Volume 1 – Arco 2
Capítulo 27: Informação e Confissão Secreta
Acendi meu charuto; soltei a fumaça pela boca.
Haviam duas poltronas de couro pretas, uma de frente para a outra, sendo ocupadas por mim e um homem trajado em seu terno preto. Entre nós, uma mesa redonda que separava as poltronas.
Havia uma garrafa e, duas taças sob a mesa, com a bebida da garrafa: Vinho.
— Ele já se deu conta de algo, Vergher? — perguntou o homem de preto.
— Não — respondi.
Calmamente peguei a taça: Eu o dei uma dica mais cedo, no entanto, ele deve estar ocupado com outra coisa — respondi.
— Entendi. Nesse caso… — O homem pegou a outra — Podemos continuar os preparativos com calma.
Ele ergueu sua taça: O que me diz, Vergher?
— De acordo. — Brindamos.
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Depois que eu e Gyomen nos afastamos, percebi que o rosto de Horikita havia ido de calmo para um de total confusão.
Agora, eu estou perambulando pelo salão.
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Bocejei: Esse lugar é enorme…
Enquanto andava, não encontrei a Hiyori e o Marcelo em canto algum.
Saí do salão e subi as escadas até o segundo andar e avistei o quarto 350.
Rapidamente fiz uma curva e fiquei na parede de um dos corredores; Honsing estava saindo do quarto enquanto conversava com Hiyori, que tinha o acompanhado até a porta.
Até que ele acenou para Hiyori e saiu do local. Hiyori fechou a porta, mas alguns segundos depois, ela e o Marcelo saíram do quarto e desceram juntos de elevador.
Comecei a pensar com mais cuidado.
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Sentei-me em uma cadeira, afastado de todos.
— Fala sério… — Abaixei a cabeça.
— Gyomen? — disse uma voz feminina familiar.
Ergui a cabeça; A professora estava de braços cruzados, bem na minha frente, me olhando de cima com seu ar autoritário.
Meus olhos minimamente se arregalaram e minhas sobrancelhas se levantaram um pouco.
— P-Professora?
— Por que está tão surpreso em me ver? — disse a professora.
— É que eu pensei que você estava se “divertindo” com o Marcelo… — Olhei pro lado, constrangido.
— Que coisa mais rude de se dizer para uma mulher que é muito mais velha que você, Gyomen. — Ela me encarou com um olhar de raiva.
— Foi mal…
Ela soltou um suspiro: Por mais que tenha sido essa a impressão, eu sou uma mulher difícil de se conquistar. Mas não vim aqui pra te falar sobre isso, quero te perguntar algo.
Olhei nos seus olhos: Hm?
— Por que você e o Alger brigaram? — perguntou a professora.
— Como você…
— Como eu sei? Simples, eu escutei a gritaria dos dois enquanto subia pro meu quarto. — Ela disse.
— A-Ah. Foi mal se atrapalhamos em algo — falei.
— Não me atrapalharam em absolutamente nada. Mas qual foi o motivo? — perguntou a professora.
— É-É algo interno, professora — disse.
Ela me lançou um olhar penetrante, mas repentinamente, ela olhou para o lado parecendo preocupada e de volta para mim.
— Tudo bem, não vou insistir. Mas… — Ela ergueu o dedo indicador — Se vale de conselho, não guarde rancor do Alger.
— O que você quer dizer com isso, professora?
— É apenas um conselho que, apesar de parecer bobo, pode ser de extrema importância. Agora cabe a você se vai segui-lo ou não. — Ela se virou e saiu andando pelo salão.
“Não guarde rancor do Alger”...?
Ah, entendi.
Peguei o meu celular e enviei uma mensagem.
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— Vai demorar pro jantar começar? — perguntei.
— Você tem mesmo fome hein, Alger? — disse Horikita.
— Fase de crescimento abdominal. — disse, sorrindo.
— Falta dez minutos pro jantar, morto de fome — respondeu Payman.
De repente, várias batidas apressadas vieram da porta.
— Eu atendo! — Horikita se levantou da cama, foi até a porta e a abriu.
Havia uma empregada do outro lado.
— Boa noite, jovens. — Ela disse.
— Boa noite — dissemos, juntos.
— Sei que faltam dez minutos pro jantar, mas o Senhor Honsing está os convocando para descerem ao salão principal — informou a empregada.
— Ah, claro. Já já descemos — falou Horikita.
— Muito obrigada pela compreensão. — Ela se virou e Horikita fechou a porta.
Horikita se virou: Vocês têm algo para fazer antes de irmos?
— Não — disse Payman.
— Não também — falei.
— Vamos lá então. — Horikita abriu a porta e saímos do quarto.
— O que será que o Honsing está querendo? — falou Payman enquanto caminhávamos pelo corredor.
— Sei lá também — disse.
— Para ser antes do jantar, deve ser algo importante — disse Horikita.
— Hmm, talvez.
Paramos de frente para o elevador. Horikita o chamou e alguns segundos depois, as portas do elevador abriram.
Horikita e Payman entraram; Horikita olhou por cima do ombro.
