Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 9: Paladino das Chamas.

     Alguns dias haviam se passado desde o ocorrido. Daniel estava desaparecido enquanto investigavam o paradeiro do colega, o grupo de caçadores encontrava uma quantidade crescente de vampiros e demônios ainda vivos, com seus corpos mutilados espalhados pelas ruas e escondidos nas sombras para evitar a luz do sol. Essa série de eventos macabros parecia estar relacionada ao desaparecimento do Daniel, e a equipe estava determinada a encontrar o Paladino amaldiçoado.

— Além de caçar essas criaturas temos que caçar seu irmão, agora? — Eliott levantou a cabeça decapitada de um vampiro. — Não esta os finalizando, olha! Fala com ele.

— Quem fez isso com você? — Silver perguntou ao vampiro.

— Aquele maldito Paladino amaldiçoado...

— A quanto tempo?

— Ele saiu daqui a alguns minutos, disse que ia jogar meu corpo no mar, se eu não falasse onde o Lebre Branca está.

— Tudo bem, vamos encontrar seu corpo e finalizá-lo. — Eliott disse e  colocou a “cabeça falante” no banco traseiro do carro.

     Eliott dirigiu até o rio da cidade, na tentativa de encontrar Daniel sem descer do veículo.

— Ali! — Silver disse no momento em que avistou o irmão. — Vou lá falar com ele!

— Não, deixa que vou!

     Enquanto Daniel saboreou um cachorro-quente à beira-mar, avistou Eliott, com quem tinha uma relação de tolerância mútua. Mesmo não sendo amigos próximos, se aturavam e, por um breve instante, Daniel decidiu fazer um gesto de cortesia ao oferecer um pedaço do lanche a Eliott.

— O Paladino Azul não tem mais o que fazer?

— Pobre Daniel, se esqueceu que todos que ama morre! Foi por isso que voltou para vida do seu irmão, para deixá-lo ainda mais preocupado?

— Quem é você para vir me dar sermão?

— Realmente, sou só o líder dos Paladinos, detentor do poder azul.

     Daniel se ergueu visivelmente irritado.

— Você só é o Paladino Azul, porque eu não pude ser!

— Por qual razão você não pode ser mesmo? Ah, é, só os com coração puro podem ser o Paladino Azul.

     Alguns metros adiante, Silver observava tudo atentamente de dentro do carro, ele  sentiu a tensão que pairou no ar entre os dois indivíduos. Temendo o pior, decidiu ligar para um dos seus companheiros Paladinos.

“Senhor?”

— Peça que isolem o quarteirão!

“O protocolo pede que eu pergunte o motivo”

— Meu irmão e o Eliott vão se matar.

“ Vou avisar o conselho”

    Eliott encarava Daniel, que caminhou em direção contrária.

— Foi sua própria conduta que te fez sofrer Daniel, você só trouxe problemas para nós.

      Daniel deu um sorriso de canto, as mãos fechadas em punho emanavam uma energia vermelha fragmentada, sem pensar duas vezes ele desferiu um soco contra Eliott, que desviou por pouco.

— O Paladino das chamas voltou? — Eliott desviou dos golpes do Daniel.

      Eliott foi ágil ao desviar dos golpes do Daniel. Ele sabia que, se revidasse, a luta duraria o dia inteiro e toda aquela orla seria destruída. Ambos se igualam em questão de força e poder, mas por ser o Paladino Azul, Eliott teria uma vantagem.

Eliott segurou o soco do Daniel e o encarou.

— Você quer ficar aqui o dia inteiro? Como você disse “o Paladino Azul tem mais o que fazer”

***

      Em frente ao hospital, um lugar que transbordava emoções conflitantes, Johnny permaneceu com um buquê de flores nas mãos, uma pitada de nervosismo refletida em seus olhos ansiosos. As flores vibrantes eram um oásis de cores no ambiente sereno, o que contrastava com a sobriedade do local. Duque observou Johnny com curiosidade, intrigado pela razão por trás daquela atenção tão especial para o buquê. As flores exalaram um perfume doce e reconfortante, o que criou um contraste acolhedor com o ambiente hospitalar.

— Não me diz que foi o amor da minha vida que mandou essas flores. — Duque pegou as flores e sentiu o aroma doce.

