Volume 1

CAPÍTULO 2: É INCRÍVEL GANHAR UM MONTE DE NÍVEIS DEPOIS DE UMA BATALHA

FALTAVAM QUARENTA MINUTOS PARA A AULA COMEÇAR. Eu reservei um tempo extra, já que não sabia exatamente onde ficava a Sala de Costura #2, mas a encontrei mais facilmente do que esperava e cheguei lá com dez minutos de antecedência.

A sala tinha uma sensação antiquada, e a afirmação no quadro-negro de que era 26 de outubro em um dia de verão antecipado a fazia parecer algum tipo de ruína abandonada, mas de uma boa maneira. A poeira girando agitada pelos raios de sol tornava a atmosfera quase mágica. As máquinas de costura alinhadas em intervalos regulares perto das janelas pareciam ser de modelos da década passada, o que dava à sala uma sensação moderna, ao contrário do que se poderia esperar. A superfície de cerâmica deve ter sido branca uma vez, mas agora estava amarelada pelo sol, e algo na cor evocava uma breve sensação de nostalgia.

Enquanto eu absorvia a tranquilidade da manhã, Hinami entrou.

— Bom dia, Tomozaki-kun. Hoje é o grande dia, né?

— Uh, sim.

— A atmosfera aqui é meio legal, você não acha? — Ela olhou ao redor.

— Uh, hum, sim. Não é ruim. Parece um pouco como ruínas.

— Uau, você entendeu. Você tem bom gosto. Eu quis escolher um lugar bom, já que estaremos vindo aqui com frequência — explicou ela, sentando-se. — As cadeiras são desconfortáveis, porém — ela sorriu. 

Eu me sentei em frente a ela em um dos bancos instáveis. Ela estava certa, não era muito confortável.

— Eu não me importo. Na verdade, eu gosto de jogos retro e jogos de tabuleiro.

— Mesmo? Eu adoraria jogar com você algum dia.

— Beleza. Se você acha que Atafami é a única coisa em que sou bom, você terá uma surpresa desagradável.

— Ha-ha, eu não penso isso... Mas você pode ser quem terá uma surpresa.

Por um instante, tivemos um choque de orgulho como nanashi e NO NAME.

— De qualquer forma... qual é a pauta para hoje?.

— Certo. Vamos ao trabalho. Por enquanto, para atingir seu primeiro objetivo pequeno, continue o treinamento de força da máscara... E para o seu objetivo médio...

— E esse objetivo médio é ... encontrar uma namorada...

Honestamente falando, ainda não parecia real.

— Como você consegue ser tão obnóxios mesmo com a máscara? Deve ser seu presente especial.

— Isso não é da sua conta.

— De qualquer forma, está claro qual deve ser a tarefa de hoje.

— Uh-oh — engoli em seco.

— Hoje, seu trabalho é conversar com pelo menos três meninas na escola.

Hmm...

— Bem, parece fácil..., mas estou começando o treinamento de campo já?

Até agora, a única coisa que eu tinha feito era treinar os músculos faciais, e mal tinha começado isso.

— Você tem alguma pergunta?

— Não. Na verdade, não é um pouco cedo? Nada em mim mudou ainda, então...

Eu poderia entender conversar com as meninas depois de praticar a falar em geral ou terminar meu treinamento facial, mas se eu fizesse isso agora, elas não me chamariam de estranho?

— Entendo sua preocupação. Mas isso é necessário agora, então apenas faça.

— Bem... okay.

Eu já tinha decidido que, se fosse fazer isso, obedeceria completamente a ela.

— Há algumas coisas importantes que você precisa ficar atento, no entanto

— Pontos importantes?

— Sim. Primeiro, sobre o que você vai falar, tenho algumas diretrizes para isso.

— Tipo o quê?

— Deve ser algo como, 'Estou resfriado e acabei de ficar sem lenços; posso pegar um seu se você tiver?' Não importa se são lenços ou outra coisa, mas o resfriado deve ser o seu ponto de partida.

— Então qualquer coisa serve, desde que eu comece com o resfriado?

— Isso mesmo. Quando você fala com alguém com quem nunca conversou antes, precisa de uma razão imediatamente visível, ou então eles vão desconfiar de você. Especialmente se você estiver no fundo da hierarquia da classe. Eles vão se perguntar por que você está de repente falando com eles. Não é um problema se você conseguir iniciar uma conversa que soe natural, mas, conhecendo você, provavelmente diria algo estranho. Como eles verão sua máscara imediatamente, é perfeitamente normal dizer que você está com resfriado.

Ela me insultou no meio de sua pequena explicação, mas ainda era convincente.

— No pior dos casos, se você estragar tudo agindo de forma estranha e a garota se afastar, você pode consertar depois. Ela provavelmente vai culpar o resfriado e mudar de opinião sobre você, certo?

— C-Certo...

Ela até considerou a possibilidade de um fracasso patético. Muito obrigado. Provavelmente vou precisar disso.

— Há mais uma coisa com a qual você precisa ter cuidado. Certifique-se de conversar com elas quando eu estiver por perto.

— Por que você precisa estar por perto? É porque você quer ter certeza de que realmente conversarei com três garotas?

— Bem... mais ou menos — ela estava surpreendentemente rigorosa.

— Ok.

— Boa resposta.

— Ah, você acha que eu vou ter pelo menos três chances de conversar naturalmente com uma garota enquanto você está por perto?

— Definitivamente. Você pode falar com a Yuzu antes da aula porque ela senta ao seu lado. Yuzu Izumi. E depois tem a Mimimi na aula de economia doméstica, quando mudamos de sala — Digo, Minami Nanami. Você não precisará fazer um esforço extra para falar com ela.

— Você realmente lembra de onde eu sento.

— Ah, eu sempre memorizo onde todos sentam quando temos novos arranjos de assentos.

Estranho. Mas impressionante. Ela está certa de que eu deveria ter tempo para falar com essas duas se eu me esforçar... Mas...

— E a terceira?

— Você não pode tomar um pouco de iniciativa durante o almoço ou algo assim?

— Ah, certo.

Isso ia ser difícil.

Nossa reunião estratégica terminou com esse tom, e eu retornei à nossa sala de aula alguns minutos depois de Hinami. Foi quando percebi que era agora ou nunca para realizar minha tarefa de conversar com Yuzu Izumi. Eu não estou emocionalmente preparado para isso. Uau, isso vai ser complicado.

Bem, pense sobre isso. Yuzu Izumi, de todas as pessoas? Ela era uma das — crianças populares — ela não era a líder nem nada, mas era animada, barulhenta e ria muito — o tipo brilhante e feliz. Alguns dias ela usava uma gravata, o que também era prova de sua popularidade.

Aqui na Escola Secundária Sekitomo, as meninas podem usar tanto uma fita quanto uma gravata, mas parece haver um entendimento tácito transmitido de ano para ano de que as meninas impopulares não podem usar gravatas. Yuzu Izumi aparentemente não se importa com o que usa e alterna entre os dois quando lhe convém, o que sugere que ela se sente bastante à vontade em sua posição.

A propósito, a atitude muito moderna da nossa escola em relação ao código de vestimenta é popular entre os alunos, mas algumas pessoas acham que é bobo estar aqui mostrando em meio aos nossos campos de arroz. Assim é o destino de Saitama.

Bem, de qualquer forma. Yuzu Izumi usa sua saia curta, e seja qual for a sua escolha entre a fita e a gravata naquele dia, ela a amarra folgadamente e combina com um cardigã colorido. Ela é como uma modelo do tipo descolada. O tipo de garota de quem se diz que flerta com todos os garotos.

