Volume 1 – Arco 2
Capítulo 24: Como as coisas realmente são
Sobre ser uma longa caminhada, eu estava certo.
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Acho que já andamos quase 2 quilômetros.
— Vai demorar? — perguntou Yoichi.
— Se aquieta aí, parece até criança — disse Yukari.
— Vai demorar? — perguntei.
— Tá de sacanagem, né?! — disse Yukari.
— Muito bem pessoal, separar! — falou o professor de Biologia.
— Separar?
— Como assim?
— A esse ponto, já não tô entendo é mais nada.
— Alger, Yukari, sabem do que eles estão falando agora? — perguntou alguém do terceiro ano.
Comecei a pensar um pouco: Dessa vez eu não sei.
— Eu também não… — Yukari estava confusa.
— Sério? — falou a professora de Português, em um tom irritado de voz.
Ela suspirou: Beleza. Foi enviado no email de vocês um arquivo em PDF. Esse arquivo é o nosso cronograma.
Peguei meu celular e fui na caixa de entrada. Realmente havia um E-Mail da escola, era um arquivo em PDF.
Por sorte, não é preciso de internet para se enviar e receber um e-mail.
— Tá, mas e quanto a internet? Como vamos baixar o PDF sem wi-fi? — disse Horikita.
O professor mostrou o celular em sua mão: Eu já estou roteando minha pra vocês.
— O nome é ##### e a senha é ##### — disse o professor.
Conectei meu celular com a internet dele e baixei o arquivo PDF. Fui nos documentos e abri.
“Esse é o Cronograma Oficial da Excursão para os primeiros, segundos e terceiros anos.
Você (aluno) do primeiro, segundo ou terceiro ano, deverá acompanhar o professor responsável pelo seu ano acadêmico. Ele (professor) o guiará para um dos três hotéis que foram alugados e lá, receberão instruções de comportamento e regras do local.
Todos os hotéis têm 6 andares, com cada líder das turmas decidindo em qual andar ficará. Vocês (alunos) deverão ficar nos hotéis por 4 semanas. Haverá pequenas festas e passeios pela cidade, com tudo pago, disponibilizando lugar para todos.
No final da quarta semana, vocês serão levados a um espaço que foi reservado, sendo lá onde o acampamento ocorrerá e durará por 2 semanas.
Esperamos ansiosamente por todos.”
Tá. Então, essa excursão durará 6 semanas; cada ano acadêmico tem seu próprio hotel, com regras de convivência, festas e alguns passeios pela cidade com tudo pago.
Contando com hoje, até o final da quarta semana, ficaremos no hotel e a partir da segunda estaremos no acampamento.
Olhei para a Horikita e sussurrei: Você planejou tudo isso?
Ela sussurrou de volta: Tirando a parte de escolhermos um responsável e que cada Ensino Médio ficará em um hotel próprio, sim.
Eu não sentia nenhuma mentira vindo dela.
— Beleza, vamos lá! — disse o professor de Biologia.
Os primeiros e terceiros anos seguiram seus professores responsáveis, junto de outros professores também, mas em caminhos opostos.
Corri em direção ao terceiro ano; há alguém que eu não posso perder, alguém que eu quero e preciso manter perto de mim, pois essa pessoa parece saber de algo por trás dessa excursão.
Além do mais, um novo pensamento surgiu na minha mente, eu preciso confirmá-lo.
Agarrei a manga da pessoa: Ei, espera aí! Por que não vem com a gente também?
Ela olhou para trás.
Isso mesmo, a pessoa que mais parece saber de algo agora é a professora de Matemática, Hiyori Tsukishiro.
— Hm? Como assim, Alger? — falou Hiyori.
Concluí meu pensamento.
— Vir com a gente pro nosso hotel, ué — disse.
— Isso que você falou ficou estranho.
— Não nesse sentido! — disse.