— Não viaja! Essas flores são para Rose; ela vai sair do hospital hoje. Promete que se ver algo que não conhece, vai ficar quieto e agir naturalmente.

      Duque contrariou Johnny e olhou para todo lado sorrindo; toda vez que passou por algo que não conhecia, ele parou, observou e anotou em seu caderno.

— O que é isso? — Duque olhou curioso para uma máquina de refrigerantes e tentou entender como funciona.

— Eu falei para você não fazer isso! Agora vem logo.

       Enquanto conversava com a recepcionista, Duque acenou e sorriu para cada pessoa que passou por ali. A moça entregou um crachá par Johnny e  disse: “Você pode passar, ele não. Não é permitido a entrada sem vestes.”

— O que tem de errado com minha roupa? — Duque olhou para as próprias vestes.

— Você só está de saia! E nem é esse o problema. — Johnny disse indignado.

— Tudo bem, eu espero aqui e você vai lá.

— Promete que quando eu voltar, você vai estar aqui?

— Juro de minguinho.

       Johnny adentrou o elevador, sua última visão foi do Duque que acenou para ele, enquanto a porta se fechava.
       Rose observou o sol se pôr através da janela, mas sua atenção foi imediatamente desviada quando Johnny adentrou o quarto.

— Meu irmão não venho? — Rose perguntou sem ao menos cumprimentar Johnny, o garoto somente negou com a cabeça — São para mim? — Rose pegou as flores que Johnny segurava.

— Foi o meu pai e o seu que escolheram.

     Rose leu o bilhete sobre as flores, nele estava escrito “para a futura Paladina Azul.”
     Os gritos de uma enfermeira que dizia: “Vou chamar os seguranças" ecoou pelos corredores do hospital, Johnny logo foi ver o que se passava. E lá estava Sam, sentado em uma cadeira de rodas ele girava em círculo enquanto uma enfermeira corria atrás dele.

— Já disse, mulher! Vim buscar minha irmã bastarda! — Sam disse e se ergueu da cadeira, foi  em direção ao quarto da Rose. — Odeio hospitais.

— Você também é bastardo! — Rose disse brava.

— Estava escutando tudo, é? Sua língua e suas orelhas estão sempre afiadas.

— É melhor irmos. — Johnny disse e entregou o braço para Rose.

— Não, não e não. Pode tirar o cavalinho da chuva, “fedelho do Eliott.” — Sam se colocou entre Rose e Johnny.

     Ao chegarem no saguão do hospital, Johnny não avistou Duque, o que o preocupou. Antes mesmo do garoto sair por aí e gritar o nome de Duque, o mesmo saiu de um arbusto com um rato nas mãos.

— Então vocês são os filhos do Silver. — Duque disse e apertou Sam em um abraço.

— Qual é? Sai! — Sam se desvencilhou do Duque.

— De onde você conhece o meu pai? — perguntou Rose.

— Ele é o amor da minha vida

— Ah, é? então leva ele para longe, bem longe. — Sam disse ao sinalizar para um táxi.

— Por que você trata a pessoa que salvou sua vida assim? — Rose perguntou brava.

— Fica quita no seu canto, bastarda! — Sam entrou no táxi, seguido por Johnny.

— Você vem para isso, é? — Johnny sinalizou para o táxi andar.

— Isso poderia ser resolvido se o Silver me contasse quem é minha verdadeira família.

— Existe um motivo para ele não te contar, não é mesmo?

— Como você sabe? — Sam disse surpreso.

— Fiz minha lição de casa sobre você. Samuel Benedetti, filho de uma bruxa. — Johnny passou a mão na mexa branca do cabelo e a jogou para trás. — Se você me ajudar no meu projeto, eu não conto para ninguém.

— Isso é chantagem!

— Eu só quero ser o Paladino Azul, assim terei poder suficiente para matar o Lebre Branca.

— Quer que eu convença o Silver a te indicar para ser o novo detentor do poder azul? Mas não depende só dele, tem seu pai e o conselho.

— A gente dá um jeito, tem seu tio Daniel também.

— Nem ferrando que ele vai te ajudar.

— O que sei diz o contrário.

— Se for chantagear o tio Daniel, você vai se ferrar, mas quero ver isso. — Sam disse animado.



Comentários