Volume 1

Capítulo 3: Meu Aniversário II

(Perspectiva de Maria)

 

Por que isso teve que acontecer?

Estávamos nos divertindo e tudo ocorria conforme o planejado. Lucy estava se entretendo em sua festa, eu estava prestes a conseguir um emprego para ajudar com as despesas de casa e finalmente poder juntar um dinheiro para quando ficar adulta. Agora estamos enfurnados nesse quarto com medo daquelas coisas que vieram nos atacar.

Odeio essas coisas. Por que elas existem?

Por mais que eu tenha tentado esconder, quando meu pai e minha mãe me explicaram o que existia lá fora eu tive pesadelos por semanas. Mas nunca pensei que fosse vê-los. Depois de um tempo pude perceber que até agora, nunca tinha ocorrido algum incidente em casa desde que eu nasci, então achava que poderia viver despreocupada. As chances eram mínimas, presumi. Mas isso que está acontecendo agora é real. Todos nós podemos morrer e eu não me preparei para isso.

Não quero perder ninguém que eu amo. Mas agora é diferente. Agora é tão vívido e claro como a luz do sol que minha ideia era tão ingênua por acreditar que estávamos seguros.

Estão todos em silêncio sem se mover e segundos duram uma eternidade por causa dessa entidade em azeviche que todos estão presenciando. Coloquei Lucy atrás de mim, mas ele não para de encarar para a criatura negra que entrou em nosso quarto e para o sangue no chão…

Quem é ela? Não me recordo seu nome… Droga.

Eu preciso ser uma irmã mais forte para proteger meu irmão, mas só de olhar para essa criatura e para o que ela acabara de fazer, minha mente fica turva de tanto medo como se minha alma já tivesse desistido de lutar.

Parece que meu coração sairá pela a boca e minhas pernas fraquejam. Eu não consigo sentir firmeza alguma nelas e se eu tentasse correr com certeza cairia no chão. Raciocinar é difícil e não sei o que devo fazer.

Todos estão em silêncio e ouço apenas o som das gotas de sangue caírem no piso de madeira e escorrer entre as frestas. Nunca tinha visto tanto sangue assim na minha vida.

Suas oito patas finas, mas da grossura de um antebraço humano deixa bem claro o enorme tamanho dessa coisa em formato de aranha. Há pelos em todo seu corpo o que deixa sua aparência mais repugnante. Como meu pai já tinha me instruído, eles possuem uma coloração preto fosco sem vida.

Sem sombras de dúvidas isso é a cor da morte.

Mas o pior de tudo é o que há em uma de suas patas. A cabeça de uma das crianças que estava conosco conversando até agora pouco. Ela está usando um vestido azul bebê, cabelo castanhos escuros e tinha um laço vermelho preso em seu cabelo. Mas devido ao que acabou de ocorrer, o laço se desprendeu e caiu no chão em cima da poça de sangue.

Essa aranha alfinetou a cabeça dela com uma de suas patas como se fosse nada. Atravessou totalmente a cabeça dessa pobre garota e agora o corpo dela está agarrado a aranha pela a cabeça e o monstro age como se fosse nada demais.

Seu corpo, ainda preso a pata da aranha, se balança como um boneco de pano. Cada movimento da aranha faz o corpo balançar de um lado para o outro. Não temos reação. Ninguém gritou. Ninguém conseguiu entender o que estamos presenciando ainda.

A aranha está fazendo movimentos bem estranhos, como se estivesse se preparando para atacar. Eu não sei porque ela agiria assim ou se é apenas a forma de lutar dela. Essa criatura que entrou pela a janela e matou essa pobre menina já está avançando lentamente para ceifar nossas vidas.

Saiam daqui! AGORA!grita Jennifer enquanto corre em direção a Aranha.

Jennifer… Droga, eu não quero que ela morra lutando contra esse monstro. Não posso deixa-la sozinha. Mas, o que eu posso fazer?

Olho pra o meu irmão, que ainda se encontra imóvel. Eu preciso protegê-lo como irmã mais velha, é meu dever. Jennifer está dando o tempo necessário para salvar a vida de todos, é meu papel fazer o mesmo.

Muitas crianças começam a correr desesperadamente para a saída, com várias delas tropeçando e pisando umas nas outras para sair o quanto antes. Eu tento puxar meu irmão pelo o braço que ainda está encarando o monstro de forma inerte. A aranha inicia seu momento ao escalar e andar pelo o teto tentando cruzar todo o quarto até a porta afim de evitar que fugíssemos com a menina ainda presa ao seu corpo. Algumas crianças conseguem sair do quarto, mas quando eu e Lucy seríamos os próximos, ele se solta de mim e volta correndo para dentro.

Por que!?

O que você está fazendo!? Temos que fugir!

Eu não sei porque ele está fazendo isso. Eu devo voltar, mas estou com medo. Olho para trás para entender o que acontecendo e finalmente compreendo.

Vejo Lucy correr para o meio do quarto para socorrer aquela menina com quem estava conversando agora pouco, Alexandrina. Ela parece impossibilitada de correr. Jennifer entende o que Lucy está fazendo e se coloca na frente para proteger ambos.

