrigada! Vou trazer para você em breve...!

— Sim, claro! Uh... obrigado.

— Claro!

Ela respondeu com sua voz clara e animada.

— ...Eu ainda não mostrei para ninguém.

— Oh, você... não mostrou? Tem certeza de que é certo eu ler...?

Enquanto a luz calorosa enchia os olhos de Kikuchi-san, minha espinha se arrepiou com um suor culpado.

— Ah, sim! Quero dizer... você, de todas as pessoas... oh não...um... é um... segredo, ok?

Diante da maneira quase hipnotizante como ela apresentava a pergunta, descobri minha cabeça concordando como se eu tivesse sido hipnotizado.

— Entendi, claro. Um segredo.

— Bem, até logo.

Kikuchi-san disse simplesmente, levantando-se. Pouco antes de sair da biblioteca, ela se virou para mim e me chamou com uma expressão brincalhona.

— Ebi daite!

Ha-ha. Estou morto. Não tem mais volta agora. Quem se importa? Estou metido até o pescoço.

— Mozun lekuku!

Quando ela ouviu minha resposta, um sorriso inimaginável como uma fonte de luz surgiu no rosto delicado de Kikuchi-san e iluminou a biblioteca. Então ela saiu delicadamente da sala.

Eu ainda tinha alguns minutos antes da aula começar. Eu estava quase no mesmo estado de espírito que alguns dias antes, quando fugi de Yuzu Izumi após nossa conversa para evitar revelar minha verdadeira incompetência. Tudo o que eu podia fazer era escapar para minha análise em choque.

Eu realmente me meti em encrenca agora. O que eu faço?

 


 

— Então foi isso que aconteceu...

Certifiquei-me de manter a parte sobre o romance em segredo, mas expliquei o encontro inteiro para Hinami.

— Olá?! Há uma quantidade insana de potencial aí. Você vai atingir sua meta de médio prazo em uma semana.

Ela parecia entediada. Não, de jeito nenhum.

— Espere um segundo. Não é como se fossemos começar a namorar por causa disso ou algo assim. Eu estaria enganando ela. Além disso, ela não vai querer namorar comigo só porque nós gostamos do mesmo autor. Eu nem gosto dela.

— Não acredito que você tentaria enganar uma garota para que ela gostasse de você e depois dissesse algo assim.

— Ei, isso é enganador.

— De jeito nenhum. Há um cara que ela vem notando na biblioteca há um tempo. Ela reúne coragem para falar com ele, e a conversa vai inesperadamente bem. Ela está se divertindo muito. Além disso, no final da conversa, ela troca a saudação secreta daquele livro com ele... Veja bem, se ela não tem experiência com homens, não ficaria surpresa se ela tivesse apaixonada por você.

— Espera aí, não escolha só o que convém. Eu também me fiz de idiota na frente dela assoando o nariz.

— Isso poderia ser um segredo só entre vocês dois, não poderia?

— Seja séria, por favor.

— ...Tudo bem. Foi uma piada, mas eu estou falando sério. Pode ser um exagero dizer que ela se apaixonou por você, mas é provável que agora ela tenha uma leve queda por você. Eu não tenho certeza ainda, é claro.

Os olhos de Hinami estavam mortalmente sérios.

— Considerando a situação, seria muito mais injusto para ela se você tentasse fugir da realidade. Você não pode escapar disso se ficar se martirizando e dizendo que alguém como você nunca seria capaz de conquistar alguém.

...honestamente, parecia totalmente impossível, o que tornava difícil pensar nisso de forma realista. Mas se Hinami estivesse certa, fugir seria uma coisa terrível de se fazer.

Além disso, havia o romance, que Hinami não sabia. Levando isso em consideração, a probabilidade era ainda maior, não era? Mas o que eu deveria fazer agora? Como devo abordar isso?

— Assumindo, por enquanto, que você está certa... eu sou um idiota, não sou?

— Oi? Por quê?

— Por não admitir naquele momento que eu não li o livro.

