Volume 1

Capítulo 4: Quando uma garota é sua primeira amiga, a vida parece um encontro por um tempo.

Era sábado. Cheguei em Omiya, cuja fama se deve ao fato de ser o maior distrito do Japão que as pessoas visitam quando não têm energia para ir a Tóquio, seja para Ikebukuro ou Shinjuku ou qualquer outro lugar. Curiosamente, se a prefeitura descobre que você foi a Ikebukuro quando poderia muito bem ter ido a Omiya, você será executado por Kobaton, a mascote de Saitama.

— Ufa...ufa... Você esperou muito?

— Não, acabei de chegar.

Hinami disse com menos entonação do que um programa de texto para fala. Foi assim que eu soube que ela estava chateada.

— Desculpe!

Eu estava um minuto atrasado.

— ...tenho certeza de que você estava ocupado tentando encontrar algo para vestir que não fosse muito embaraçoso, mesmo que você realmente não tenha uma única roupa decente. Você é inútil.

— ...você me conhece tão bem.

Quando alguém te compreende tão completamente, é difícil até reunir energia para ficar deprimido. Era exatamente assim que ela estava certa.

— Bem, eu suponho que sua atitude tenha melhorado um pouco, considerando o que você usou da primeira vez que nos encontramos.

— Ah, tanto faz.

Na verdade, não era isso. Era a enormidade de estar por aí à luz do dia ao lado de Aoi Hinami. Ela sequer percebia o quão importante era? Eu estava tentando ser considerado.

— Ok, vamos lá.

— Espere um segundo. Me diga qual é o objetivo de hoje.

Afinal, ela só me pediu para encontrá-la, nada mais.

— Bem... O que você acha? Por que viemos a Omiya para o treinamento normal?

— Huh? Um quiz?

Ela queria que eu pensasse por mim mesmo, então? Ok. Hmm.

Enquanto eu pensava na pergunta, olhei para Hinami. Ela ainda estava parada na frente do nosso ponto de encontro, a escultura da Árvore de Feijão na estação.

Mas sério, é normal parecer tão bem só de estar ali parada? Ela usava um casaco azul claro, longo e leve sobre uma camiseta de duas camadas como um vestido.

 

 

Era simples, mas estranhamente lisonjeiro. Você poderia chamar o visual de fofo, mas também poderia chamá-lo de bonito. Não faço ideia se era por causa da qualidade dos materiais ou do estilo das roupas. Tudo o que sei é que olhar para ela era como estar cara a cara com uma celebridade.

Enquanto eu pensava, encarando Hinami distraído, ouvi dois caras que pareciam estudantes universitários cochichando um para o outro enquanto esperavam do outro lado de nós.

— Aquela é... Hinami...?

Perguntou um deles, discretamente, ao qual o outro respondeu, — ...Sim, é realmente ela....

Uau.

Eu estava apenas comparando-a a uma celebridade, mas e se ela realmente fosse uma...? Ela já era qualificada demais para todas as outras áreas da vida; não era impossível.

— ...Ei, Hinami, você não seria uma celebridade, seria?

Sussurrei para Hinami, que agora irradiava decepção.

— De onde veio essa ideia?

— Veja aqueles caras ali?

Comecei e expliquei a situação.

— Ah... Bem, eu não sou uma celebridade, mas sou famosa. Especialmente por  aqui.

— Famosa? Como isso é diferente de ser uma celebridade?

— Não estou no showbiz, mas sou famosa.

— O que você quer dizer com isso?

— Bem, sempre tenho uma das melhores notas nos exames nacionais de prática, e no ano passado participei de algumas corridas de cross-country em nível nacional... E depois, com minha aparência, meu nome se espalha.

Melhores notas nos exames nacionais de prática? Participando de corridas de cross-country em nível nacional? Pessoas normais esperariam até o momento certo para revelar essas coisas, depois passariam horas se gabando. Mas ela soltou tudo na conversa de forma despretensiosa, em um único fôlego. Eu me senti tonto.

— Espere um segundo. Eu sabia que você era incrível, mas não tanto!.

Na melhor das hipóteses, achei que ela poderia vencer qualquer um na nossa escola. Mas a nível nacional?

— Eu venho te dizendo o tempo todo. Tenho confiança de que posso vencer em qualquer campo.

Ela não estava se gabando — muito pelo contrário, tratava tudo isso como se minhas perguntas fossem irritantes.

— ...Como diabos você consegue esses tipos de resultados?

— Não é nada de especial. Eu apenas penso um pouco mais e trabalho um pouco mais do que todos os outros em cada área. De qualquer forma, esqueça isso e me diga qual você acha que é seu objetivo para hoje.

Ela tornou isso simples, mas...

Eu poderia estar andando com um peixe maior do que eu pensava.

— Viemos aqui para... eu me acostumar com ... multidões?

— Acho que... seu nível pode ser muito mais baixo do que eu pensava....

Ela pressionou as têmporas como se estivesse totalmente cansada.

 


 

O primeiro lugar para onde ela me levou foi uma livraria. Mas por que uma livraria?

— Então, o que estamos fazendo aqui?

— Estudando... Ou melhor, decidindo sua direção.

— Direção?

Hinami caminhou rapidamente em direção ao canto das revistas e parou na frente da seção de moda.

— Se você estivesse ensinando um iniciante a jogar Atafami, escolheria o personagem deles por eles?

Nesse ponto, eu já estava acostumado com ela de repente falar sobre jogos.

— Não. Quero dizer, eu os impediria se escolhessem um que os colocasse em grande desvantagem. Basicamente, eu gostaria que usassem um personagem que gostem e que seja fácil para eles usar. Eu provavelmente diria quais são os personagens fáceis.

Hinami assentiu.

— Certo. Por quê?

— Porque eles se divertiriam mais assim. Se não estiverem se divertindo, perdem a motivação, e a longo prazo isso arruinaria todo o propósito.

— Exatamente. É por isso que viemos à livraria.

— ...Huh?

— Qual desses estilos você gosta? Digo, como inspiração geral.

Ela folheou uma revista.

— É difícil escolher.

— Hoje, vamos comprar algumas roupas para você com base no que você escolher. E então, o que acha?

— ...ah, certo.

Então eu estava escolhendo meu personagem.

