Volume 1

Capítulo 3: Caçar sozinho rende uma quantidade surpreendente de pontos de experiência.

— Começando hoje, vamos corrigir sua postura.

Assim começaram as instruções de Hinami na manhã seguinte.

— Postura?

— Sim, sua postura. Você se lembra do que eu disse? As três chaves para a aparência são expressão, estrutura física e postura.

— Sim, eu me lembro.

Ela mencionou isso quando estávamos no quarto dela.

— Uma vez que você tenha essas três coisas sob controle, terá a base. Você tem uma estrutura física media, então, contanto que você corrija sua expressão e sua postura, terá pontos suficientes para passar. Estamos trabalhando em sua expressão com o treinamento da máscara, então só falta a postura.

Meu objetivo estava surpreendentemente próximo.

— Mas como eu corrijo isso? É tão ruim assim desde o início?

— Bem, não é o ideal..., mas, mais importante, a maioria das pessoas tem má postura.

— Mesmo? Então você̂ está dizendo que se eu tiver boa postura, vou parecer especialmente bem?

— Metade certo, metade errado.

— Metade?

— Existem diferentes tipos de má postura.

Ela dobrou os cotovelos, inclinou as pernas, levantou o queixo e andou para frente balançando os ombros.

— Este é um tipo de má postura, mas é intimidante. Não é o melhor, mas comum entre as pessoas comuns.

— Você parece um marginal. Tenho a impressão de que você é forte.

— Certo. E depois tem esta aqui...

Ela curvou as costas, avançou o pescoço, encolheu os ombros e começou a andar novamente.

— Isso também é um tipo de má postura. Mas essa faz você parecer fraco, não é verdade?

— Sim. Como um nerd ou um tipo artístico.

Eu teria pensado que ela era ruim em esportes. A postura realmente fazia uma grande diferença. Ela realmente é boa em imitações.

— Então você vê, a maioria das pessoas tem má postura, mas as pessoas mais abaixo na escada social geralmente têm o tipo fraco.

— Mesmo? Por quê?

— Bem, consigo pensar em muitas razões. Em primeiro lugar, eles costumam passar muito tempo no computador ou jogando videogame, o que tende a criar esse tipo de postura.

— Tem sentido.

— Mas não acho que seja a razão principal. É uma questão de corpo e alma.

— Corpo e alma?

— Sim. Tente estufar o peito para fora e colocar as mãos nos quadris, como se estivesse dizendo 'ahem'.

— A-as... assim?

Tentei parecer imponente.

— ...Como você se sente? Apenas mudando sua postura, você não sente que tem mais presença?

— Sim, sinto.

Ela estava certa. Ao fazer essa pose, eu me sentia um pouco mais confiante, um pouco mais como, — Ei, você não pode me dizer como devo ser.

— Mas eu não poderia estar me sentindo assim porque você sugeriu isso para mim?

— Isso pode ser parte disso, mas seu corpo e coração estão intimamente ligados. Pense em quando você se sente nervoso e cruza os braços, ou como você abre as pernas e deixa a tensão sair dos ombros porque está relaxado. Ou o contrário, como aquela famosa frase sobre como se você sorrir mesmo quando está triste, a própria tristeza vai embora.

— Sim, acho que já ouvi falar disso.

— Se você ficar orgulhoso com seu corpo, seu coração também ficará orgulhoso. E se seu coração estiver para baixo, seu corpo vai murchar. Não é uma questão de qual vem primeiro — eles são um conjunto. As pessoas comuns têm coragem para isso, e naturalmente sua postura reflete isso.

— Entendi.

— Então...

Hinami começou a andar de uma maneira que realçava sua figura, mas não era intimidadora, ao mesmo tempo que projetava uma aura de confiança madura.

— Você não precisa deixar sua postura tão perfeita. Quero dizer, isso não é algo que você pode fazer da noite para o dia. Você tem que passar muito tempo ajustando sua pélvis e reeducando seus músculos para alcançar isso. Você não tem esse tipo de tempo. Além disso, não é necessário.

Uau. Ela realmente podia fazer qualquer coisa.

— Então o que devo fazer?

— Apenas pare de parecer tão fraco.

Ela apontou para o meu peito.

— ...como?

— Tem uma solução fácil... Venha até aqui.

— Ta brincando?

Questionei, seguindo-a mesmo assim.

— Encoste as costas e os ombros na parede. Calcanhares juntos, dedos dos pés apontados para frente.

Fiz o que ela disse.

— Você sente a tensão nos glúteos?

— Huh? Oh, uh, sim. Sinto mesmo.

Ficar assim realmente tinha deixado meu bumbum mais firme — e enquanto eu pensava nisso, Hinami se aproximou de mim com propósito.

Ih, o que está acontecendo? Seus traços quase perfeitamente simétricos estavam bem perto do meu rosto, e como a parede estava atrás de mim, eu não podia recuar. Será que o perfume chique e limpo que percebi vinha do shampoo dela?

Ela estendeu lentamente as mãos na minha direção.

— Sim, muito bom.

Ela disse, tocando meu bumbum.

— Aaaah! O-o-o que você está fazendo?

— Checando. Eu só toquei um pouco no seu bumbum; não fique tão agitado. Você é um cara, certo?

— Não é o ponto!

Sério, pare! Você vai me dar um ataque cardíaco! Já estou superaquecendo!

— ...qual é essa expressão no seu rosto? De qualquer forma, você está se saindo muito bem. Continue com a tensão nos glúteos e mova seus dedos dos pés e calcanhares de volta para uma posição normal. Agora pressione seus ombros e quadris contra a parede. Não solte os glúteos.

Ela continuava me dando instruções como se não tivesse acabado de fazer um toque impróprio, e eu me apressei para obedecer.

— Assim?

— Sim... Consegue perceber a diferença? Você já parece mais imponente.

...ei, ela está certa. Eu não tinha percebido.

— Sim, consigo.

— Agora afaste-se da parede... Sua postura não parece fraca mais. Não, definitivamente não.