— ...O que há de tão ruim nisso? Você não pretendia enganá-la, não é?

— Não, mas acabei mentindo para ela...

— Nesse caso, não precisa se preocupar com isso. Ficar obcecado com algo inevitável não vai te levar a lugar nenhum. Isso é o que os covardes fazem. A pergunta importante é o que fazer a seguir.

— ...certo. Acho que devo contar a verdade.

— Convide-a para um encontro.

— O que?

— Acho que você deveria convidar a Fuka-chan para um encontro.

— Uh, isso é realmente horrível de se fazer.

— O que há de horrível nisso? Escute. O fato de vocês dois gostarem do mesmo autor é apenas uma oportunidade. As emoções humanas são complexas; apenas uma coisa não é o suficiente para fazê-la se apaixonar por você. É sobre como vocês conversam, como vocês se entendem, como vocês criam memórias juntos. Mesmo se houve um pequeno mal-entendido na forma como se conheceram, isso não é o cerne do relacionamento. Se vocês saírem juntos e se divertirem, e o autor não tiver nada a ver com isso, isso é um verdadeiro sinal de compatibilidade, não acha?

— Uh... e-eu acho.

— Não há muitas oportunidades para as pessoas realmente se conhecerem. Então, mesmo que comece com uma mentira, você não deveria mergulhar nisso se tiver a sorte de encontrar uma?

— Eu entendo sua lógica, mas... parece falsidade.

— Se você entender minha lógica, você verá que estou certa, não verá? Você soa como um virgem.

— Boca fechada não entra mosca! É porque eu sou realmente um virgem, ora.

...Eu entendia o que ela estava tentando dizer. Ainda assim, se você não pensasse de forma tão lógica por um momento, parecia insincero.

— ...Tudo bem. Você não quer lutar com a espada mais forte; você quer lutar com a que você vem aprimorando o tempo todo. Eu entendo isso. A escolha mais lógica não é necessariamente a correta. No final das contas, eu sou apenas o seu livro de estratégias. Você é quem toma a decisão final.

...Eu...

Saí da sala de costura naquele dia ainda pensando na pergunta, que estava longe de ser fácil de responder. Depois de me separar de Hinami, estava pegando meus sapatos no hall de entrada quando vi Yuzu Izumi se aproximando de mim vindo na direção oposta.

Uh, o que fazer? Eu já tinha atingido a cota do dia, então não precisava especialmente falar com ela... Mas será que só fazer o que me mandavam era realmente a melhor estratégia de jogo? Como o cara que se orgulhava de ser o melhor jogador do Japão, isso me incomodava. Eu não gostava da ideia de deixar tudo nas mãos da Hinami.

Ok, então, vou nessa: um aumento de nível por iniciativa própria.

Prestando atenção na minha postura, expressão e tom, chamei por ela o mais naturalmente possível.

— Izumi-san?

Ela deu um pulo como se tivesse sido espetada e virou na minha direção.

— ...Tomozaki...?

Ela soou meio decepcionada, meio aliviada... não era sua maneira usual. Como se estivesse cuspindo meu nome. Falando nisso, eu não me lembrava dela ter deixado de usar o kun do meu nome antes.

Mas deixando tudo isso de lado... Droga. Eu tinha memorizado um monte de tópicos, mas nenhum deles era urgente o suficiente para justificar chamá-la depois da escola.

Caramba, isso estava estranho. Mais uma vez, minha mente ficou em branco. Tão constrangedor. Pense! Eu pratico tanto; eu deveria ser capaz de encontrar uma saída. Algo entre todas as estratégias que Hinami me ensinou e todo o esforço que coloquei por conta própria.

Se você não consegue pensar em nada, a outra pessoa pode ser o tópico, como a expressão ou o penteado dela.

Flashback. Certo. Foi o que Hinami disse durante nossa reunião de revisão no início da semana. Ela me disse para fazer isso quando eu não conseguisse pensar em outros tópicos. Talvez funcionasse agora. E sua expressão era...

