Volume 1
Capítulo 17: Novo objetivo? O plano de fazê-la rir!
Espaço: Casa do Spark
Tempo: Sábado de manhã.
Após o almoço, Luiza pegou os pratos de Spark e Talita, levou para a pia da cozinha e começou a lava-los em silêncio. Spark agradece pela gentileza de Luiza, que permanece em sua expressão neutra, mas agradece pela consideração.
Talita fica na cozinha para finalizar a limpeza e a organização de pratos e talheres, enquanto Spark e Luiza se assentam no sofá para esperar por Talita. Em meio de encaradas, Luiza não encontra problemas para encarar diretamente Spark, que ficou desconcertado por não saber como reagir ou como começar um assunto.
Luiza resolveu tomar a iniciativa de começar uma conversa com Spark:
— É difícil para você?
— Difícil? Como assim difícil para mim?
— Vejo que você fica desconfortável ao me observar nesta expressão inalterada. Contudo, sei que isso chega a ser uma surpresa para você. Me diga Spark, você é feliz?
— Feliz? Eu acho que feliz não é bem a palavra que me define Luiza... Vamos dizer que eu sou conformado e grato pelas coisas que eu tenho.
— Queres dizer que não te consideras feliz? O vi sorrindo anteriormente e vejo que não se trata de uma felicidade vazia.
— Posso estar errado quanto a isso, mas creio que não tem como uma pessoa se dizer feliz, pois felicidade é um momento. Isso não significa que eu não goste da vida que eu tenho, mas quer dizer que tento extrair o melhor da situação para conseguir felicidade naquele momento.
— No seu caso Luiza, eu confesso, sua situação me deixou pensando a respeito. Quer dizer que mesmo você passando por um momento de felicidade, não consegue esboçar expressão de felicidade?
— Não. Por muito tempo estive em buscas de informações das mais variadas como uma forma de solucionar o meu problema. Meus pais sempre me incentivaram a buscar conhecimento para aplica-los e conquistar o que chamamos de sabedoria. A sabedoria permite viver a vida de uma forma aprimorada, pelo menos, é o que meus pais dizem.
— Existe alguma cura para isso?
— Se existe, está a ser descoberta. No entanto, o que existe é uma suposição minha conforme as minhas pesquisas referentes ao assunto em questão. Esta suposição consiste que, para curar esta minha condição de inabilidade de expressão, um forte sentimento deve ser criado. Pode ser qualquer tipo de sentimento, contanto que seja um forte o suficiente para quebrar esta neutralidade de minha expressão facial.
— Fortes sentimentos hein... Qual foi a última vez que você sentiu uma forte emoção e com o que sentiu?
Luiza ficou em silêncio perante a pergunta do garoto. Não era necessário a explicação sobre essa pergunta, pois pelo silêncio, o garoto pôde compreender que na vida dela, não houveram muitos destes momentos.
— Bem, não se preocupe muito com isso Luiza. Podemos começar a criar bons momentos juntos e talvez isso te faça sorrir!
— Como seria isso?
— Que tal brincarmos? Agora de tarde eu não tenho compromissos, então costumo sair para o quintal e brincar de imaginação.
— Brincar de imaginação. Como se brinca disso?
— Ah, é simples! Vamos lá fora que eu te ensino! — disse Spark, levou Luiza para o quintal.
Talita, que acabara de finalizar a organização da cozinha, acompanhou Spark e Luiza para o lado de fora também. Demon, estava em contemplação de seus próprios pensamentos, o que impediu que notasse a presença deles do lado de fora da casa. Luiza se depara pela primeira vez, com a figura de Demon.
Um silêncio constrangedor permanece no ambiente. Spark, havia ficado extremamente nervoso com a possibilidade de Luiza achar que havia um Demônio nas redondezas de sua casa, o que causaria uma grande má impressão de sua pessoa. Talita, ficou chocada com o fato de Demon estar por ali, pois não havia avisado anteriormente Luiza sobre sua presença.
