Volume 1 – Arco 2
Capítulo 28: Planos e Curtindo a Vida
Um leve sorriso se abriu no meu rosto.
Esse cartão que Alger havia deixado cair no chão, ao ter a luz refletida sobre si, acabou revelando profundidades em forma de letras e, as juntando, estava escrito:
“Caso esteja lendo esta mensagem, parabéns! Isso significa que você acabou de entrar no jogo do ‘Mestre Mandou’. As regras são simples, no entanto, podem o levar a sua própria ruína.Então as chamaremos de ‘Regras Específicas’, sendo elas:
1: Siga os comandos do Mestre.
2: Não conte ao resto da sua turma sobre este jogo.
3: Não conte às pessoas de fora o que acontece dentro do jogo e, muito menos para as que não sabem de sua existência.
Bem simples, não acha? Bem, eu espero que se divirtam com este jogo.
Ass: Mestre”
Fechei a mão, tentando amassar o cartão de raiva.
— Hiyori? Está tudo bem?
Olhei pro teto do quarto: Por que pergunta?
— É que você ficou quieta do nada — disse Marcelo.
Passei a mão na minha gola: Eu sabia.
Na minha mão, havia uma escuta.
— O que é isso? — perguntou Marcelo.
— Uma escuta — respondi.
— Uma… escuta? Como você sabe? — disse Marcelo.
— Não interessa. — Apertei a mão, esmagando a escuta.
— Tá… Então… o que você quis dizer com “Eu sabia?”
— É simples — Mostrei o cartão para Marcelo — Vê esse cartão?
— Sim — disse Marcelo.
— Eu já te disse sobre as regras do “Mestre Mandou”, certo?
— Sim — respondeu Marcelo.
— A terceira regra do jogo é “Não conte às pessoas que não sabem que não sabem disso”, ou seja, “Não conte sobre o jogo para quem não sabe”. Alger achou uma brecha nessa regra — disse.
— Qual brecha? — perguntou Marcelo.
— Ele me fez ficar um ângulo e posição onde a luz quando refletisse no cartão, as letras gravadas nele fossem visíveis. Assim, ele me faria descobrir sobre esse jogo e eu estaria participando também.
— Em algum momento ele viu o Honsing saindo daqui, então deixou essa escuta em mim para escutar nossas conversas e, comigo já estando “dentro do jogo”, ele poderia falar abertamente sobre.
Fui até a porta.
— Ou seja, ele fez todo esse teatro para quando eu o rejeitasse, ter a desculpa de que “derrubou o cartão pelo momento” e, com a escuta em mim, descobrir se estou escondendo algo ou não sobre esse jogo — expliquei.
— O-O Alger pensou em tudo isso…? — disse Marcelo, incrédulo.
— Sim. Não estou certa… — Abri a porta — Alger?
Alger estava do outro lado da porta, com fones de ouvido; o rosto dele se transformou em um de desespero.
— C-Como…? — Ele estava desacreditado.
— Parece que você perdeu, e seu plano não deu certo dessa vez. — Estendi o cartão para ele.
Quando ele foi pegar, soltei o cartão, o deixando cair no chão.
— Agora, vá para o seu quarto se não quiser ser expulso.
— S-Sim… — Ele pegou o cartão e foi até o final do corredor, saindo deste andar de elevador.
Fechei a porta.
— Então, o que você fará agora que também está dentro do jogo, Hiyori? — perguntou o Marcelo.
— Nada — respondi.
— Uhhh, nada? Como assim “Nada”? Você diz isso porque o plano do Alger falhou? — disse Marcelo.
— Não. Bem, o plano do Alger falhou apenas por um motivo, mas eu também não preciso me preocupar com isso.
— E porquê você não precisa? — falou Marcelo.
— Ah, é porque… — Do bolso da minha saia, tirei um cartão roxo escrito “MESTRE” e meu nome logo abaixo.
— Eu sou o Mestre!
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Hoje é o dia em que vamos ao SPA.