— Você tem certeza de que eu deveria estar tomando essa decisão? Não tenho muito senso de moda...

— Não se preocupe. Tudo nesta revista é estiloso. Algumas coisas não ficariam bem em você, mas eu vou te impedir se escolher alguma delas.

— Entendi.

Tudo me parecia estiloso. E tudo parecia ser demais para mim. Eu provavelmente não era alto o suficiente ou algo assim. Passei cerca de cinco minutos gemendo enquanto examinava os modelos até finalmente escolher um como uma inspiração muito geral. Este poderia ser ok para mim?

— Eu não sei, acho que esse aqui?

Eu não estava confiante. Além disso, percebi depois de apontar que o preço da jaqueta era de ¥44.800. Uh, isso está muuuito além do meu orçamento.

— Ok, escolha interessante... isso deve servir.

Disse Hinami, fechando a revista e abrindo um aplicativo de mapas em seu telefone.

— Vamos lá.

— Huh? Para onde?

— É óbvio, não é? Para uma loja onde você pode comprar as roupas desse conjunto.

E-eu não posso pagar por isso!

 


 

A loja para onde chegamos era o lugar mais fashion que eu já tinha visto. Então é assim que são as lojas de roupas... no caminho, Hinami apontou para um caixa eletrônico e eu saquei algum dinheiro, meio a contragosto. O saldo restante me deixou desconfortável; comprar uma jaqueta consumiria todas as minhas economias.

— Uhm, Hinami? Eu estou quebrado. Eu realmente não posso comprar roupas caras.

— Não se preocupe...

Ela disse, me entregando uma jaqueta.

— Pois é, eu realmente não posso gastar quarenta mil... O que?

O número na etiqueta de preço marcava ¥9.720.

— Mas você disse que íamos à loja que vendia as roupas desse conjunto.

— Sim, eu disse.

— Então por que... Os preços são tão diferentes para a mesma loja?

— Não. Esta loja vende a camisa do conjunto.

— ...Ah, entendi.

Ela não tinha dito que íamos à loja da marca da jaqueta.

O que é isso, algum tipo de pergunta-truque?

— As revistas de moda geralmente incluem os nomes das marcas e os preços das roupas. Quando você encontrar um conjunto que gostar, verifique os preços. Procure a marca que você pode pagar e vá até essa loja.

Se todas as roupas desse conjunto fossem de marcas caras, ela disse que eu deveria procurar outro conjunto até encontrar algo que funcionasse.

— Se fizer isso, você não vai errar. O único item dessa marca no conjunto que você escolheu era a camisa, mas qualquer marca que chegue a uma revista, mesmo que seja apenas uma camisa, vai criar um visual bacana. Então, você pode escolher o resto do conjunto aqui.

Simples e claro.

— ...certo. Acho que posso fazer isso.

— Gosto dessa resposta. Parece que você está se motivando para fazer as coisas sozinho.

— Eu te disse, não disse? Não brinco quando se trata de jogos.

— De fato, disse.

Hinami parecia feliz.

— ...E ainda não aprendi a parte mais importante.

— Quer dizer, como escolher as roupas?

— Exatamente. Eu não sei como escolher entre tantas opções. O que faço?

— Essa é a parte mais fácil.

— A mais fácil? De jeito nenhum. Não é preciso ajuda de todo o seu gosto e experiência ao escolhê-las? Não consigo imaginar uma estratégia de ataque fácil para isso...

— Claro. Se você não usar totalmente o gosto e a experiência, terá dificuldade em escolher o que é estiloso. Moda não é algo que você pode dominar da noite para o dia.

— ...então...

— Você sabe o que é isso?

Hinami me interrompeu e apontou para frente. Lá, vestido com uma camiseta, jaqueta e calças, estava...

— Um manequim...

— Aposto que você pode adivinhar o que vou dizer a seguir.

Seu dedo se moveu do manequim de volta para mim.

— Você vai comprar todo esse conjunto.

Agora que ela disse isso, parecia mesmo uma trapaça fácil. Ela está certa; eu realmente não posso errar com essa estratégia.

— Quem você acha que escolheu as roupas para esse manequim?

— As pessoas que trabalham aqui?

— Correto. E os funcionários de lojas de roupas geralmente são mais estilosos do que a pessoa média, certo? Você tem que ter um certo grau de confiança para conseguir o emprego.

— Suponho que sim. Eu nunca me candidataria a um emprego assim.

— Manequins são como anúncios dentro da loja para ajudar a vender roupas. Esses funcionários entendem do assunto e dedicam muito esforço para escolher seus próprios looks.

— ...Ok.

— Além disso, vários funcionários provavelmente discutiram juntos. Isso significa que vários funcionários com estilo pensaram especificamente neste conjunto. À prova de falhas, não acha?

— Uh... sim.

Eu estava convencido.

— Você vê? Você disse antes que ser estiloso é difícil a menos que tenha ajuda de todo o seu gosto e experiência.

— É verdade.

— Nesse caso, você simplesmente empresta o gosto e a experiência das pessoas com estilo. É só isso que precisa fazer.

— ...faz sentido.

Afinal, o caminho mais rápido para melhorar em Atafami também era roubar.

Neste caso, imitar os especialistas.

— Então você simplesmente veste esse conjunto como está. Se comprar roupas dessa forma várias vezes, começará a ter um senso para isso e não precisará mais comprar o manequim inteiro.

— Entendi... Oh, posso fazer uma pergunta?

— O que?

— Quando você diz 'comprar o manequim inteiro', o manequim vem junto com as roupas?

— ...você é idiota?

Sua resposta não foi um sim ou um não, mas um insulto. A partir disso, deduzi que a resposta era não.

Depois disso, ela me mandou escolher qual dos três conjuntos de manequim eu gostava mais, o que fiz mais ou menos por impulso.

— ...Ok, agora vá experimentar as roupas.

Ela fez parecer tão fácil.

— O quê?! Experimentar?!

Não-não-não, de jeito nenhum! Será que eu posso mesmo experimentar essas coisas? Quero dizer, eu teria que falar com uma das pessoas estilosas em seu habitat natural. Isso é claramente impossível!

— Por que está tão surpreso? Você está excessivamente autoconsciente. O funcionário da loja não está nem aí, então vá logo fazer isso.