Ela disse, me olhando de cima a baixo de uma certa distância.

Sério mesmo?

— Isso é um pouco mais difícil do que parecia inicialmente.

— Sim. Você está usando músculos que normalmente não usa. Mas daqui para frente, sempre que estiver em pé, quero que você fique assim. Mesmo quando estiver sentado, deve projetar o peito para fora e contrair os músculos do bumbum, se puder.

A maioria das pessoas com postura como a sua geralmente não abre o peito e tem um bumbum flácido. Quero que você faça disso um hábito, sempre mantendo o peito aberto e os músculos do bumbum tensos.

— Sempre de novo, huh?

— Obviamente. Isso faz parte da criação do seu personagem. Você está tentando encontrar uma maneira de melhorar suas estatísticas base. Se não for uma base constante, não pode chamá-la de habilidade básica, não é mesmo?

Justo.

— Entendi. Não deve ser só isso que tenho que fazer hoje... ou deve?

— Claro que não. Tem mais uma coisa.

É, eu sabia. Ela não ia me deixar escapar tão fácil.

— O quê?

— Não é muito difícil. Tudo o que você precisa fazer é falar comigo e com alguém que eu esteja junto, como Mimimi ou Hanabi ou outro amigo.

Só isso? Pelo menos ela fez parecer fácil.

— Bom, aposto que será moleza em comparação com a tarefa de ontem, já que você estará lá.

— Certo. É sua tarefa até sexta-feira.

— Então, pelos próximos quatro dias.

— É, um bom período de tempo. Entendido. E o que vou aprender com isso?

Se eu não entendesse o motivo, o processo de aprendizado não seria muito eficiente.

— Nossa, você está ficando bem proativo. Isso é um bom hábito para se desenvolver.

— Obrigado.

— De qualquer forma, é simples. Você está acumulando pontos de experiência.

— Acumulando pontos de experiência?

— Sim. Acontece o tempo todo, não é? Tipo quando você tem um personagem muito forte em seu grupo nas fases iniciais de um RPG e luta contra um inimigo poderoso juntos.

 Depois eles se separam do grupo, e no final do jogo eles acabam sendo muito importantes e se juntam a você novamente. Nesse ponto, os personagens principais estão mais ou menos no mesmo nível, e você pensa, 'Nossa, eu realmente cresci muito.' Você sabe do que estou falando?

Ela parecia tão feliz sempre que falava sobre jogos.

— Ah, sim, eu sei do que você está falando. Eu sempre me pergunto por que o outro cara não subiu de nível também.

— Exatamente!

Hinami respondeu animada, então tossiu.

— De qualquer forma, mesma coisa. Vou ser um membro temporária do grupo para ajudá-lo a lutar contra um inimigo poderoso e te dar um pouco de EXP.

— Entendi.

Então eu estaria aumentando meu nível com uma desvantagem.

— E você estará coletando informações ao mesmo tempo. Em RPGs, se você luta contra um chefe uma vez, aprende o conjunto de movimentos deles para saber o que fazer na próxima vez que lutar contra eles, não é? Você sabe quais são os pontos fracos deles e quanto dano eles causam.

 O que significa que você sabe como atacá-los e quando se recuperar, certo?

— Exato.

— Você estará fazendo algo parecido. Quero que você pegue a técnica observando o fluxo de conversas reais.

— Só 'pegar' isso, né? Sinto que no meu estado atual, eu provavelmente apenas ficaria assistindo a conversa passar sem entender muita coisa.

— Só observar e aprender é o suficiente? Não tem nada em particular que eu deveria estar observando?

Hinami pensou por um momento.

— Boa pergunta... Você provavelmente terá conversas com cerca de vinte pessoas nos próximos quatro dias. Apenas analise essas conversas em termos gerais.

— Analisar?

Na verdade, vinte é um número bem grande.

— Sim. Pense em como escolher tópicos ou encurtar a distância, coisas assim. Quero que você faça o seu melhor para pensar sobre cada técnica de conversação.

— Ok... Analisar.

Eu não sabia se conseguiria, mas achei que valia a pena tentar.

— Também... Eu não acho que vou ser muito bom em entrar em conversas com pessoas que não conheço. O que você sugere?

— Oh, você não precisa entrar de cabeça.

— Huh?

— O objetivo agora é observação. Não se preocupe, eu vou garantir que haja uma boa razão para você estar lá. Você só precisa se concentrar na observação.

Então é só deixar com ela, eu acho?

— Por enquanto é isso. Vou buscá-lo depois da escola, então estude ou faça algo enquanto espera.

— Depois da escola? O que vamos fazer depois da escola?

— Vou andar até a estação de trem com Mimimi, Hanabi e um casal de caras, e você vai com a gente.

— O quê?!

Isso não era uma simples conversa casual — era como ir para casa juntos.

 


 

— É, você não sabia, Mimimi?

— Não. O que, todo mundo mais sabia?

— Sim, nós sabíamos completamente.

— Bem, você saberia, Aoi.

— Eu sabia também.

Estávamos prestes a ir para casa depois da escola. O grupo estava animadamente conversando sobre o desenho incrível no quadro negro no fundo da sala, que na verdade tinha sido feito por um dos caras do grupo, Daichi Matsumoto, e outro cara chamado Kiyu Hashiguchi.

— E você, Tomozaki-kun?

Hinami estava me dando oportunidades periódicas para entrar na conversa.

— Um, eu já o vi desenhando antes, então eu sabia.

— O quê! Tomozaki-kun sabia e eu não sabia?!

— Isso foi rude! Ha-ha!

Então, depois de ela abrir um pequeno espaço para mim, outra pessoa dizia algo. Esse era o padrão geral. Hinami passava a bola para mim, e eu tentava mantê-la no ar da maneira mais segura possível, pelo menos tentando não arruinar os esforços dela para me ajudar.

Enquanto a bola não caísse no chão, Hinami conseguia pegá-la de qualquer ângulo maluco de onde eu a tinha enviado e enviá-la para o lado do time adversário.