Debaixo de uma cama, tirei um celular.
Eu estava com um olhar de dó, acompanhado de um largo sorriso no rosto enquanto olhava para o celular.
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Os corredores estavam cheios; havia sons de passos altos e malas sendo carregadas pra cá e pra lá. Assim como os demais, eu estava carregando a minha mala e indo até a saída do hotel.
Peguei o meu celular; são exatas 19:00. O guardei no bolso.
Eu preciso dar um jeito de virar esse jogo do “Mestre Mandou”, mas pra isso, preciso de um plano que me faça ter posse tanto da Hiyori, do Honsing e se necessário, do Marcelo também. Falei comigo mesmo em pensamentos.
De repente, um estalo me veio à mente.
Eu acabei de ter o plano perfeito para ter esse Hotel e a Hiyori nas minhas mãos! É isso!
Eu venci!
Não, espera… Esse plano realmente pode funcionar, mas…
Eu começo a me lembrar do acordo que fiz com a Yukari e flashes de memórias passadas vêm à minha mente.
Esse plano é algo que o “Apófis” pensaria.
Por mais que eu tenha quebrado o psicológico do Yoichi Katake, isso também não era algo que nem o “Ryomen Kirtsugu” pensaria.
Muito menos o “Alger Reder”
Eu não sou mais “aquele” tipo de pessoa.
Toda essa conversa, é como se…
Tivesse um corvo preto na minha mão e lentamente, esse corvo então abrisse as asas para levantar voo e escapar de mim.
Mas no último segundo, eu o agarrasse e fechasse a minha mão, com toda a força que eu tenho, o esmagando e nunca mais quisesse abrir essa mão de novo.
Esse meu plano é eficaz, mas ao mesmo tempo, é “violento demais”
Não, não vou seguir por este caminho. Eu ainda tenho um “Plano B”
— Você vai ficar olhando pra sua mão até quando? — disse uma voz familiar.
Olhei por cima do ombro; Yukari estava com as mãos no quadril.
— Hã?
— Não me venha com um “Hã?”. Enquanto você ficou aí parado, todos passavam por este corredor e, estranhamente, você ficou olhando pra sua mão — disse Yukari.
— A-Ah, foi mal. Só estava pensando em algo — disse.
— O Mestre mandou… — Um braço ficou por cima do meu pescoço — Você ignorar a Yukari.
Esse braço era de Honsing; ele havia dito seu comando perto do meu ouvido.
O lancei um olhar penetrante: Acho que não ouvi direito, poderia repetir?
— O Mestre mandou você ignorar a Yukari, o Gyomen e o Yoichi. — sussurrou Honsing, mas dessa vez, com um sorriso maquiavélico.
Esse filho da puta… eu quero dar um gancho nele, mas ainda não, ainda não dá.
Honsing respirou fundo e mostrou um sorriso simpático para mim e para Yukari.
— O ônibus os aguarda, jovens.
— Ah, sim, claro! — Saí correndo.
— Alger! Espera aí! — gritou Yukari enquanto me perseguia.
Assim que entrei no ônibus, me sentei no banco do fundo e, Yukari se sentou ao meu lado.
— Poderia ter me esperado, sabia? — Ela cruzou os braços e empinou o nariz.
O ônibus deu partida; olhei pela a janela os prédios que pareciam se afastar cada vez mais.
— Dessa vez eu dormi bem, então não estou com sono. Ou seja, hoje eu não vou dormir agarradinha em você. Que pena hein, Alger? — disse Yukari.
Por mais que a Yukari esteja me provocando, sequer olhei pra ela de canto de olho.
— Eeeiii, eu tô falando com você. — Ela balançou a mão na minha frente — Terra chamando Alger. Alô?
Foi mal, Yukari. Dessa vez vou precisar te ignorar.
Olhei para o lado, Horikita rapidamente se virou para frente.
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Finalmente, chegamos ao SPA.
Saímos do ônibus e dessa vez, nós mesmos quem estavámos carregando nossas próprias malas.