— Espere um segundo! Eu pensei que estava seguro se comprasse o conjunto do manequim! Por que eu preciso experimentá-lo?!

— O conjunto deve estar bem, mas o tamanho pode estar errado. Com seu corpo, você deve ficar bem com um médio, mas faça isso apenas para ter certeza. Assim, você saberá para a próxima vez.

— Não..., mas, uh...

O tópico de tamanho era território desconhecido para mim, então eu realmente não podia contradizê-la.

— Vá lá.

— V-você quer que eu pergunte a ela?

— Obviamente. Vou querer que você experimente as coisas quando for fazer compras sozinho no futuro. Você deve praticar a pergunta por conta própria.

— V-você quer que eu experimente coisas no futuro?

— Sim, quero.

Seu tom frio deixava claro que mais perguntas seriam inúteis. Eu não tinha escolha...

— ...O-o que eu deveria dizer...?

Minha voz estava tremendo. O que diabos? Objetivamente, isso era realmente triste.

— Apenas diga, 'Eu gostaria de comprar o conjunto do manequim. Posso experimentar?' Ou algo assim.

— 'Eu gostaria de comprar o conjunto do manequim. Posso experimentar?' Assim está certo?

— Isso mesmo.

Eu estava pedindo tanta ajuda que poderia muito bem estar em recuperação após uma grande lesão. Ou em um asilo. Desculpe, Hinami...

— '...eu gostaria de comprar o conjunto do manequim. Posso experimentar?' Ok, eu consigo fazer isso!

Eu reuni minha vontade e me aproximei da funcionária da loja. Era uma adolescente. E o cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo, revelando a bela nuca dela. Caramba.

— Um, com licença!

Ok, até agora, tudo bem!

— Como posso ajudar você?

— Um, aquilo, aquilo—

Eu gaguejei, apontando para o manequim.

— Você quer dizer aquele?

— Sim. Um... eu gostaria de comprar esse manequim.

Você vê? Eu apenas pedi para comprar o manequim. Isso é horrível.

No entanto...

— ...Um, você gostaria do conjunto que o manequim está usando? Você gostaria de experimentá-lo?

— Sim, por favor!

Graças a essa funcionária incrivelmente compreensiva, isso estava indo bem, se não exatamente como planejado.

Depois de navegar por várias reviravoltas, experimentei as roupas, recebi a aprovação de Hinami e consegui um conjunto de roupas coordenado e estiloso por cerca de trinta mil ienes.

— Ooh, por que você não coloca agora mesmo?

Depois de pagar pelas roupas, ouvi uma voz muito alegre bem perto do meu ouvido. Quem é essa? Ah certo. É a voz falsa de Hinami.

— Você gostaria de vestir o conjunto fora da loja?

A funcionária perguntou.

— Sim, faça isso!

O sorriso impecável e perfeito dela estava direcionado para mim. Só podia significar uma coisa: Vista agora.

— ...uh, sim, por favor.

A funcionária me levou até o provador, e eu vesti o conjunto.

Ela dobrou as roupas que eu estava usando e colocou na sacola.

— Fica ótimo em você.

Comentou ela quando saí do provador. Eu fiquei um pouco corado.

Enquanto eu estava maravilhado com o excelente atendimento ao cliente aqui, a funcionária sussurrou algo em meu ouvido enquanto passava, muito baixo para Hinami ouvir.

— Sua namorada é tão adorável e simpática! Você deveria cuidar bem dela!

Ela sorriu para mim de forma travessa.

— Oh, ela não é minha namorada!

Eu disse, confuso.

— Ah, claro. Claro que não.

Ela respondeu.

Ei! Por que 'claro' não? Ok, é verdade, mas mesmo assim!

— Tudo bem, temos um tempinho antes do horário do cabeleireiro.

— ...você já marcou um horário, né.

A preferência de Hinami por planejamento extremamente detalhado não foi uma grande surpresa até este ponto.

— Que tal matarmos um tempo... comendo alguma coisa?

Ela sugeriu.

Esta deveria ser a parte em que meu coração começaria a bater fora de controle, mas de alguma forma não era exatamente assim.

— Oh, ótima ideia. Eu estava ficando com fome. Devemos procurar um diner ou algo assim? Ou já que estamos em Omiya, que tal uma especialidade de Omiya? Espere, esqueci, não há especialidades de Omiya. Pena que não há onigiris de sakitama por aqui. Ha-ha.

Por alguma razão, Hinami respondeu à minha piada com um olhar beirando o desprezo. Aliás, um onigiri de sakitama é um clássico de Saitama: um pequeno pão feito de arroz. Assim como o arroz é a base do Japão e a raiz de taro é a base de alguns países do Sudeste Asiático, o onigiri de sakitama é a amada base de Saitama.

— Escute. Você está prestes a sair para comer com uma garota, e não apenas qualquer garota — Aoi Hinami. Você realmente acha que é uma boa ideia ir a uma rede de restaurantes aleatória sem atmosfera alguma?

— Bem, mas não é assim entre nós.

— Deixa para lá. Há uma lanchonete aqui perto.

— Sério? Você já foi lá?

— Ainda não.

— Hum. E? Você está planejando algum tipo de treinamento especial de restaurante de hambúrguer lá?

— Não exatamente.

— Não? Mesmo? Então por que ir a um lugar de hambúrguer?

— Porque eu quero comer lá.

— Só isso?

— ...sim.

— Você só quer comer um hambúrguer? Aoi Hinami só quer um hambúrguer?

— ...O quê? Tem algo de errado nisso?

— Não, mas...

Eu estava pensando que ela deve ter escolhido esse restaurante com algum tipo de prática em mente.

— Então você gosta de hambúrgueres, huh?

— Cala a boca! Quantas vezes você vai dizer isso? ...meus amigos gostam desse lugar. Vamos indo.

Ela começou a andar. Huh. Ela só queria comer lá. Isso é estranhamente normal dela. Muito inesperado.