Ela também tem seios grandes. Ela é arrumada e fofa, o que a torna menos intimidadora, mas ainda assim, eu deveria dizer algo para Yuzu Izumi assim, do nada? Seria impossível sem um resfriado como desculpa, com certeza.

Quando cheguei à minha cadeira, Yuzu Izumi estava revirando sua bolsa como se estivesse procurando por algo. Assim que ela encontrasse, provavelmente se levantaria e iria até a janela se juntar ao grupo de crianças populares que estava lá. Isso significava que esse era meu único momento. Hinami estava à vista também... Lá vou eu. Espero que isso dê certo!

— Um, c-com licença, Izumi-san, eu h...

— Hã? Ah, Tomozaki-kun? Você precisa de algo?

Para surpresa de ninguém, ela parecia um pouco confusa pelo fato de eu ter falado com ela. Ainda assim, eu podia sentir o quão alegre e animada ela era pela maneira animada com que se virou na minha direção. A pequena abertura entre seus botões me deu um vislumbre de seus seios. Os botões estavam sob tensão por causa de seu peito grande, e rugas horizontais tensas se formaram entre eles e suas axilas.

Em outras palavras, a parte de cima dela estava tão apertada que eu não conseguia deixar de imaginar a curvatura de seus seios. Eles eram enormes. Por que as garotas — normais — sempre usavam camisas tão apertadas? Elas compravam um tamanho menor de propósito? Eu gostaria que não fizessem isso, porque eu não consigo parar de olhar.

— Uh, um, você tem um lenço? Estou resfriado, mas esqueci o meu...

Eu estava tentando agir doente, lutando desesperadamente para evitar olhar para o peito dela e treinando meu sorriso sob a máscara, então não tenho ideia de como estava minha voz.

— Oh, um, espere um segundo... Oh, desculpe, eu não tenho nenhum!

Ela juntou as palmas das mãos em uma pose de desculpas. A maneira como ela pressionou os braços a fez parecer ainda mais evidente. Não olha, não olha.

Mas ela respondeu casualmente, como um simples — Oops! — para alguém de seu grupo descolado. Ela me tratou mais como um ser humano comum do que eu esperava. Isso foi um alívio.

— Oh, está bem. Desculpe, está tudo bem.

Mesmo enquanto as palavras saíam da minha boca, eu estava pensando, o que estou dizendo? Desculpe, está tudo bem?

Um segundo depois, Yuzu Izumi se virou para a cadeira atrás dela e fez algo surpreendente.

— Ei, você tem um lenço?

Uau, isso foi inesperado. Muito inesperado. Seus reflexos quando se tratava de relacionamentos interpessoais eram incríveis. Quero dizer, veja como ela instintivamente pediu um lenço a outra pessoa. Eu estava pronto para isso?

— Sim, eu tenho... Por favor, sirva-se — respondeu a garota gentilmente, oferecendo imediatamente um pacote de lenços. Tudo estava acontecendo tão rápido. Será que ela mantinha um pacote de lenços sempre à mão em sua mesa?

Hum, essa é a Fuka Kikuchi-san, não é?

Eu poderia dar uma descrição rápida e genérica, como do tipo artístico, de pele clara e cabelos pretos curtos. Mas isso não faria justiça à sua aura única, sensível e à sua presença meio que mágica. Um olhar bastava para perceber que ela era bonita.

Ela tinha o hábito de olhar para baixo, o que destacava seus longos cílios. Por alguma razão, ela usava uma linguagem formal e educada mesmo com seus colegas de classe.

— Obrigada! Aqui está — Yuzu Izumi alegremente pegou os lenços de Kikuchi-san e os ofereceu a mim.

— T-Tudo bem.

Eu lancei um olhar rápido para cada uma delas em sequência para expressar minha gratidão. Aquela era toda a sinceridade que eu era capaz de mostrar.

Yuzu Izumi deve ter encontrado o que estava procurando enquanto procurava os lenços. Ela pegou um pequeno espelho de mão, levantou-se, me lançou um rápido tchau e foi até seus amigos.

Isso me deixou subitamente cara a cara com Kikuchi-san. Eu ainda não tinha assoado o nariz. Como ela me deu o pacote inteiro, eu não estaria livre até assoar o nariz e devolver o restante.

Kikuchi-san estava olhando de forma distraída na minha direção, aparentemente porque não tinha mais nada para olhar. Isso estava estranhamente desconfortável. Eu queria apenas fingir que estava assoando o nariz e devolver os lenços o mais rápido possível, mas o olhar dela era tão estranho — distraído, talvez, mas também intenso.

Seus olhos negros brilhavam de forma estranha, como tesouros em uma selva densa.

Eu estava sentado de lado na minha cadeira, o que significava que, ao assoar o nariz, os olhos brilhantes de Kikuchi-san captariam tudo. Mas virar para a frente também seria estranho, pois poderia parecer excessivamente deliberado.

Decidi permanecer onde estava, abaixar a máscara e assoar o nariz. Kikuchi-san provavelmente sentiu que desviar o olhar implicaria algo, então ela me observou distraída enquanto eu assoava o nariz com seus olhos misteriosos. O que está acontecendo? Um pequeno drama nascido de nossa relutância em nos mover.

Depois que a tarefa foi concluída, olhei para Kikuchi-san. Ela desviou o olhar ligeiramente.

— Uh, obrigado.

— De nada.

Se você só tivesse visto essa parte da interação, pensaria que éramos um par feliz e inocente de crianças. Depois de assoar o nariz, não tanto. Devolvi solenemente o pacote de lenços e fui jogar fora o que tinha usado antes, voltando então para o meu lugar.

Missão cumprida. Eu estava me perguntando se poderia contar isso como falar com duas garotas quando...

— Tomozaki-kun.

— Ah!

Fui surpreendido pela voz clara de Kikuchi-san, que parecia uma brisa soprando em meu ouvido e atingindo meu cérebro.

— O-O quê?

— Um...

Eu tinha feito algo errado? Ela parecia extremamente desconfiada.

— Um... eu queria te perguntar...

— Sim...?

— Um... por que...

— Por que o quê...?

— Por que... você estava sorrindo?

Ha-ha-ha...

Merda.

No final, consegui me salvar com uma resposta incoerente sobre dor nos dentes, o que me fez puxar os lábios para trás em algo que parecia um sorriso, mas a careta de Kikuchi-san quando ela fez a pergunta e a confusão em seus olhos me fizeram pensar que provavelmente não a convenci de nada.

Quando olhei para Hinami para ver o que ela pensava dessa pequena troca, ela soltou um suspiro dramático. Sim, eu estraguei isso. Kikuchi-san deve pensar que sou esquisito. Ainda assim, detalhes à parte, eu havia cumprido os requisitos básicos da tarefa.

Tudo o que eu podia fazer era encarar isso como um grande avanço e considerar como fazer melhor da próxima vez.

A próxima era a aula de culinária no quarto período. Mais uma vez, eu estava nervoso. Agora eu tinha que conversar com Minami Nanami, que é conhecida como Mimimi ou Nanana. Ela ganhou ambos os apelidos porque seu nome completo usa apenas dois sons diferentes.

Aparentemente, ela tem usado principalmente Mimimi ultimamente. Ela é uma beleza japonesa clássica — pele pálida, cabelos pretos longos e traços bem definidos — mas, para alguém com uma estética tão tradicional, ela tem uma personalidade brilhante e animada. Ela faz parte da equipe de atletismo com a Hinami.

