Volume 1 – Arco 1

Capítulo 9: Planos

Bom, depois “daquele” ocorrido, nunca mais vi a Yukari da mesma forma.

Ela consegue ser vingativa quando quer.
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Eram 21:30 de uma sexta-feira.

Quando eu abria a porta, todo o vapor que estava no banheiro era expulso.

Não há nada melhor do que um bom banho quente, certo?

Subi as escadas; entrei no meu quarto e me sentei na cama.

— Finalmente, essa semana acabou. Já não aguentava mais só estudar.

Peguei meu celular da cama; haviam 3 mensagens não lidas da Yukari.

“Você está ocupado?” Enviada às 20:30.

“Eu tive uma ideia.” Enviada às 20:32.

"Alooo?" Enviada às 20:56.

Ela por acaso acha que consigo chegar cedo em casa?

Enviei uma mensagem: O que você quer?

A mensagem foi instantaneamente lida.

Ela respondeu: Grosso.

Respondi: Ai~

Ela me enviou outra mensagem: Eu vou te espancar amanhã se continuar com isso.

Enviei outra mensagem: Tá bom. Fala logo o que você quer.

Yukari agora estava me ligando.

Atendi.

— Pra quê uma ligação?

— Escuta, eu não sei o quão longe a dupla dois pode ter ido com isso, então não quero arriscar ter nossas conversas vazadas — disse Yukari.

— Dupla doi… Ah, as turmas B e C.

— Sim — disse Yukari.

— Então, qual era a sua ideia?

— Primeiro é pensar em outro método para gravar o conteúdo nas mentes da nossa dupla, segundo é darmos “farpadas” em nós mesmos — respondeu Yukari.

— “farpadas em nós mesmos”? — disse.

— No caso, eu e você.

— Explique — falei.

— Seria meio estranho apesar de estarmos na mesma dupla, após nossa luta nos darmos bem, e principalmente, aos olhos de todos. Certo? — disse Yukari.

Ah, entendi. Vamos fingir não nos darmos bem e todos vão pensar que é por causa da nossa luta, consequentemente, o espião vai falar disso para a dupla dois, o que a deixará de guarda baixa.

— Fico feliz que você não é só músculos.

— Filha da… — suspirei — Seu plano não é tão ruim, só precisaríamos medir as “farpadas” — disse.

— Se fizermos isso somente com o contexto do momento e quando estivermos perto um do outro, funcionaria melhor.

— Sim — concordei.

— Quanto ao método, não consegui pensar em nada ainda.

— Eu estive pensando em um recentemente — disse.

— Qual? — perguntou Yukari.

— Primeiro, eu quero testar uma teoria minha.

Hm? — Yukari parecia curiosa.

— Vamos pedir para alugarmos quatro aulas. Quero ver se os professores estão monitorando as ações dos alunos, somente de alguma dupla ou se estão deixando nós mesmos tomarmos as decisões.

— Acredito que seja a segunda opção — disse Yukari.

— Eu também, mas quero testar isso antes.

— Inclusive, vamos alugar quatro aulas pra quê ? — perguntou Yukari.

— Filminho.

Ei! Estamos em uma situação séria aqui e você quer assistir a porra de um filme, com a classe inteira ainda?! — gritou Yukari.

— Agora que não temos mais aulas, vamos direto nos preparar para o exame.

— E? — A cada segundo que se passava, ela ficava ainda mais brava.

— Cada aula tem cinquenta minutos, e o filme que eu escolhi tem duas horas de duração. Vai dar pra assistir tranquilamente.

— Vai ser mais da metade do nosso tempo jogado no lixo! — gritou Yukari.

— O filme que eu escolhi é um bem famoso, então todos gostariam de assistir. Levando isso em conta, apliquei mensagens subliminares por baixo do áudio do filme.

Mensagens Subliminares são áudios ou imagens extremamente rápidos, que somente o subconsciente consegue entender.

No caso de áudios, as informações ou mensagens, são extremamente aceleradas e dependendo da informação, quanto mais você escutar, mais rápido os resultados virão.

Com imagens, elas têm cores, símbolos e mensagens escritas, mas elas aparecem extremamente rápido, dando tempo apenas para seu subconsciente conseguir detectá-las.

, e você acha que isso vai funcionar?

— Foi comprovado cientificamente que funciona, por enviar mensagens diretas ao subconsciente, e com o tempo, seu cérebro transforma as mensagens em realidade — expliquei.

— Então vamos assistir a um filminho com um áudio embutido e é isso? Acabou?

— Eu e a dupla um vamos. Você, Yoichi e os alunos mais importantes não — disse.

— Como assim?

— Lembra quando você fez “aquilo” comigo? — falei.

Pff-Hah! Lembro. Ainda está pensando em mim? — disse Yukari.

— Escuta, porra. Ontem, o Yoichi me pediu para dar um recado a dupla dois, e o motivo é que ele provavelmente deve pensar que não notei nada de estranho nele.

— Essa reunião terá duas horas, então boa sorte — disse, brincando.