Como resultado, minha observação de conversas estava progredindo bem. No entanto, dado que eu era um novato total, provavelmente não estava fazendo muitas observações significativas.

— ... certo? Estou tão exausto.

— Você disse isso ontem também, Daichi.

— Sim, tenho levantado um pouco de peso.

— Nossa!

Agora os caras estavam falando sobre treinar, e Mimimi estava participando da conversa. Ela era impressionante. Ela introduzia seus próprios tópicos e expandia sobre os tópicos dos outros, e ela sorria o tempo todo, o que mantinha o clima animado.

 Ela devia ser uma pessoa naturalmente alegre. Eu precisava roubar alguns truques dela. Introduzir novos tópicos estava além das minhas capacidades, então eu decidi me concentrar em expandir os tópicos existentes.

— Em que área você está focando?

Ela perguntou.

— Basicamente o corpo todo. Faço braços, peito, abdômen, costas e pernas.

— Nossa.

— Ah, por falar nisso...

Sem aviso, eu entrei na conversa. Era agora ou nunca! As sobrancelhas de Hinami se levantaram surpresas enquanto ela olhava para mim.

O quê? Eu estraguei tudo? Mas era tarde demais para voltar atrás. Tudo o que eu podia fazer era tentar.

— Você está trabalhando também nos músculos do bumbum?

O clima após esse comentário poderia ser descrito como: Bumbum?

 


 

— Eu sinto muito pelo que aconteceu ontem!

Era na manhã seguinte na Sala de Costura #2. No instante em que vi o rosto de Hinami, pedi desculpas.

— ...você está falando do incidente do bumbum?

— Sim. Sinto muito por falar fora de hora e tornar tudo estranho!

Eu disse, pensando que qualquer coisa chamada de — incidente do bumbum — era meio impressionante, mesmo enquanto pedia desculpas sinceramente pela segunda vez.

Depois de eu ter feito o comentário no dia anterior, Daichi Matsumoto respondeu, com certa confusão, que ele achava que não dava para tonificar os músculos do bumbum.

Quando todos estavam começando a se perguntar se era algum tipo de piada, Hinami interveio e evitou o desastre dizendo casualmente que ela trabalhava os músculos do bumbum. A conversa virou para a pergunta se os exercícios para o bumbum eram o segredo para sua aparência atraente. Depois disso, eu fiquei em silêncio.

— Na verdade, eu só fui e...

— Você não precisa repetir a mesma coisa várias vezes. Eu não estou preocupada com isso de qualquer maneira.

— Huh?

— Você estava pensando por conta própria e agiu, certo? Ok, você se atrapalhou um pouco, mas não vou criticá-lo por tentar.

— Hi... Hinami...

Ela era tão compreensiva...

— O importante é a sua tarefa. Se você estivesse focando tanto no seu erro a ponto de não fazer o que eu queria, eu ficaria brava.

— Ah, sim. Você quer dizer refletir e analisar os eventos do dia da melhor forma possível, não é mesmo? Basicamente, foi isso que fiz.

— Então está tudo bem. Você ainda tem três dias, então pode me contar suas conclusões no final. Acho que terminamos por hoje.

— Uh, espere um segundo.

— O que? Você não entendeu algo?

— Não, é mais como... aconteceu algo que eu não entendi. Na verdade, ontem no caminho para casa da escola...

— ...O quê?

Hinami perguntou cautelosamente.

Olhando para ela, comecei a descrever o que tinha acontecido.

 


 

— Até logo!

— Até logo!

— Vejo vocês amanhã!

Os seis de nós havíamos chegado à estação depois de sair da escola e estávamos nos preparando para pegar nossos respectivos trens.

— Ah, aqui é a minha parada.

— Ah, a minha também! Até logo!

— Até mais!

O grupo começou a se separar. Hinami desapareceu no trem que acabara de chegar, indo na direção oposta da minha casa. O que significava que eu tinha que continuar conversando com as pessoas que iam na mesma direção que eu, sem a ajuda dela.

Ela já havia considerado isso, é claro. Ela me disse que eu ficaria bem, já que a viagem duraria apenas uns dez minutos, e eu estaria com Mimimi e Daichi, que provavelmente manteriam a conversa. Ambos sairiam em paradas diferentes da minha; além disso, era a Mimimi.

Hinami agia como se saber em qual parada cada pessoa descia fosse totalmente natural; era desconcertante, mas também reconfortante.

O trem chegou e entramos. Como ela havia prometido, os dois conversaram como se tivessem nascido para isso, então a conversa no trem foi tranquila.

Mimimi me fazia perguntas de vez em quando, às quais eu mal conseguia responder com algum comentário chato, e depois ela achava algo engraçado no que eu dizia e ria. Mas, assim como na aula de economia doméstica, eu não sentia que ela estava zombando de mim. Ela parecia tão boa em conversar quanto Hinami.

Chegamos à minha estação, e eu me parabenizei silenciosamente por mais uma missão cumprida.

— Ah, esta é minha parada, então vejo vocês mais tarde.

Eu disse.

— Sério? A minha também! Vou andar até em casa com você!

Mimimi pipocou.

— Huh?!

A mesma parada? Espere um segundo, Hinami, o que está acontecendo?

— Ei, Tomozaki, não tente nada engraçadinho!

Advertiu Matsumoto.

Espera um segundo! Já estou envergonhado; por que ele de repente está fazendo piadas maldosas?

— N-não, eu não faria i-isso!

— Ooh, ele está em pânico...! E se minha castidade estiver em perigo?!

— Ah-ha-ha-ha! De qualquer forma, você está bloqueando a porta. Até mais!

Mimimi e eu saímos juntos do trem.

— Mimimi, essa realmente é a sua parada...?

As portas se fecharam.

— ... É, não é mesmo...?

— Sim, por quê?

— Ah, sem motivo...

 


 

— Então, a parada dela e a minha não eram diferentes, certo?