Sempre que precisamos trocar de sala de aula e chego lá muito cedo, os outros solitários geralmente estão sentados em suas carteiras folheando seus livros didáticos ou anotações, tentando parecer legais e desinteressados ​​nos outros. Eu não gosto de me envolver nisso, então sempre mato o tempo indo primeiro para a biblioteca.

Não muitas pessoas vão à biblioteca em um intervalo de dez minutos, então geralmente sou apenas eu ou eu e mais uma pessoa. A propósito, finjo ler os livros — na verdade, estou trabalhando em táticas para Atafami. Mas hoje, não tive tempo de ir à biblioteca.

Tinha que chegar à aula o mais cedo possível para falar com Minami Nanami, ou talvez, se tivesse a chance, com outra garota.

Assim que o terceiro período terminou, peguei meu livro didático e caderno de trabalho de culinária, lápis e algumas folhas de papel em branco e saí da sala de aula.

Como esperado, o ar na sala de culinária estava cheio de apatia, com um toque extra. Dois solitários estavam sentados separados um do outro, assim como uma parte relevante — quer dizer, a pessoa que se senta ao meu lado — quer dizer... Ok, vou dizer logo: meu alvo, Minami Nanami.

Ah, vamos lá! Ela tinha seu caderno de trabalho aberto e lápis mecânico a postos. Definitivamente era uma oportunidade, mas se eu falasse com ela agora, quando a sala de aula estivesse em silêncio, nossas vozes seriam os únicos sons na sala. Eu não me importava se os outros dois solitários nos ouvissem, mas não gostava da ideia de que minha própria voz preenchesse a sala. Eu sei que isso é irracional, mas é verdade.

Isso estava difícil. O que fazer? Eu preferiria ter esperado... Ah, espera aí, a Hinami ainda não chegou. Sim, eu deveria fazer isso quando ela estiver observando, então não posso fazer isso agora. Bem, terei que esperar um pouco mais. Até mais pessoas chegarem.

Quando finalmente me sentei ao lado de Minami Nanami, eu já tinha preparado cem desculpas e estava em um estado mental seguro.

— Ei, qual é, Tomozaki-kun? Você chegou cedo hoje!

Ah, vamos lá!

Há apenas um segundo, ela estava focada silenciosamente em seu caderno de trabalho, mas no momento em que me sentei, ela começou a falar comigo como se fosse a coisa mais natural do mundo. O fluxo todo foi tão suave que demorou um segundo para registrar que ela tinha falado comigo. Mas não, ela definitivamente disse meu nome.

Eu não podia ignorá-la, mas se contasse a ela o motivo real de eu ter vindo tão cedo — especificamente para falar com ela — pareceria tão estranho que ela provavelmente me mataria. Infelizmente, sou o oposto de um bom conversador espirituoso.

Então...

— Não...

— Hm?

— Não, um, não foi de propósito.

— Ah, sério? Bem, sim, geralmente é assim, não é?

...Foi assim que nossa conversa aconteceu.

Uau, tudo o que eu disse foi — não foi de propósito — o que não tinha sentido nenhum, e mesmo assim ela respondeu — Bem, sim — tenho que admitir, as mulheres jovens de hoje têm uma habilidade incrível para se relacionar. Será que algum dia chegarei a esse ponto?

Mas o que fazer agora? 

Uma conversa tinha começado, o que significava que, se voltássemos ao silêncio, o clima daria seu veredito divino: que não estávamos fazendo nosso próprio trabalho, mas que começamos uma conversa e não podíamos continuá-la.

Não preciso dizer que não tinha tópicos seguros à mão, como o último episódio de um programa ou fofocas sobre fulano na nossa turma. No pior dos casos, eu poderia pedir um lenço como se a necessidade tivesse acabado de surgir, mas isso seria um pouco estranho.

Com a estranheza me pressionando, minha única opção era seguir em frente.

— Uau, isso foi incrível.

Ofereci timidamente, tentando fazer minha voz a mais tranquila possível.

— Oi? O que foi?

Nanami-san olhou fixamente com seus olhos redondos. Sua voz era clara, mas muito alta, o que significava que alcançava toda a sala.

— Na verdade, tudo o que eu disse foi 'não foi de propósito', o que não significava nada.

— O quê? — Ela estava confusa.

Claro que estava.

— Mas você ainda conseguiu concordar comigo... e me fez pensar como esta geração tem poderes incríveis de empatia...

Nanami-san ficou em silêncio, como se seu cérebro ainda não tivesse processado completamente o que eu estava dizendo. Nada de surpreendente. Eu acabara de dizer exatamente o que estava em minha mente um segundo atrás. 

Essa conversa estava um lixo.

...

...

Desajeitado. Bem, isso é sem esperança. Agora tudo estava estranho, e era totalmente minha culpa. Não havia como salvar isso. Como é que se faz uma conversa? Ela me disse para falar com garotas, então eu fiz, e olha onde isso me levou.

— Uh, descul—

— Ah-ha-ha-ha-ha-ha!

— Hã?

Ela estava realmente perdendo o controle. Os outros dois alunos na sala continuavam olhando para nós.

— Uh, o quê—

— O que está acontecendo, Tomozaki-kun! Você está falando como um velho! Ha-ha-ha-ha!

— O que está acontecendo? Eu estava apenas dizendo que esta geração...

— Ah-ha-ha-ha-ha! Pare! Pare de falar como apresentador de talk show! Ha-ha-ha!

Quanto mais seriamente eu tentava explicar, mais engraçado ficava. O que estava acontecendo? Enquanto ela ria de mim, outros alunos começaram a entrar na sala de aula e nos olhavam com curiosidade. 

Tomozaki e Mimimi?!!

— Não, é que, tipo, ouvi falar disso em algum lugar, mas não parecia algo real, e quando vi com meus próprios olhos, deu mais peso à teoria...

— Ah-ha-ha-ha! Você está me matando!

— Eu só achei que era um exemplo valioso...

— É disso que estou falando — você soa como um velho! Você vive no meio de exemplos, afinal! Ah-ha-ha-ha!

— Minmi, o que está acontecendo? — Hanabi Natsubayashi, que estava na nossa metade da sala para a aula de culinária, sentou-se em frente a Nanami-san. Ela é pequena e delicada, com cabelos cortados, um rosto infantil e movimentos muito compactos, como um esquilo.

— Oi, Tama! Ainda pequena, eu vejo! — Nanami-san disse, mexendo no cabelo de Natsubayashi-san.

Não sei como isso começou, mas todos a chamam de Tama. como o nome popular para gatos. Tama chama Nanami-san de Minmi. Não sei de onde isso veio.

— Pare com isso! Só responda à minha pergunta! — Natsubayashi-san afastou o braço de Nanami-san com uma mão e a repreendeu com firmeza, apesar de sua altura de menos de cinco pés. Ainda assim, sua resposta dura não tinha muito veneno.

— Você é assustadora, Tama!

— Não mude de assunto! Explique!

— Desculpa, desculpa. Tomozaki-kun está falando como um velho. Ele disse — o que você disse? Esqueci!

— Hã?!

— Hee-hee-hee. Acho que você deveria ter chegado mais cedo!

— Isso não é verdade! Você! Uh, Tomozaki, né? Me diga o que aconteceu!

Em seguida, ela virou sua língua afiada para mim, mas o que doeu foi o fato de ela ter esquecido meu nome.

— Quem, eu?

— Há outro Tomozaki por aqui?

— Não...

— Então pare de enrolar!

— Boa sorte, Tomozaki! — Nanami-san brincou, com os punhos pressionados contra as bochechas.

