Peace Out Brasileira

Autor(a): John C.


Volume 1

Capítulo 6: Se ajustando em uma nova situação!

 

Tempo: Quinta-feira, de manhã

Espaço: Casa do Spark

— E então, o que me diz sobre me deixar morar aqui com você? Prometo que respeitarei o seu lar e farei as tarefas de limpeza da casa, para me servir de aprendizado e ganhar a sua confiança em minha pessoa! O que acha disso? — disse a garota, determinada.

Spark fica muito envergonhado neste momento, pois, se encontrava em uma situação jamais vista antes. Uma bela mulher pedindo para morar embaixo do mesmo teto era algo inimaginável, porém, Spark se lembrou das histórias do seu herói favorito, o Capitão Spark. O herói dizia que era nobre tratar as mulheres com respeito e cuidado, como um senso de dever dos homens. Isto o deu coragem necessária para proferir as seguintes palavras:

— Claro! Pode ficar aqui se você assim você desejar.

— Oba! Vamos nos dar muito bem, prometo! Onde eu posso deixar minhas coisas?

— Pode deixar no meu quarto. Eu vou transferir o meu quarto para a sala e você pode ficar com a cama, que é mais confortável do que o sofá.

— Está bem! A propósito, onde ele vai ficar? — disse a garota, apontou para Demon.

— Ele...? Ele não mora aqui. É a primeira vez que eu o vejo.

— Primeira vez que o vê e ele já está em sua casa? O que ele quer com você?

— Espera um pouco aí. Você acabou de aparecer e resolve morar na casa de um estranho. Parece que a mais estranha aqui é você, não eu. — disse Demon.

Ambos ficam se encarando e Spark, se encontra em uma situação que era preciso tomar alguma iniciativa. Levantou do sofá e foi em direção ao quarto para começar as mudanças necessárias. Demon e a garota o observam ir em direção ao quarto em silêncio.

A garota foi até a porta da frente da casa pegar o resto das malas que ficou em frente da casa para mudar-se até o quarto. Demon foi em direção ao quarto ver o que Spark estava fazendo naquele momento, não para ajudar, mas apenas para observá-lo. Era importante ele conhecer suas rotinas para identificar não apenas a sua personalidade, mas também as suas fraquezas, pois, era do seu interesse saber identificar gatilhos para eventuais necessidades de obtenção de poder em seu conector.

A casa se encontra em silêncio por um momento, até que o garoto repara na criatura que o encarava. Incomodado, resolve perguntar:

— Você não quer me ajudar a levar minhas coisas para a sala? Até o momento você só esteve me olhando e isso não colabora com nada...

— Estou vendo que você não é alguém de muitas posses. Logo, não é necessário fazer muito esforço para se mudar para a sala.

— É verdade. Eu não tenho muitas posses, mas as que tenho bastam para ter uma vida suficientemente boa. Podia ser pior...

— Heh, isso é estranho vindo de você. É comum ver que vocês seres humanos buscam luxúrias para tornar suas vidas mais fáceis, só para poderem se dar ao prazer de possuírem tempo de sobra para fazerem seus desejos carnais.

— Tempo de sobra as vezes não é bom. Isso abre espaço para pensar demais e nem sempre os pensamentos são bons.

— Você me parecia um garoto idiota na primeira vez que me deparei contigo, mas até que você tem alguma sabedoria.

— Obrigado. Demon, você quer me ajudar a levar minhas coisas até a sala?

— De novo você me perguntando isso? Acha mesmo que eu mudaria de ideia depois de conversar contigo?

— Então vai fazer outra coisa! Não fica só me olhando não pois não sou peça de museu para ser admirado! — disse Spark, arrumava suas posses.

Demon se retirou para a sala. A garota estava organizando suas coisas, e Demon, ficou a observando arrumar seus pertences. Porém, diferente de Spark, essa garota continuava arrumando suas coisas sem se importar com a sua presença, o que incomodou a criatura que até então, possuía desejos de provocações para testar os limites emocionais e causa-los um sentimento de raiva intensa.