Olhei um pouco para trás da Hiyori; todo o terceiro ano e os professores estavam se distanciando mais.
— Eu quis dizer, acompanhar o professor de Química.
— E porquê eu deveria? Ele sabe se virar bem — falou Hiyori.
— Ah, vai. É injusto pelo menos uma pessoa não acompanhá-lo, você sabe disso.
— Mas ele mesmo disse que tomaria conta de vocês — disse Hiyori.
— E se eu pedir com jeitinho? Você aceita? — disse.
— Hmmm. — Ela olhou para o lado — Talvez.
Ainda segurando na manga dela, me curvei: Por favor, professora! Venha conosco!
— Pfff! Hahahahah! Não esperava que você realmente fosse fazer isso, ai, ai.
Olhei para ela, com as bochechas vermelhas enquanto desviava o olhar: E-Eu tentei ser educado…
— Está tudo bem, afinal, você já me atrasou o suficiente. Já pode soltar a minha manga — disse Hiyori.
— Hã?
— Eu sei que você só veio atrás de mim porque eu sou a “pessoa que mais parece saber das coisas aqui”, certo? — disse a Hiyori.
— Tudo bem, eu estou falando com a professora de Matemática ou com a Hiyori Tsukishiro? — Meu rosto se fechou.
— Ser professora é divertido, mas no momento eu sou a Hiyori. — Ela sorriu.
— Até onde você sabe? — Fui direto com a pergunta.
— Não, não! Não é assim que a banda toca, Alger!
— Como é?
— Quando você chama uma garota para ficar ao seu lado e vai com sede ao pote, tudo bem, eu entendo. Mas Alger… — Ela coloca a mão por cima dos peitos — Eu sou uma mulher.
— Quer dizer que você não vai me dizer as coisas tão rápido assim, não é?
— Agora sim… Você está certo — disse Hiyori.
— Hiyori, já entendeu o que quis fazer aqui, certo?
— Mas é claro. Admito que me separar dos terceiros anos e ficarmos só nós dois aqui nessa rua é algo que não esperava de você — respondeu Hiyori.
— Obrigado…? Enfim, agora que já sabe o que eu quero, poderia vir comigo? — Estendi a minha mão.
— Claro! — Ela apertou a minha mão.
Aproveitei o momento e a puxei, ficando com os rostos próximos.
A encarei com os olhos arregalados, íris comprimidas e sobrancelhas levantadas: Você só está agindo assim por ser um “pau mandado” do Vergher, não é?
Os olhos dela se arregalaram; suas sobrancelhas franziram; os lábios dela pressionaram-se.
— O que foi? Te assustei por estar certo? — sorri.
— C-Como você…
— Desde quando viemos para cá, você está de olho em mim até demais e, estava me tratando com uma estranheza.
— Quando o professor de Biologia disse “Separ!”, pensei: “Seguindo a lógica, a Hiyori é quem devia ter dito isso, já que teoricamente, ela é a mais informada aqui”. Daí pensei mais um pouco.
— “Eles não parecem saber de nada, mas como eles estão aqui por causa do Vergher, isso não impede ele de ter dito para ela me tratar bem e ficar de olhos em mim”, isso se provou durante a nossa pequena conversa.
— Como normalmente você fala comigo de um jeito frio, áspero e mal nota minha existência, isso só ajudou o meu pensamento a ganhar forças. — Finalizei a explicação.
— Hmmm, bela dedução.
— Estou cem por cento certo dessa vez?
— Sim, está. Mas por que fez aquela cara esquisita? — perguntou Hiyori.
— Você praticamente fez eu me curvar por algo trivial, então isso de te assustar foi mais uma questão de “Por que não?” — respondi.
— Justo. Mas já vou avisando, não vou falar tudo até que essa excursão acabe — disse Hiyori.
— Por mim, de boa — sorriso — Agora, bora ir pro hotel e fingir que nunca tivemos essa conversa?
Ela sorriu: Tudo bem.