— O que você quer dizer, boa sorte...? Uh... Um — eu gaguejei uma explicação. Enquanto isso, Hinami entrou na sala de culinária com algumas amigas, sorrindo. Quando viu o que estava acontecendo, ficou paralisada por alguns segundos e depois se recuperou rapidamente.

— E foi isso que aconteceu.

— Ah-ha-ha-ha-ha!

— Isso não tem graça nenhuma — disse Natsubayashi-san.

— O quê? É hilário!

— Não é mesmo! Você é maluca!

— Ah, você é tão malvada! Ah-ha-ha!

Natsubayashi-san realmente parecia gostar de desanimar Nanami-san. Nem um vestígio de empatia. Acho que nem todos na nossa geração são iguais. De qualquer forma, Nanami-san riu de mim quando eu estava tentando ser sério, então eu estava do lado de Natsubayashi-san.

— Um, eu também não acho engraçado...

— O quê?!

— Não é verdade? Como eu disse, Minmi, você é maluca!

— Ah, eu não diria isso! Você só não entende porque é uma criança! — disse Nanami-san.

— Cala a boca! Você é tão irritante!

— Ha-ha-ha, olha só você! Vamos lá, Tomozaki, você não acha que a Tama é uma criança?

Oi? Ela está me perguntando?! Ela é uma criança? Eu não acho, mas não faço ideia do que dizer. O que eu faço? Não sou habilidoso o suficiente para isso. Minha única opção era dizer o que eu estava pensando novamente.

— Um... uh... eu não sei se ela é uma criança

— Claro que você sabe!

— Um, sim, mas, tipo, o que eu senti antes foi... Você tinha poderes incríveis de empatia, mas agora mesmo, Natsubayashi-san te cortou, certo? Então, todos são diferentes, e você não pode fazer julgamentos precipitados sobre todas as jovens...

— Ah-ha-ha-ha-ha-ha! Ouça ele!

...

Nanami-san explodiu de risos, enquanto Natsubayashi-san olhava para cima para mim, descontente.

— Então a conclusão que posso tirar é que você não deve generalizar com base em um único exemplo... Isso é mais ou menos isso...

— Pare já! Ah-ha-ha! — Como de costume, Nanami-san estava se divertindo. Natsubayashi-san ignorou suas risadas ensurdecedoras e se dirigiu a mim.

— Isso...

— Hm?

— Isso foi meio engraçado!

O que foi?

— Mimimi, Hanabi e... Tomozaki? O que está acontecendo com vocês?

No meio da nossa conversa confusa, ouvi uma voz familiar. Eu estava tão atrapalhado que havia esquecido a hora e nem tinha percebido alguém se aproximando de nós. Na verdade, eu tinha previsto isso, e era exatamente o que eu estava com medo. Eu deveria ter encerrado essa conversa mais cedo.

Tomozaki, Natsubayashi, Nanami. Sentamos na ordem de nossos números de estudante na aula de culinária. E entre Tomozaki e Natsubayashi estava — Nakamura.

— O que está acontecendo com vocês dois? Se divertindo com o Tomozaki?

Ele se aproximou de nós, franzindo a testa de forma mal-humorada e acompanhado por dois outros caras de seu grupo, Mizusawa e... Takeishi, acho? Ambos eram membros sólidos da chamada Facção Nakamura, com Nakamura no centro e os outros dois o apoiando. Mizusawa, em particular, não era apenas um seguidor, mas mais como um conselheiro-chave. Até eu podia perceber que ele era um operador astuto.

— Ei, Nakamu, escute isso! O Tomozaki é realmente engraçado...

— Ah, é mesmo? O Tomozaki é? — Nakamura olhou para mim. Sua boca estava sorrindo. Seus olhos não estavam.

— O que você quer dizer?

Seus olhos brilhavam como os de uma cobra pronta para cravar suas presas no meu coração. O que ele estava planejando fazer comigo? Uma semana já havia passado desde o nosso confronto no Atafami. A tensão da época em que todos basicamente adivinharam o que aconteceu havia dissipado, mas agora ele tinha seus seguidores com ele, o que significava que ele provavelmente queria parecer ainda mais durão do que o normal.

— Ele soa exatamente como um velho em um programa de entrevistas!

— O quê? Um velho em um programa de entrevistas? — Ele perguntou de mau humor.

— É!

— Não entendi — disse Nakamura. Mizusawa, que estava ao lado dele, virou o olhar para mim sem mover a cabeça.

— Conte-nos, Tomozaki! — Mizusawa disse.

Talvez ele tenha adivinhado as intenções de Nakamura; ele dirigiu a pergunta diretamente para mim. Eu não gostei da maneira como ele me chamou pelo nome. Será que ele achava que eu começaria a gaguejar se tivesse que dizer mais do que algumas palavras? Estava brincando comigo? Não me subestime, cara. Posso não ser suave, mas sei me explicar muito bem. Além disso, sou muito melhor que vocês no Atafami.

E expliquei.

— Foi isso que aconteceu.

— Ah-ha-ha. Entende o que eu quero dizer?

Como era de se esperar, Nanami-san não riu tão alto desta vez, já que era a segunda vez que ela ouvia. Quanto a Natsubayashi-san, ela ficou quieta desde que Nakamura e sua turma apareceram. Ela estava intimidada porque três caras populares estavam lá?

— E? — disse Nakamura quando terminei de falar.

— O quê?

— Só isso?

— Sim...

— Isso não é engraçado — ele se virou para seus dois seguidores. — Certo?

— Sim, não é engraçado de jeito nenhum — concordou Takei gravemente.

Mizusawa olhou para ele e começou a gargalhar alto.

— Ah-hah-hah!

— Vocês têm um senso de humor estranho — comentou Nanami-san.

— Uh, você é quem tem! — Retrucou Nakamura.

— O quê?! Nakamu, você é duro!

Todo mundo, exceto por eu e Natsubayashi-san, o resto estava se divertindo. As coisas estavam ficando muito desconfortáveis. Comecei a pensar que a única razão pela qual isso ainda era suportável era por causa da expressão e do tom cômico de Nanami-san.

— Ok, então... vamos votar? — Propôs Mizusawa.

— Brilhante — disse Nakamura, como um general se curvando ao seu estrategista.

— Uh-oh, isso parece uma armadilha — disse Nanami-san, rindo.

— Ok! Quem acha que a Mimimi é estranha? — Takei votou entusiasticamente, agindo como se este fosse finalmente o grande momento dele. Nakamura, Takei e Mizusawa levantaram as mãos.

— Ah-ha-ha-ha! Ei! — Brincou Nanami-san. Tive a sensação de que ela estava se enrolando, mas se não tivesse, acho que eu teria sufocado.

— Porra, não temos maioria — brincou Mizusawa.

— Espera, aqueles caras não votaram, então ainda não sabemos!

...Um jogo bizarro havia começado. O que eu deveria fazer? Em primeiro lugar, eu não gostava da ideia de participar desse estranho jogo de votação. Eles provavelmente diriam que era mais brincadeira do que bullying, mas eu sou ruim em julgar essas coisas. Além disso, Natsubayashi-san estava ficando mal-humorada. A intimidação não explicava isso. Que relações estavam em jogo aqui?

— Ah, vá lá, Nakamu! Você com certeza sabe!

— Ok, quem acha que o Shuji é estranho?

Nanami-san levantou a mão de forma cômica. Natsubayashi-san continuou olhando para o chão, ignorando o que estava acontecendo. Algo fora do comum estava definitivamente acontecendo. Eu examinei as expressões de todos e tentei entender o que era. 

