Volume 1
Capítulo 3: A chegada do desafiante
Tempo: Quarta-feira, de manhã.
Espaço: Em algum lugar da floresta.
Era de dia, em meio a um espaço de um campo verde e com algumas árvores em volta. O cenário é pacífico aos sons de pássaros cantando ao fundo.
Uma forte luz se manifesta. Ira acabara de ser ressuscitado. Um anjo de grau menor se manifesta para Ira e começa a lhe explicar algumas coisas:
— Acabei de ser ressuscitado? Estou sentindo coisas que até então eu não sentia. E esse local, o que é aqui? — disse Ira, observou o local.
— Aqui é o seu ponto de partida. Logo você se encontrará com o conector.
— Conector, é assim que se chama então... Enfim, como irei identificar quem é o Conector?
— Será feito uma marca espiritual na testa de pouca duração para a sua identificação. Após identificar o seu conector, essa marca espiritual desaparecerá, pois será colocada unicamente sobre este propósito.
— Certo. Como devo começar a procurá-lo?
— O seu conector está neste perímetro de ambiente. Assim que se deparar com grandes cidades, é onde o seu conector não está. Portanto, atente-se a procura-lo somente neste ambiente em que apareceu.
— Isso não me ajuda muito. Quer dizer que vou ter que sair por aí olhando pra testa de todos até identifica-lo?
— Exato. Será necessário explicar novamente as condições e restrições da sua vinda até aqui?
— Não, eu já entendi o que pode e o que não pode fazer.
— Muito bem, então me despeço de ti. Boa sorte em seu desafio.
O anjo se desmaterializa e sua luz vai diretamente até os Céus. Ira observou o ambiente e começou sua caminhada na direção que sente a necessidade em ir.
Em sua caminhada, alguns pensamentos lhe vêm em mente. Pensamentos misturados de confiança, insegurança, certeza e incerteza, força e fraqueza, inteligência e burrice, esta nova realidade era algo novo para ele e por isso, deparar-se com algo novo é deparar-se na oportunidade de cometer erros.
Ao caminhar pelos arredores da floresta, algumas pessoas que vinham em sua direção contrária depararam-se com ele e começaram a correr. Ira ao notar isso se sente incomodado, pois é como se estivessem o chamando de feio ou intolerável.
É claro que se tratava de sua aparência, pois para os residentes locais, nunca haviam visto qualquer criatura semelhante em sua aparência, o que o fazia de um monstro. Ira observa uma pequena vila camponesa, onde passou a ser visto como o demônio das florestas. Sua fama começou a se espalhar antes mesmo de lhe chegar este conhecimento.
Eventualmente, Ira conseguiu se aproximar das casas desta pequena vila camponesa. Foi recebido aos gritos e histerias das mulheres e da agressividade dos homens que o cercavam com armas brancas como método de defesa de suas famílias.
Isso tornou a vida de Ira mais difícil, pois percebeu que não podia mais sair livremente por aí em busca de seu conector, já que é sempre recebido sobre gritarias e de seus nomes atribuindo ao Satanás, Capeta, Coisa Ruim, Bicho do Cão e outros nomes que saiam das bocas dos humildes camponeses.
Ira então, tomou uma outra iniciativa em busca de seu conector, uma busca furtiva e discreta. Utilizou do ambiente para camuflar-se e esconder-se das vistas das pessoas que por ali estavam.
Sua busca parecia inútil. Ele concentrou suas buscas na maior concentração populacional que ele pôde achar. Esgueirou-se entre os telhados das casas e observou um por um até encontrar a marca espiritual na testa. A noite começou a chegar e Ira se aproveitou da escuridão para procurar mais perto, no entanto, sem sucesso novamente.
Neste estado, decidiu voltar para o seu ponto de ressurreição e procurar pelo outro lado, já que não obteve sucesso pelo caminho que trilhou. Passou em sua cabeça que talvez a resposta estaria fazendo outro caminho. Ira se surpreende na metade do seu caminho de volta entre as árvores, ao se deparar com um garoto de cabelo espetado para os lados, e na testa dele, havia a marca espiritual.
Sua primeira reação foi de felicidade, pois a sua busca pelo conector havia acabado por ali. Ele passou a seguir o garoto pelas sombras até a sua casa, que era uma humilde moradia entre as árvores e um caminho de terra que dava direto para a porta da frente até a cidadezinha camponesa.
O garoto entrou em casa e acendeu a luz. Ira vai até a frente da porta da casa do garoto e tenta abri-la da forma como ele abriu, mas estava trancada. O garoto percebe que há alguém do lado de fora girando a maçaneta e começa a ficar nervoso, achando que é algum tipo de ladrão ou bandido querendo lhe prejudicar:
— Quem é? O que você quer comigo?!! — disse o garoto, assustado e ficando com medo.
— Sou eu! Abre essa porta que eu vim te ver!
— Eu?! Eu quem?! Com essa voz estranha, você é algum tipo de monstro?! Ou pior ainda, você é o Demônio da floresta?!!
— Demônio da floresta? Ah, o nome que estão me chamando por aí, não é? Talvez eu seja ele mesmo...
— Saia daqui imediatamente! Não abro porta para o mau e muito menos para um demônio florestal! Me deixe em paz!
— Não posso fazer isso. Eu vou te ver mesmo você não querendo.
— Mas o que você quer comigo hein?! Eu não tenho nada a resolver com você!