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— Então o Alger estava com você? — perguntou o professor de Química.
— Sim. Tive que vir segurando a mão dele, já que ele parece ser do tipo de criança que some quando desvia o olhar — respondeu a Hiyori.
— Ei! Em minha humilde e legítima defesa, eu corri o mais rápido que pude para um banheiro, okay?! E também, meu senso de direção é uma bosta quando não conheço o lugar! — gritei.
— Você diz isso, mas está com as bochechas rosadas. Por acaso gostou de segurar a mão de uma mulher mais velha que você, foi? — disse Horikita, em tom de brincadeira, com um sorriso no rosto.
— Mas tu também não ajuda, né?!
Todos riram.
— Essas crianças de hoje em dia, viu. Mas desculpe por fazê-la gastar seu tem…
Hiyori interrompeu o professor: Na verdade, já estou muito longe dos terceiros anos, então vou aproveitar para ficar aqui.
— Está tudo bem por você? — perguntou o professor.
— Sim — respondeu Hiyori.
— E aquelas malditas regras? Esperamos o cabeça oca do Alger e agora que ele está aqui, tudo que entregaram foi um cartão bonitinho do hotel — disse Makyu.
— Eh? Estavam esperando por ele? — disse Hiyori.
— Sim. Mas agora com ele aqui, vão nos apresentar as regras — disse o professor de Química.
— Sim, desculpem-nos por deixá-los esperando — disse uma voz.
Todos olharam para a direção da voz; fiz o mesmo. Havia um homem no corredor se aproximando.
Ele estava vestindo um paletó e um colete por baixo; havia uma gravata em seu pescoço; sua camisa social era completamente branca; ele estava com uma calça e um sapato social.
Tirando sua camisa social, todas as peças do terno junto dos sapatos eram pretos; o estado de seu terno era impecável.
— Ainda está faltando mais alguém? — perguntou o homem.
— Não. Todos estão aqui — respondeu o professor de Química.
— Hmm, bom. — Ele colocou a mão no bolso frontal do paletó e tirou um cartão branco — Esse cartão que vocês receberam, contêm nosso número e o nome do nosso hotel.
Olhei para Horikita, ela estava lendo o cartão de visitas que era roxo.
Olhei para a Yukari, ela também estava lendo um, mas o dela era branco. Fui até a Yukari, parei ao lado dela.
— Não recebeu um, né? — disse Yukari.
— Não — falei.
— Quer ficar com o meu?
— Nah, tá de boa. Só queria te pedir algo mesmo — disse.
Yukari olhou pra mim: Hm?
Sussurrei em seu ouvido, cobrindo meus lábios e o ouvido dela com a mão.
— Tudo bem. — Ela concordou.
Voltei andando até o lado da Horikita.
— Mas vocês estão aqui para ouvir as regras, então serei direto. — Ele limpou a garganta.
— Regra número um: Sem barulho às dez e meia. Vocês ainda são jovens então vamos dar a vocês trinta minutos a mais de farra.
— Regra número dois: Mantenham seus quartos limpos e não destruam nada do hotel.
— Regra número três: Respeitem nossos amados funcionários que trabalham duro para manter esse hotel ativo. — Ele suspirou — Somente.
— Só três regras?
Todas as turmas conversavam entre si: Não há nada com o que se preocupar então, essas regras são moleza!
— Esperem, eu ainda não terminei. — disse o homem.
— Esse hotel tem seis andares e como vocês estão em quatro turmas, sugiro que dividam os andares entre si, já que dois dos andares ficarão para os funcionários e para os dois amados professores de vocês.
Esse cara fala muito, hein?
Yukari ergueu a mão: Senhor! Sei que essa não é a hora, mas ele não recebeu o cartão de visitas!
Ela estava apontando para mim.
— Oh. — Ele se aproximou de mim, tirando um cartão de dentro do seu paletó.