No entanto, com essa garota era diferente. Podia ser paranoia, mas essa garota emanava uma tranquilidade jamais vista antes. Não apenas por não se exaltar ao se deparar com a sua figura, mas não se importar com a presença e a encarada fria e intensa que ele estava dando naquele momento.

Depois de alguns minutos de arrumação e silêncio, Spark aparece com uma espécie de baú e o carrega para o canto da sala. A Garota observa a presença de Spark ao se aproximar, mas continua ignorando a presença de Demon, o que o irritou verdadeiramente. A garota repara que Spark trazia consigo um baú.

— Que baúzão! Por um acaso tem algum tesouro aí dentro?

— Tem um tesouro sim, mas não é ouro e nem joias. É um tesouro para mim, e por isso, eu guardo aqui!

— Hmmm... Posso saber o que é?

— Pode, mas eu apenas abro sexta-feira a noite. Então peço que seja um pouco paciente para isso.

— Ahn? Por que só abre o baú sexta-feira a noite? É alguma espécie de ritual?

— Ritual? O que é ritual? — disse Spark, silenciou repentinamente.

— Ok... Não deve ser um ritual se você não sabe o que é um. 

— Eu poderia te explicar melhor o que tem dentro, mas é melhor esperar até sexta-feira a noite para poder entender o porquê eu faço isso.

— Ah, tudo bem! Eu só tinha ficado curiosa, porque acho que é a primeira vez que me deparo com alguém usando um baú. Normalmente as pessoas utilizam gavetas, cômodas e armários para guardarem suas coisas. — disse a garota, finalizou a organização de seus pertences.

— Concordo, mas não seria bom misturar outras coisas junto com as roupas. Uso o meu armário somente para roupas enquanto meus outros pertences coloco aqui dentro.

— Faz sentido! Aliás, o que você normalmente come durante o dia?

— O que eu como? — disse Spark, retraiu-se.

— Sim, seria bom combinarmos nossas despesas para poder organizar melhor a nossa convivência, não?

A garota exibia uma sensação de forte interesse em conhecer um pouco mais do Spark, o que o deixava em um sentimento bom de carinho que o tornava difícil em negar algo para essa mulher. O pedido de saber o que ele comia era algo de vergonha para o garoto, pois ele vivia uma vida humilde e com certeza, viraria chacota se saísse por aí falando o que ele comia em seu dia-a-dia.

Mas ele não se sentiu constrangido com a garota, o que lhe deu coragem a ir até a sua pequena cozinha e mostrar o que ele chamava de refeições.

Spark retira de uma gaveta de cima uma caixa de cereais e coloca encima da mesa. Vai até outra gaveta e retira uma caixa de leite aberta e coloca junto a mesa com a caixa de cereais. A garota demonstrava-se ansiosa para saber se ele comia mais alguma coisa, porém, o garoto havia parado de procurar mais comida no ambiente da cozinha, significando que ele já trouxe tudo o que ele comia para sobreviver.

Isso a deixou assustada com a situação. Antes que ela pudesse dizer algo, o garoto interviu dizendo:

— Eu como cereais com leite. Não é muita coisa, mas é o suficiente para me satisfazer. É melhor do que passar fome, não é?

— Você... Só come cereais com leite?! Não come outros alimentos ou refeições?

— Bom, não é sempre que tem, mas na minha escola eventualmente fazem algo para comer quando chega alimentos por lá. Aqui é um lugar um pouco apartado da cidade, o que torna um pouco difícil o transporte. Então, não é sempre que tem comida na escola.

— Eventualmente? O que seria esse eventualmente...?

— 1 vez por mês. 2 vezes por mês no máximo.

A garota se assusta diante desta situação e o silêncio se instala por um tempo entre a conversa dos dois. Demon que estava apenas observando essa situação toda, sabia que não se tratava apenas de dificuldade de transporte que a escola não possuía comida e sim por uma negligência do governo da região que faziam um trabalho sujo administrativo.