— Que bosta, hein.

— Também quero te pedir dois favores — disse.

Hm? — disse Yukari.

— Um: Quero que dê informações de conteúdos que vamos revisar mais pra frente somente para os alunos mais “importantes”, já que ainda estamos revisando mais os que já foram passados.

— Dois: Se o Yoichi estiver tentando te manipular, finja cair nas manipulações dele.

Uhh, tudo bem — Ela parecia receosa.

— Não se esqueça de apagar o histórico de ligações, até mais! — Desliguei.

Sei que ela tinha mais coisas para me falar, mas não pude deixar essa chance passar.

Sempre vi em filmes as pessoas desligando o celular depois de dizer o que tinham em mente, sempre quis fazer isso!
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Segunda, 9:30.

Bocejei.

Estávamos de novo nessa biblioteca.

Ver esses livros já está fazendo meus olhos doerem. Felizmente, estávamos em horário de pausa.

Ai, caramba! Me desculpa!

Olhei na direção da voz; Yoichi estava com sua blusa branca manchada de roxo.

Havia uma poça de líquido roxo no chão, um copo no chão e uma garota de óculos sentada perto de Yoichi.

Seus olhos marejados, seus lábios trêmulos; ela estava quase chorando.

Ei, está tudo bem. — Yoichi sorri de forma amigável — Eu não gostava muito desse suco mesmo.

Yukari suspirou: Vai logo limpar isso aí, temos uma reunião às dez.

Mhm, eu irei. — Ele se levantou e saiu pela porta, deixando uma caixinha de hambúrguer na mesa.

Logo quando entramos na escola, pedi a um professor para essa dupla ter quatro aulas na sala de cinema, e ele respondeu de olhos vazios:

— Tudo bem.

Agora eu estou apostando na terceira opção: Nos dando o livre arbítrio de tomarmos decisões.

Eu não sentia ninguém por perto ou escondido em algum canto da biblioteca.

Olhei pra Yukari e ela para mim. Pisquei para ela.

— Pessoal, eu esqueci de dar um aviso a vocês — disse Yukari.

Hm?

Hã?

— Qual?

Yukari tinha a atenção de ambas as turmas agora.

— Estivemos estudando muito e aplicando muitos exercícios na última semana. Então, para recompensá-los, enquanto estivermos em uma reunião, vocês poderão assistir a um filme.

— Um filme? — perguntei.

— Sim, Alger. Um filme — disse Yukari.

— E quanto ao Yoichi? Ele concordou com essa ideia? — perguntou um cara ruivo.

Mhm! — disse Yukari.

— Poderia confirmar isso? — disse um cara de óculos.

Yukari pegou o celular, apontou para cima e deu play em um áudio.

Uhhh, um filme para recompensar todo o nosso esforço gerado? — Essa era a voz do Yoichi.

Outro áudio era tocado em seguida.

— Sim. Isso seria satisfatório para todos, não acha? — Era a voz da Yukari.

—  Hmm, é uma boa ideia. Por que não? — disse Yoichi, no áudio.

Mais nenhum áudio era tocado em seguida.

Oh. — O cara de óculos calou a boca.
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Eu peguei meu celular do bolso e olhei as horas: 10:30.

Estávamos eu, Yukari e os tais “alunos importantes” da nossa dupla sentado em uma mesa, de frente com os líderes e outros alunos da dupla dois.

— Ele está demorando muito — disse um dos alunos da dupla #2.

— Ele escorregou no banheiro e bateu a cabeça? — disse.

De repente, Yoichi empurra para longe a porta.

— Desculpa, pessoal! — disse Yoichi.

— Até que enfim. Porquê demorou tanto? — perguntou Yukari.

— Bom, eu… — Yoichi olhava para o lado — Escorreguei no piso molhado e bati a cabeça no chão.

Nem fudendo.

— Não é possível. — O líder da dupla #2 parecia frustrado.

— Já que o Yoichi está, pode ir saindo, Alger — disse Yukari.

? — Olhei para ela.

— Você sabe, essa vai ser uma reunião importante, e você é inútil aqui. — Suas palavras foram como um tiro no meu peito.

Eles olhavam para Yukari e depois para mim.

Meu rosto calmo foi para um sério; minhas mãos tremiam.

Ei, Yukari. Isso foi meio desnecessário, não acha? — disse um dos alunos da dupla #2.

— Se vocês querem uma pontuação baixa no exame, tudo bem, mas eu não quero. — Ela aponta para mim — As notas dele são bem medianas, conseguindo passar do primeiro ano apenas por sorte.

Ela me lança um olhar frio: Por que precisaríamos de alguém mediano em uma reunião tão importante quanto essa?

Todos ficaram em silêncio.

— Alger, peço desculpas pela Yu…

Corto a fala de Yoichi: Não, ela está certa.

Me levantava da cadeira e andava até a porta: Boa reunião pra vocês.