Perguntei a Hinami.

Aparentemente, eu não estava fazendo sentido para ela.

— Mimimi desce em Kitayono. E você desce em Omiya, não é? Isso é uma parada diferente...

— Minha parada é Kitayono!

— O quê...?

Ela mergulhou em pensamentos por um minuto, então olhou para cima com uma realização.

— ...Você estava tentando ser atencioso, não estava? Mas não precisava. Isso escapou de mim. Erro de novato...

— Do que você está falando?

— Quando nanashi e NO NAME se encontraram pessoalmente, você deveria ter ido para a estação mais próxima da sua casa!

— ...Ah...

Isso explicava. Em vez de dizer a ela a estação que estava realmente mais perto de mim, eu tinha tentado ser considerado, dizendo para ela ir até o terminal porque era mais fácil de chegar. Mas ela não sabia disso...

— Bem, não adianta se arrepender. Água passada não move moinhos, certo? ...de qualquer forma, o que aconteceu depois disso?

— Ah, verdade...

A pedido dela, continuei minha história.

 


 

Saímos da estação e começamos a caminhar pela rua. Eu estava tão nervoso que até meu jeito de andar parecia desajeitado.

— Esta é a primeira chance que temos de conversar sozinhos, não é?! Quero dizer, nós só começamos a conversar outro dia!

Mimimi riu e deu um tapa na testa.

— S-sim.

— Do que você está tão nervoso?! Tenha confiança!

Ela me deu um tapa nas costas muito mais forte do que a maioria das pessoas consideraria apropriado.

— Ai! Isso doeu!

— É mesmo?

Ela riu alegremente, aparentemente ainda mais animada do que o normal. Acho que aquilo era a versão dela de ser atenciosa comigo.

— V-você tem muita energia, Mimimi...

— Não é? Meu plano é passar pela vida com minha alegria e sorrisos.

— Ha-ha, isso é incrível... Quero dizer, parece difícil...

— Difícil como?

Ela olhou curiosamente para o meu rosto.

— Quero dizer... certamente há momentos na vida em que você não pode ser alegre e sorridente... certo?

Mimimi piscou.

— Do que você está falando?! Quanto mais difícil fica, mais você sorri! Ficar de cara feia só torna as coisas mais difíceis, não é?

— Ah...

Hinami tinha dito a mesma coisa. Algo sobre seu corpo e coração estarem conectados.

— Sim, já ouvi isso. Tipo, se você ficar em pé reto e sorrir, você se sente melhor.

— Exatamente! Acho que a vida será mais divertida se eu for ensolarada e alegre o tempo todo!

Aquela era uma atitude incrivelmente positiva. Mas ao mesmo tempo... como eu posso dizer isso? Por que cada dia precisa ser divertido?

Ok, no meu caso, você esperaria que cada dia não fosse divertido, o que pode ter diminuído minha capacidade de aproveitar as coisas em geral, mas eu queria dizer que os seres humanos podem ter muitos momentos não especialmente divertidos e ainda estar bem.

É como... proteger seu próprio mundo é mais importante, eu acho. Enquanto eu estava pensando nisso, o silêncio se estendeu. Será que era minha vez de falar? Sim, com certeza era.

— Você não concorda? Bem, todo mundo é diferente.

Observou Mimimi.

— Oh, desculpe. S-sim.

Por um minuto, as coisas ficaram estranhas. Ahhh! Desculpe! Como eu tinha ficado em silêncio, Mimimi tinha feito um comentário próprio, mas então eu dei uma resposta que não levou a lugar nenhum.

Isso é o que acontece quando você não tem habilidades de comunicação!

— Hey, de qualquer forma! Posso te perguntar algo que eu estava pensando?

Mimimi sorriu como se dissesse, não se preocupe, você não estragou tudo.

Como eu disse, ela é incrível.

— Huh? O quê?

Mimimi fez a mão como se fosse uma máscara e a trouxe em direção à minha boca.

— Seja honesto comigo, Tomozaki! Tem alguma coisa acontecendo entre você e Aoi?

Eu engasguei e tossi, engasgando com minhas palavras.

— Aha! Como eu imaginava! Algo está acontecendo. O que é, o que é?! Vamos lá, eu sou como sua irmã mais velha! Você pode me contar! Bem?

— Não tem nada acontecendo!

— Você estáááááá certo? Eu juro que vi vocês dois trocando olhares suspeitos! E outro dia, você quase esqueceu de usar 'san' com o nome da Aoi, mas não com ninguém mais!

 

 

... Eu fiz? Mesmo que eu tivesse feito isso, as pessoas normalmente percebiam esse tipo de coisa? Os normies fazem você pensar que eles são apenas alegres, mas na realidade, eles são mestres em ler o ambiente e entender as emoções das pessoas. Um erro e eu estava perdido. Se ela já sabia tanto assim, uma tentativa desajeitada de encobrir não me salvaria.

— Não tem nada! Na verdade, nós não somos inimigos ou algo assim, mas a Hinami é amiga de todo mundo, não é mesmo?

— Ahá! Você fez de novo! Não usou o 'san'. Como eu pensava, muito suspeito. Tomozaki! Por que você tentou esconder isso? Culpa, talvez? Me conte tudo! Desembucha!

— Já disse, não está acontecendo nada! De qualquer forma, você acha que Aoi Hinami, a ídola da escola, faria qualquer coisa comigo para se sentir culpada? De jeito nenhum!

— Você me pegou!

— Ei!

Respondi provocando.

— Ha-ha-ha-ha! Eu gosto disso! Você realmente é engraçado às vezes, Tomozaki!

— Me dá um tempo! Eu não estava tentando ser engraçado, e, sério, esse 'às vezes' foi desnecessário.

De alguma forma, eu não me sentia tão nervoso mais. Provavelmente eu tinha que agradecer o estilo de conversa de Mimimi por isso. Ou talvez fosse só porque estávamos falando de um certo jogador rude.

— Viu, você deveria estar feliz o tempo todo assim. Você está sempre tão carrancudo.