O SPA tinha algumas palmeiras dos lados direito e esquerdo por fora; havia uma pequena escada e uma porta em cima.
Assim que subimos, notei que ao topo da entrada, havia uma placa em neon de cor roxa pendurada na parede, que dizia:
“SPA RLC
Relaxo, Lazer e Conforto”
— Bora — falei e minha turma seguiu para dentro.
— Vamos! — disseram Yukari, Yoichi e Gyomen.
Entrando no SPA, um cheiro de coisas novas passou pelo meu nariz.
A sala de recepção era deslumbrante; o chão era tão limpo que chegava a brilhar; a temperatura era confortável; havia uma “Palmeiras” em um vaso de plantas, ao lado de uma fileira de bancos pretos.
O local era perfeitamente organizado e arrumado.
Então, uma mulher parou na frente de todos; ela estava vestindo um Yukata e uma Kimono Jacket.
— Sejam todos muito bem vindos, eu os receberei e irei informá-los sobre o lugar — disse a mulher, com um sorriso simpático no rosto.
Olhando melhor, chamá-la de “Mulher” seria um pouco desrespeitoso.
Sua aparência parece ser de uma mulher de 23 anos, mas mesmo assim, até que ela é bonita.
— Me desculpa por interromper, mas você poderia vir aqui rapidinho? — A chamei com um aceno.
Ela andou até mim com seu jeito meigo e parou na minha frente.
— Em que posso ajudá-lo, senhor?
— Só por curiosidade, o que você é desse lugar? A CEO? — perguntei.
Ela sorriu: Não, não. Sou apenas a recepcionista desse lugar.
— Entendi, bem. Sendo assim… — Cheguei próximo de seu ouvido — Pode ser falta de educação da minha parte, mas quantos anos você tem?
Ela olhou pra mim por alguns segundos antes de cobrir seu rosto com as mãos.
— V-Vinte e três… — Sua voz saiu abafada.
Parece que eu ainda consigo analisar as pessoas. Isso pode ser útil no futuro.
Ela se recompôs: De qualquer forma, irei guiá-los para os vestiários femininos e masculinos.
— E quanto aos professores? Onde eles estão? — perguntou Horikita.
— Ah, eles chegaram antes de vocês — respondeu a recepcionista, ainda sorrindo.
Ela se virou: Bem, sigam-me!
A recepcionista nos mostrou todo o local e, cada vez que ela nos mostrava algo, só iam surgindo mais e mais coisas.
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— Por último, mas não menos esperado, os vestiários! — disse a recepcionista, empolgada.
— O direito é o masculino e o esquerdo, o feminino. Há Yukatas e Kimono Jackets lá dentro para todos vocês!
Olhei ao redor do local; havia uma câmera do lado de fora dos vestiários. Olhei pro lado, Gyomen estava ao meu lado.
Peguei o meu celular e comecei a digitar, mas deixei meu celular cair.
Suspirei: Seria ótimo se tivesse alguém ao meu lado pra pegar meu celular…
Gyomen se abaixou, ele ficou por alguns segundos encarando a tela do meu celular, antes de me devolvê-lo.
— Toma — disse Gyomen.
Peguei meu celular e o guardei no bolso.
— Aproveitem! — Ela disse, antes de sair andando.
Então, uma divisão entre todas as turmas aconteceu.
Nós, homens, fomos para o vestiário masculino e enquanto as garotas, para o feminino.
Tiramos nossos uniformes e abrimos os armários; haviam Yukatas azulados claro com listras em um azul nítido e um Kimono Jacket em vermelho.
Após nos vestirmos, saímos do vestiário ao mesmo tempo que as garotas.
Olhei para Horikita e, não só ela, mas todas as garotas estavam usando o mesmo Yukata que nós, com o diferencial de que a Kimono Jacket delas era rosa.
— Por que os nossos Kimonos são iguais aos das garotas? — perguntou um cara.
— Como vocês podem ver, jovens, este SPA prioriza a igualdade, evitando conflitos desnecessários — disse uma voz familiar.