Um silêncio repentino. Isso deixa o garoto ainda mais com medo e paranoias em mente, tentava achar lógica do porque isso estava acontecendo. Não havia ninguém por perto para pedir ajuda.
O silêncio permanece. O garoto toma um resquício de coragem para abrir a porta. Pegou a sua vassoura de varrer o chão da cozinha consigo e se aproxima da porta lentamente. Destrancou a porta devagar e abriu, muito devagar, a porta, observava todo o campo de visão que a porta poderia lhe proporcionar pela abertura. Mas de repente, uma mão surge pela fresta da abertura, para a surpresa do garoto, era a criatura que estava na frente da sua casa, que aguardava pacientemente a abertura da sua porta.
Segurando a porta e olhando por dentro, Ira observa a marca na testa e começa a falar:
— Ahhh... Então é você mesmo! — disse Ira, abriu a porta com força bruta, empurrou o garoto para trás.
O garoto se levantou com a vassoura na mão e partiu pra cima da criatura com a vassoura, batia nele, mas era ineficaz. A criatura não esboçava qualquer tipo de movimentação de defesa de seus ataques. Isso fez com que o garoto ficasse mais histérico e gritava:
— Saia da minha casa Demônio! Aqui não tem lugar para você! — disse o garoto, batia com a sua vassoura.
— Pare com isso. Você vai acabar quebrando isso que está segurando e depois vai querer colocar a culpa disso encima de mim.
— O que você quer comigo?! O que eu fiz para você querer aparecer aqui em minha casa?!
— Por que eu não poderia aparecer aqui na sua casa? Você pelo visto mora sozinho, no meio da floresta. Ter companhia de vez em quando não parecer ser ruim. — disse Ira, esboçou um sorriso malicioso em seu rosto enquanto encarava o garoto.
— Você quer ficar na minha casa? Pode ficar por aqui, eu vou pra outro lugar!
O garoto correu rapidamente para fora de sua casa. Ira olhou pra trás e exibiu um sorriso sádico em seu rosto, como se ele tivesse gostado desta reação exagerada por parte do seu conector.
O garoto passa a caminhar em direção a vila camponesa, pois olhou para trás e percebeu que o demônio da floresta havia ficado em sua casa e não estava o seguindo. Enquanto passa vários tipos de pensamentos em sua mente, ele continua conferindo as suas costas para ter certeza de que não está sendo seguido pela criatura. Porém, no meio do caminho até a vila, ele percebe a figura da criatura se aproximando dele e com um sorriso malicioso em seu rosto, o assustava ainda mais, o que o fez correr em direção a vila e gritava por socorro.
Os moradores da vila começam a acordar ao ouvir os gritos do garoto e o garoto segue correndo e gritando até a casa do Pastor daquela pequena vila. Ao chegar na frente da porta da casa, o garoto começou a bater e gritar por socorro para o pastor:
— Pastor!! Pastor!! O Demônio da floresta apareceu e foi até a minha casa!! Por favor, o que eu faço?!! – disse o garoto, batia desesperadamente na porta.
O Pastor abre a porta com uma expressão assustada.
— O Demônio da floresta?! Então essa coisa realmente existe?! Achei que era uma história de terror contada por aí, mas se o que você está falando for verdade, temos que fazer algo a respeito dele!
— Ele esteve me seguindo até aqui, mas acho que consegui ser mais rápido que ele no meio do caminho.
— Entre em minha casa garoto, você pode passar essa noite por aqui. Terei que fazer umas coisas para você poder voltar a sua casa amanhã — disse o Pastor, preparou-se para sair.
O garoto se encontra paralisado de susto dentro da casa do pastor. Logo o garoto percebeu que a mulher do pastor se aproximou.
— Você está bem? Parece estar apavorado de medo.
— Sim senhora. Parece que essa história do Demônio da floresta é real e estive cara a cara com ele. Foi terrível.
— Você acordou os meus filhos com essa gritaria e provavelmente acordou todos os outros que estiveram no caminho até aqui.
— Me desculpe senhora, não tive intenções de prejudicar o seu descanso e de seus filhos. Eu estava sozinho e não sabia como lidar com essa situação. Eu só consegui pensar em vir até aqui e falar com o pastor.
— Hmmm... Você pode ficar no sofá. Vai querer um cobertor?
— Não obrigado! Com essa correria toda eu estou bem quente, creio que não vou precisar.
A mulher do pastor o dá um olhar frio e volta até o seu quarto. O garoto fica desconfortável ao saber que acabou prejudicando os outros. Percebeu que um dos filhos do pastor acordou, foi até a cozinha, tomou um copo da água e voltou ao seu quarto. Não o cumprimentou e fingiu que ele não está na sala. Isso o deixou ainda mais desconfortável com a situação, pensava que eles estavam com raiva de sua presença na casa.
O garoto se dirige ao sofá e se encolhe de frio, pois seu corpo já estava esfriando da correria que ele teve recentemente. A vila começa a realizar uma busca para encontrar esse Demônio da floresta, mas, não o encontram, pois ele estava bem escondido e pulando de telhado em telhado até encontrar onde o garoto estava.
Depois de algumas puladas de telhados, identifica onde o garoto estava. Decidiu que era melhor observa-lo com um pouco de distância para identificar melhor o seu comportamento e analisar suas fraquezas na intenção de utiliza-las em momentos oportunos, para lhe causar as emoções de raiva e ódio.
Com uma busca sem sucesso, os moradores voltaram para suas casas e a noite passou.