— Isso não é da sua conta... Mas na verdade, eu não me importo em não ser feliz o tempo todo.

— ...Sério?! O que você quer dizer com isso?

Ela realmente se fixou nisso. O que eu deveria dizer agora?

— Um, como eu explico isso? Ser divertido e feliz nem sempre é a resposta certa... talvez?

— Huh! Você é a primeira pessoa que ouço dizer isso! Me conta mais! O que você quer dizer com isso?

— 4-1...?

Ah, certo, 411. Quem realmente usa isso?

— É difícil explicar. Por exemplo, eu gosto de Atafami e de outros jogos, e...

— Sim, ouvi dizer que você é super bom, também! E, e?

— Sim, bem... não é de forma alguma como as coisas divertidas na escola. Mas eu ainda passo meu tempo jogando Atafami, quer dizer...

— Hmm. Mas Atafami não é divertido?

— É, quer dizer, é, com certeza, mas é tipo... Eu não jogo Atafami porque quero me divertir. Gosto de Atafami e me esforço nele, então a diversão vem como um tipo de efeito colateral... Desculpe, não consigo explicar melhor...

— Não, entendi.

— Mesmo?

— Sim, na verdade... Eu acho que você é um pouco como a Tama nesse sentido.

— ...Como a Tama-chan?

Eu realmente não conseguia ver isso... Mas Hinami tinha dito algo parecido.

— Eu acho... ela não se curva, ou não se deixa curvar, ha-ha, e isso é uma coisa muito boa. De qualquer forma, ela tem esse lado.

— Sim, eu posso ver isso.

— Você percebeu? Por exemplo, mesmo que se curvar tornasse uma situação mais agradável, ela não faria a menos que achasse que era certo. Ela é realmente extrema. Tenho que tirar o chapéu para ela.

— Isso é incomum entre a nossa geração, não é?

— Ha-ha-ha! Lá vem o Sr. Apresentador de Talk Show de novo!

— Cala a boca!

— Ah-ha-ha!... De qualquer forma, acho esse lado dela incrível, mas também sei que não tenho isso em mim. Quero dizer, eu sou curvada para trás a maior parte do tempo! Me curvo de todas as maneiras e faço o que for preciso para tornar as coisas divertidas. Estou tão curvada que consigo ouvir minhas costas estalando!

— R-realmente?

Eu pensei que fosse um dom natural.

— Oh, com certeza. Sou uma donzela jovem com muitas preocupações... Quero dizer, tem alguém que não tenha? Comparado com a Tama, minhas preocupações são minúsculas!

— Ela realmente parece... ter muitos problemas.

— Certo? Concordo totalmente. Mas é por isso que alguém mais flexível como eu tem que protegê-la. Essa é a situação! E então! O que você acha? Você vai chorar por mim? Ou bater nas minhas costas?

Ela ficou na minha frente com as mãos abertas.

— Entendi.

Eu disse.

Eu estava perdido em pensamentos, então perdi a maior parte do que ela disse.

— Mas e você? Quero dizer, não consigo imaginar que você goste de ter que manter o clima o tempo todo.

— Huh? Você está viajando? De qualquer forma, eu? Não me importo! A razão pela qual eu faço isso é para que as coisas sejam mais divertidas, então obviamente é divertido! Claro, há momentos em que eu não quero me curvar, mas o que posso fazer? A vida não é perfeita! A razão pela qual eu cedo é porque seria pior se eu não cedesse! Estou sempre tentando ir onde a diversão está!

— ...Ok, entendi. Você faz o que faz de melhor.

— Exatamente! Você está cheio de boas tiradas, não está, Tomozaki? Meu trabalho é me curvar, e o trabalho da Tama é não se curvar! É assim que funcionamos!

— E vocês se apoiam mutuamente.

— Certo, certo, exatamente! Nós nos apoiamos! Você realmente sabe resumir bem, Tomozaki! Claro, se eu tivesse que dizer de um jeito ou de outro, eu diria que sou quem apoia a Tama, para ser precisa. E está tudo bem para mim!

Ela deu outra risadinha.

— Bem, para mim...

— Ah, estou indo por aqui agora! Você estava prestes a dizer alguma coisa?

— Não, nada importante.

— Mesmo? Ok, então, até mais, Tomozaki!

— Ah, sim, até mais.

Ela acenou exageradamente e desapareceu como uma tempestade passageira. Eu estava prestes a dizer algo e não terminei, mas talvez estivesse tudo bem. Era apenas minha opinião não solicitada, ou melhor, um palpite, e provavelmente era melhor guardar para mim mesmo.

Eu ia dizer que para mim, Mimimi parecia ser a que estava sendo apoiada.

 


 

— Huh. Bom trabalho.

Hinami disse de forma monótona.

— Bem, Mimimi apenas manteve a energia alta enquanto estávamos falando sobre coisas sérias. As coisas que até eu consigo lidar.

— É verdade, mas... mostra que você tem uma força.

— ...Eu... tenho?

O que ela queria dizer com isso?

— Você fez isso também em educação doméstica. Aparentemente, você é bom em dizer o que está pensando.

— Uh, dizer o que está na minha mente? Não, todo mundo é bom nisso. Quero dizer, é só dizer.

Hinami balançou o dedo.

— Não exatamente. Existem mais pessoas que não conseguem fazer isso do que as que conseguem.

— Hã?

— Por exemplo, Mimimi. A força dela é a flexibilidade. Você acha que ela é boa em dizer o que está pensando?

— ...Ah, entendi. Você quer dizer que ela é boa em concordar com as pessoas ao redor dela.

— Isso mesmo.

Hinami disse, concordando com a cabeça.

— E a Hanabi? Ela provavelmente é boa nisso, certo? Em dizer o que está pensando, quero dizer.

— ...Sim, provavelmente.

— Há muitas pessoas como ela? Ou não tantas?

Uh... não muitas. Tudo bem, você me pegou.

— Então... isso é uma habilidade rara que eu tenho?