Graças a minha percepção extrassensorial, enquanto passava pelo Yoichi, eu conseguia sentir sua enorme empolgação e felicidade, por mais que seu rosto fosse de completo espanto.

Ele era um bom ator.

Saí pela porta; por mais que ele tenha caído nessa, ainda não é hora de comemorar.

Apenas 20% do nosso plano foi concluído, agora para o próximo passo: Filminho.
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— Yukari, por que agiu daquela forma? — perguntou Yoichi.

— Provavelmente ela estava guardando rancor desde quando eles lutaram — o líder da dupla #2 ajeita seus óculos — Estou certo.

Uhh, sim, está sim — disse.

— Guardar rancor não vai nos ajudar em nada, Yukari. — Yoichi abre um sorriso simpático em seu rosto.

— Eu quero construir um ambiente saudável na nossa dupla, Yukari. Eu lhe peço, por favor, faça as pazes com o Alger. Por mais que ele tenha aquele jeito bruto e arrogante, ele é uma boa pessoa.

— Ok, e? — disse.

— Mesmo sendo de turmas diferentes, eu já o considero como um amigo.

Yoichi me pedindo desse jeito, faria o coração de qualquer um ceder, mesmo que fosse só um pouco.

Ele é um ótimo ator.

Tch. Tá bom, mas só porque você o considera seu amigo. — Me levantei, dando passos pesados.

Saí pela porta.

Enquanto andava, fiz uma curva; entrei no banheiro, me tranquei em uma cabine, peguei meu celular e solicitei uma vídeo chamada para o Alger.

Ele atendeu; com a fala de todos se embaralhando, estava um barulho infernal.

Alger entrava na sala de cinema, segurando uma sacola.

— Pra quê a sacola? — perguntei.

— Chamar atenção — respondeu Alger.

Ele deixou o celular no chão; a sacola caiu no chão e um som alto de Crashs; ou para os leigos: pratos de bateria; se chocando ecoava pela sala, calando a todos.

— Pessoal! Desculpem por essa introdução, mas eu tenho um comunicado importante a dar para vocês! — gritou Alger enquanto guardava os Crashs.

— A Yukari me colocou no comando, e para provar isso, estou em vídeo chamada com ela agora! — Ele pega o celular do chão e aponta para a plateia.

Caralho! Eu havia esquecido a quantidade de pessoas que as duas turmas formavam.

Todas as cadeiras estavam cheias.

Será que havia sobrado algum lugar pro Alger sentar?

— Oi, pessoal! Foi mal pela burrice do Alger, é que nós realmente queríamos confiar dele estar na posição de liderança agora — disse.

— Yukari, poderia dizer em voz alta que Alger está no comando?! — gritou alguém do fundo.

— Claro que posso. Uhum! — Limpei a garganta — Eu, Yukari Kunigami, líder da turma A declaro que Alger, da turma D está no comando de ambas as turmas; A e D.

Tenho certeza que ele queria confirmar se era mesmo uma vídeo chamada ao invés de uma gravação.

— Espero que se divirtam vendo o filme, pessoal. Até logo! — Desliguei.
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Yukari desligou.

Coloquei meu celular no bolso.

— Como puderam ver, ela me botou no comando. — Peguei os Crashs e os guardei na sacola — Já vou soltar o filme para gente.

Crashs, ou Pratos de Ataque ou “Pratos de Bateria”, chame como preferir.

Subi por uma escada na lateral das cadeiras; entrei na sala de cinegrafista.

Domingo, Yoichi tinha chamado Yukari para sair, sem um interesse romântico, é claro. Ele fez isso para estabelecer uma relação de confiança e amizade mútua entre eles.

Nesse mesmo domingo, combinei com a Yukari formas eu ou ela “lançarmos farpas” um ao outro para fazer ela ter a desculpa perfeita para sair da reunião antes mesmo dela começar.

Foi aí onde eu entrei, com ela me “humilhando” na frente dos outros líderes.

Havíamos previsto que alguém tentaria provar se a vídeo chamada era só um vídeo gravado, então ela aproveitou aquela “humilhação” como uma brecha para fazer a vídeo chamada.

Confirmando de que eu estaria no comando da dupla #1, essa dupla.

Como sempre, alguém perguntaria se Yoichi sabe disso.

Enquanto Yukari estava saindo com Yoichi, ela estava com uma escuta na blusa. Eu gravei a conversa inteira deles, depois com um software de edição de áudio, o que fiz foi simples:

Removi as falas da Yukari, cortei 90% do áudio e 10% transformei na afirmação do Yoichi: “Uhhh, um filme para recompensar todo o nosso esforço gerado?” “Hmm, é uma boa ideia. Por que não?”

Agora está tudo nas mãos da Yukari.

Me espreguicei e olhei para baixo, a sala era dominada pelo som do filme, todos não diziam nada.

Parecia até que estavam prendendo a respiração.

Tirei do meu outro bolso fones, os coloquei nos meus ouvidos e dei play em uma das minhas playlists.

O filme é bem longo, então vou ter que escolher boas playlists para não dormir.



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