O restaurante de hambúrgueres para onde ela me levou era um lugar pequeno e fofo; um anúncio poderia promovê-lo como um esconderijo na floresta. Havia uma mesa redonda de madeira na frente, protegida por um guarda-sol e acompanhada por um par de bancos que pareciam troncos de árvores ao lado. Era como se saído de um livro infantil. Entramos e nos sentamos em uma mesa para dois. Eu dei uma olhada no cardápio e escolhi algo em cerca de dois segundos, depois esperei Hinami decidir o pedido dela. Três minutos se passaram, e ela ainda estava silenciosa e intensamente examinando o cardápio.

— ...O que eu deveria pedir.

— Você está realmente com dificuldade para decidir, huh?

— Parece que você já decidiu... O que você vai pedir?

Ela soava surpreendentemente hesitante. O que era surpreendente, porque eu esperava que ela dissesse algo como: — Não me importo com o que você pedir. Eu vou pegar o que eu quero.

— O cheeseburger com tomate.

— Hmm, parece bom mesmo. Realmente parece...

Ela levou a ponta do dedo aos lábios e assentiu com a gravidade de um detetive tentando resolver um crime.

— H-Hinami...?

— Fumiya Tomozaki-kun, eu gostaria de fazer uma sugestão.

— Huh?

Por que ela estava me chamando pelo meu nome completo? Ela parecia mortalmente séria.

— Eu vou pegar o hambúrguer japonês recheado com queijo e molho. Então...

— Sim?

— O que você acharia de dividir esse e o seu hambúrguer?

Ela disse, agora com a gravidade de um detetive anunciando que a arma do assassinato havia acabado de ser encontrada. Eu não pude evitar; eu comecei a rir.

— ...por que você está rindo? Está tentando me provocar?

— Ah, desculpe.

Eu disse, ainda sorrindo um pouco.

— Eu quero o cheeseburger com tomate, e também quero o hambúrguer recheado. Tudo o que eu fiz foi fazer uma proposta racional para resolver o problema. Não tem nada para rir.

— C-certo, claro. Vamos dividir. Você gosta de queijo, huh?

Eu disse, lembrando que ela tinha pedido carbonara no restaurante de massas da última vez.

— Cala a boca! Eu posso gostar do que eu quiser! Então decidimos, vamos dividir essas duas coisas? ...E por quanto tempo você vai continuar sorrindo? Isso realmente é irritante. Se apresse e peça.

Realmente seria rude continuar sorrindo nesse ponto, então com um pouco de esforço, consegui suprimir meu sorriso e fazer o pedido. Bebemos a água que o garçom trouxe enquanto esperávamos nossos hambúrgueres chegarem.

— Aliás, você ouviu a gravação?

Ela estava falando sobre o gravador que ela me entregou na reunião de revisão de ontem. Segui suas instruções e ouvi antes de ir dormir.

— Sim, ouvi.

— Como foi? Você notou algo?

— Tipo o quê?

Eu estava ouvindo a mesma coisa que ouvi no dia anterior depois da escola, a maioria do qual eu já lembrava, então não tinha muito para notar...

— Talvez eu devesse reformular. Você notou algo além do conteúdo?

— Além do conteúdo...? ...ah.

— Vejo que você percebeu.

— Sim. As nossas vozes.

Eu percebi. O conteúdo era basicamente o que eu lembrava, mas uma coisa era diferente de como eu lembrava a conversa.

— A minha voz — ou talvez, o jeito que eu falei? Estava totalmente diferente...

— Certo?

Ela disse, como se estivesse esperando que eu dissesse isso.

— Sim. As pessoas sempre dizem que a sua voz soa diferente do que você imagina, mas eu nunca tinha ouvido uma conversa cotidiana tão longa assim antes... foi bem surpreendente. Eu meio que falo de forma monótona, não é?

— ...Sim. Se você percebeu isso na primeira vez que ouviu, vai conseguir consertar.

— Você acha?

— Com certeza. É o que dizem para as pessoas sem ouvido musical — uma vez que você percebe que sua própria voz está estranha, você poderá consertá-la com prática. Até certo ponto.

— Hum.

Eu senti como se já tivesse ouvido isso antes — que as únicas pessoas que eram verdadeiramente sem ouvido musical eram aquelas que não conseguiam perceber que algo estava errado.

— ...mas você é particularmente monótono. Você se beneficiaria de algum treinamento para corrigir isso.

— Será que eu sou realmente tão ruim?

— Sim. É porque você depende muito das palavras em si.

— Eu dependo muito das palavras?

— Por exemplo, quando eu explico alguma coisa, você tem várias respostas prontas, como 'Faz sentido' e 'Sério?’

— Eu tenho?

— Sim. Provavelmente é inconsciente. Bem, você provavelmente sabe que sempre dizer a mesma coisa séria rude... então você muda as palavras, mas o tom é o mesmo.

— O tom é o mesmo?

— Sim. Você não usa expressões faciais ou entonação ou gestos muito nas conversas. Seu tom é sempre monótono.

— Ah.

Ela poderia estar certa.

— Vou te dar uma tarefa enquanto almoçamos.

— Uma tarefa?

— Sim. O que eu quero que você faça é ...

— Sim?

— A partir de agora, quando você responder ao que eu disser, você só pode usar vogais.

— Só vogais?

O que isso tem a ver com o tom?

— Você não entende, né? Ouça. Usar apenas vogais significa que você só pode dizer coisas como oh? Ah! Oo!

— Está bem... Oh, ainda não começamos, né?

— Ainda não. De qualquer forma, sabe o que acontece quando suas opções são limitadas assim? Como você acha que vai comunicar seus pensamentos para mim?

— ...ah, entendi.

— Você terá que se expressar através das suas expressões faciais, tom, volume e gestos, certo?

— …Sim.

— Em outras palavras...

Hinami franziu as sobrancelhas e disse — Oh? — com uma voz ameaçadora, em seguida, arregalou os olhos e disse — Oh! — como se tivesse acabado de descobrir algo. Em seguida, fez uma expressão boba e soltou um — Oh... — de realização. Finalmente, segurou a cabeça com as duas mãos e gemeu — Ohhh! — de frustração.

— ...Como você acabou de ver, você pode expressar muito com apenas 'Oh'. Uma vez que você se acostuma a comunicar seus sentimentos através da entonação, gestos, expressão facial e volume, o problema do monólogo vai se resolver por si só.

— ...você é realmente boa nisso.