— É. De certa forma, essa é sua arma, seu ponto forte, sua técnica mortal. E lutar no campo onde você é mais forte é a base dos jogos, não é mesmo?

— Um, sim.

— Ok. Então, se você tiver problemas, pode recorrer a essa habilidade. Lembre-se disso.

— Eu vou.

— Bem, não houve problemas importantes no incidente que você acabou de descrever, então vou continuar. Considere-se sortudo com a EXP extra... De qualquer forma, continue observando conversas. Esta preparado?

— Como eu posso me preparar? ...Você só vai para o campo para esse tipo de coisa, não é?

— Eu acho que você sabe a resposta. E coloque algum espírito nisso. Estou esperando a sua análise no último dia.

Com isso, eu saí para começar meu exercício de três dias para aumentar meu nível e reunir informações.

Quarta-feira, na hora do almoço na cantina.

— Você viu o último episódio ontem? Estou curioso para saber o que eles vão fazer no final.

— Sim, mas a parte em que ele disse 'Volte para mim!' foi tão ruim. Eu ri o tempo todo.

— Ha-ha-ha! Eu também! Foi terrível!

— Olha só para o Tomozaki, ele está agindo todo nervoso. Não disse nada!

— É, eu sei. Que estranho!

...Hmm, hmm.

Quinta-feira, indo para a estação depois da escola.

— Ah, isso me lembra, Yukako, estava tudo bem ontem? Seu pai ficou te ligando!

— Ah, isso! Na verdade, foi meu irmão que não entendeu!

— O pequeno?

 — É! Quando abri a porta da frente, ele estava lá parado como uma estátua, e ele disse 'Maldição!’

— Que estranho!

— Parece algo que você faria, Tomozaki!

— Ha-ha-ha, claro.

...Uh-huh.

Sexta-feira, entre as aulas.

— Conta algo engraçado, Takahiro!

— Ei, não me coloque nessa situação!

— Vai logo!

— Um... bem... ontem, minha namorada...

— Para de se exibir!

— Eu não estou!

— Tomozaki, você tem alguma... esquece, você não teria.

— Ha-ha-ha! Isso foi rude!

...De fato.

Foi mais ou menos assim que as coisas aconteceram.

— Então, como foi?

Era a nossa reunião depois da escola na sexta-feira. Nos últimos quatro dias, fui jogado em grupos de crianças com as quais eu não tinha muita afinidade e forçado a observá-las, até mesmo a participar um pouquinho. Quatro dias nos abismos do inferno. E hoje estávamos revisando tudo isso.

— Minha alma está morta.

— ...Bem, esse é o destino das pessoas antissociais. Mas assim que você melhorar sua expressão, postura e habilidades de conversação, logo estará livre desse destino.

— ...Tem certeza?

— Acho que você não pode evitar ser insultado. Grupos são assim. Uma vez que cinco ou seis pessoas se reúnem, bem... alguém vai ser o sacrifício.

— ...Entendi.

— O que importa é a sua análise.

— Um, pensei em muitas coisas, mas...

— Sim?

O normie supremo está me pedindo, a pessoa com dificuldades de comunicação, pelas observações que mal consegui juntar. É claro que estou nervoso.

O que notei foi a divisão de papéis nas conversas. Parece-me que cada participante em uma dada conversa tem um papel a cumprir. Existem três principais: a pessoa que introduz novos tópicos, a pessoa que expande tópicos existentes e a pessoa que reage.

Por exemplo, na segunda-feira, observei uma conversa que começou assim:

— Ei, escuta só! Ontem, no cursinho...

A Mimimi sempre começa dizendo algo como Escuta só ou Isso me lembra ou Então ontem... Depois disso, ela menciona algo que não está realmente relacionado ao que todos estavam falando até aquele ponto. As conversas são iniciadas por esses introduzidores. Isso é bastante óbvio.

Então há pessoas que acrescentam aos tópicos com comentários como E então isso aconteceu ou Isso é semelhante a outra coisa. Estes são os expansores. Finalmente, você tem as pessoas que mantêm a diversão ouvindo, concordando ou rindo, ou ocasionalmente expressando uma opinião. Estes são os reatores.

Uma vez que um determinado tópico tenha sido concluído, um introduzidor lançará um novo tópico.

Claro, expansores e reatores às vezes introduzem novos tópicos, e introduzidores assumem o papel de ouvinte. Mas parece-me que os papéis são bastante fixos dentro de cada grupo.

E isso não foi tudo que notei. Também desde segunda-feira:

— Wow, o professor definitivamente deve ter feito isso de propósito.

— Eu também achei!

— Aposto que ele gosta de você, Minmi.

— De jeito nenhum! Provavelmente é o oposto!

Neste caso, Kyoya Hashiguchi e Tama-chan estavam atuando como expansores. Mesmo que estivessem na conversa o tempo todo, eu podia dizer que não estavam no centro dela.

— Falando nisso, você já memorizou o vocabulário? Não posso acreditar que temos que lembrar de cem palavras de uma vez só.

Isso foi algo que um determinado normie chave disse na quarta-feira.

O que me pareceu importante foi que enquanto todos na conversa contribuíam bastante, eram quase sempre os mesmos que introduziam novos tópicos. Na segunda-feira foram Daichi Matsumoto, Mimimi e Hinami. Eu quase nunca vi Tama-chan ou Kyoya Hashiguchi introduzirem um tópico. Talvez se eu observasse por muito tempo, eu veria um deles fazendo isso, mas era claramente raro. O que sugere que se você não introduz novos tópicos, você nunca estará no centro das coisas.

De qualquer forma, eu não poderia dar um nome específico à ideia se me pedissem, mas isso foi o que eu notei.

— ...E como Tama-chan e Kyoya não introduziram nenhum tópico, eles não controlaram o clima. É isso.

Hinami assentiu.

— Hmm. Se uma pessoa comum ouvisse o que você acabou de dizer, eles provavelmente diriam, E daí? Isso significa alguma coisa? Em outras palavras, tudo o que você disse é completamente óbvio.