— Não vai entrar, Alger? — perguntou Horikita.
— Relaxa, eu desço de escadas — respondi, com um sorriso no rosto.
— Se for cair de cabeça e morrer, é bom que faça isso em silêncio, já que não vai ter ninguém pra ir te socorrer — falou Payman.
— Joga praga não, demônio.
— Ha-hahahah… — Ela havia forçado um sorriso — A gente se vê lá embaixo então, Alger.
— Beleza.
As portas se fecharam e escutei o som do elevador descendo.
Então, o sorriso no meu rosto sumiu, como se nunca estivesse lá; Saí andando pelos corredores do segundo andar e parei em frente ao quarto 350;
Dava para escutar vozes abafadas por trás da porta, parecendo estarem discutindo sobre algo.
Pelo canto do olho, vi uma empregada se aproximando, mas ela passou reto por mim.
Agarrei seu pulso: Espera!
Ela olhou por cima do ombro: Hm?
— Honsing está convocando todos para irem até o salão principal, certo?
— Sim — disse a empregada.
Apontei para a porta: Então porquê os dois ainda estão lá dentro?
— Oh, me desculpe por ter cometido este pequeno descuido, jovem. Pensei que todos já estavam lá embaixo — disse a empregada enquanto abaixava a cabeça.
A soltei; ela gentilmente bateu na porta.
Hiyori abriu a porta.
— Senhorita, o Honsing está convocando todos a descerem antes do jantar. Aconselho que se apressem, pois faltam oito minutos — avisou a empregada.
Hiyori olhou para a empregada e depois para mim.
— Tudo bem, estávamos nos preparando para descermos mesmo. — Hiyori e Marcelo saíram do quarto.
Eles passaram pela empregada, que se curvou.
— Agradeço pela compreensão — disse a empregada.
— Não há de quê — falou Hiyori.
Os dois desceram de elevador enquanto eu, as escadas.
De novo.
Ao chegar no salão principal, de longe pude ver que o Honsing estava no centro, com sua postura formal e seu terno impecável de sempre, segurando uma taça de vinho.
— Os convoquei aqui para anunciar que amanhã, às dezenove horas, iremos a um SPA, sendo o “primeiro passeio” de vocês — disse Honsing, dando um gole em seu vinho.
— Tudo será pago e, graças ao diretor de vocês: Vergher. Então não se preocupem quanto aos custos. — Honsing olhou para seu relógio de pulso — Ah, deu o horário.
— Bom, tendo dito isso, desfrutem do banquete!
As mesas estavam mais comidas exóticas do que no almoço.
Fui até uma das mesas; peguei um hashi e com eles, peguei um peixe empanado da mesma mesa e mordi.
Estava delicioso!
Enquanto comia o peixe, eu olhei para Horikita e Payman pelo canto do olho, eles estavam conversando entre si.
Olhei pra Hiyori, ela estava conversando com o Marcelo.
De repente, senti um par de olhos me encarando; olhei na direção e Honsing estava se aproximando de mim.
Ele parou na minha frente: Olá. Como vai, senhor Alger?
Continuei calado.
— Vi que está gostando do peixe empanado. É uma das suas comidas favoritas? — disse Honsing.
Continuei calado.
— Ah, sim! Eu também adoro peixe, Alger! — Ele colocou o braço em volta do meu pescoço e se aproximou do meu ouvido.
— O Mestre mandou você conversar comigo se não quiser se ajoelhar na minha frente, implorando por perdão — disse Honsing, em tom de ameaça.
Olhei para ele e aproximei o peixe do rosto dele.
— Quer?
— Muito obrigado, mas eu não poderia comer de qualquer forma, já que a comida aqui é feita totalmente para vocês, senhor Alger. — falou Honsing.
— Espera, o que você come então? — falei.
— Hm? O que é “Comer”?
O encarei por alguns segundos.
— É brincadeira. Obviamente, eu como comida, assim como todos vocês. Com o diferencial de que este peixe em sua boca, Alger, foi pago pela sua escola — disse Honsing.
— Ahhh. Faz sentido. Espera, você cozinha pra si mesmo ou os funcionários cozinham pra você? — perguntei.
— Bem, os cozinheiros são pagos para exercerem a sua função, não concorda, Alger? Pois caso sim, imagino que tenha entendido o que eu quis dizer — respondeu Honsing.
— É, justo. Eu acho.
— Fico feliz que tenha entendido. — Honsing tirou o braço envolta do meu pescoço — Mas você só pegou um peixe. Não vai querer mais nada?
— Hm? Porquê eu deveria?
— Achei que você era de comer muito — disse Honsing.
— Como assim?
— Geralmente, jovens em fase de crescimento tendem a comer bastante, já que o corpo vai precisar dessa reserva de energia para se desenvolver. Ainda mais se você pratica atividades físicas.
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— Daí eu reprovei ele.
— Caramba, você é bem fria hein, Hiyori — falou Marcelo.
— Ele merecia.
A porta do elevador abriu; saímos e andamos até pararmos no quarto 350. Coloquei a mão na maçaneta.