A primeira coisa que notei foi a incrível habilidade dela como atriz. Isso e como elegantemente ela modelava seus exemplos. Era realmente fofo.

— Esta é uma maneira de você reduzir as palavras que usa e focar em outras formas de se expressar para que você possa melhorar naturalmente. Para dizer de outra forma, você tem usado uma grande variedade de palavras, então sua capacidade de se expressar de outras maneiras atrofiou.

— ...Ok, eu basicamente entendi.

— Ótimo. Então vamos começar agora. Você não precisa seguir a regra quando está dizendo algo por conta própria, apenas quando está reagindo.

Pensei em começar com uma vogal que fosse adequada para começar algo novo...

— Oh!

Eu disse energeticamente, levantando um punho determinado ao lado do meu rosto.

— Gosto do entusiasmo, especialmente quando acabamos de começar. Você pode ser natural nisso.

Ela está me elogiando... nesse caso...

— Eyyy!

Eu gritei, jogando os braços para cima. Foi o melhor que consegui depois de considerar várias opções.

— Ótimo! Fazendo papel de bobo. Pensei que você estaria muito envergonhado no começo para fazer mais do que pequenos gestos.

Ela acabara de me insultar. Então, se eu quisesse dizer Pare de brincar comigo....

— Eh?

Rosnei, franzindo a testa descontente.

— Você está como peixe fora d'água. Parece um pouco irritado. Mas o que acha? É um bom treino, não é? Que tal você pagar o almoço para me agradecer?

Para expressar Espere só um segundo agora!...

— Ah!

Eu exclamei, estendendo as mãos brincando. Nesse momento...

— Desculpe pela espera. Um hambúrguer recheado estilo japonês... né? Tomozaki...kun?

Do nada, a garçonete disse meu nome.

 

— Oh!

Respondi, ainda seguindo o embalo do treinamento das vogais.

Olhei para a garota que trouxera o hambúrguer e vi alguém que estava no meio do caminho entre um personagem de livro ilustrado e uma personagem de mangá feminino — minha colega de classe, Fuka Kikuchi-san. Aquela do incidente do espirro. Ela estava usando óculos, o que não era comum para ela. Ficavam incríveis nela.

— Ah?!.

Gritei. Talvez eu tivesse me saído um pouco demais com a coisa das vogais.

— Fuka-chan?! Uau, eu não sabia que você trabalhava aqui! Que coincidência!

Justo quando eu estava me perguntando como uma terceira colega de classe tinha aparecido, percebi que era Hinami, a artista das mudanças sociais rápidas.

— Sim, eu trabalho... Comecei há cerca de uma semana porque ouvi coisas boas sobre o lugar...

— Todo mundo tem falado sobre esse lugar na escola ultimamente! Eu queria experimentar, então passamos aqui hoje pela primeira vez.

— Sim, exatamente!.

Eu disse, mas ainda fazia os gestos exagerados.

— Ah... sim ..., mas, por quê...?

— Por que o quê?

Hinami disse. Acho que ela provavelmente sabia o que Kikuchi-san estava tentando dizer, mas não deixou transparecer. O olhar de Kikuchi-san se movia de um lado para o outro entre nós, curiosamente, como se estivesse vendo um par de fadas que ninguém mais conseguia ver.

— ...então vocês dois são amigos... isso é uma surpresa...

— Eu sei! Nós nos conhecemos recentemente, na aula de economia doméstica.

Hinami respondeu imediatamente. Ela realmente era boa em mentir.

— ...ah, daquela vez.

Kikuchi-san riu. Seus cílios longos tremiam encantadoramente atrás dos óculos.

— Ah, desculpe! Este é o meu.

Hinami disse, apontando para o prato que Kikuchi-san ainda estava segurando.

— Ah, certo. Aqui está... bem, aproveitem...

Com esse sorriso gracioso, ela se encaixou perfeitamente na atmosfera de floresta do restaurante.

— ...ela foi embora?

— Sim.

— Um... você acha que ela descobriu? Quero dizer, tudo?

Por um segundo, Hinami ficou em silêncio.

— Acho que estamos bem. Mesmo que ela tenha ouvido minha voz por um segundo, ela provavelmente pensou que eu estava imitando alguém. Eu não teria deixado ela ouvir uma conversa longa. Como esse lugar é tão popular entre os jovens da escola, eu suspeitava que poderíamos encontrar alguém que conhecíamos.

— Ah, entendi.

Isso nem tinha passado pela minha cabeça. Típico de alguém com bloqueio de comunicação.

— Mas eu fiquei surpresa de vê-la trabalhando aqui. Eu não estava preparada para isso, então minha reação foi um pouco lenta. Ela estava usando aqueles óculos também ..., mas eu sei agora, então está tudo bem. Eu não vou vacilar.

...eu a conhecia o suficiente para saber que isso era verdade.

— Será difícil continuar agora. Se fosse uma colega de classe comum, poderíamos continuar praticando respostas, mas... Fuka Kikuchi é diferente.

— ...O que você quer dizer? Se fosse uma colega de classe comum?

Havia algo especial sobre Kikuchi-san?

— Durante os exercícios da semana passada, eu vi a possibilidade — e com base nas reações que acabei de ver, tenho certeza.

— Certo do quê?

Hinami sorriu.

— Fuka Kikuchi vai ser a sua primeira paixão.

 


 

Não preciso dizer que não consegui olhar nos olhos de Kikuchi-san quando ela voltou alguns minutos depois com meu cheeseburger de tomate, mas eu já estava uma bagunça antes disso.

— Es-p-espera um segundo! O que exa-exatamente você quer dizer com isso?

— Pela sua agitação, acredito que você já saiba.

Hinami disse casualmente, inclinando sua xícara.

— V-v-você quer dizer, na-naamorar Kikuchi-san...?

Minhas emoções estavam fora de controle, mas obviamente eu não podia falar alto, então minha resposta saiu meio estranha.

— Exatamente. Seu objetivo a médio prazo é arranjar uma namorada antes do final do ano letivo. Ela vai ser a escolhida.

Hinami parecia estar mantendo sua voz propositalmente calma. Ela estava me provocando por eu estar tão nervoso. Mas eu não tinha ideia do que perguntar ou dizer, então por enquanto só consegui balbuciar

— Po-por que?