O que é isso? O que eu devo fazer?

Pensei nisso à minha maneira totalmente inexperiente em relação a relacionamentos humanos.

...Se eu não levantasse a mão agora, eles definitivamente me perguntariam por que eu não tinha votado em nenhum dos dois. E, com base no que eu tinha observado até agora, se eles fizessem a mesma pergunta a Natsubayashi-san, havia uma grande probabilidade de ela ignorá-los. O que significava que minha decisão de levantar a mão ou não neste momento determinaria se Natsubayashi-san seria a única a ser incomodada por não votar.

Em outras palavras, se eu levantasse a mão, Natsubayashi-san ficaria sozinha. Se eu não levantasse, haveria dois de nós para zombar. E eu seria o principal alvo de seus ataques. O que significa que seria mais sensato para mim não levantar a mão. Sim, definitivamente. Vou manter a mão abaixada.

Mas o que é isso afinal? Como Natsubayashi-san acabou nessa posição? Por que Natsumi ainda está rindo? Ela não percebe o que está acontecendo? Ou isso não é realmente grande coisa, e eu estou exagerando? Deus, eu não faço ideia! Conversas em grupo são muito difíceis!

— Hey! Eu voto no Nakamura também! — Nesse momento, ouvi uma voz alegre e amigável atrás de mim. Não — uma voz excessivamente alegre, excessivamente amigável e definitivamente falsa.

— Você nem sabe do que estamos falando, Aoi — o tom de Nakamura era alegre, mas também ameaçador.

— Aí, mas eu estava ouvindo tudo de lá. Eu pensei que também poderia votar

— De jeito nenhum. Isso é um problema do Grupo 4. Tchau, forasteira — Nakamura acenou com as mãos como se estivesse afastando Hinami. Seu sorriso perfeito permaneceu firmemente em seu lugar.

— O quê? Mas você foi o único que perdeu para o Tomozaki-kun no Atafami.

O ar congelou.

Hinami falou em voz alta o suficiente, e o assunto era um tabu que ninguém na classe jamais mencionaria. Todos os outros nos observavam casualmente desde que Nakamura chegou, então todos ouviram o que ela disse. Por um segundo, o sorriso sempre presente de Nanami-san pareceu se contorcer.

— Hey, Aoi.

— É muito barato usar um voto para provocar alguém só porque você está chateado por ter perdido! Foi por isso que Shimano te largou! Ela disse: 'Garotos mais novos são tão imaturos!' — Hinami mudou sua voz para imitar a garota mais velha e fez mímicas.

— Você... só cale a boca

— Ah-ha-ha-ha! Você está igualzinho a ela!

— Pfft, ha-ha!

— Ha-ha-ha!

Não apenas Nanami-san, mas Takei e Mizusawa também estavam rindo. As outras crianças que estavam assistindo também estavam rindo.

Era incrível.

— Então, comigo e Mimimi, já são dois votos. Quem mais? — Hinami olhou para mim... Ah, entendi.

— Eu também voto no Nakamura

— Oh, droga! — Nakamura disse. Ele parecia vagamente humilhado, mas ao mesmo tempo alegre. Era assim que Hinami funcionava. E então...

— Ei — eu disse baixinho, lançando um olhar para Natsubayashi-san.

...

Ela levantou a mão silenciosamente.

— São quatro votos! Parece que Shuji é o único com senso de humor estranho!

— Bom trabalho, Nakamu! — Hinami e Nanami-san estavam provocando-o, mas carinhosamente.

— Bem, a maioria falou — Nakamura brincou, franzindo o cenho.

— Deve querer vingança! Você deveria jogar contra o Tomozaki-kun no Atafami novamente!

Toda a classe explodiu em risos. O que estava acontecendo? O tabu de repente se tornou uma piada. O que era isso?

— Tudo bem, tudo bem! Tomozaki, estou esperando por você! — Nakamura declarou teatralmente enquanto me olhava. Quando nossos olhos se encontraram, vi genuína raiva. Ui. É por isso que não gosto de olhar nos olhos das pessoas.

— Uh, sim, mal posso esperar.

A professora de culinária chegou naquele momento. Hora perfeita. Será que Hinami planejou isso também? ...Não, de jeito nenhum.

— Obrigada, Aoi! Isso foi incrível!

— Ha-ha, obrigada, Hanabi — Assim que Nakamura saiu da sala depois da aula, Natsubayashi-san correu até Hinami e a abraçou.

— Eu estava prestes a arruinar tudo de novo.

— Pensei nisso. É tão fácil dizer o que você está pensando — Hinami disse, acariciando a cabeça de Natsubayashi-san enquanto a abraçava. Se eu tivesse visto apenas essa imagem, teria pensado que era uma cena feliz, mas aquele comentário sobre — estar prestes a arruinar tudo — foi interessante.

— Bom trabalho, Tama! Você fez bem! — Nanami-san acrescentou, correndo e abraçando Hinami e Natsubayashi-san por trás com o mesmo entusiasmo que Natsubayashi-san.

Então, lá estava Hinami, com Natsubayashi-san abraçando-a pela frente e Nanami-san abraçando-a por trás. Uma garota fofa encaixada entre duas belas, como um sanduíche de garotas do ensino médio deslumbrantes.

— Ei! Saiam de cima de nós! — Natsubayashi-san repreendeu em seu típico tom autoritário, mas Nanami-san a ignorou completamente.

— Você foi tão boa! Você merece um elogio! — Nanami-san bagunçou o cabelo da menina menor com as duas mãos. Quando Natsubayashi-san empurrou o cabelo dela em silêncio, Nanami-san se moveu para baixo e bagunçou o cabelo dela. Então, para minha surpresa, ela mordeu a orelha de Natsubayashi-san.

— Eep! — Nanami-san parecia muito satisfeita com essa reação e traçou seus dedos brancos e esguios desde a base do pescoço de Natsubayashi-san até a parte inferior da orelha e entre os lábios. Em seguida, no momento certo, quando Natsubayashi-san estremeceu, ela deu uma lambida na orelha dela e a fez pular novamente.

— Ei, Minmi...! Isso...ah! Co-coça! — Natsubayashi-san se agarrou a Hinami, gritando como se não suportasse mais. Nanami-san, com os olhos meio fechados e as bochechas vermelhas, soprou um sopro quente.

— Ei, Mimimi, agora você foi longe demais — Hinami disse, com um pouco de descrença, enquanto dava um tapinha suave na cabeça de Nanami-san. Nanami-san olhou para Hinami com o mesmo fascínio, que depois se transformou em um sorriso irônico. Hinami deu um passo para trás ligeiramente, mas não podia se afastar muito com Natsubayashi-san ainda agarrada a ela. Talvez adivinhando o que estava prestes a acontecer, Natsubayashi-san a deixou ir, mas era tarde demais — Hinami estava exatamente onde Nanami-san queria.

— Hmmm... não esperava que você dissesse algo assim, Aoi — ela disse, tão animada como sempre, mas com um toque de malícia mais madura.

— Cutuque!

— Ooh!

Nanami-san cutucou Hinami levemente nas costelas do lado direito, e Hinami respondeu com um som tão sexy que eu nunca teria imaginado a partir de seu comportamento anterior. Nanami-san lentamente, provocativamente, subiu seus dois primeiros dedos pelo lado de Hinami até a axila e cutucou três vezes.

— Este é o seu ponto fraco, não é?

— Heeey! Mimimi...!