Como ele sabia disso? A criatura não sabia ainda, mas possuía uma habilidade de conectar-se a sentimentos negativos e obter conhecimentos de terceiros além do seu conector. No momento em que havia partido para a cidade na busca do garoto, ele se deparou com pessoas do vilarejo que possuíam sentimentos fortes de fúria referente a essa situação. Esse tipo de conhecimento veio dos mais velhos, e por isso, foi repassado a ele esse conhecimento da situação.

Porém, ele não encontrou vantagens em contar diante daquela situação. Guardou para si mesmo essa informação. Depois desse momento de silêncio, é resolvido se manifestar:

— Você come isso porque não tem condições de comer outra coisa? — disse a garota.

— Eu recebo todo mês uma pequena quantia de dinheiro em minha caixa de correio, mas o que vem lá não é muito, então eu acabo escolhendo isso para não passar fome durante o mês. Compro uma caixa de cereais e tento fazer durar por pelo menos 4 dias, pois esse é o tempo em que compro uma caixa de leite para acompanhar junto.

— Sei o que deve estar pensando. Isso não é saudável para uma pessoa e sei disso. Porém, não me encontro comendo outra coisa que não seja isso, pois é o que o dinheiro que vem em meu correio permite eu comprar. Peço que pelo menos, não ria da minha situação. — disse Spark, retraiu-se.

— Eu jamais caçoaria da sua situação. Eu imagino que você esteve fazendo isso para sobreviver e ainda que não seja a melhor situação, pelo menos, é alguma coisa...

— Obrigado! Eu sempre achei que se eu falasse o que comesse, alguém iria zombar da minha cara.

— Bom, vamos fazer o seguinte... Eu farei as compras para a casa e você me dá o dinheiro que você ganha no correio. Desta forma, estaremos colaborando um com o outro, pode ser?

— Espere um pouco. Você ainda é uma estranha nesta casa e já está falando para ele dar o dinheiro dele para você? — disse Demon, encarou com um sorriso sádico.

— O que você está insinuando com isso? — disse a garota, encarou a criatura.

— Insinuação é uma palavra muito fraca para o que é de fato. Você aparece do nada nesta casa, resolve morar aqui, e no mesmo dia, fala de dinheiro com este garoto. Me diga você quais são suas intenções afinal de contas.

Claramente, a criatura não se importava com a situação. Sua intenção era apenas saber o que a ofendia.

— Eu acho que, ou você está se confundindo, ou você é mesmo esse tipo de pessoa incapaz de perceber a realidade. Me diga então, óh criatura sapiente, se eu vim aqui pretendendo dar algum tipo de golpe neste rapaz, por que eu me daria o trabalho de trazer meus pertences até aqui? — disse a garota.

— Por que? Por que você não se daria o trabalho de deixar a situação confortante para poder aplicar-lhe um golpe?

— Demon, do que você está falando? Que golpe?!

— Você é inocente demais para perceber o que anda acontecendo aqui? Por que você simplesmente acreditaria que uma pessoa aleatória iria aparecer em sua casa, oferecer para morar contigo sem pretensão alguma para bem próprio? Por um acaso você desconhece a maldade que existe no coração do ser-humano? Me diga uma simples razão do porquê você escolheu as cegas essa pessoa em sua residência.

— Por que... Por que...

O garoto entra em um conflito interno, pois não havia pensado nesta possibilidade. Isto o deixa ansioso para responder.

— Por que ela faria isso comigo? Minha casa não tem pertences valiosos e nem tem uma aparência valiosa pelo lado de fora. Ninguém até o momento resolveu se aproximar da minha casa antes, o que significa que não tenho uma casa atrativa para estranhos mal-intencionados!

— E por isso você acha que seja impossível de acontecer?

O clima de tensão piorou. Um silêncio perturbador permanece por um momento. Até aquele momento, Demon estava apenas querendo descobrir o ponto fraco da garota que resolveu aparecer, necessitaria um simples gatilho de fúria por parte dela para ter acesso a outros tipos de informações. O silêncio finalmente é cortado com a intervenção da garota:

— Já chega disso! Eu vou dizer minhas verdadeiras intenções com sinceridade! E como prova disso, me apresentarei devidamente a vocês.