— Há várias razões.

Hinami deu uma mordida em seu hambúrguer, mastigou e engoliu. Ela claramente estava fazendo suspense.

— A principal razão é que, das quatro garotas com quem você conversou, você tem a melhor chance com ela.

— Chance?

Eu tenho uma chance? Com Kikuchi-san?

— Metade.

— Huh?

Fiquei confuso com o comentário abrupto.

— Seu hambúrguer?

— Ah, é mesmo.

Ela estava realmente prolongando essa conversa. Provocação. Ou talvez ela realmente quisesse uma mordida do meu hambúrguer. Por enquanto, me concentrei em dividir os hambúrgueres.

— Não sei por quê, mas eu vi uma possibilidade quando você falou com a Yuzu.

Ela disse, apontando para o meu nariz.

— Quando Yuzu pediu um lenço para Fuka-chan, a resposta dela foi muito rápida, certo?

— Bem, agora que você mencionou... sim ... Mas, por quê?

— Assim que você pediu o lenço para Yuzu, Fuka-chan começou a procurar o dela, mesmo que só estivesse ouvindo a conversa.

— Uau...

Eu nem percebi.

— ...É só isso?

Perguntei.

— Não. Isso foi apenas um vislumbre. Depois, me pareceu um pouco artificial, mas poderia ter sido apenas porque ela é legal com todo mundo, não necessariamente porque gosta de você. Mas também poderia significar que ela não te desgosta especialmente.

— Sim. E?

— É assim. — Hinami disse, apontando para seu hambúrguer recheado. — Quando ela trouxe minha comida, ela percebeu quem éramos, certo? Lembra do que ela disse?

— Uh...? Ela disse algo importante?

— Sim. Ela disse: 'Né? Tomozaki-kun?’

Ela apontou para mim como se tivesse acabado de soltar uma bomba.

— ...E daí? É normal chamar seu colega de classe pelo nome.

Ela suspirou e colocou a mão no peito.

— Mesmo que esteja com a famosa Aoi Hinami?

— Ah, entendi.

Esse foi um ponto convincente. Convincente, mas também um lembrete de sua impressionante autoconfiança.

— Eu sou uma estrela bastante popular em nossa escola. E sou acessível também. Normalmente, quando alguém esbarra em um grupo do qual faço parte, eles sempre dizem meu nome primeiro. Mas a primeira coisa que Fuka-chan disse foi 'Tomozaki-kun?' Pode parecer insignificante, mas na verdade foi decisivo.

Ela estava completamente séria. Sabendo o quão confiante ela era sobre tudo, isso me assustou.

— Isso realmente foi tão importante assim?

— Sim, foi. Pense sobre isso. Mesmo que não envolvesse uma estrela como eu, se você é uma garota e vê um cara e uma garota que você conhece, é mais fácil falar primeiro com a garota, certo? Então, se ela diz o nome do cara primeiro...

— Isso... faz sentido.

— Pode parecer normal para você que ela tenha dito seu nome, mas na verdade foi algo fora do comum. Claro, se ela não tivesse notado que eu estava aqui, isso seria outra história, mas minha presença é tão forte que é praticamente impossível não me notar. Isso significa que você tem uma chance, ou então Fuka-chan simplesmente percebe as coisas de maneira diferente da maioria das pessoas.

Disse Hinami, terminando seu hambúrguer.

— Você tem certeza de que podemos descartar a possibilidade de ela não ter notado você?

Hinami ignorou minha pergunta e continuou. — Mas pelo que eu sei, ela é uma garota normal... o que significa que há alguma esperança para você... Você notou alguma coisa?

— Notado alguma coisa?

Eu disse, pensando profundamente. — Não, nada.

— Hmm.

Hinami respondeu, parecendo preocupada. — Talvez eu esteja interpretando errado...

Por uma vez, ela parecia ter perdido a confiança em si mesma.

— Se você estiver interpretando errado, você não acha que deveríamos esquecer toda essa questão de interesse amoroso?

— De jeito nenhum.

Ela disse firmemente.

— De qualquer forma, ela é a melhor opção para você agora. Mesmo que eu esteja enganada, ela ainda será seu principal interesse amoroso.

— Mas eu nem tenho certeza se gosto dela ou não.

Eu nunca estive realmente a bordo com isso, e é por isso.

— ...você não acha ela fofa?

Hinami de repente perguntou de forma afiada.

— Oi?

— Fuka-chan, digo. Eu acho ela muito fofa, mas o que você acha?

— Um... bem... acho sim, mas...

— Entendi. Isso já basta, não é? Você ainda não sabe se gosta dela, mas está um pouco interessado porque ela é fofa. Então você tenta se aproximar dela, e é assim que você descobre o que realmente sente... O que há de errado com isso?

— Bem, se você colocar dessa forma...

— Você não vai estar se preocupando com cada pequeno detalhe por vários níveis.

Cada pequeno detalhe? Será que meus sentimentos eram realmente tão insignificantes? Eu estava dividido. Meu desgosto pela insinceridade estava se misturando com meu medo de me aproximar dela e meu ego como jogador. Mas...

— ...eu decidi dar o meu melhor nesse jogo. Vou fazer isso.

Eu declarei. A decisão inicial já estava tomada, então eu poderia muito bem deixar de lado minhas dúvidas e tentar. Posso pensar sobre isso mais tarde. É cedo demais para me autotrancar aqui... certo?

— Ótimo. Sabia que você ia dizer sim.

Hinami disse, pegando o cardápio.

— Você vai querer sobremesa?

— Sim. Você quer alguma coisa? Ouvi dizer que o bolo aqui é ótimo.

— É mesmo?

Eu disse, examinando o cardápio.

— Então eu vou querer o tiramisu.

— Eu vou querer o chee....

Hinami interrompeu a palavra, ficando vermelha.

— Chee?

Ela ficou subitamente extremamente calma. Anormalmente calma. Fingida.

— Eu vou querer o cheesecake..

Ela disse com um tom tão anormalmente calmo quanto sua expressão.

Quando eu comecei a rir de novo, ela me chutou por baixo da mesa.