— ...Izumi-san, você parece sombria.

Ah, pelo amor de Deus, o que eu acabei de dizer? Se um dos populares estivesse aqui, eles provavelmente teriam pensado em algo como — O que aconteceu? — ou — Você pode falar comigo.

Infelizmente, esse era eu. E eu não conseguia fazer isso.

— O quê?! Não, eu não estou! Do que você está falando?!

— Ah, desculpe.

Ela estava muito irritada.

— ...O que você está olhando?

— Nada.

— ...

— ...

Fiz de novo. Bem, isso é o fim disso. Eu poderia muito bem desistir de tomar a iniciativa. Nada nunca deu certo quando tomei a iniciativa. Nem cheguei ao nível iniciante. Claro que não.

— ...Um.

— Sim?

— ...Tomozaki, você é bom em Atafami, certo?

— Huh?

Por que ela está trazendo isso agora?

— ...eu?

Ela murmurou algo enquanto olhava para seus sapatos.

— ...O que? O que você disse?

— ...eu!

— Desculpe, o quê?

— Ah, pelo amor de Deus!

Ela gritou. Quando levantou a cabeça para me encarar, vi lágrimas grandes nos olhos dela.

O que?!

— Eu disse, me ensine a jogar Atafami!

O que diabos está acontecendo?!

 


 

Aqui está a versão resumida da história de Yuzu Izumi. Até recentemente, ela e Nakamura eram bons amigos e costumavam sair juntos depois da escola.

 Mas recentemente, Nakamura começou a se instalar em uma sala vazia todos os dias depois da aula para praticar Atafami. Mesmo quando ela ia até a sala e o convidava para ir a casa com ela, ele dizia a ela: — Cala a boca e me deixe em paz.

Ela ofereceu ajuda para ele praticar, mas depois que ele a derrotou no primeiro jogo deles, ele a rejeitou completamente. (— Jogar com você nem é prática. De qualquer forma, você é irritante. Pare de me seguir por aí!) Pelo menos foi isso o que ela disse.

— Huh. Justo o suficiente.

Bem, é verdade, ele não teria muita prática jogando com alguma garota aleatória. Afinal, ele não era ruim.

— Isso é, hum... isso é complicado.

— ...Eu não pedi sua opinião!

Ela retrucou, suas bochechas coradas.

— De qualquer forma, você vai me ensinar ou não?!

Ela parecia desafiadora, tentando garantir que eu soubesse que ela não se importava com o que eu pensava sobre esse outro lado dela.

— Quero dizer, eu posso, mas...

— O quê? Você pode?! Sério?!

Ela se virou para mim, os olhos brilhando. Ela estava bem perto de mim. Por que a Hinami e os outros normais sempre ficam tão perto das pessoas? Como, mortalmente perto para nós que não fazemos parte dessa classe social.

— Mas você tem o Atafami?

— O que? Não posso usar o seu? Eu tenho um console.

— ...Ok, tudo bem, mas...

Havia um grande problema.

— ...Onde nós faríamos isso?

— ...!

Yuzu Izumi arregalou os olhos e corou. Qual era a reação inocente? Muito surpreendente.

— Sim, não temos um lugar, não é?

Ela disse. De fato, não tínhamos.

Se ela tivesse o jogo, poderíamos ter jogado online, mas como ela não tinha, teríamos que jogar na casa dela ou na minha. Apenas nós dois, um cara e uma garota.

— ...Mas...!

A expressão dela era ao mesmo tempo suplicante e determinada.

— Quero dizer, se fôssemos para uma das nossas casas, seria....

Eu disse.

— ...Está bem. Sem problemas.

O olhar dela era determinado, mas quando olhei de perto, vi lágrimas se acumulando em seus olhos. Isso não estava sendo fácil para ela. Ela odeia a ideia de ficar sozinha comigo a esse ponto, né? Isso realmente machuca.

— ...Tudo bem, mas...

Decidi fazer a pergunta que estava na minha mente.

— Por que você quer tanto fazer isso?