Suas palavras bateram forte porque eu mesmo estava me perguntando isso.

— ...Mas para pessoas como você e eu que estão avaliando a situação com foco na causa e efeito, é uma observação importante. Digna de nanashi, eu diria.

Assim como eu estava me recuperando do impacto de seu comentário anterior, ela me elogiou. Fiquei feliz, como era de se esperar. Ela tinha total controle sobre mim com seu método de policial bonzinho/policial mau.

— S-sério?

— Sim. Você entende agora, certo? Quais são as duas coisas que você precisa para ser bom em uma conversa?

...Ah, ok. Eu entendi.

— Melhorar minha habilidade de introduzir e expandir tópicos?

— Exatamente.

— Hã?

— Tudo o que resta é descobrir como melhorar essas habilidades.

— Espera, espera, espera. Esta é a terceira vez que você diz essa coisa de 'exatamente'. O que é isso?

— ...

Nenhuma resposta!

— ...Ok, tudo bem, eu desisto. É um hábito, e às vezes escapa. Você não reconhece? É o que o Oinko sempre dizia naquele jogo retrô Go Go Oinko. Eu amava esse jogo quando era criança. Para ser sincera, tento não dizer porque é embaraçoso, mas estou cansada de evitar. Sempre escapa, quer eu goste ou não, então de agora em diante eu vou dizer o tempo todo. Só ignore, ok? Fim da história.

O que há com essa garota? Ela faz um grande discurso, e de repente fica toda defensiva e encerra a conversa.

Espera um pouco...

— ...Oinko! Eu achei que reconhecia essa frase de algum lugar! Lembro agora! Você gosta desse jogo?

— ...Uau. Eu deveria ter esperado que o melhor jogador do Japão se lembrasse disso. Quase ninguém conhece. O que é estranho porque era super famoso na época!

Pela primeira vez, Hinami parecia empolgada.

— Totalmente! Costumava jogar na casa de um amigo quando era criança. Oinko, o porquinho, era super fofo. Ele sempre dizia, 'Isso está tão correto, acho que fui amaldiçoado!'... Era um bom jogo.

— Sim, era. Eles te faziam pensar que seria apenas mais um spin-off de um mangá ruim, mas na verdade tinha coisas que você não esperaria da tecnologia da época, como rolagem parallax 2.5D. Tecnicamente falando, era incrível! Mas ao mesmo tempo, era um daqueles pequenos mundos únicos que as crianças amam. Os personagens eram tão fofos! Um jogo realmente bom.

Hinami estava sorrindo como uma garotinha inocente. E-eu nem sabia que ela podia fazer essa expressão.

— Estou com você nisso.

Eu disse, olhando para longe dela.

— Deveria ter sabido que você entenderia! Quando se trata de jogos, Oinko era como meu... quer dizer...

Hinami virou o rosto e tossiu, como se tivesse percebido algo de repente.

— Estamos muito fora do tópico.

Talvez porque ela tivesse estado divagando entusiasticamente sobre algo de que gostava, suas bochechas estavam coradas.

— Ah, é mesmo. Um...

— Estávamos falando sobre como ser bom em conversas, certo?

Hinami disse, parecendo decepcionada.

Ela cruzou os braços com algum descontentamento.

— Certo. E podemos falar sobre Oinko outra hora.

— Sim. Vamos voltar ao ponto. Então... você sabe como desenvolver essa habilidade?

— Um... imitando pessoas que são boas nisso?

— Exatamente.

— Aí está.

— Depois de descobrir quais são as duas habilidades importantes, você só precisa observar os melhores e copiá-los. E agora que você sabe o que é importante, você sabe no que prestar atenção, certo?

— Parece bom para mim.

— Aliás, você mencionou o 'clima' anteriormente. Você sabe o que é isso?

— Uh, clima?

...Agora que ela mencionou, percebi que estava pensando em termos vagos, como aquela pessoa comanda o clima ou o clima está ficando estranho nesta conversa. Porém se alguém me pedisse para definir, eu não seria capaz.

— Não, não sei. O que é?

— Então, 'clima' refere-se aos padrões de certo e errado em uma situação específica.

Um, padrões de certo e errado?

— O que você quer dizer com isso?

— Se eu simplificar, é o padrão para o que você deve ou não fazer. Dentro de um grupo específico, é claro. Por exemplo, em alguns grupos, você será elogiado por ser descontraído e otimista, mas outros, como, por exemplo, um grupo de estudantes universitários, podem não gostar disso e achar que é infantil ou sem estilo. Esse padrão de certo e errado é o que as pessoas chamam de 'clima'.

— Hmm.

Senti como se estivesse começando a entender a ideia. Se eu dissesse que Mimimi era facilmente influenciada pelo clima e que Tama-chan não era influenciada por ele, isso faria sentido.

— O 'clima' refere-se a esses padrões de certo e errado, ou bom e ruim. Especificamente quando eles são válidos dentro de um grupo específico e não em qualquer outro lugar.

Hmm.

— Eu entendi a ideia, mas não tenho certeza se essa explicação é suficiente.

— Está tudo bem. Estamos entrando em detalhes que não são necessários no seu nível. Apenas lembre-se disso como algo que pode ser útil no futuro. Por enquanto, é o bastante ter uma noção vaga disso como 'clima'.

— Isso é o bastante? ...Ok. Mas ainda há algo essencial que não perguntei.

Hinami sorriu.

— E o que seria?

— Sinto que não vou melhorar em uma conversa apenas copiando os mestres. É como se meu corpo não conseguisse acompanhar... como se eu provavelmente não tivesse as habilidades básicas para fazer os movimentos que quero fazer.

Esse é exatamente o problema. Eu literalmente não consigo copiar os especialistas. Pelo menos, é assim que muitas vezes acontece nos jogos de vídeo — o especialista é simplesmente bom demais com o controle.

