Volume 1

Capítulo 2: Queen

Após os acontecimentos, se passaram duas semanas. Aconteceu o que eu menos desejava: Minha fama subiu.

Depois da surra que dei nos 5 gorilas, parte da escola sempre vinha brigar comigo, e o resultado você já sabe. Eu venci todos.

Desde então, ganhei o título Brutal Guy.

Isso estava sendo um saco.

Consegui impor respeito através da violência. Vergher intervinha menos, tendo coisas melhores para fazer.

Eu entrei na sala, fui para o meu lugar e sentei-me.

Semblantes sérios, mas não ameaçadores; olhares de admiração e respeito, me cercavam; clima de inferioridade por parte da sala e superioridade por mim.

Sempre que eu entrava na sala, era recebido com isso.

Na cabeça deles, sou invencível.

Em outras palavras: Me tornei um privilegiado de merda.

— Bom dia, Alger! — gritou uma garota, a metros de mim.

Olhei para ela, sem responder. Apenas com semblante sério.

O interesse na classe em mim foi colocado de lado; eles voltaram a conversar entre si.

Finalmente, um pouco de paz.

— Sim, eu sei. Mas aí, cê tá ligado na garota nova que vai entrar? — perguntou uma voz.

Uhh, uma de cabelo branco platinado? — perguntou outra voz, incerta.

— Sim! Essa mesma! — afirmou a voz.

Não escutei ninguém falando dessa garota, tirando agora.

Será que eu estava ocupado demais brigando? Talvez.

A porta se abre; uma mulher, de curvas bem desenhadas, bem trajada e grande beleza, entra e fecha a porta; andou até sua mesa e sentou-se na cadeira.

Ei, turma, faltam dois minutos para nossa aula ser iniciada — avisou a professora.

Uhh… professora, esqueci meu caderno. Posso ficar sem fazer sua atividade? — perguntou um aluno que senta à minha frente.

! Não — respondeu ela, de forma seca.

— Puxa. — Ele parecia triste.

— Você sabe muito bem que Inglês é uma matéria importante, já que através dela é onde você pode se comunicar com estrangeiros — disse a professora.

O sinal tocou.

Justo quando ela terminou de falar isso aconteceu. Timing?

Ela suspirou: Peguem seus cadernos, vamos retomar nossa aula anterior.

— E qual era o assunto da aula anterior? — perguntou, uma voz feminina.

— Contextualização e como usar — falou a professora.

Mais um dia, mais uma aula comum. Admito que a aula dela é uma das que não me fazem pegar tédio ou sono.

Mais dias vinham e iam. Essa garota nova que tanto falam deve ser um máximo para a escola inteira estar falando dela.

Os garotos comentavam sobre sua beleza e inteligência.

As garotas invejavam a garota nova, sem nem a ver.
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Após 3 semanas, o grande dia finalmente chegou.

Desci do ônibus; novamente na frente da escola. Suspirei e olhei para frente.

Um aglomerado de pessoas no centro; olhares curiosos e ansiosos dos que chegavam; de imediato iam ao aglomerado.

Como os curiosos, me aproximei das pessoas, que estavam em círculo.

Eles faziam um círculo aberto no meio do aglomerado, e nesse meio havia uma garota.

Longos cabelos brancos e prateados; olhos vermelhos e afiados; meia calça por baixo da saia; uniforme impecável. Parecia uma celebridade para receber tanta atenção assim.

Não conseguia vê-la direito e, com pessoas se aproximando dela, ficava ainda mais difícil.

Ela não parece ser uma folgada, e isso é bom. Menos dor de cabeça.

Agora, ela estava roubando minha fama diante dos meus olhos.

Ao contrário da maioria, não estou bravo, zangado ou sentindo algo que me faça ir contra ela. Estou feliz.

Com ela roubando tanta atenção assim, o cenário é óbvio: Ela será super famosa por determinado tempo, me esquecerão e vão focar mais nela.

Esse é o cenário perfeito para mim, assim não preciso mais ser um privilegiado de merda.

Tendo em mente que eles irão me esquecer, tenho total liberdade para fazer isso:

Passei entre as pessoas, elas nem se lembravam mais da minha existência; cheguei ao centro vazio, que tinha poucas pessoas; passei por elas e pela garota-celebridade.

Magicamente, as pessoas abriam caminho para eu passar.

Finalmente, consegui ir para minha sala.

Eu abri a porta; não havia ninguém além do silêncio e nada além das mesas e cadeiras na sala.

Entrei, fui para o meu lugar, coloquei minha bolsa na mesa e me sentei na cadeira.

— Consegui passar por aquela simulação de feira. Na verdade, simulação de apreciação de celebridades.
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— Qual é o problema dele? — perguntou um garoto à minha frente.

— Será que ele tá puto porque a gente “esqueceu” que ele existe? — falou outro garoto.

— Não. Ele estava com as mãos nos bolsos e olhar desinteressado, quando é assim, é sinal que ele não está ligando pras coisas — disse uma garota do meu lado.

Mas afinal, o que acabou de acontecer?

Mesmo que quisesse, era difícil não reparar nele.

