Volume 1 – Arco 1

Capítulo 10: Confronto Direto

O plano tinha sido um sucesso.

Depois do filme, voltamos aos estudos.

Yoichi continuava na liderança com Yukari, sem nem sonhar que todos haviam visto um “filme comum”

Mas não dá para deixar essa situação quieta. Ainda preciso confirmar a motivação da espionagem e também se há mais algum infiltrado na nossa dupla.

Também tem aqueles 5 patetas que eu espanquei no meu primeiro dia de aula.

Eles ficaram ausentes durante o preparo para o exame, e sexta é o “último dia” para se preparar para o exame. Eles não apareceram sexta também.

Por enquanto, os deixarei de lado.

No entanto, notei algo estranho.

Aquele mesmo sentimento de estar acorrentado, martelava minha mente enquanto eu pensava em outro método.

Até que parecia que uma corrente havia se quebrado, e me veio essa ideia de usar um áudio subliminal.

Enquanto todos se concentravam no filme, eu havia saído e colocado pequenos microfones escondidos pela biblioteca.
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Sexta seria o “último” dia para nos prepararmos para o exame.

Os professores nos deram sábado e domingo como bônus, mas eles sabem que ninguém usaria esse tempo de bônus, então disseram que sexta é o último dia.

Bom, eu e Yukari usamos esse tempo bônus, não para estudar, mas sim para bolar algo.

Hoje é segunda.

Desde o anúncio dos ranks, Vergher está ausente na escola, e quando eu passava pelo corredor da diretoria, duas vezes ao dia um inspetor entrava lá.

Já matei uma aula de estudos e fiquei escondido em um corredor e casualmente, “estava indo conversar com o diretor”

Com essa situação “ocasional”, confirmei que entra somente um inspetor duas vezes e que a sala fica vazia.

E me senti…

Ei, Alger.

Hm? — Ergui minha cabeça que estava sob a mesa.

— O sinal do intervalo — disse Yoichi.

Só havia eu e ele aqui.

Seu sorriso era o mesmo de sempre, amigável e gentil; o rosto dele era calmo; sua voz baixa e suave.

Com essa cara, ele conseguiria fazer amizade com a escola inteira em poucas semanas e também mascarar que possui um poder, assim como está fazendo agora.

Hum…? Ah! Verdade. — Me levantei da cadeira — Valeu por me avisar.

Ele sorria gentilmente: De nada.

Me virei.

— Sabe, estudar tanto assim é cansativo — disse.

— Eu te entendo, mas para o exame precisamos de foco total — disse Yoichi.

— Espera, você me entende?

— Sim, eu te entendo — disse Yoichi, com sua voz suave.

Nesse momento, um sorriso de orelha a orelha se abria em meu rosto; sobrancelhas levantadas e testa franzida; meus olhos se arregalaram.

Um sentimento de empolgação estava correndo pelas minhas veias.

Lentamente, me virei para ele com um leve sorriso no rosto e um olhar relaxado.

— Valeu mesmo. — Olhei para os lados.

Hm? Você parece meio nervoso. Tem algo que queira me dizer? — perguntou Yoichi.

— Bem, é que eu não sou muito esperto. Sou o clássico estereótipo de “Muitos músculos e pouco cérebro”. Não aguentando todo esse esforço acadêmico.

— Mas suas notas estão dentro do padrão aceitável, isso mostra que você não é cem por cento só músculos — disse Yoichi.

— Tem razão. — Meu sorriso agora era simpático e confiante.

Me ajoelhei, coloquei minhas mãos no tornozelo de Yoichi: Muito obrigado, Yoichi-kun.

Ah, deixa de onda. Amigos ajudam uns aos outros, certo? — disse Yoichi.

— Sim. Graças a você, eu e a Yukari decidimos fazer as pazes.

— Vocês fizeram as pazes? — falou Yoichi.

— Não totalmente, mas obrigado. Eu poderia lamber seus pés agora.

— Sem essa! — disse Yoichi.

— É zueira. — Me virei e andei até a porta.

— Alger, espera! — gritou Yoichi.

Olhei para ele.

— Você por algum acaso, gosta da Yukari?

Cobri meu rosto com as mãos.

— E-Eu não vou responder isso! — Saí correndo pela porta.

Após correr por três enormes corredores, entrei no banheiro e me tranquei em uma cabine.

Suspirei.

— Bancar o valentão de coração mole é uma bosta — disse.

A verdade é que eu não sinto nada pela Yukari.

Mas uma coisa eu não entendi.

O que foi aquilo?

Aquela expressão estranha que eu fiz após o Yoichi dizer que me entende, o que foi aquilo?

Aquela enorme empolgação…

Será que quando o Yoichi disse que me entende, foi um gatilho para eu falsamente me abrir para ele, sendo o “bruto por fora mas fofo por dentro”?

