Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 5: Sombra da Criatura

    Johnny mexeu no notebook, e Duque pareceu encantado com a tela do aparelho.

— Não vai ligar de volta? — Repentinamente, Duque puxou o aparelho das mãos do Johnny. — Deixa‐me ver como funciona, essa caixa mágica!

— Não tenho tempo, o meu pai já vai voltar para casa e eu tenho que estar lá.

— Então é isso? Se fizermos essa tal poção da lua, eu vou poder sair na luz do dia? — disse Duque, lendo o texto no notebook.

— Vai! Mas somente um paladino pode fazer esse tipo de poção.

— E nem um vai querer ajudar um vampiro. — Duque largou o notebook sobre o caixote de madeira. — Estou perdido, adeus humanidade! — Duque abraçou o cão que observou ambos.

— A relatos de vampiro que atacam à luz do dia, isso significa o quê?

— São sortudos do caralho? Ah, não deixa eu adivinhar, tem Paladinos ajudando eles.

— Se acharmos um desses Paladinos traíras, podemos obter uma poção para você — disse Johnny ao fechar o notebook. — Agora estou indo para casa. Certifique-se de não sair daqui e não deixar ninguém te ver — ele continuou e estalou os dedos, o que fez o  cão correr — Vamos, Steve.

— Deixa ele ficar!

— Ele que decide — respondeu Johnny ao olhar para o cão, que foi até Duque e sentou-se ao lado — Tudo bem, pode ficar, mas ...

— Se alguma coisa acontecer com ele, o mesmo acontece comigo? — completou Duque.

— Exato!

    Ao voltar para casa, Johnny correu até o quarto e trancou a porta atrás de si. Ele olhou para o dicionário do Duque sobre a escrivaninha. As folhas estavam amareladas, sujas de poeira e a tinta quase sumindo, o que fez o dicionário parecer ainda mais velho. O que ressaltou a velhice foram as palavras, muitas da Idade Média e outras da era vitoriana.

     Através dele, Johnny tentou descobrir em que década Duque nasceu ou foi transformado. Quem ele era antes de ser essa monstruosidade? Ou até mesmo por que Lebre Branca estava atrás do Duque? Eram perguntas que Johnny procurou responder para si antes de começar sua caçada atrás daquele que tirou a vida de seu irmão.

    A corrupção da inocência: Johnny era um garoto alegre, inocente e cheio de vida. Ele encontrava felicidade em atividades simples, como fazer cookies para os amigos e familiares. Sua inocência refletia-se em sua personalidade e em sua visão do mundo. No entanto, perder Martin de tal forma, mudou o curso da vida do Johnny. Esse evento negativo abalou a confiança e desencadeou sentimentos intensos de raiva, tristeza e injustiça.

    Em meio a essa dor, Johnny nutriu um desejo de vingança. Sentindo-se impotente diante das circunstâncias, ele se entregou ao seu lado obscuro, que antes esteve adormecido. Ele se tornou uma pessoa sedenta por vingança, disposta a fazer qualquer coisa para alcançar seu objetivo.

     O barulho na porta fez Johnny interromper os pensamentos; ele correu para ver Eliott que chegou.

— Encontrou alguma coisa?

       Eliott simplesmente negou com a cabeça.

— Não se preocupe, vamos achá-lo!

— Já falaram com o mestre do Martin? —  perguntou Johnny impaciente.

— Já, o Daniel não sabe de nada. São cinco da manhã, volte a dormir —  disse Eliott em tom autoritário.

    Johnny entrou no quarto sem hesitar, ligou o notebook e acessou a conta do Eliott. O garoto decidiu fazer uma busca por "Lebre Branca".

“Criatura ou humano?” O título chamou atenção do Johnny, que logo passou a ler o que dizia no documento.

“Relatório de avistamentos da criatura conhecida como ‘Lebre Branca.”

“Data: diversas épocas diferentes”

“Resumo: Uma criatura desconhecida, identificada como ‘Lebre Branca’, foi avistada no sul de Londres, Reino Unido. Este relatório aborda os avistamentos documentados da entidade misteriosa em várias regiões ao redor do mundo, incluindo Rússia, Japão, Brasil e Espanha. Além disso, observou-se que qualquer indivíduo que tentou confrontar ou deter a ‘Lebre Branca’ perdeu sua vida em circunstâncias ainda não esclarecidas.”