Demon, estava irritado com o fato de sequer ter sentido a presença da garota. Mesmo com suas capacidades reduzidas em sua forma comum, era de seu conhecimento a aproximação de pessoas em sua volta por meio de seus sentidos apurados. Contudo, seus sentidos apenas funcionavam ao se deparar com indivíduos que exalavam calores sentimentais, o que desta garota, ele não sentia nada.
Após um tempo de encaradas, Luiza resolve se manifestar.
— Que criatura fascinante. É deveras exótica vossa aparência.
— Exótica a minha aparência? Por um acaso quer fazer um elogio? Se for, faça direito!
— E ainda possui capacidades linguísticas de nosso entendimento? Que interessante... — disse Luiza, aproximou de Demon.
— Luiza, então... Como eu posso te explicar ele...? Este é o Demon, pelo menos, é como ele quer ser chamado. Ele apareceu por aqui um dia e esteve mantendo companhia conosco até o momento. — disse Spark, acalmou por um momento.
— É só com isso que você consegue me definir moleque? Por um acaso se esquece do favor que fiz a você com os valentões que te agrediam na escola?
— Demon, por favor! Não precisava falar dessas coisas agora!
— Luiza, eu sei que ele tem uma aparência... Maligna, mas fique tranquila, ele não é algo que vai poder te machucar ou fazer maldades contigo. — disse Talita, olhou diretamente para Demon de forma desafiadora.
— É verdade, eu perderia meu precioso tempo fazendo maldades com você, pois isso, não me traria benefício algum. Mas não tente torrar a minha paciência, pois eu não sou de sentir remorso com qualquer coisa que eu vá fazer com vocês. — disse Demon, pulou para cima de um galho de uma árvore alta.
— As capacidades físicas desta criatura são deveras aprimoradas para conseguir dar um salto desta altura. — disse Luiza, pegou um caderninho em seu bolso da calça e começou a fazer anotações.
— Realmente, teve uma vez que ele se transformou em um gato, então acho que ele seja algum tipo de gato mutante. Pelo menos, é o que eu quero pensar que ele é... — disse Spark, observou Demon encima do galho da árvore.
— Gato mutante? Isto torna as coisas deveras interessante... — disse Luiza, continuou a anotar em seu caderninho.
Spark nota que Luiza demonstrou grande interesse em fazer pesquisas sobre o Demon. Em sua mente, isso era algo bom, pois trazia oportunidade de Luiza voltar até a sua casa novamente pela razão de pesquisar mais sobre Demon. Talita, se sentiu aliviada em perceber que Luiza não ficou incomodada com a presença da criatura.
— Bem, vamos começar? É fácil, você vai pegar logo de cara como se brinca de imaginação. — disse Spark, esticou seu corpo.
— Será uma novidade para mim isso também. Brincar de imaginação deve ser divertido! — disse Talita.
— Como vocês duas vão participar, vou explicar como vai ser a brincadeira. Primeiro, é preciso que todos possam colaborar com a história, sendo assim, eu vou inventar uma situação e logo em seguida, a outra pessoa pode dar continuidade na história ou inventar algo diferente para engajar a história.
— Ahn? Eu acho que não entendi bem a parte de engajar Spark...
— Pelo que pude perceber, isto tudo se trata da amalgamação de pensamentos aleatórios e possíveis dentro de uma esfera criativa de cada indivíduo sobre sequência direta ou indireta no enredo histórico. — disse Luiza.
— Acho que dá para resumirmos isso fazendo um exemplo prático da coisa... Hahahaha — disse Spark, impressionou-se com a explicação de Luiza.
— Então eu vou começar... É um dia chuvoso em meio a cidade. Capitão Spark sobrevoa sobre o território e observava os pacíficos cidadãos andando pela rua calmamente como um dia normal. Agora que eu parei a criação, devemos dar a continuação da história. Talita, por que não começa entrosando a sua parte da história agora? — disse Spark, atuou enquanto contava sua história.