Tanto faz que foi aquilo, tenho coisas mais importantes para fazer.

Tirei do meu bolso dois fones bluetooth e os coloquei na orelha.

A distância máxima que o sinal pega é 340 metros.

Yukari também está com um par desses fones.

Como eu consegui isso? Roubei de um riquinho filho da puta ano passado.

Durante o intervalo inteiro, fiquei trancado na cabine do banheiro escutando o áudio que saia dos fones.

O sinal tocou; saí do banheiro e fui direto para a sala, fazer o exame.

Me esqueci de dizer, mas após o intervalo, as duplas iam uma sala e realizariam o exame, juntas.

Entrei na sala; ela era enorme.

As duplas #1 e #2 já estavam na sala.

Me sentei no fundo, como sempre.

Olhei à minha volta; na mesa de todos havia uma folha; lápis; caneta e borracha.

Não vi antes, mas na nossa frente, havia um adulto desconhecido. Ele estava de costas para a lousa.

Haviam coisas escritas na lousa numeradas.

“1: Sou um professor de outra escola que foi convidado a monitorar o exame.”
“2: Não sei nada sobre o conteúdo, então boa sorte!”
“3: As duplas não são obrigadas a compartilhar as informações.”

Para a dupla #2, a terceira “regra” na lousa é a que mais favorece eles.

— Podem iniciar o exame — disse o professor.

Peguei o caderninho e dei uma breve folheada; 90% desse exame era sobre os conteúdos que estavam sendo apresentados.
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O sinal tocou novamente.

Depois de 3 aulas, ambas as duplas terminaram o exame.

Do início ao fim do exame, as duplas não haviam trocado uma palavra.

— Estão dispensados — disse o professor.

Enquanto todos se levantavam para fazer sei-lá-o-quê, eu fui para a biblioteca.

Assim que abri a porta, um cara que nunca vi na minha vida passava por mim.

Olhei pro Yoichi: Quem era ele?

— Ele veio devolver um livro aqui, só isso — disse Yoichi.

Entrei na biblioteca; Yoichi estava com um sorriso largo e olhar de superioridade direcionados a mim.

— Algum problema? — perguntei.

— Não. Apenas acho que as turmas A e D não passarão nesse exame — respondeu Yoichi.

— Eu discordo.

? — Yoichi me encarou diretamente.

— Tem algum motivo para achar isso, Alger?

— Por mais que o exame estivesse difícil, a Yukari confia muito nessa dupla — disse.

Hah! Você por acaso sabe a razão da outra dupla só ter compartilhado informações poucos dias antes do exame? — disse Yoichi.

?

— A razão é que a dupla dois teve uma missão a cumprir: passar no exame, não importando os meios — falou Yoichi.

?! — Meu queixo caía; meus olhos arregalaram.

— Mas o melhor são as recompensas: os alunos que passarem sobem de ranking, ou seja, a turma A vai virar a turma C, e a turma B vai virar a A e a C vai virar a B!

Minha teoria e da Yukari estavam certas.

Se eles passarem, esse é o resultado:

Dupla #2:
B → A
C → B

Dupla #1:
A → C
D → D

— Calma, os alunos que passarem sobem de ranking, então… Ah! — Minha expressão de espanto se tornou uma de choque.

— Sim, eu continuarei na turma A — Yoichi sorria maliciosamente — Alger, muito obrigado.

— P-Pelo o quê?

— Por você e a Yukari serem tão idiotas — disse Yoichi.

Essas palavras soaram como um tiro no meu peito.

Eu caia de joelhos no chão, com as mãos na cabeça.

— C-Como… por quê? — Ergui a cabeça — Você sabia disso o tempo todo e nos traiu, seu merda?!

— Sim! — respondeu Yoichi.

Um olhar de descrença total estava esculpido em meu rosto.

— E-Eu não consigo acreditar. Espera, então tudo aquele nosso método e aquela conversa que tivemos…

— Isso mesmo, Alger. Era tudo fingimento! — disse Yoichi.

Não dava para engolir essa dura verdade.

— Não se preocupe, Alger. Na próxima vez você aprende a usar o seu cérebro. — Yoichi me encarava, como se eu fosse um verme.

Meus olhos, mãos e lábios tremiam.

— No final, nem meu amigo você é. Pra mim, é alguém irrelevante — disse Yoichi.

— Eu… eu… não consigo acreditar nisso… achei que éramos… amigo.

— Eu também. Mas como um brinquedo, quando fica velho você o descarta — falou Yoichi.

— Seu monstro desalmado. — Minha voz estava cada vez mais baixa, como se eu fosse chorar.

— Admita, Alger. Eu venci!