 


 

Após o almoço, fomos para o salão, onde tudo correu tranquilamente e sem incidentes. Hinami me instruiu a pedir um corte de cabelo seguro e deixar o resto nas mãos do barbeiro, o que fiz. Ela também me disse para aparar minhas sobrancelhas, e eu fiz isso também. Depois do que o funcionário havia dito para mim na loja de roupas, eu estava pronto para me jogar de cabeça. O total foi de ¥4.800, o que é ¥3.800 a mais do que eu costumo gastar.

Quando olhei no espelho, vi meu rosto feio coroado por um penteado mais estiloso do que o normal. Bem, fiz isso. E agora estou triste.

Assim terminou um sábado aprendendo a escolher roupas, pedir um corte de cabelo e aparar as sobrancelhas, e melhorar minha entonação ao falar. Por volta da noite, Hinami finalmente me liberou.

Quando cheguei em casa, senti que finalmente havia avançado um pouco no jogo pela primeira vez.

— Cheguei

Chutei meus sapatos, mais cansado do que o normal, e entrei na sala de estar. Meus pais não estavam lá, mas minha irmã estava largada no sofá como uma idiota usando basicamente nada nas pernas, exceto... acho que chamam de shortinhos?

— ...Você é tão relaxada.

Eu disse, sem rodeios. Ela não olhou para cima.

— O quê? Como se você tivesse moral para falar! Quer dizer, você está...

Ela disse, finalmente olhando para mim.

— ...O que?

Seus olhos estavam saltados em óbvia perplexidade, como se estivesse testemunhando algo além de suas imaginações mais selvagens. Ela me olhou de cima a baixo.

— ...Fumiya... hm...

 


 

— Hinami! Hinami!

Era a manhã de segunda-feira seguinte. Corri até Hinami, que havia chegado à Sala de Costura nº 2 antes de mim.

— ...você poderia parar, por favor? Você está agindo como um cachorro com problemas de apego.

— Sua metáfora já estava ruim o suficiente sem a última parte!

— Bem, você está cheio de respostas hoje de manhã.

— Talvez eu tenha alcançado meu primeiro pequeno objetivo!

Anunciei com orgulho.

Os olhos de Hinami brilharam.

— Sério?! Foi alguém da sua família? Eles disseram alguma coisa?

Seus olhos definitivamente estavam brilhando. De alguma forma, ver isso também me deixou feliz.

— Sim, minha irmã! Escute isso e me diga se conta!

— Ok, mas você tem certeza de que não interpretou algo errado?

— Na maioria das vezes!

— Então, o que ela disse?

— Bem...

Eu poderia ter usado uma batida de tambor naquele momento.

— Ela disse, '… Fumiya ... hm .... Eu não acho que você poderia ter feito essa transformação sem ajuda... O que, você leu um livro sobre como se livrar do rótulo de geek e conseguir algum charme ou algo assim?’

A expressão de Hinami era uma estranha mistura de divertimento e satisfação amuada.

— Sim, você alcançou o objetivo, mas… você parece feliz com o que sua irmã disse.

— Cala a boca! Uma vitória é uma vitória!

— Ok, tudo bem. Parabéns por alcançar seu primeiro objetivo. Bom trabalho.

— O-obrigado.

Eu disse, confuso.

— Você pode estar pensando que não fez nada disso sozinho, mas não é verdade. Claro, você comprou um conjunto de roupas de um manequim e pediu para alguém cortar seu cabelo, mas você foi quem decidiu fazer isso e teve a vontade de vir comigo. Você foi quem trabalhou todos os dias para melhorar sua expressão e sua postura. Isso não é pouca coisa, e te levou a esse resultado. Não foi apenas seu esforço, mas você foi quem agarrou com suas próprias mãos. Sem dúvida.

Hinami me olhou nos olhos enquanto falava, colocando em palavras fluentes o que estava me incomodando.

— Então vou dizer de novo: Parabéns.

— ...uau. Obrigado.

Já que ela disse tudo isso, na segunda vez eu consegui dizer obrigado com um pouco mais de sinceridade. Eu havia alcançado um objetivo no jogo da vida.

— Ok, então.

Hinami disse, começando rapidamente seu próximo tópico sem me dar a chance de aproveitar o sucesso.

— Você não perde tempo.

— Claro que não. Precisamos progredir constantemente se você quiser obter resultados. Não há outra maneira a não ser passo a passo.

— Eu sei, eu sei.

— Então vou anunciar o objetivo. É muito simples.

Nem mesmo tive tempo para engolir em seco.

— Seu objetivo é sair com uma garota da escola que não seja eu. Apenas vocês dois.

— Espere um segundo agora!

Reflexivamente, estendi as mãos para detê-la.

— ...O quê? Você está planejando fazer alguma reclamação irrelevante que revela o quão descolado e despreparado você está para se juntar ao mundo real?

— Não, mas admita! Esse objetivo é estranho!

— Por quê?

— Porque se eu sair sozinho com uma garota, é praticamente um encontro!

Por algum motivo, Hinami recebeu meu argumento fervoroso e lógico com um olhar que foi além da exasperação sincera para algo próximo do afeto.

— Huh? Eu estou assumindo que você nunca namorou alguém, mas você nunca assistiu uma comédia romântica na TV ou leu uma história em quadrinhos sobre relacionamentos?

— Sim, algumas vezes.

— Então você deveria saber disso. Nos dias de hoje, nem mesmo um adolescente no ensino médio assumiria que duas pessoas estão namorando só porque saíram juntas.

— ...M-mesmo?

Estava perdendo a confiança.

— Com certeza. Claro, é verdade que muitas vezes, quando as pessoas saem, estão testando as águas para ver se gostam o suficiente um do outro para namorar.

— É-isso...!.

Eu disse, me agarrando à teia que a aranha tinha pendurado na minha frente.

— Ia dizer mais alguma coisa?

Estava encolhendo a cada segundo sob o olhar devastador dela.

— Uh, bem, eu acho... que é isso?

— Sim. De qualquer forma, eu gostaria que você avançasse em direção a esse objetivo. Está pronto? Aqui está o que quero que você faça hoje.

Ela continuou sem pausas. — Fale com Yuzu Izumi pelo menos duas vezes.

— Espere um segundo!

Desta vez, eu a peguei de jeito.

— Você pode parar de me interromper?