Droga, não há nada com que eu possa fazer. Ir lá só atrapalharia as coisas, eu acho. Sem falar que estou apavorada. Eu não quero entrar ou será que devia? Talvez eu só esteja inventando desculpas para não entrar. Talvez eu pudesse ajudar. Ele é meu irmão mais novo apesar de tudo. É meu dever protegê-lo.

Minha mão treme. Me encosto no batente da porta enquanto aguardava os dois voltarem.

Apoio moral é o máximo que posso? Que péssima irmã eu sou. Para quem estou mentindo, eu deveria ajudar Lucy a carregar Alexandrina, mas não consigo, minhas pernas não deixam.

Droga. Eu sou patética.

A aranha realiza um pulo em direção a Jennifer. Ela é extremamente rápida, mal consigo entender o que está acontecendo.

Jennifer tenta pular para trás para esquivar-se, mas não consegue impedir o ataque e se defende com sua arma. Um som agudo gerado pelo o impacto foi muito característico como se fossem dois metais se colidindo. É como se a pata dessa aranha também fosse feita de ferro.

Enquanto a aranha está medindo força contra a Jennifer que se defende usando sua arma que não nunca tinha visto na minha vida, Lucy e Alexandrina conseguem sair do quarto e ambos caem no chão cansados. Volto a olhar para a Jennifer que a é última que sobrou. Ela já estava me encarando de atenção e quando nossos olhos se encontraram ela grita:

Feche a porta agora!

Que!? Como assim fechar a porta?  —  Não! falta você! Corre! repreendo seu pedido continuando em meu estado inerte e desesperada sem saber o que fazer.

Droga, por que ela quer que eu fecha a porta? Auto-sacrifício? Eu não sei se ela dá conta sozinha. Ela deve ter visto que Lucy conseguiu sair e está pedindo para fechar afim de proteger a gente.

Eu olho para trás e vejo todas as crianças no salão principal. Alguns deitados, outros num canto, longe das janelas chorando. Ao mesmo tempo vejo minha mãe e mais quatro Demi-Humanos vindo em minha direção correndo enquanto outros adultos vão prestar auxílio a seus filhos.

Volto a olhar para dentro do quarto para avisar a Jennifer que reforços estavam vindo.

Jennifer, eles estão vind… minha voz é interrompida pelo o que acabo de presenciar. A aranha tinha enfiado um de suas patas através de um de seus ombros, atravessando totalmente.

Caio de joelhos no canto da porta, sem saber que fazer. Meus lábios tremem. Jennifer também cai de joelhos enquanto tenta se defender de qualquer maneira.

O que devo fazer?

Quando menos espero, sinto alguém me tocando meu ombros por trás. É o Lucy.

— Irmã, fica calma. enquanto olho nos olhos do meu irmãozinho, vejo o vulto da minha mãe e dos demi-humanos passando do meu lado e entrando no quarto. Eu não olho para o que acontece lá dentro, mas há barulho. Muito barulho. Ouço o grito da Jennifer e lágrimas escorrem dos meus olhos.

Lucy me abraça e continua olhando para dentro do quarto, assistindo tudo. Eu simplesmente não entendo como ele consegue fazer isso. Ele não parece estar com medo. Eu quem deveria estar confortando-o, não o contrário. Ele tem apenas 7 anos e tomou conta da situação como alguém adulto. Ele não sabia sobre a existência dos monstros até hoje e agiu como um verdadeiro adulto sem pensar duas vezes.

Lucy é realmente incrível.

Continuo agarrada ao meu irmão até que ouço um pequeno som de areia caindo no chão de dentro do quarto e me viro pra olhar o que está acontecendo. Vejo minha mãe prestando auxílio a Jennifer e os quatro demi-humanos olhando pela a janela em caso de aparecer um outro monstro.

A aranha foi destruída e todo restou por uma areia negra no chão. Meu pai me explicou que após de mortos os monstros viram esse pó negro. Vejo também algo reluzente em cima desse pó-negro o que parece ser um minério. Eu não faço ideia do que seja isso e não planejo saber tão cedo.


Um tempo se passou e após a Jennifer ser levada para a salão afim de receber o tratamento adequado e confirmado nossa segurança, a situação não melhorou.

Aquela menina… Ela morreu. Seu nome era Ariel. Não erámos amigas, mas ela nunca fez mal a ninguém. Seu corpo continua dentro do quarto. Um dos demi-humanos colocou um lençol em cima de seu corpo. O quarto está fechado e o que há lá dentro é apenas o corpo de uma menina inocente.

Todo o salão principal está em um clima gélido, como se já estivéssemos em um funeral. Ninguém fala mais nada. O único som que se escuta é o choro de crianças mais novas – incluindo o meu – e o som dos gemidos de dor da Jennifer.

Ainda há pais que estão lá em baixo. Os pais da Ariel, inclusive. Não quero estar perto quando eles descobrirem que a filha deles morreu. Ninguém poderia esperar por isso. E se tivesse sido o Lucy? Ele se arriscou tanto, poderia ter morrido. Eu não consigo imaginar o que faria sem meu irmão. Minha família ficaria devastada e não sei o que aconteceria com a gente após isso.

Desde que minha mãe foi tratar Jennifer o Lucy não sai do lado dela olhando cada ação que minha mãe faz enquanto cura a Jennifer. Seus olhos arregalados mostram que Lucy está muito entretido com isso.

Parece que ele se interessou por magia.

 



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