A garota olha diretamente ao Spark e deu as costas para a criatura. Demon, observou esse movimento como um ato de desprezo da parte dela para com ele. Isto tornou o relacionamento dos dois hostil.

 — Meu nome é Talita Escalês Taroco. Venho de uma família de classe alta da cidade vizinha a esse vilarejo e tenho uma grande família. Dividia até então a casa com minhas duas irmãs, uma mais velha e uma mais nova, meu pai, minha mãe e meus avós. Financeiramente não teria problema algum para morar em algum lugar mais refinado ou mais caro, mas particularmente, não é o que eu quero para mim.

— Vivi minha vida inteira tendo do bom e do melhor, mas não encontrei felicidade em bens materiais. Sempre gostei de estar em boas companhias, mas minha vida de riqueza atrapalhava pessoas de boas intenções em se aproximar de mim, enquanto pessoas de más-intenções cercavam-se de mim com altas expectativas sobre planos e sucessos financeiros. Sinceramente, não é do meu interesse. — disse Talita, aproximou-se de Spark.

— Fui criada para ter responsabilidades com minhas coisas, mas me sinto feliz em servir outras pessoas. Isto era muito mau visto, pois em casa possuíamos criados que nos serviam, e por esta razão, não fazia sentido em querer servir também. Foi a partir disto que eu decidi, que a melhor coisa a se fazer era buscar algum lugar para compartilhar com alguém, para que eu possa não só ter a noção do que é ter responsabilidades com a casa, mas também ter responsabilidades para com outra pessoa.

— A convivência para mim é importante e ao conversar contigo, percebi que tu não és o tipo de pessoa que se aproveitaria de mim ou aproveitaria da situação. Me senti a vontade ao entrar em sua casa, pois percebo que você não tentou elevar sua aparência para impressionar ou coisa do tipo. Você demonstrou uma autenticidade da sua pessoa e não com seus bens. Isso me deixa segura em poder ficar por aqui.

— Ahh, poxa vida. Que bom que você se sente bem por aqui! Sinto verdade no que fala. Me sinto até mais aliviado agora.

— Então, estamos bem um com o outro? Sem sentimentos de estranhos? 

— Sim! Estamos bem sim! Prazer em te conhecer Talita! — disse Spark, estendeu sua mão para cumprimenta-la.

— Prazer, err... Qual é o seu nome mesmo? — disse Talita, apertou a mão de Spark.

— Eu me chamo Joe Hirose Ducke, mas pode me chamar de Spark!

— Spark? É um apelido? E o que significa Spark?

— Sim, é um apelido e tem um significado muito importante para mim. Você gosta de quadrinhos?

— Eu amo quadrinhos!

— É mesmo? Que legal! Então eu vou te mostrar os que eu tenho aqui em casa e você vai entender o porque meu apelido é Spark! — disse Spark, deslocou-se em direção aos seus pertences.

— Tudo bem, mas antes, vou preparar alguma coisa para janta.

— Preparar janta...?

— Sim! Não quero me gabar, mas cozinho muito bem e gosto de cozinhar também! Tem algo que você particularmente não gosta?

— Não acho que tenho algo que particularmente não gosto.

— Então está bem! Vou comprar algumas coisinhas para preparar a janta e enquanto isso, se quiser ir mudando seus pertences, fique à vontade — disse Talita, deslocou-se até a saída.

— Tudo bem, Obrigado!

Para Spark, aquilo parecia um sonho. No mesmo dia, ele havia conhecido uma linda garota, de caráter confiável e responsável, humilde e possuía habilidades gastronômicas. Esse fato deixou o garoto muito alegre, pois, ele passaria a ter a oportunidade de experimentar novas comidas além da sua costumeira refeição de cereais com leite morno.

Estes eventos repentinos em sua vida, o deixou extremamente feliz. O garoto não se sentia mais sozinho.

Para os planos da criatura, esta garota poderia se tornar uma limitadora em seus objetivos. Portanto, Demon começa a articular uma estratégia em sua mente para eliminar essa garota que acabara de adentrar na vida do garoto.



Comentários