— Não é isso! Este é realmente estranho! Outro dia, você disse que Fuka Kikuchi deveria ser meu interesse amoroso, certo? Não deveria estar falando com ela em vez de Yuzu Izumi?

Argumentei fortemente, antes de perceber que isso era bobagem.

— ...quero dizer, tenho certeza de que você só falou o nome errado.

Era constrangedor agir como se tivesse derrotado um dragão quando a língua de Hinami tinha acabado de escorregar. Ok, talvez eu quisesse me vingar um pouco por ela sempre me cortar... Mas assim que esses pensamentos passaram pela minha mente, ela me pegou de surpresa com sua resposta.

— O que você está dizendo! Eu quero que você fale com Yuzu Izumi, não Fuka Kikuchi!

— Huh? ...não precisa ser teimosa, você se confundiu, não foi?

— ...escute. Você está falando com Aoi Hinami. Você acha que eu 'me confundo'?

— Quer dizer que você também não faz isso?

— Simplesmente escute. Fuka Kikuchi é seu interesse amoroso, mas o romance funciona de maneira diferente no jogo da vida do que nos seus típicos jogos de namoro.

— ...O que você quer dizer?

— Aqui está a questão.

Ela respondeu.

— Nos jogos de namoro, uma vez que você decide seu interesse amoroso, tudo que você tem que fazer é avançar, escolher as opções que a fazem gostar mais de você, e pronto, você a conquistou.

— Sim...

— Mas não funciona assim na vida real. Não há um caminho definido.

— Isso faz sentido, mas por que isso significa que eu deveria falar com Yuzu Izumi?

— Ok, digamos que você está jogando um jogo de tiro.

Lá vamos nós.

— Quando você consegue manobrar mais suavemente? Quando você não tem vidas restantes ou quando tem?

— Hã?

Respondi, confuso por um segundo. — Bem, depende da personalidade de cada um, mas... eu acho que a maioria das pessoas fica nervosa e não joga tão bem quando fica sem vidas. É o que acontece comigo.

— Exatamente.

— Aí está!

— Normalmente, você se move melhor se tiver espaço para falhar.

— ...então qual é o seu ponto?

Ela suspirou, como costumava fazer.

— O mesmo vale para o romance.

— Sim...?

— Você ainda não entendeu? Se existe apenas uma garota com quem você tem uma chance e não há nenhuma outra candidata se as coisas não derem certo, é como não ter mais vidas.

— Ah, entendi.

— Continuando a analogia, se você tiver várias candidatas com quem poderia sair se as coisas não funcionarem, você vai se sentir mais relaxado e confiante em relação a tudo, não é mesmo?

— Ah, é isso que você quer dizer.

Eu entendo, mas...

— Você está falando sobre ter um plano B, certo? Mas, Hinami, Yuzu Izumi? Sério? Isso não é possível. É de mim que você está falando aqui.

Eu disse a ela com uma confiança incomum.

— Eu não estou falando especificamente sobre Yuzu Izumi. Só estou dizendo que você pode manter um estado mental e emocional melhor dessa forma.

— Ok, mas mesmo assim... isso não seria insincero?

Ter várias alternativas parecia desonesto para mim.

— Você não estaria mentindo para ninguém. É apenas que se você fizer algumas amizades femininas que poderiam se desenvolver em relacionamentos românticos, isso ajuda você a se preocupar menos.

— Mas eu não estaria dando meu coração inteiro a ela.

— Ah, vamos lá, isso está ficando bobo. A razão pela qual a política internacional do Japão não consegue acompanhar o resto do mundo é porque todos aqui têm fé cega em palavras vazias. 'Sinceridade' e 'dar seu coração inteiro' parecem boas superficialmente; elas na verdade distraem todos de tomar medidas produtivas.

Uau, por que estamos falando de assuntos internacionais de repente?

Pensei por um segundo.

— Mas não seria auto derrotista se Kikuchi-san acabasse gostando menos de mim como resultado?

Perguntei.

— Isso não vai acontecer. Concedido, nos típicos jogos de namoro, quando você faz escolhas que aumentam a afeição de outro personagem por você, a afeição de seu principal interesse amoroso diminui.

— Certo?

— Mas na vida real é diferente. Aqui, quando a afeição de uma garota aumenta, a da outra também aumenta.

Uh, então...

— ...quer dizer que minha reputação melhoraria entre as garotas em geral?

— Sim, é uma maneira simples de colocar. Isso também pode fazer as garotas quererem você só para elas, melhorar seu status como homem e ter muitos outros efeitos.

— Hum, sério...? Ok, entendi.

Eu duvidava muito que minha reputação entre as garotas melhoraria, mas enfim. — ...então eu não vou fazer nada de especial por Kikuchi-san? Afinal, ela é meu principal interesse amoroso.

— Não, nada de especial.

Disse Hinami, depois parou. Bem, ela deve ter algum plano.

— ...Ok. Mas não vou chegar a ponto de ser insincero.

— Isso é com você. Apenas certifique-se de que não está fazendo malabarismos lógicos para evitar isso.

Para falar a verdade, eu não estava realmente preocupado com isso, porque você precisa ser bastante habilidoso para ser acusado de ser um galanteador, e eu ainda não conseguia imaginar isso.

— Entendi. Levando tudo em consideração, essa abordagem deve funcionar... além disso, se eu não fizer isso, vai demorar muito para atingir meu objetivo de médio prazo.

Afinal, conseguir uma namorada antes de subir de série era completamente insano para começar.

— Isso é verdade.

Disse Hinami, concordando com a cabeça. — É muito importante manter seus objetivos à vista.

— Ok... Vou tentar.

— Também há a questão do que conversar com ela.

— Ah, eu memorizei alguns tópicos...

Hinami reagiu com alguma surpresa e depois sorriu feliz.

— Nesse caso, eu deixo com você.

Ela disse.

Conversar com Yuzu Izumi duas vezes... O antigo eu teria desistido completamente assim que ouviu essa ideia. Mas agora uma pequena semente de autoconfiança estava brotando, me dizendo que talvez eu conseguisse se tentasse. Era um sentimento estranho.

— Ah, a propósito — essa é sua tarefa para todos os dias desta semana.

— O quê?!

Essa jovem promessa foi cortada desde o início.



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