Seu cabelo preto até o pescoço; seus olhos vermelhos desmotivados; sua face séria.

Mesmo com bilhões de pessoas à minha volta, ele foi o único a quebrar essa imersão. Mas por quê? Ele realmente não estava ligando para isso, ou apenas quis chamar a atenção do pessoal?

Fiquei encarando a porta de entrada, ainda com esse pensamento refletindo em minha mente.

De qualquer forma, ele foi quem deu o primeiro passo para se mover, e eu darei o segundo.

Virei-me e caminhei para dentro da escola, com uma enorme multidão me seguindo.

Ei, Yukari. Qual é a sua sala? — falou uma garota ao meu lado.

— Segundo A — disse.

Aww… queria que você fosse da minha — disse a garota, em tom triste.

— Isso não é motivo para ficar triste. Tenho certeza que na sua sala deve haver pessoas ótimas. — Tentei motivar a garota.

— É que eu sou do Segundo D, heheheh… — riu de nervoso a garota.

— E não tem ninguém especial para você lá?

— Só minhas amigas. Tirando isso, a única pessoa considerada especial lá é o Alger — falou a garota.

— Alger não é aquele cara que vocês apelidaram de Brutal Guy?

— Esse mesmo — respondeu um garoto.

Alger. Então é esse o nome daquele garoto de cabelo preto e olhos vermelhos.
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Como qualquer outro jovem comum, eu estava jogando um jogo de corri…

Atchim!

Quase caí pra trás na cadeira; me agarrei na mesa e segurei firme meu celular.

— Tem alguém falando de mim pelas costas? — perguntei para mim mesmo.

Como o esperado, a cada dia que se passava Yukari era mais e mais reconhecida.

Ei. — Me chamou uma voz feminina.

Olhei por cima do ombro, e ela estava atrás de mim: Yukari Kunigami.

— Por que você me ignora todo o dia? Você mal olha para mim — disse Yukari.

Olhei para ela, em silêncio.

— Vamos, me responda. Brutal Guy.

Enchi meus pulmões de ar.

— Você é solteira, Yukari?! Não sabia disso! — gritei, minha voz ecoava pela escola.

— Hã? O que você…

E uma multidão de garotos veio em nossa direção, que me empurravam para os lados e para trás.

Aproveitei esse momento para sair do local.

E assim estão sendo meus dias; sempre desviando o caminho da Yukari de vir falar comigo, e os motivos são:

1: Se envolver com a garota popularzinha só te traz merda.
2: Não quero que a minha “fama” volte à tona, ela por agora está bem apagada, e está bom assim.
3: Sendo uma popularzinha, ela tem seus privilégios, e odeio privilegiados de merda.

Não sei como expressar corretamente, mas sempre quando estava na presença de Yukari, eu sentia algo diferente vindo dela.

Acho que não preciso nem dizer que as garotas que namoram e não namoram a invejavam.

Durante um dia enquanto eu andava pelo mesmo corredor que eu havia espancado os 5 gorilas, avistei cinco pesso… não, espera. Seis pessoas.

Cinco garotas estavam cercando a Yukari, pressionando-a contra os armários.

— Quem você acha que é, hein?! — gritou uma das garotas.

Parei de andar.

— Só se passaram duas semanas desde que você entrou, e já tem todos os garotos na sua guia, hein. Botou o nome deles na coleirinha deles também, vadia? — disse outra garota.

— Não, acho que não. Ela deve ter o nome de todos os cachorrinhos na mente, não é sua vagabunda?

— Já que seus cachorrinhos te valorizam tanto por sua beleza, como eles ficariam se sua cara aparecesse toda quebrada, hã?!

Elas falavam entre si, cometendo o clássico bullying feminino.

Olhei para Yukari; seu olhar era calmo mas penetrante; seu rosto sério; sua expressão corporal aberta e relaxada.

Ela não parecia estar se importando com elas.

— Se a gente quebrasse a sua cara, seus totós ficariam com os rabos entre as pernas ou com as orelhas abaixadas?! — gritou uma garota, que tentou a dar um tapa.

Yukari se abaixou; desviou do tapa e contra atacou, com um uppercut. A garota voou para trás.

Os olhares confiantes foram para amedrontados, assustados; seus semblantes de superioridade foram para de total espanto.

Comigo também não foi diferente. Meu olhar e semblante sério mudaram para um de surpresa.

Até mesmo eu fiquei impressionado com isso.

— O-O que você é?! Um monstro?! — perguntou uma delas.

— O quê? Vocês não estavam tão confiantes? — perguntou Yukari. — Cadê toda aquela marra de vocês agora, hein?

Seu olhar era afiado e furioso, sobrancelhas franzidas, dentes cerrados e semblante raivoso.

— Fujam! — gritou uma delas, e elas começaram a correr.

Eu virei em outro corredor, evitando elas de virem direto para mim.

Seus passos pesados e desesperados de repente pararam e o som que veio a seguir foi de algo pesado caindo.

Botei a cabeça para fora do corredor que estava; Yukari estava encarando as quatro de cima enquanto elas estavam caídas no chão.

