Volume 1
Capítulo 6: Poção da Lua
O fedor de chulé misturado com perfume que emanava do quarto fazia com que Johnny temesse e hesitasse entrar no local, mas por seu azar foi empurrado por Sam.
— Entra logo! Só não repara na bagunça.
A bagunça do quarto só não foi pior que o cheiro. Johnny olhou para o lado e percebeu de onde emanou o mau odor: um par de meias sujas enfiadas em um tênis.
— Você não limpa esse lugar, não?
— Mas é claro, limpei mês passado. — Sam entregou um livro para Johnny — Olha, ainda tenho toda matéria da escola, eles ainda não recolheram. Aquele lugar é um inferno na terra; eu fugi de lá. Felizmente nunca vou ser um paladino “never”.
— A poção da lua, você aprendeu a fazer?
— É claro que não, mas no livro diz como fazer, e por noventa conto, deixo você dar uma olhada.
— Isso é extorsão! — Johnny disse indignado.
— Não, é demanda e oferta.
— Tudo bem! — disse irritado. Ele folheou o livro e sua feição irrita só piorou — Tá tirando com minha cara? Só as mulheres fazem poções!
— É uma questão histórica — Sam disse e pegou o celular — Sabe, quando eu fugi da escola, não estava sozinho e por mais cem conto te levo até ela. Ela faz esse tipo de poção.
— Agora, sim, isso extorsão!
— Então, eu posso contar para o Silver que você esta atrás de uma poção dessas!
— De extorsão foi para chantagem, é? Isso não vai ficar assim! — Johnny olhou através da janela e percebeu que Silver estava ocupado com as flores, assim como Daniel, que carregava um saco de adubos. — Te dou mais cem contos se me trouxer o notebook do seu pai.
— Ficou doido? Só tem coisas confidenciais lá. Se ele descobre, arranca meu coro e cola só para arrancar de novo.
— Cento e cinquenta!
— Vou lá buscar.
Depois que Sam deixou o quarto, Johnny começou a explorar o ambiente. Decidiu então abrir a gaveta da escrivaninha e se deparou com vários remédios, exatamente iguais aos que havia deixado de tomar. Intrigado, cuidadosamente reposicionou os remédios em seu lugar e se encaminhou até a janela. Contudo, ao fazê-lo, uma expressão de inquietação e desconforto se desenhou em seu rosto.
Neste momento, Daniel pareceu ler a mente do Johnny e olhou diretamente para ele. Ignorou completamente o sentimento de desconforto e medo, Johnny encarou Daniel no mesmo tom, como se tentasse compreender o que se passava em sua mente. A intensidade do olhar do Daniel aumentou ainda mais o desconforto do Johnny, que se sentiu invadido por aquela conexão visual.
— Acho que é esse aqui. — Sam entrou no quarto com um notebook roxo nas mãos. — Mas o que você quer nas coisas do Silver?
— Quero saber mais sobre a escola.
Em partes, ele mentiu para Sam. A escola de Paladinos serviu muitas vezes como base para a ordem, o garoto acreditou que em algum lugar pudesse ter arquivos sobre o Lebre Branca.
— Esses remédios, você sabe que são placebos, não é? — Johnny abriu a gaveta da escrivaninha.
— Eu sei. Quem não sabe é o tio Daniel, ele dorme aqui no chão. — Sam apontou para o colchão que estava embaixo da cama. — Ele é maluco, fala enquanto dorme.
Johnny abriu o notebook e percebeu que pedia uma senha. Ele virou o aparelho para Sam, que tentou colocar a senha até quase bloqueá-lo.
— Ele mudou a senha!
— Tenta a data de aniversário.
— Silver nunca coloca a data de aniversário, diz que é um lembrete que esta ficando mais velho. — Mesmo controverso, Sam digitou a data de aniversário do Silver e o aparelho foi desbloqueado imediatamente. Johnny olhou para Sam com uma expressão de “eu disse”.
— Olha o que quer olhar, rápido!
Johnny abriu diversas pastas no notebook, coisas aleatórias como músicas, vídeos e documentos. Não havia nada que levasse até Lebre Branca, muito menos algo sobre a escola.
— Seu pai é diretor da escola, não é mesmo? Por que não há nada sobre a escola aqui?
Antes de desligar o aparelho, Johnny viu uma pasta com o nome “ponto”. Parecia um nome aleatório, vindo da mente de alguém que não sabia como nomear. Por curiosidade, o garoto abriu a pasta e encontrou um documento em nome de “Daniel Benedetti”. Logo percebeu que o notebook que segurava pertencia a Daniel. Ao ler melhor a folha, deparou-se com um segredo que poderia acabar com a vida do Daniel. Sem acreditar no que lia, Johnny respirou fundo. Não queria se envolver naquilo ou sequer ligar para isso naquele momento, mas certamente sua mente ficou ainda mais confusa. Fechou o notebook e o entregou para Sam.
— A garota que cria poções, pode me levar até ela?
— Tudo bem, vou procurá-la!
A noite caiu, Johnny caminhava de um lado para o outro no galpão e aguardava ansioso por uma mensagem do Sam com a localização da garota.
— Então essa garota vai fazer uma poção para mim? — Duque colocou um óculos de sol em Steve, junto a um chapéu de palha, enquanto cantava baixinho.
O “bip” vindo do celular do Johnny indicou a chegada de uma mensagem. O garoto tratou de iniciar o áudio que recebeu.
“A garota vai encontrar você, só tome cuidado; ela esta sendo caçada por Paladinos e Vampiros.”
— Vamos Duque!
— O Steve também?
— Não, o Steve fica — Johnny retirou o chapéu do cão. O garoto olhou para os chifres do Duque, e em seguida olhou para o chapéu. — Esquece! Coloca só os óculos mesmo. Não vai mudar muita coisa, mas vamos mesmo assim.
Johnny e Duque, após se afastarem da cidade, seguiram por uma estrada que os levou até um galpão sombrio e aparentemente abandonado. Na entrada do local, avistaram uma silhueta feminina escorada na parede. Curioso, Johnny se aproximou da garota. Ao vê-la melhor, notou que seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo, sua face exibiu um olhar desafiador, e seus olhos castanhos brilharam misteriosamente na escuridão.
— Deu sorte, estava saindo da cidade — A garota deu uma boa olhada para Duque com ar de desprezo. — Venham comigo! O filho do Paladino azul envolvido com vampiros, é nem todos são santificados.
— Só vou vingar meu irmão. Depois disso, cada uma desses besta pode morrer.
Ao adentrar o galpão, foi possível observar diversas caixas dispostas, algumas contendo plantas em seu interior, enquanto outras guardavam recipientes contendo líquidos. Duque, curioso, prontamente se dedicou a examinar o conteúdo das caixas.
— O que é isso? Para que serve?
— Não encosta em nada, alguma coisa pode te matar — Ela disse, o que impediu Duque de encostar nas poções.
O celular do Johnny tocou; era Sam, e o temor na voz não era nada bom, assim como a notícia que ele deu.
“ Johnny, a casa caiu, o Silver descobriu tudo e estamos indo para aí, e seu pai...”
A voz brava do Silver foi ouvida. “Me de esse celular moleque” foi a última coisa que Johnny escutou antes da ligação cair.
— Temos que ser rápido — Johnny disse desesperado.