Ela se virou para mim com raiva, ou talvez ela estivesse apenas surpresa.

— O que? Você está realmente me perguntando isso? Não é óbvio?!

— Óbvio...?

— Você é um idiota?! Você é realmente idiota! Argh, aberração!

Essa geração realmente gosta da palavra — aberração.

— Idiota...?

Espere, eu entendi o que está acontecendo.

— ...Ah.

Finalmente entendi, e o repentino entendimento escapou pela minha boca também.

— Então você está afim do Nakamura!

Quando olhei para Yuzu Izumi, seu rosto estava tão vermelho que eu esperava ver vapor saindo de seus ouvidos a qualquer momento.

— Você realmente é uma aberração! É inacreditável!!

Ela se virou, sua gravata e saia voando quando ela acertou meu rosto com força com a bolsa escolar dela.

— ...Ai... Então, hum...

— Oh, d-desculpe... mas você diz umas coisas tão estranhas! ...Você está bem?

Yuzu Izumi esticou o pescoço para olhar preocupada para o meu rosto abaixado.

— Estou bem, estou bem.

Assegurei automaticamente, recuando para trás. Minha voz estava estranhamente tensa devido à extrema proximidade de um rosto tão bonito.

— Você tem certeza? Hum... mas enfim! O Shuji realmente não entende. Você conhece a Erika? Ela disse para o Shuji que gostava dele, mas ele a rejeitou. Erika! Mas ele sai comigo o tempo todo... então eu pensei que ele poderia gostar de mim, mas não! Aparentemente não. Mas qualquer pessoa pensaria que sim, certo? E então ele de repente me manda 'calar a boca' e 'não ficar por perto dele'... Que diabos?! O que você acha?!

— O q-que eu acho? Não... faz sentido?

— Isso mesmo! E além disso...

...Ele tinha ela na palma da mão! Igual a um personagem de algum drama adolescente! Sinceramente, as garotas reclamam com qualquer um.

Pensei na situação enquanto fungava pelo meu nariz latejante.

Yuzu Izumi continuava a reclamar indignada de queixas extremamente pessoais, mas eu não ouvi nenhuma delas. Em vez disso, estava pensando em quanta encrenca eu estava agora. Essa garota era uma verdadeira normie, sem exageros. Ela até era amiga do único e exclusivo Nakamura, o que lhe dava um título ainda mais forte. Além disso, ela era bonita e tinha seios grandes. E nós dois íamos juntos, sozinhos, para uma de nossas casas? O que está acontecendo? Isso é tão estranho. Desculpe por insultar você o tempo todo, Hinami, mas o que eu faço aqui?

— Um... para qual casa deveríamos ir?

Eu disse.

— Uh... Podemos ir para a sua casa? Minha casa não é... muito adequada para isso.

— Ah, minha casa...? A sua não serve?

— Claro! O que eu diria aos meus pais? ...Desculpe.

— ...Tudo bem.

Depois de ficar brava por um segundo, Yuzu Izumi olhou para baixo e pediu desculpas. Ela não era tão ruim afinal. ...Ei, espere... Pais? ...Uh-oh. Foi aí que percebi algo terrível.

— Ah, espera. Não podemos ir para a minha casa. Tem que ser a sua.

— O quê?! Por quê? Você já disse que estava tudo bem!

— Eu disse, mas... Izumi-san, você joga badminton, né?

— Hã? Eu? Sim, mas...

— Você conhece uma aluna do primeiro ano chamada Tomozaki, certo? Quer dizer, vocês duas são amigas, eu acho.

Eu já ouvira minha irmã mencionar Izumi-san algumas vezes.

— Ah, sim, a Zakki, certo? Eu a conheço, mas... espera. Tomozaki?

— Sim. Ela é minha irmã.

— ...O quê?!

Tentei dizer a ela que não precisava agir tão surpresa, mas ela continuou falando por cima de mim.

— Espere um segundo! Vocês não são nada parecidos! Especialmente as personalidades de vocês! O quê?! Não entendo!