“Descrição da Criatura: A ‘Lebre Branca’ é descrita como uma entidade humanoide, de estatura média, usa uma máscara de lebre, que cobre parcialmente o rosto e a parte superior do corpo. Sua aparência física, além da máscara, permanece desconhecida. Relatos de testemunhas variam em relação ao seu tamanho, com estimativas aproximadas entre 1,70 m e 1,90 m de altura. A criatura parece se movimentar com agilidade e rapidez, dificultando a análise detalhada de suas características.”

    Johnny conheceu somente uma pessoa que ficou cara a cara com Lebre Branca e sobreviveu para ver o amanhã.

— Vou ver a Rose! — Johnny avistou Eliott que, acendeu um incenso.

— Tudo bem!

     Eliott soube exatamente quem Johnny iria ver, mesmo assim deixou o garoto ir.

    Antes mesmo de se aproximar da casa dos Benedetti, Johnny avistou Rose que deu voltas no quarteirão; a garota logo parou ao vê-lo, ofegante tentou falar.

— Bom dia!

— Seu tio está em casa?

    Johnny ignorou o cumprimento da garota, o que a deixou com um olhar triste, pois um tempos atrás o garoto a cumprimentaria com um sorriso no rosto. Ela levou Johnny até a entrada da casa, ondo Silver cortava algumas flores mortas do jardim.

— Olá, fedelho do Eliott. — Silver segurou o grande chapéu de jardinagem que usava, para que não voasse com o vento. — Uma praga se alastrou nas minhas flores, acabei não vendo, estava camuflado como uma das rosas. — Silver olhou para Johnny e percebeu uma mudança na feição do garoto. — Tome cuidado para não se perder.

    O grito do Daniel assustou ambos; Silver colocou a mão no peito, aliviado por ser o irmão que gritou.

— Quem mandou você parar de correr! — Daniel disse bravo.

— O meu pai! — Ela acusou Silver, apontando o dedo para ele.

    Sam passou por todos ali, com uma mochila sobre as costas. Ele caminhou em direção ao portão convicto, mas foi segurado por Silver.

— Onde você pensa que vai?

— Estou indo morar no Himalaia, com uns hypes que conheci na net — Sam viu a feição brava do Silver e disse — É, estou voltando para meu quarto!

— Senhor Benedetti, podemos conversar?

     Daniel e Silver responderam juntos, em tom uniforme “— Fala!”

— É com o Daniel.

     Ao ouvir Johnny, Daniel olhou para o irmão com uma face vencedora.

— Eu queria saber como saiu vivo do encontro com o Lebre Branca.

— Ele e aquelas bruxas malditas me amaldiçoaram.

— Mas por que, meu irmão? — Johnny cerrou as mãos em punho o que contrastou com a raiva visível no olhar. — Ele matou seus amigos! E só por que você estava treinando meu irmão ele morreu! — disse Johnny já exaltado.

— Medo! — disse Daniel, o que fez Johnny ficar confuso. — Seu irmão morreu, por que provavelmente estava com medo. Quando se encara aquela máscara branca e as orelhas pontudas, é impossível não sentir medo, e ele sente isso no seu coração. É por isso que eu tenho que matá-lo, sou o único que não teme ao Lebre Branca.

    Johnny respirou fundo, com a intenção de se acalmar para a próxima pergunta que viria.

— As poções dos Paladinos, como são feitas?

— Depende — Daniel foi interrompido por Silver.

— Não, não fala. Esse moleque tá aprontando alguma. — Silver colocou o chapéu de jardinagem em Johnny. — Você vai aprender na escola daqui a uns dias.

    A escola de Paladinos, aos olhos do mundo, parecia ser apenas um internato comum, mas escondia um segredo profundo: ali, os alunos aprenderam a caçar e extinguir vampiros, demônios, maus espíritos e bruxas. Tão raros eram os Paladinos no mundo, uma tradição passada de pai para filho, que a escola se tornou um santuário de coragem em meio às sombras, onde a luz da justiça permaneceu acesa contra as trevas que assombraram a humanidade.

    Johnny foi surpreendido por Sam, que colocou o braço em volta do seu ombro.

— Tenho um jogo novo, você quer ver?

   Sam guiou Johnny longe o suficiente para cochichar no ouvido do garoto, sem os presentes escutarem: “— Tenho exatamente o que você quer, por um preço justo, é claro.”



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