— Tudo bem! Quando de repente... Aparece uma nova heróina que também sobrevoava na cidade, na busca do vilão que escapou da prisão governamental de super-vilões. A heroína deparou com o herói Capitão Spark e decidiu unir forças para lutar contra o mal. Continuaram voando pela cidade, até que finalmente... Continua Luiza! — disse Talita, atuou enquanto contava sua história e apontou para Luiza.
— Encontraram o vilão com uma nova armadura reluzente. Seus apetrechos eram de armas bélicas de alta potência. Sua maldade era de proporções sádicas e imorais, pois ameaçava destruir a cidade com suas armas poderosas. Seu novo protótipo de armadura ainda estava em desenvolvimento, o que não lhe permitia utilizar com eficiência. Logo, o vilão decide jogar uma bomba na cidade. Continue Spark.
— Muito bom Luiza! Capitão Spark logo percebe as intenções malignas do vilão e voa para perto do asqueroso vilão. O inimigo largou sua bomba em direção da cidade, mas Capitão Spark com a ajuda de sua companheira heroína, conseguiram impedir o funcionamento da bomba com seus poderes sobrenaturais! Continua Talita!
— O vilão dá sua risada malvada e diz que tem uma carta na manga para nós heróis. Seu plano era dizimar a cidade junto com seus inimigos e com os heróis. A heroína imediatamente usa de seus poderes psíquicos para impedir o movimento do vilão, porém, apareceram reforços. Seus comparsas de vilania surgiram para ajuda-lo na luta. Continua Luiza!
— Seus números ultrapassavam de 100. Os dois heróis encontravam em uma situação desesperadora, mas a coragem deles o permitiam manter a compostura em frente ao mal. O vilão se sentiu confiante e ordenou que atacasse os heróis com toda a sua força, utilizavam de suas armas bélicas de longo alcance para causar dor e sofrimento. Continue Spark.
E assim, continuaram narrando e desenvolvendo a história criativa. Spark, Talita e Luiza, se sentiram à vontade com a brincadeira, passaram longo tempo e se divertiam com as aleatoriedades que apareciam com a mudança de ideias que surgiam entre cada um.
O tempo passou e passou rápido para os três, que estavam envolvidos com a história e não queriam parar de criar mais situações e história. Luiza, reparou o pôr do sol. Imediatamente, ela retira um outro caderninho que estava em seu bolso, junto com o primeiro caderno. Este novo caderno tinha emojis como capa, tanto em frente quanto atrás.
Curioso sobre as anotações de Luiza, Spark resolveu perguntar:
— Percebi que gosta de anotar as coisas Luiza. O que está anotando desta vez?
— Este é um caderno diferente. Um caderno tenho para anotar curiosidades que me interessam para que possa procurar informações posteriormente e com mais calma. Este caderno é um presente de meus pais, que deram o nome de caderno da felicidade. Disseram que escrever é uma forma de deixar registrado em seu cérebro. Por essa razão, estou anotando este momento neste caderno.
— Ahhh que legal isso Luiza! Talvez eu deva anotar também, porque foi muito legal brincar de imaginação com vocês! — disse Talita.
— Essa ideia de anotar no caderno é muito legal Luiza. Que bom que você se divertiu hoje! Vamos brincar mais vezes quando você puder vir para cá de novo! — disse Spark.
— Eu agradeço por essa nova experiência. Foi de fato, algo único para minha pessoa vivenciar essa brincadeira que chamou de imaginação.
— Fique à vontade para aparecer aqui em casa para brincarmos de novo Luiza. Já te considero uma boa amiga!
— Por agora, precisarei me retirar. Tenho um compromisso para esta noite.
— Está bem. Vamos te acompanhar até chegar a sua carona.