Estou prevendo o mesmo problema em conversas. Digamos que eu queira introduzir um novo tópico ou responder a uma piada com um comentário espirituoso, mas as palavras simplesmente não saem porque não tenho as habilidades... Nesse sentido, a vida realmente é um jogo.

— Muito perspicaz. Você está certo. Você precisa desenvolver suas habilidades.

— Certo? E isso não vai acontecer da noite para o dia...

— É a coisa mais fácil do mundo.

— Hã? É fácil?

— Sim.

Disse Hinami, levantando o dedo no ar como uma professora alegre.

— Apenas memorize.

— ...Memorize?

— Sim. Fácil, não é?

Ela sorriu maliciosamente. Eu estava sendo provocado.

— Vamos lá, preciso de mais do que isso. O que você quer dizer com isso?

— É muito simples.

Ela tirou uma caixa de lápis de sua bolsa. De dentro dela, retirou um monte de fichas e começou a folheá-las.

— O que são essas?

Eu disse, olhando para as fichas em sua mão. Não podia acreditar no que via.

— ...Você está brincando!

Cada ficha tinha escrita dos dois lados.

Por exemplo, uma delas dizia:

— A história sobre o irmão mais novo de Taro Nakajima (Grupo 2) — na frente e — Ele disse que entraria em um colégio nacional sem problema, mas nem fez o exame de admissão — atrás.

Outra dizia:

 — O que minha mãe me disse no meio de maio — na frente e — Você é um bom estudante, mas você veste as roupas mais estúpidas — atrás.

Outra dizia:

— A cena no terceiro episódio de Meu Pai Secreto que me fez rir — na frente e — A parte em que Yusuke Sugawara cai, mas ele está tão cuidadoso para não se machucar que parece uma rotina de palhaço — atrás.

E assim por diante. Havia um monte delas.

— Viu? Fácil.

Ela estava positivamente radiante. Aterrorizante.

— Você... memorizou esses? Tópicos de conversa?

— Sim.

O sorriso estava grudado em seu rosto como a máscara de um ogro zombeteiro.

— Não, isso é simplesmente bizarro demais...

— Do que você está falando? Nos RPGs, você memoriza os valores de ataque e defesa de todos os equipamentos, não é? E em jogos de batalha de treino, você memoriza as estatísticas fixas de todos os monstros, certo? Qual é a diferença?

Enquanto ela falava, ela abriu sua grande caixa de lápis para me mostrar os montes de fichas dentro dela, todas as quais eu presumi que tinham o mesmo propósito das que ela acabara de me mostrar.

— Ah, droga...

— Por que você soa tão patético? Se você fizer isso, nunca ficará sem tópicos.

Claro, mas... se uma pessoa normal visse isso, sairia correndo.

— ...É só que, nossa. Você está certa de que não vou ficar sem tópicos de conversa...

Eu entendo o ponto dela, mas...

— Você está sugerindo que eu faça a mesma coisa?

Eu estava um pouco na defensiva.

— Obviamente. Mas você pode usar o método que quiser. Não precisa ser fichas. Você é bom em estudar, certo? Nesse caso, pode usar o que for mais fácil para você, desde que memorize alguns tópicos.

— T-tudo bem.

— Ok, então é isso quanto à instrução em conversas.

— Um, espere um segundo. Tem algo que não entendo.

— O que é?

— Supondo que eu consiga memorizar alguns tópicos, você sabe que eu sempre gaguejo quando falo com as pessoas. O que devo fazer sobre isso? Praticar dizer 'com licença' ou algo assim?

— ...Apenas se acostume com isso.

Disse Hinami, parecendo entediada e batendo o dedo na testa.

— De qualquer forma, você não vai dizer 'com licença' para as crianças da nossa classe, então qual é o sentido de praticar?

— Ah c-certo.

— Juro.

Ela suspirou, colocando suas fichas de volta na caixa de lápis e colocando a caixa na bolsa.

— Ufa... estou meio cansado depois de hoje.

Eu disse.

— Tem sentido. Conversamos sobre muitas coisas novas. Além disso, você compartilhou muitos dos seus próprios pensamentos. Mas esta noite, quando você chegar em casa, e depois amanhã à noite, quero que você revise nossa conversa, porque falamos sobre muitas coisas importantes.

— Revisar? Quer dizer apenas tentar lembrar do que falamos? Acho que posso fazer isso... mas não tenho certeza.

— Eu já imaginava. Aqui, pegue isso.

Ela tirou um dispositivo retangular fino do tamanho da palma da mão com botões de REPLAY e RECORD do bolso do peito.

— ...Um gravador?

— Sim, é um gravador de voz. Eu gravei toda a nossa conversa.

Quando ela conseguiu fazer isso?

— Ha-ha, você planeja tudo... Você comprou isso só para isso?

— Não, eu já tinha. Pode ser usado para muitas coisas. Só estou emprestando para você por um tempo.

Muitas coisas... Eu me pergunto o que inclui? Considerando aquelas fichas, porém, estou com medo demais para perguntar. Ela me entregou o gravador.

— O-obrigado.

Eu disse.

— Tem várias pastas diferentes, mas não há nada nelas. Se você apertar o botão REPLAY, pode ouvir a conversa de hoje. E aqui está o plugue para fones de ouvido.

— E-entendi.

Ela realmente pensou em tudo para mim. Deve ser mais uma habilidade dos especialistas em normies.

— Ok, então vamos falar sobre o plano para amanhã.

— Hã? Amanhã? Não é sábado amanhã?

Algumas escolas têm aula aos sábados, mas a nossa não era uma delas.

— Sim, e é por isso que é especialmente importante. Ou você já tinha planos?

— Não... eu estou livre. — Infelizmente. — Por quê? Você quer que eu pratique em casa?

— Não.

— O quê, então?

Ela respondeu como se a resposta não fosse uma enorme bomba.

— Vamos nos encontrar na Estação de Omiya às onze da manhã. Você vai passar o dia comigo.

Um encontro?! Ou... acho que não, mas... o quê?!



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