— Você já sabe onde nosso quarto fica , mas insiste em nos seguir ao invés de vir normalmente até aqui. Então você deve ter algo de importante para falar, não é mesmo… — Olhei por cima do ombro — Alger?
— Alger? — Marcelo olhou para o lado.
Alger estava com as mãos nos bolsos enquanto se aproximava de nós. Ele parecia nervoso.
— B-Bom… é que tem uma coisinha que eu queria te falar — disse Alger.
— Tudo bem, fala.
— É que eu gostaria que isso ficasse só entre nós três. Eu, Marcelo e Hiyori, então… p-poderiam me dar a hospitalidade de entrar no quarto de vocês? — falou Alger.
Olhei para o Marcelo e ele me olhou.
— Tudo bem — disse.
Abri a porta; entramos no quarto e fechei a porta.
Alger estava no centro do quarto, constantemente desviando o olhar de mim.
Fiquei em sua frente, de braços cruzados.
— Então, o que você quer nos contar?
— B-Bom, é que… — Ele olhou pro chão.
— Olhe nos meus olhos.
Alger ergueu a cabeça e fez contato visual comigo.
— H-Hmn!
— Fala logo de uma vez, antes que eu te expulse daqui — disse.
— T-Tá bom. — Ele respirou fundo — Professo… não. Hiyori! Você é bonita, charmosa, fala bem, tem senso de humor e é inteligente! Então…
Alger se curvou: Eu te amo, Hiyori! Por favor, seja a minha namorada!
Olhei pro Marcelo, sentado em uma cama. Assim como eu, ele estava sem palavras.
— T-Tão de repente? — Coloquei a mão na bochecha e olhei para o lado.
Alger continuou curvado: E-Eu já estava querendo dizer isso faz um tempo.
— E-Entendo, mas eu… — Tirei a mão do rosto e lhe lancei um olhar frio — Me recuso.
Ele rapidamente ergueu a cabeça; seus olhos estavam arregalados e seus lábios trêmulos.
— M-Mas Hiyori, repense bem, por favor! — disse Alger.
— Já disse, me recuso a me relacionar romanticamente com você — disse, em um tom frio.
— P-Por… — Ele me agarrou pela a gola — Por que você não simplesmente aceita?!
— Por favor! Eu te amo, Hiyori! Seja a minha namorada! Eu imploro! — Parecia que iriam sair lágrimas de seus olhos.
— Some! — O empurrei pro chão.
— Escute bem, Alger. Eu sou uma mulher difícil de se conquistar, tanto que enquanto eu e o Marcelo estivemos sozinhos, ele sequer tentou algo comigo, por saber que não tem chances.
— E também, tem outro ponto — disse.
— O-Outro ponto…? Qual? — perguntou Alger.
— É que… — O lancei um olhar penetrante de superioridade — Você só iria me atrapalhar em me fazer desfrutar da vida que eu quero.
Ele ficou sem palavras.
— Então, eu jamais daria a um jovem mimado e chorão como você, o luxo de ter uma mulher ao seu lado — disse, em um tom firme.
Para ele agora, era como se seu mundo tivesse desabado por completo.
Uma expressão tristeza tomou conta de seu rosto. Ele se levantou e tirou do seu bolso o seu cartão de visitas e estendeu para mim.
— V-Você poderia pelo menos… ficar com isso? Quero que você se lembre de mim, nem que seja um pouco… — Suas mãos estavam trêmulas.
— Não.
Ele mordeu o lábio: A-Ah, tudo bem entã-tã-tã…
Tudo que ouvi depois foi um “Sniff” e Alger saiu correndo do quarto, cobrindo os olhos com seu antebraço.
— Hiyori.
Olhei pro Marcelo: O quê?
— Não acha que foi um pouco fria com ele? — disse Marcelo.
— E daí se eu fui? Era melhor dizer logo a verdade na cara e magoá-lo do que dar falsas esperanças. — disse, olhando em seus olhos.
— Ainda sim, ele é só uma criança, aprendendo aos poucos como lidar com as coisas da vida. Dar um choque de realidade como esse tão grande assim, pode fazer ele perder a confiança nos outros — falou Marcelo.
— Onde quer chegar com essa conversa, Marcelo? — falei em um tom de superioridade.
— Quero que peça desculpas a ele de forma adequada — falou Marcelo.
— O que você quer dizer com “Forma adequada”?
— Seja sincera com seus sentimentos com ele, claro, mas explique de forma pacífica e de modo que ele entenda e não saia de coração partido dessa situação — disse Marcelo.
Suspirei: Você se preocupa até demais com a mente dos jovens, hein?
— Claro, já trabalhei na área da psicologia. Sei como eles se sentem na maior parte do tempo.
— Até ele? — disse.
— Às vezes. Ele parece ter algum tipo de “Transtorno Bipolar” — explicou Marcelo.
— Tanto faz, vou só devolver o cartão dele. — Peguei o cartão do chão.
Olhei para o cartão e arregalei os olhos.
— Hm? O que foi, Hiyori? — perguntou o Marcelo.
Alger, você é o pior de todos, mas ao mesmo tempo… muito interessante!
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