— Levanta — ordenou Yukari, com sua voz raspando e um pouco grossa.

Elas não fizeram como ordenado. Yukari pegou uma pelo cabelo; três socos foram em direção ao abdômen dela, e Yukari a soltou.

Ghaah! Sua vadi…

Yukari chuta o rosto dela, a calando.

As outras três se levantam, e partem para o tudo ou nada: Ao mesmo tempo, uma tenta um soco, a outra uma rasteira e outra um chute.

Yukari dá um pequeno pulo para trás; desviou do golpe das três e contra ataca, dando um salto explosivo pra frente, e com as pernas abertas, acerta o rosto de duas garotas.

Por causa de sua meia calça e pela saia, pude ver minimamente uma linha grossa rosa.

Sim, sua calcinha.

Ela caí sentada no peito da garota do meio, as outras duas haviam desmaiado com o pé da Yukari sendo enterrado no rosto delas.

A garota do meio se debatia; beliscava as coxas de Yukari e até mesmo sua b… digo, aquele lugar. Yukari socava a testa da garota.

Ela estava sufocando a garota pelo pescoço, usando suas coxas. Um belo par de coxas.

Os esforços da garota então param; seu corpo fica imóvel. Seus esforços foram em vão.

Eu saio do corredor vizinho.

As cinco garotas estavam desmaiadas; quatro expressões de dor; duas com sangue saindo de seus narizes e uma de sua boca. A que foi sufocada estava com expressão de desespero.

Yukari sai de cima da garota e bate o olho em mim.

Seu olhar afiado e furioso junto do seu semblante raivoso colidiram com meu sério.

Com as mãos nos bolsos, me aproximei dela.

Um pé para trás, mãos levemente erguidas. Sua guarda que aparentava ser baixa estava alta.

Eu passo ao lado dela, ignorando o cenário.

Ela me agarra pelo ombro, olho por cima do ombro.

Novamente, aquela sensação diferente vindo dela.

— Você vai mesmo ignorar o que está vendo? — perguntou Yukari.

Mais de perto, percebi que temos a mesma altura: 1,76.

— Se é atenção que você quer, posso arrumar isso pra você e acabar com sua vida acadêmica aqui e agora. — Pela primeira vez, a respondi.

— O que você está fazendo aqui pra começar? — perguntou Yukari.

Olhei para frente; voltei a andar; sua mão deslizou meu ombro no primeiro passo que dei. Saí daquele corredor, ignorando totalmente aquela cena.

Na mesma semana, aconteceram duas coisas interessantes.

A primeira: As garotas espancadas por Yukari contaram o caso, mas pela falta de câmeras do corredor Vergher não acreditou, e pediu por testemunhas.

Elas até tentaram convencer os outros de que isso de fato havia acontecido, que realmente aconteceu. Mas ninguém acreditou.

Seus olhares de espanto; seus queixos caídos; lábios trêmulos.

Ninguém acreditou nelas, e elas ganharam o título de “Biscates Mentirosas”.

A segunda coisa: Eu estava andando pelo pátio que estava vazio, até três garotos que nunca vi na vida formarem um triângulo em mim.

Uma ótima posição estratégica de luta.

— Eae, Brutal Guy. Queríamos bater um papinho com você, tem um minuto? — perguntou o da minha frente.

Um estava à minha frente e os outros dois atrás.

— Por que a formação em triângulo? — perguntei.

— Para garantir que você não fuja da nossa Queen  — respondeu um dos de trás.

Me calei no mesmo instante.

Sério isso…? Pensei.

Suspirei: Fala logo, o que você três querem?


— Se acalma aí, Brutal Guy. Tenha paciência. — disse outro de trás.

Coloquei as mãos nos bolsos: Eu sou paciente.

Ahem. Como sabe, a nossa Queen, ou melhor, a Yukari para você, ela é muito charmosa, bonita, cheira bem, mas ela notou algo que nós não notamos de primeira — elogiava a Yukari o cara à minha frente.

— E o que é?

— Você nunca conversa com ela, sequer quer compartilhar o mesmo espaço que ela. Porquê?

— Não tenho nada para conversar com ela — respondi.

— E por que se recusa a ficar no mesmo local que ela, mesmo quando ela está sozinha?

— E ficar me lembrando de todos vocês paparicando ela? Não, muito obrigado — respondi.

— Qual é, Brutal Guy. Dê uma chance a nossa Queen — pediu o cara à minha frente.

Suspirei.

Já não tô mais suportando eles me chamando por esse título ridículo: Brutal Guy.

Não que eles estejam errados, mas esse título é estúpido e não sou um privilegiadozinho de merda.

— E se eu me recusar?

O olhar amigável e que esboçava respeito por mim, e o semblante calmo do cara a minha frente foi do vinho pra água.

Seu olhar amigável e respeitoso mudou para um malicioso e perverso; seu semblante de calmo foi para um maligno e de superioridade, como se dissesse: “Você tá fudido.

— Você vai sofrer pelas consequências da sua escolha e como amigo, elas não serão nada legais.

— Eu não sou seu amigo — disse.



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