Hinami prendeu ambos os braços ao lado do corpo e afastou a mão que havia começado a subir novamente. Nanami-san aproveitou a oportunidade para se afastar de Natsubayashi-san e circulou atrás de Hinami. Então ela envolveu a cintura de Hinami com o braço direito e agarrou o lado esquerdo dela através da abertura entre a blusa e a saia. No próximo momento, ela tinha segurado o queixo de Hinami com a mão esquerda e estava acariciando os lábios com um dedo. Ao mesmo tempo, seu cotovelo esquerdo prendeu o braço esquerdo de Hinami. Ela realmente tinha alguma técnica.

— O quê? Você disse alguma coisa? Aoi? — Nanami-san parou de se mover e sussurrou a uma distância mínima da bochecha de Hinami.

— Eu disse pa-pa-para...!

Assim que Hinami começou a falar, Nanami-san desenhou um círculo com o dedo que estava apoiado no lado dela, e sua resposta se transformou em um grito alto. Todos os caras desajeitados da classe, inclusive eu, a olharam com cara de tédio.

— O que foi isso? Me diga de novo.

— Apenas... me... deixe — Hinami conseguiu dizer, dobrando o braço direito que ainda estava livre no cotovelo e esticando-o um pouco. Ah, é para isso que ela está se preparando. Se preparando para um golpe de cotovelo.

— Ooh...

— Eee?!

Num piscar de olhos, a mão esquerda que estava acariciando os lábios de Hinami se enroscou sob a axila direita dela, em uma espécie de abraço. Hinami respondeu fechando a axila direita, falhando assim em sua tentativa de golpe de cotovelo. Nanami-san inclinou a cabeça e a aproximou tanto do rosto de Hinami que parecia que ela ia beijá-la, mas tudo o que ela disse foi um satisfeito — pena — ela sorriu misteriosamente...

E então, como se tivesse tido uma ideia, Hinami virou o rosto na direção de Nanami-san. Elas se encararam, olhos vidrados. Agora o que está acontecendo?

Hinami aproximou os lábios dos de Nanami-san. Hã? Sério? Quando eles estavam tão próximos que mal dava para dizer se estavam se tocando ou não, ela os separou ligeiramente. Nanami-san abriu lentamente os próprios lábios.

Mais perto e mais perto, e então...

Foooh!

Hinami soprou com força na boca de Nanami-san. Esse ataque inesperado acertou em cheio, e Nanami-san afrouxou sua pegada e deu alguns passos para trás. Pressionando seus lábios com a ponta do dedo, ela olhou para Hinami com uma mistura de frustração, prazer e satisfação. Suas bochechas estavam vermelhas.

— Sim, como eu pensei. Não sou páreo para você, Aoi

Hinami parecia estar cansada.

— Caramba, Mimimi, você é tão boba! Já desistiu? — Ela repreendeu em um tom um pouco infantil.

— Bem, só se 'desistir' significar — Nanami-san virou seus olhos nublados em direção ao teto. — Que da próxima vez não vou deixar você ganhar — ela estendeu a língua de forma boba e piscou.

— Ei! O que ela quer dizer é que não vamos mais tolerar o seu assédio sexual! — Natsubayashi-san disse, apontando o dedo na direção de Nanami-san.

— Ah-ha-ha. Você ainda está apaixonada pela Aoi, vejo.

— Não estou! — Natsubayashi-san virou o rosto antes de continuar. — Obrigada pelo que fez antes, Minmi —sua voz ficou subitamente séria, e seus olhos completamente sinceros.

— O que você agradece? Eu não fiz nada — disse Nanami-san.

— Não me venha com essa! Deixe-me agradecer!

— Oh? Às vezes você diz coisas complicadas... Você... melhor não agir assim amanhã!

Apesar do pequeno trocadilho de Nanami-san, a conversa parecia ter um significado mais profundo. Minha suposição era que Natsubayashi-san estava agradecendo por ela ter agido tão alegre e feliz durante a troca com Nakamura. Isso faria sentido — ela realmente nos salvou.

Agora que a ação entre garotas tinha terminado, os espectadores do sexo masculino se afastaram. Eu pensei em fazer o mesmo, mas mudei de ideia e fui até as três garotas. Afinal, eu tinha feito parte do incidente anterior, e achei que a presença de Hinami facilitaria a conversa com elas. Principalmente, no entanto, eu queria me aproximar do meu objetivo.

— Um, Hinami... Hinami-san, obrigado por isso. Você realmente me salvou — Hinami respondeu com um sorriso genuíno, não um de seus sorrisos de vendedora.

Honestamente, ela tinha uma personalidade dividida?

— De nada! Você é realmente engraçado, Tomozaki-kun. Eu estava sorrindo o tempo todo enquanto ouvia vocês.

Quase ri com o quão feminina ela soava.

— Eu só disse o que estava pensando...

— Eu percebi

— Ah-ha-ha-ha! Ele ainda está falando!

Ao lado de Hinami sorridente, Nanami-san estava rindo novamente.

— Você ri demais, Nanami-san — eu disse.

— Desculpe, desculpe... oh, e me chame apenas de Mimimi!

— Um...

— Só os professores a chamam de Nanami-san! — Isso foi Hinami. Basicamente, ela estava me ordenando a chamar Nanami-san de Mimimi. Tudo bem, então. Pelo menos não era um tratamento informal total.

— Um, ok, Mimimi, então.

— Obrigada, Tomozaki!

— E você, Hanabi? — Hinami perguntou.

— Tanto faz.

— Ok... Tama, então?

— Aoi?! — Natsubayashi-san exclamou surpresa, olhando para cima para Hinami.

— Ah-ha-ha-ha! Por que não? Somos todos amigos!

— Um... Tama? Por que Tama? Seu nome é Hanabi Natsubayashi, certo? — Eu perguntei.

— Bem, porque Hanabi significa fogos de artifício, e quando as pessoas assistem fogos de artifício, elas gritam 'Tamaya', certo? Além disso, porque soa fofo! — Nanami-sa — quer dizer, Mimimi — explicou animadamente.

— Sim! Você não se importa, Tama? — Hinami perguntou.

— Espera, você também está me traindo?! — Ela retrucou.

Mais uma vez, Hinami estava me dando uma ordem. Ia ser difícil, mas, novamente, não tão difícil quanto abandonar completamente as formalidades.

— Um, ok, Tama... chan?

— Ah-ha-ha-ha! Quando você diz assim, ela realmente parece um bichinho de estimação!

— Pare de mexer com os nomes das pessoas, Minmi! — Tama-chan repreendeu.

— Um, então...? — Eu estava confuso, mas naquele momento Tama-chan entrou na conversa.

— Está tudo bem, apenas me chame de Tama-chan... eu já estou acostumada de qualquer maneira.

Ela não parecia chateada. Na verdade, ela estava agindo de forma estranhamente sincera. Parecia estranho quando todos os outros estavam brincando, mas eu não acho que ela estava mentindo, de qualquer maneira.

— Ok, então vamos com Tama-chan... Obrigado — eu disse.

— Você não precisa agradecer o tempo todo!

— Eh-heh!

Ela era uma pessoa estranha.

Nós quatro conseguimos ter uma pequena conversa durante a caminhada de um ou dois minutos até a próxima aula. Claro, Hinami estava me empurrando o tempo todo. Se você estivesse se perguntando, Tama-chan disse que a razão pela qual ela chama Mimimi de Minmi é porque Mimimi é simplesmente muito difícil de dizer.

E assim foi o meu louco primeiro dia.

Eu só tinha estado esperando na Sala de Costura nº 2 por alguns minutos quando Hinami chegou.

— Ei — eu disse.

— Oi. Vamos começar.

— Oh, ok.