Ele gentilmente estendeu o cartão para mim: Aqui.
Peguei o cartão. Era o mesmo cartão branco da Yukari.
Olhei pra Yukari. Por que ela preocupou com isso quando eu disse que ficaria de boa sem?
O professor de Química olhou para nós: Então, já sabem em qual andar cada um vai ficar?
Gyomen levantou a mão: Por que não fazemos em ordem alfabética?
Todas as turmas conversavam entre si.
Horikita levantou a mão: Podemos deixar o último andar com a turma A, o quinto com a turma B, o quarto com a turma C e o terceiro com a turma D.
Hiyori gritou no ombro do professor de Química.
— Ei, Marcelo, por que não vamos logo indo pro segundo andar? — Ela sorriu, falando de um jeito sedutor.
— Vocês, vão indo para os andares de cada turma enquanto eu e o Marcelo… — Ela passou a mão no queixo dele — Vamos conversar.
— EEEHHHH?! — O pessoal gritou.
Ele ajeitou seus óculos: H-Hm. Claro.
As bochechas dele estavam rosadas.
— V-Vocês ouviram turma, vão logo! — disse Marcelo.
Ele saiu andando com a Hiyori o puxando.
Suspirei: Parece que é isso mesmo então.
— Me desculpem se estou me intrometendo demais, mas fiquei sabendo que haveriam líderes de turmas aqui. Isso é verdade? — perguntou o homem.
— Sim, é sim — respondeu Gyomen.
— Os líderes, se importariam em apresentar-se?
Eu, Gyomen, Yukari e Yoichi demos três passos à frente.
— Oh, então são vocês quatro. Beleza — Ele foi para trás da mesa de recepção e colocou um aglomerado de chaves na mesa.
— Como sendo os líderes, essa é a primeira missão de vocês: Coletar as chaves de cada andar de vocês!
Olhei pra ele, com um olhar irritado: Tá de sacanagem né?
— Nope!
Ele se virou para todas as turmas: Enquanto isso, vou apresentar a eles o hotel.
Horikita encostou no meu ombro: Tudo bem por você, Alger?
— Claro — sorri.
— Ei, Yukari. Tudo bem por você também? — perguntou Makyu.
— Hmh — respondeu Yukari.
— Também estou de acordo — disse Yoichi.
— Também — disse Gyomen.
— Quando voltarmos, poderiam entregar a cada um a chave de seus andares, por favor? — pediu educadamente o homem.
— Claro — respondeu Yukari.
— Beleza — disse Yoichi, Gyomen e eu.
Nós três olhamos um para o outro.
Sincronia da porra.
O homem, trajado em seu terno elegante e impecável, tomou a guia das turmas A, B, C e D e se aventurou pelo hotel.
Peguei uma chave, seu número era 1200.
— Nem fudendo… — suspirei.
Yukari deu dois passos para o lado, mergulhando a mão entre o aglomerado de chaves. Mas do bolso da sua saia, o cartão de visitas caiu.
Deixei a chave na mesa e fui pegar o cartão: Y…
Enquanto a luz batia no cartão, notei algo na sua borda inferior.
Por mais que fosse pequena e quase imperceptível, havia uma profundidade com sombra em formato de “N”. Passei a mão para ver se era real.
Não era minha imaginação, realmente havia uma letra “N” afundada no cartão.
Olhei mais atentamente o cartão enquanto o balançava para os lados. Como se tivessem sido gravadas no cartão, pequenas letras surgiam.
“Se você está lendo isso, parabéns! Significa que você acabou de entrar no jogo “O Mestre Mandou”. As regras são bem fáceis, mas as chamaremos de “Regras Específicas”, que são:
1: Siga os comandos do Mestre.
2: Não conte ao resto da sua turma.
3: Não conte às pessoas que não sabem disso.
Simples, não? Bem, eu e o Mestre esperamos que vocês se divirtam.
Ass: Mestre”