— Eu sei, eu sei. Sinto que é impossível para nós sermos parentes também.

— Quer dizer, a Zakki é tão alegre e ótima! E você é tão sombrio! O quê?! De jeito nenhum! Isso é tão estranho!

— Já disse que eu sei! Pare de falar sobre isso! Vou ficar deprimido!

— ...Ah, me desculpe.

Enquanto ela se acalmava, o problema se tornava claro para ela.

— ...Sim, não funcionaria.

— ...Certo?

É claro que não funcionaria. Seria muito mais difícil explicar a situação para uma colega de equipe mais jovem do que para os pais dela.

— Bem, então... só sobra a minha casa...

— ...Sim... acho que devemos apenas inventar....

— Não, está tudo bem. Eu vou.

Ela me olhou com a expressão tranquila de uma garota pronta para beber o veneno. Sim, as mulheres apaixonadas eram fortes, dispostas a enfrentar qualquer dificuldade pelo bem de quem amavam. Claro, eu preferiria ignorar o fato de que essa dificuldade particular era ter eu em sua casa.

— ...Oh.

— Mas você tem certeza de que está bem com isso, Tomozaki?

Acho que ela estava mais sensível ao meu humor do que eu pensava. Fugir parecia ser realmente uma opção real.

...O que eu deveria fazer? As únicas armas que eu sabia manejar até agora eram expressão, postura, tom e tópicos memorizados. Seria o suficiente para superar o insano desafio da casa de Yuzu Izumi? As chances eram quase nulas. Tudo o que me esperava era uma derrota vergonhosa.

Nesse caso, eu deveria fugir. Fugir. Era isso que eu sempre fiz no passado. Fugi de inimigos que não conseguia derrotar e lutei novamente quando estava melhor preparado. Era uma tática comprovada nos videogames.

— Na vida, você ganha experiência por perder batalhas, não por vencê-las.

Outro flashback. Ah é, ela disse isso. Certo. Eu não acreditava cegamente nela, mas o fato era que, neste exato momento, eu estava tendo uma conversa um pouco normal com Yuzu Izumi.

O antigo eu nem poderia imaginar isso. Talvez fosse cedo demais para concluir que a experiência e os níveis que ganhei com as derrotas me levaram a esse resultado, mas parecia uma conclusão natural. Ah, droga. Entendi. Eu sou mesmo um jogador.

Ei, Hinami! Olhe só. Estou prestes a testar sua afirmação de que perder resulta em pontos de experiência. Estou prestes a entrar em uma derrota esmagadora. Não venha chorar para mim quando acontecer!

— Sim, está bem. Eu vou.

Eu disse, indiferente agora que tinha decidido fazer isso.

— Onde é sua casa?

Por alguma razão, Yuzu Izumi agiu insatisfeita.

— ...Tomozaki, por que você está tão calmo? O quê? Você já esteve na casa de uma garota antes?

— Uh, n...

Estava prestes a dizer que não, quando o rosto da Hinami apareceu diante dos meus olhos.

— Ah é, acho que já.

— Ta brincando?! O quê? Mas você é... Tomozaki! Mesmo eu... mesmo que...

O que isso deveria significar, — Você é Tomozaki? — ela estava tentando dizer que, porque eu falhei tanto na vida, eu não poderia possivelmente ter ido à casa de uma garota e, se eu tivesse ido, seria nojento? Ok, então eu não era um normie, mas isso não lhe dava o direito de dizer algo assim. E foi exatamente isso que eu disse a ela.

— Você continua usando esse tom de voz estranho. Isso está me assustando... De qualquer forma, vamos. É por aqui.

Ela disse.

— Espera, eu tenho que pegar o jogo.

— Ah, certo.

Fomos para a minha casa, onde peguei Atafami e algumas outras coisas e saímos imediatamente.

— Ok, por aqui.

Com isso, ela me chamou em direção à perigosa masmorra. Só assista, Hinami. Estou prestes a levar uma surra.



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