Estávamos começando de uma maneira mais solene do que eu esperava, o que me deixou nervoso.

— Primeiro, parabéns por cumprir sua missão.

Oh, um elogio da chefe.

— O-Obrigado.

— Tecnicamente falando, não está claro se você falou com elas ou elas falaram com você, mas como você conversou com quatro garotas em vez das três que eram requeridas, vou deixar passar.

— Bem, é um alívio. Eu estava preocupado se contaria ou não.

A verdade era que, dessas quatro, eu só havia iniciado com uma.

— Então, como foi? Quais são suas impressões?

— Minhas impressões?

— Qualquer coisa está bem. O que você lembra com mais clareza?

— Isso é difícil. Há tanta coisa — eu cocei a cabeça. — Mas eu acho que a coisa que eu lembro com mais clareza... foi na sala de culinária... A coisa sobre Atafami.

— Que coisa sobre Atafami?

— É, você disse que o Nakamura perdeu no Atafami na frente de todos.

— Ah, isso — Hinami disse, sorrindo.

— E você transformou isso em uma piada. Isso me surpreendeu.

— Certo, mas este é um momento de autocrítica. O foco deveria estar no que você fez, não em mim...

— Ah, sim.

— Está tudo bem. Eu tinha que fazer isso de qualquer maneira.

— Como assim?

— Ele parecia ter um rancor muito forte contra você por tê-lo derrotado. Como se ele não quisesse mencionar, ou como se fosse seu passado sombrio... você deve tê-lo realmente esmagado, não é?

— Bem, sim... Ele não conseguiu tirar uma única vida minha.

— Era o que eu imaginava — ela disse com outro sorriso.

— Isso foi ruim?

— Não particularmente. Mas foi ruim que todos estavam pisando em ovos. Por causa disso, todo o arrependimento dele por perder ficou preso dentro dele. Então, quando ninguém pôde mencionar isso na escola, também ficou estranho, tenho certeza, ele tinha todos os tipos de outros sentimentos que não podiam ser liberados.

— Então foi isso que estava acontecendo.

— Sim. E quanto mais o tempo passava, mais esses sentimentos negativos se acumulavam até que ele estava como um balão prestes a explodir. E quanto mais difícil ficava para alguém mencionar isso. Bem, pelo menos é a minha opinião.

— Faz sentido.

— Uma vez que as coisas chegaram a esse ponto, Nakamura foi mais duro com você, e o balão ficou mais difícil de estourar. Como Nakamura é um membro influente da classe, a grosseria dele com você desestabilizou sua posição. Isso seria um problema se você quiser ser bem-sucedido no mundo real, e é por isso que foi necessário furar o balão o mais rápido possível e simplesmente explodi-lo.

— Explodir.

— Sim. Basta dar uma cutucada dizendo algo na frente de todos e transformá-lo em uma piada.

Transformá-lo em uma piada... ela fez parecer tão simples.

— Não foi tão fácil assim, foi?

— Bem, em termos de técnica, não foi tão difícil, mas duvido que alguém além de mim pudesse ter feito isso — ela sorriu amplamente.

— Ninguém mais é corajoso o suficiente.

— O-O-Ok.

Essa garota é realmente poderosa.

— Então foi isso que eu fiz. Nakamura vai relaxar um pouco agora também.

Nunca teria imaginado que tanto pensamento estava envolvido nesse pequeno truque.

— Voltando ao assunto. O que você lembra mais sobre o que fez hoje?

Hmm, o que eu fiz...

— Provavelmente como eu fui sem tato nas conversas.

— Sem tato como?

— É difícil explicar. Como, dizer a coisa certa para manter as coisas divertidas para as pessoas.

— Entendi... mas todos pareciam se divertir na aula de culinária. Eu fiquei surpresa.

— Uh... aquilo foi diferente.

— Diferente?

— Eu estava apenas dizendo o que me vinha à mente, e aconteceu de ser algo engraçado. Não estávamos realmente nos comunicando.

— Se você disse o que estava pensando, isso não é comunicação? — Ela estava me estudando.

— Eu suponho.

— Você está entendendo algo errado.

— O quê?

— Ok. Conversa é essencialmente dizer a outra pessoa o que você está pensando.

— Um, mas... não ambos acabam impondo suas opiniões um ao outro?

Conversa deveria ser sobre respeitar as opiniões uns dos outros e empatizar, certo? Como a Mimimi fazia.

— De jeito nenhum. Você está pensando que conversa significa apenas pegar as ideias da outra pessoa e simpatizar ou empatizar com elas, mas isso não é o cerne da questão.

Assim como ela disse, eu achava que conversa era o mesmo que simpatizar ou empatizar. Afinal, todo mundo fazia isso — adultos no mundo exterior e meus colegas de classe. Pelo menos, era assim que parecia para mim. E como eu era ruim nisso, sempre me sentia desconfortável.

— Não é?

— Não. Claramente, seria arrogante ignorar o que a outra pessoa disse e depois dizer algum pensamento completamente não relacionado. Mas foi isso que você fez, não foi?

Ummm...

— Eu não?

— Não. Você explicou. Você ouviu o que a Mimimi disse e isso a fez pensar como os jovens de hoje têm poderes incríveis de empatia. Então você disse isso. O que significa que você ouviu o que ela disse e teve um pensamento relacionado próprio. Nesse caso, você não estava sendo arrogante.

— Uh, eu acho que sim?

— É verdade que simplesmente simpatizar com o que alguém diz muitas vezes suaviza a interação. Mas ouça. As pessoas têm intuição surpreendentemente afiada. Eventualmente, elas vão descobrir o que você está fazendo. A longo prazo, as pessoas confiam naqueles que não simplesmente simpatizam com o que dizem, mas pausam para pensar por si mesmos e depois dizem o que pensaram. Você fez isso. Muitas pessoas não conseguem e sofrem por isso.

— E-Eu entendo.

Eu meio que entendi, mas meio que não.

— Portanto, no que diz respeito a isso, você se saiu extremamente bem para um estreante no campo de hoje.

Mesmo? Extremamente bem era uma ótima notícia.

— Mas você se saiu terrivelmente em outras áreas. Nada positivo de jeito nenhum. A coisa com a Kikuchi-san foi horrível. Você pediu a ela para te emprestar alguns lenços de papel, e quando ela o fez, você ainda estava sorrindo sob a máscara e depois fingiu assoar o nariz. Você deveria estar se afundando no chão de vergonha.

— Hinami... Se você está usando o método do policial bom e policial mau, seu policial mau é um pouco forte demais...

— O que você está dizendo? Isso nem é tudo. Você conversou com alguém na aula de culinária quando eu não estava lá. O que eu te disse? Só faça isso quando eu estiver por perto.

— Não, aquilo foi...

— Escute. Desta vez, o Nakamura se intrometeu depois que eu cheguei, então funcionou, mas você sabe o que teria acontecido sem mim? A Hanabi poderia ter explodido, e você poderia ter virado piada na escola. Se isso acontecesse, você estaria se afastando, não se aproximando, de alcançar seus objetivos.

— D-Desculpe... Então, o motivo de você ter me dito para esperar até você estar lá era para que você pudesse me resgatar se algo ruim acontecesse?

— Obviamente. Se eu só quisesse saber se você tinha feito, eu poderia perguntar diretamente para as garotas depois ou descobrir de alguma outra forma.

— H-Hinami...

Ela era tão gentil...

— Você não está começando a pensar que eu me importo com você, está? Porque tudo com que me importo é a minha decisão de ajudá-lo a alcançar seus objetivos, e eu não quero que todo o meu trabalho seja desperdiçado.