Olhei na direção; era Marcelo, acompanhado de Honsing.
Ele imitando o Honsing falando não cola bem.
— E aí, turma. — Marcelo sorriu.
— Quanto a essa questão da priorização…
Ao ouvir essa voz, olhei para trás.
Era a Hiyori. Ela também estava vestindo um Yukata azul e um Kimono Jacket rosa.
— Marcelo está certo — disse Hiyori, com os braços cruzados por baixo dos seios.
Ao lado da Hiyori, estava a recepcionista, com um sorriso simpático no rosto.
— Vejo que vocês já estão prontos para o primeiro passo — disse a recepcionista.
— “Primeiro passo”? — falou Yukari.
— Sim. Lembram das fontes termais? Pois bem… — A recepcionista ficou com um brilho nos olhos — Estamos indo para lá!
— Vamos! — gritaram todos.
Então, fomos até as fontes termais e, haviam duas: uma masculina e outra feminina.
Entrei na fonte masculina.
— Caramba, isso daqui tá muito bom! — falou um cara.
Outro da turma D foi correndo em direção à fonte e saltou para o alto, se comprimindo e ao cair na água, expulsou uma grande quantidade dela.
Uma perfeita “Bala de canhão”
Também entrei, sem o Yukata.
A água quente entrando em contato com a minha pele me fez arrepiar e uma forte sensação de relaxamento pairou sobre mim.
— Cara, isso é tão bom~ — falei.
De repente, me levantei e vesti meu Yukata.
— Aonde vai? — perguntou o mesmo cara de antes.
— Ao banheiro, quer vir junto também? — disse, sorrindo.
— Não, muito obrigado — falou o cara, com nojo.
Saí da fonte termal e fiquei andando pelo o local.
— Onde fica o banheiro aqui mesmo? — disse para mim mesmo.
— Está perdido, Senhor Reder?
Olhei para trás; era a recepcionista.
Como ela sabe meu sobrenome? perguntei para mim mesmo em pensamentos.
— A-Ah, sim.
— Para onde o senhor pretende ir? — disse a recepcionista enquanto se aproximava de mim.
— Banheiro… — respondi, desviando o olhar.
— Ah, entendi. Siga reto e vire a sua direita, lá, você achará o banheiro. — Ela parou na minha frente, sorrindo.
— Obrigado — sorri de volta.
Nos primeiros três passos, ela me agarrou pela manga. Olhei por cima do ombro.
— Espere, Senhor Reder. Você esqueceu isso. — Ela estava com a mão estendida para mim, segurando o meu cartão de visitas.
— Eh? — Comecei a me revistar e depois olhei para ela — Ué, o cartão caiu sem eu ver.
Peguei o cartão: Valeu
— Tenha mais cuidado da próxima vez — falou a moça, me olhando com seus belos olhos.
— Claro.
Enquanto andava, de relance, notei uma silhueta me seguindo.
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Entrei no banheiro masculino e tirei meu celular do bolso interior do Kimono Jacket.
Esses Kimonos têm um bolso escondido por dentro, então fica difícil saber se há alguém escondendo algo ou não.
Desbloqueei meu celular e disquei um número.
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— Fu… Me recuso — disse uma pessoa do outro lado da linha, como se estivesse sorrindo.
— P-Por favor! — implorei.
— Pedir com jeitinho não vai mudar minha resposta, Alger. — A pessoa tinha um tom de voz firme e rígido.
— E-Eu posso te oferecer outra coisa em troca! — disse, com um sorriso desesperado no rosto.
— Minha resposta final continuará sendo “Não” — disse a pessoa do outro lado da linha.
— M-Mas…
Todas as minhas tentativas de persuasão haviam acabado.
— Você já me fez perder muito tempo com essa conversa e sua insistência. Adeus. — A pessoa desligou.
Respirei fundo, guardei meu celular no bolso.
Soquei a parede: Bosta!
Parece que terei de apelar para o “Plano C”