Spark, Talita e Luiza seguem caminhando até a trilha de terra que segue em direção da cidade. Sua carona finalmente chega. Luiza é recepcionada pelo seu mordomo particular, que se apresenta humildemente para os três e sinaliza para Luiza entrar no carro e ir para sua casa.
Luiza se despede de Spark e Talita enquanto planeja um futuro encontro. Ao entrar no carro, Luiza é levada imediatamente em direção da cidade. Talita e Spark decidem retornar para a casa, mas no meio do caminho, Spark resolveu perguntar sobre algumas dúvidas que surgiram após a despedida:
— Talita, a Luiza tem um mordomo. Este mordomo é bonzinho com ela?
— O Demétrio? Sim, ele é um doce de pessoa. Em aparência, ele sempre passa essa impressão de um homem muito sério, mas ele só fica desse jeito que é para impedir engraçadinhos de se aproximarem dela. Ele trata todos muito bem. Por que a pergunta Spark?
— Enquanto brincávamos, percebi que ela estava se divertindo conosco, porém, não conseguiu esboçar um sorriso no rosto. Eu penso que, mesmo ela estar se divertindo, deve se sentir triste por não conseguir sorrir... Espero que ela esteja sendo bem tratada pelos outros, porque não deve ser fácil para ela.
— Eu sei o que está pensando Spark. Também acho que ela deve ficar triste por não conseguir sorrir, mas hoje, conseguimos nos divertir e conhecendo ela, acredito que ela ficou muito feliz por ter vindo aqui. É legal da sua parte se preocupar com ela, mesmo a conhecendo por pouco tempo.
— Eu nunca havia visto nada igual antes. Eu já me deparei com pessoas que ficam muito felizes, já vi também pessoas que ficam muito raivosas, mas nunca vi uma pessoa que não consegue se expressar. Sinto pena por ela não poder sorrir...
— Ei, não sinta pena dela Spark. A última coisa que ela vai querer é que você converse com ela ou seja amigo dela por pena. Luiza é uma mulher forte, que suporta a própria realidade e continua vivendo esperançosa que esta condição é passageira. Nós, como amigos dela, podemos colaborar com isso ao nos divertirmos juntos.
— Você tem razão Talita. Não sinto mais pena da Luiza. Sei que um dia, ela vai conseguir sorrir!
— É isso aí. Conto com a sua ajuda nisso Spark. Seria maravilhoso vê-la sorrindo.
— Hahaha, é isso aí! Vamos trabalhar juntos para fazê-la sorrir um dia!
No carro, Luiza fica observando a paisagem em sua volta enquanto o carro seguia em direção a cidade. Demétrio observou que Luiza estava olhando a paisagem com muito mais interesse do que o costume, o que o fez acreditar, que Luiza estava eufórica. Demétrio a conhecia bem, e por isso, resolveu conversar com ela:
— Percebo que a senhorita Luiza está observando a paisagem com atenção. Por um acaso a senhorita se divertiu nesta tarde com eles?
— Deveras Demétrio, hoje foi um dia diferente para minha pessoa. Conheci uma brincadeira chamada imaginação e foi uma exclusividade divertida, uma quebra de rotina. Pretendo retornar ali mais vezes.
— Fico contente em vê-la focada desse jeito senhorita. Espero que vocês se tornem bons amigos. Seus pais ficariam felizes em conhece-los se for de vossa intenção apresenta-los.
— Os apresentarei para os meus pais quando explicar sobre eles. O senhor os conhece e sabe como os tratariam se não os aprovassem.
— Seus pais querem o melhor para você senhorita, e por isso, sabes que eles fazem esses testes como prova disso.
— Compreendo a razão de meus pais em suas atitudes Demétrio, mas não pretendo concordar sempre com vossas decisões.
— Entendo. Se eles são pessoas de vossa confiança, eu os aceitarei e os tratarei com o devido respeito e cuidado.
— Obrigada Demétrio.