— Ah, certo.

— Além disso, não é apenas para que eu possa te resgatar. Eu quero observar como as garotas reagem quando você fala com elas, o tipo de conversas que você tem e suas habilidades de conversação antes de decidir para onde vamos a partir daqui. Quero dizer, antes de decidir com quem você vai se tornar amigo e que tipo de prática você fará.

— Você pensou em tudo isso?

— Claro. Se você está planejando enfrentar um chefe, não vai vencer a menos que seu nível seja alto o suficiente para enfrentar o que eles vão te lançar.

— Isso — eu estava sendo sincero. — Está absolutamente certo.

...Honestamente, toda vez que falávamos sobre jogos, sempre estávamos na mesma sintonia.

— Ok, então. Quanto aos próximos passos... tire a máscara por um minuto.

— Uh, certo.

Fiz o que ela disse, e meu grande sorriso finalmente viu a luz do dia.

— Tente voltar ao seu rosto normal novamente.

Segui suas instruções.

— Hmm, entendi. Seu treinamento está mostrando resultados

— Hm?

— Você vê?

— Uau...

Ela estava segurando um espelho de mão, e o que eu vi me surpreendeu. Eu pensei que estava fazendo minha expressão padrão, mas em comparação com a última vez que ela me mostrou um espelho na frente do rosto, a área ao redor da minha boca definitivamente parecia mais firme.

— Até mesmo dois dias fizeram diferença. Você deve ter trabalhado bastante. Bom trabalho.

— Bem, você me disse para fazer constantemente.

— Sim... você vai se sair bem. A partir de agora, você não precisa fazer isso o tempo todo. Você pode relaxar quando estiver falando com as pessoas ou se estiver cansado. E você pode tirar a máscara na frente das pessoas. Apenas lembre-se de verificar sua boca em um espelho de vez em quando para aprender quanto esforço precisa manter naturalmente firme, e então trabalhe para manter constantemente esse estado. Quando você puder fazer isso sem pensar, seu treinamento estará completo.

— Uau, sério? Ok, então!

Eu estava progredindo e estava determinado a continuar assim.

— É isso que tenho para você. Você tem alguma outra preocupação?

— Bem... a coisa com a Natsubaya — quero dizer, a Tama-chan... Foi como... A forma como ela estava agindo...

— Ah, isso — disse Hinami. Algo estava a incomodando.

— Se for difícil de falar sobre, você não precisa — Hinami me interrompeu.

— Ela é muito teimosa. Ou... sincera, talvez — ela ainda parecia preocupada.

— Ela não ajusta suas ações com base no clima ao seu redor. Ela simplesmente faz o que quer.

— Hm... Isso é incomum para crianças da nossa idade, certo?

— Sim. Seus bons amigos gostam disso nela, eu inclusa. Mas ela não se dá bem com algumas pessoas.

— Eu posso imaginar.

Como eu disse, não parecia que muitos jovens agiam assim nos dias de hoje.

— Ela especialmente não se dá bem com pessoas como o Nakamura, que tendem a controlar o tom de uma conversa.

Aha.

— Faz sentido.

— Eles já tiveram pequenos... conflitos muitas vezes. Hanabi já se queimou no passado, e ela se sente responsável. Por outro lado, um cara como o Nakamura obviamente vai pensar que a Hanabi deveria parar de ser tão teimosa e apenas seguir o programa de uma vez por todas. Tem mais a ver com o próprio orgulho e teimosia dele do que malícia, no entanto... pelo menos, é assim que parece para mim

— Hmm. Se for o caso... parece irritante.

— Hexactly! Se eu estiver por perto, posso suavizar as coisas como fiz hoje, mas ninguém mais pode lidar com o Nakamura da maneira que eu posso. Hanabi poderia ficar traumatizada novamente quando eu não estiver olhando. Mas eu não posso segui-la por toda parte!... Então é uma situação difícil

As emoções de Hanami estavam escorregando dentro e fora de sua voz, o que era incomum para ela.

— Então até mesmo Aoi Hinami se sente impotente às vezes. Eu pensei que você poderia fazer qualquer coisa — comentei casualmente.

— Eu não posso fazer nada — ela murmurou com a mesma expressão triste que eu tinha visto uma vez antes.

— Hã?

— Isso era o que você estava esperando? Não há nada que eu não possa fazer. Um dia vou te mostrar que posso até consertar a situação com a Hanabi.

— É mesmo? — Ela voltou ao seu eu confiante usual... Ela estava brincando? Que desperdício de talento para atuação. — Mas, eu não acho que a T-Tama-chan ouviria se você dissesse a ela para se comportar...

— Certo... Além disso, eu não gostaria que ela fizesse isso. É raro alguém mostrar o que sente assim.

— Sim, ela é bem única.

— O coração da Hanabi está sempre à mostra, o que significa que é mal defendido. Alguém tem que agir como sua armadura. Alguém tem que vir voando e afastar os ataques, senão o coração dela ficará todo destroçado... de qualquer forma, essa é a história da Hanabi.

— Hmm — eu estava concordando admiravelmente quando Hinami me pegou de surpresa com seu próximo comentário.

— É por isso que eu acho que vocês dois podem ter uma química surpreendentemente boa.

— Uh? Sério? Por quê?

— Não importa. Por enquanto, apenas passe a noite refletindo sobre o que aconteceu hoje e o que você aprendeu, o melhor que puder. Você não vai se desenvolver rapidamente se estiver apenas seguindo minhas instruções o tempo todo. Você tem que acreditar em si mesmo. Ok?

— Uh, um, certo.

— Estamos bem por hoje?

— Uh-huh.

Hinami fez um gesto para que eu saísse da Sala de Costura nº 2. Ela iria para casa alguns minutos depois. Observei sem protestar... e só percebi depois de sair que um normie teria dito Ladies first.

Eu ainda tinha um longo caminho a percorrer.

Eu estava deitado na minha cama, começando a pegar no sono. Ela me disse para refletir sobre o dia da melhor maneira possível, mas por onde eu deveria começar? Falando honestamente, meus pontos de experiência eram extremamente baixos quando se tratava de relacionamentos.

Se alguém me pedisse para fazer uma análise dos eventos de hoje que fosse além da de Hinami, eu não conseguiria fazer muito mais do que fugir.

De qualquer forma, em termos dos meus próprios sentimentos sobre o dia, fiquei surpreso com o poder daquele monstro invisível no campo de batalha da dinâmica de grupo: o clima  Eu não tinha ideia de como lutar contra aquele monstro, ou mesmo se a palavra lutar era a certa para essa situação.

Tudo o que eu sabia era que o campo de batalha pertencia aos treinadores de animais selvagens — pessoas como Hinami e Nakamura, que eram boas em domar o monstro invisível do clima.

Eu tinha uma imagem mental de Hinami e Nakamura enfrentando um ao outro em um coliseu oval, tentando aparar um monstro deformado enorme no centro com sua arma escolhida e, no final, levá-lo a devorar seu oponente. Nakamura tinha um chicote, Hinami uma capa.

Nenhum deles colocava a mão no outro diretamente; no final, era o clima que os mataria. Eu poderia me juntar a essa batalha? Com certeza não conseguia me imaginar lá. Eu adormeci pensando em tudo isso.

Aliás, Hinami me mandou uma mensagem de texto bem impessoal às 7 da noite, dizendo: O primeiro a vencer cinco partidas vence. O que nos levou a um conjunto de partidas entre amigos. Eu ganhei cinco seguidas. Ela ainda tinha um longo caminho a percorrer.



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