Meus dentes rangiam; meus olhos estavam arregalados; meu corpo tremia.

Eu apertava minhas mãos, sem saber o que fazer.

Raiva; ódio; tristeza; angústia; negação; frustração; desgosto.

Isso era tudo que eu sentia.

— Brincadeirinha! — disse.

Um largo sorriso se abre em meu rosto.

— O que disse? — falou Yoichi.

Eu me levantei; fui até uma mesa e peguei meu celular que estava embaixo dela.

— Você não percebeu, né?

Yoichi me olhava com um olhar confuso.

— Há microfones espalhados pela sala. — Me virei — E meu celular estava gravando o áudio.

— Você tá blefando. É tarde demais para você fazer algo. — disse Yoichi.

Ele estava com um olhar confiante e sorriso malicioso esculpido no rosto.

De repente, a porta foi violentamente jogada para trás.

Eu e Yoichi olhamos na direção.

Quem havia chutado a porta era Yukari, que empurrava uma mesa de rodinha com duas caixas de som para dentro da biblioteca.

Mas não foi esse o fato que surpreendeu o Yoichi, e sim que as turmas A e D estavam atrás dela.

Yoichi disparou em direção às caixas de som; Yukari o parou, com um soco no estômago.

Ela o chuta no peito; Yoichi é jogado pro chão.

Sem piedade alguma, pisa no peito dele.

— P-Pessoal? O que vocês estão fazendo aqui? — perguntou Yoichi.

— Eles estão aqui para conhecer a verdade — disse.

— Que verdade? — Yoichi parecia assustado.

— Quem nos traiu foi você, junto com um cara da turma B chamado “Gyoman”. O motivo de você ter nos traído é para continuar na turma A, certo? — disse.

— Sim, e daí?! Vocês não podem fazer nada! O exame já foi feito! — gritou Yoichi.

— Errado — disse Yukari.

— Uma semana antes, eu criei um grupo online. Também disse para fingir estar aplicando seu método e estudando o conteúdo que você disse, e eu fingi te ajudar — falou Yukari.

Yoichi finalmente parecia entender que armamos para ele.

— Nesse grupo, eu disse que estava desconfiada da outra dupla não ter compartilhado nada e que você era o único que parecia calmo com isso, então decidi mudar o conteúdo — disse Yukari.

— Estudamos os conteúdos sendo apresentados, e adivinha só? — Yukari sorri — Era o que mais tinha no exame.

— Mas o mais importante, eu disse para não confiarmos em você — concluiu Yukari.

— Você fez isso?! — gritou Yoichi.

— Durante o exame, a dupla fingiu estar tendo dificuldade para realizar o teste, até mesmo os mais inteligentes da turma A. Sua reação foi como esperávamos: total espanto — disse.

— O que isso tem haver?! — gritou Yoichi.

— Eu queria confirmar uma teoria, e sua reação a confirmou. Você até se jogou no nosso teatro, fingindo também estar com dificuldades. — Conectei meu celular com as caixas de som.

— Mas eu acho que o motivo de você ter nos traído foi por suborno. Estou certo?

Yoichi ficava em silêncio.

Ele sabia que a esse ponto, dizer algo não o defenderia do julgamento da multidão.

— Yoichi, você tinha dito que eu estava blefando, certo? — disse.

Eu andava até ele e me agachava a sua frente.

Meu sorriso era largo; minhas sobrancelhas estavam levantadas e meus olhos arregalados.

— Vamos descobrir se era mesmo um blefe? — Ele continuava em silêncio.

O sorriso desapareceu do meu rosto. Minha cara fechava; eu estava com uma expressão séria.

Me aproximei do ouvido dele.

— Se você pedir com jeito, eu paro por aqui e eu quem vou ser o grande mentiroso aqui — sussurrei.

— Por favor, Alger. Pare — disse Yoichi, com uma voz trêmula e olhos fechados.

Me levantei.

— Certo, pessoal! Eu paro por aqui! — disse.

A multidão se revoltava.

— O quê?!

— Viemos até aqui pra nada?!

— Tá de palhaçada?!

Respiro fundo: Ei!

Com minha voz empoderadora, todos calavam a boca.

— Eu disse que pararia por aqui, em momento algum disse que vocês não veriam a verdade — disse.

Dei o celular para Yukari, e ela deu play na gravação de áudio.

Os rostos furiosos da multidão agora eram de espanto.

Alguns como o meu antes: Total descrença.

Na multidão, algumas pessoas estavam relutantes em acreditar, mas conforme o áudio tocava, os relutantes lentamente pareciam mudar de opinião.

O Yoichi parecia totalmente acabado.

Então é assim que alguém fica quando têm seu “último raio de esperança”, por mais que seja falso, arrancado de si?



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