Volume 1
Capítulo 24: Amaldiçoados
Eliott gritou para Duque ao ver que Morgana saiu do transe. Sobre a testa dos três garotos, era possível ver um pentagrama que se formava. Morgana caminhou até o sofá onde os garotos dormiam, mas foi interrompida por Duque. Morgana olhou para o lado e viu Carmila sem cabeça, enquanto Daniel segurava a cabeça da moça.
— Imprestável — Morgana balbuciou.
— Saiam! — Duque gritou para Eliott e Daniel, ao olhar para os garotos em seguida. — Tire eles daqui!
Duque puxou Morgana e a levou até o céu.
— Vai me soltar? — Morgana perguntou serena. — A alma deles já é minha — ela sussurrou no ouvido de Duque.
Antes de ser solta, Morgana analisou a feição seria de Duque e deu um singelo sorriso de canto.
Duque então soltou Morgana. Ela não se machucou ao tocar o chão, suas mãos controlavam a energia negra do local, para diminuir sua queda. Do céu Duque avistou o carro de Eliott que partiu e o seguiu voando até a escola.
— Como eles estão? — Duque perguntou preocupado.
— Nada bem. Não conseguimos acorda-los.
— Temos que contatar alguma bruxa.
— Nem ferrando — Daniel disse bravo. — Vamos capturar a Morgana e ela vai desfazer isso, por bem ou por mal.
☆☆☆
Após a batalha, Morgana costurava a cabeça de Carmila no lugar, enquanto a vampira reclamava e xingava.
— Eu não acredito que ele teve a coragem de fazer isso comigo — Carmila disse indignada, ao balbuciar de dor.
— Deve agradecer por não ter sido finalizada. — Morgana a lembrou de sua sorte.
Antes que Carmila respondesse, uma voz doce mas brava tomou conta do local assustando-as: “Mas que caos é esse?”
Ele caminhou em meio a pratos quebrados, cadeiras sobre o chão, teto perfurado, onde a luz da lua adentrava. Lebre Branca se escorou na mesa de jantar e observou, as duas moças.
— Foram os Paladinos.
— Eu lhe dei uma missão, Carmila — ele disse autoritário.
— Sinceramente, não sei por que você quer tanto aquele garoto.
— Morgana, explique! — ele ordenou.
— O Lebre Branca precisa de um corpo para sobreviver durante as décadas, diferente de nós bruxas, ou dos vampiros, humanos não vivem para sempre.
— Você está me dizem que estou obedecendo as ordens de um mero humano! — Carmila disse brava.
— Fique à vontade se quiser se rebelar. — Lebre Branca fechou a mão em punho e invocou seus fragmentos de vidro. — Quando eu recriar esse mundo, os humanos serão o alimento do clã dos vampiros, e você viverá para ver essa utopia. Mas antes, quero matar o Vampiro Duque, e devo fazer isso usando o corpo daquele garoto.
Lebre Branca desviou o olhar para um lindo pássaro azul que voava sobre o teto quebrado.
— Vamos invadir a escola, leve o tempo que for.
☆☆☆
Já haviam se passado alguns meses que os garotos estavam em coma. Nesse tempo, Eliott entrou em contato com diversas bruxas na tentativa de quebrar o feitiço. Muitas diziam ser impossível, e outras diziam que só Morgana poderia quebrar o feitiço, mas ela havia desaparecido, assim como Carmila.
— Quanto tempo já se passou? — Yuri perguntou ao olhar para a chuva que caia.
Johnny olhou na parede os riscos que contam os dias que já se passaram.
— Sete meses!
— Pergunta número oito. — Sam rabiscou sobre o chão da sala. — Qual sua comida favorita?
— Fácil, a do Johnny é lasanha — Yuri respondeu com um sorriso vitorioso.
— Errou! — Sam olhou para que o mesmo respondesse.
— A do Yuri é qualquer uma que dê para comer.
— Acertou! — Sam marcou um ponto para Johnny sobre o chão.
— Sai que agora é minha vez. — Yuri pegou o pedaço de tijolo que eles usavam para escrever.
— Pergunta número nove: filme favorito?
— O único filme que você viu, quando foi ao cinema com a Rose — Johnny respondeu para Yuri, que marcou mais um ponto.
— Acabei de lembrar de uma coisa, eu não estudei para minha prova do fundamental. — Yuri anotou sobre o chão vários perguntas aleatórias sobre eles.
— A prova foi há seis meses atrás — Sam disse enquanto ria.
— O que acontece em seis meses? — Yuri perguntou e colocou um tapete sobre o chão rabiscado.
— Sei lá, já devemos estar no outono.
— Ai, meu Deus! Johnny! — Yuri colocou o braço em volta do ombro do garoto. — Você deve ter perdido sua guria! Ela deve estar com outro nesse momento, aí eles vão se formar, se casar, ir morar em outro país e ter filhos, enquanto você vai estará dando uma de Bela Adormecida.
— Se passou seis meses e não trinta anos.
— E se você anotou errado, e pelo fato de nós não envelhecemos, você se confundiu?
— Para de paranoia!
— Ela está vindo! — Sam disse e correu para o sofá.
Morgana adentrou a casa acompanhada por outra mulher, que estranhamente não conseguiu enxergar os três garotos presentes na sala. A atmosfera ficou tensa enquanto os meninos observaram curiosos a interação entre as duas mulheres e imaginaram o que poderia acontecer.
— Quem é essa aí? — Sam perguntou a Morgana, que o ignorou.
Morgana cordialmente ofereceu chá à mulher, e ambas engajaram em uma conversa animada que se estendeu por horas. Durante o diálogo, os meninos tentaram entender o teor da conversa e perceberam que Morgana estava considerando vender a casa para aquela moça. Yuri se aproximou da mulher e olhou diretamente em seu rosto, de repente a reconheceu. Era a mesma moça da cantina de Paladi, que sempre servia com um sorriso acolhedor. A surpresa e curiosidade preencheram a mente de Yuri, que se perguntou o que ela estaria fazendo ali
— Ela esta diferente. — Yuri foi interrompido por Johnny ao ver que Morgana os olhava de canto.
— Algum problema? — a moça perguntou a Morgana.
— Não é nada só, achei que tinha escutado algo.
As horas passaram, a moça foi embora da casa, e assim que a porta foi fechada, Morgana gritou com os três garotos.
— Quem era ela?
— Como vamos saber? — Johnny bateu os ombros.
— Não se façam de espertinhos! — Morgana subiu as escadas enquanto gritava .— Vocês não podem sair daqui, nem a força! E terminem de limpar tudo!
— Eu tive uma ideia — Johnny sussurrou para os outros dois. — Quando ela sair, conversamos.
Morgana desceu as escadas com um ar de superioridade, ostentava uma elegante roupa formal que realçava sua presença imponente. Ela vestia um conjunto sofisticado e cuidadosamente selecionado, o que transmitia confiança e poder. Ela carregava uma elegante bolsa preta com detalhes em dourado que completava seu visual.
— Já vai? — Sam segurava um óculos de sol que complementaria o visual de Morgana.
— Já! Avise aos outros dois para limparem os quartos do segundo andar.
Ela saiu e trancou a porta atrás de si.
— Ela já foi
Sam, com pressa, correu em direção à cozinha, onde avistou um alçapão no chão. Agachou-se, abriu o alçapão e revelou uma escada que leva ao porão da casa. Com determinação, Sam desceu as escadas e foi seguido por seus amigos Johnny e Yuri. Ao chegarem no porão, eles encontraram um espaço surpreendentemente limpo. O local era cheio de mistérios, com um caldeirão no centro e uma estante repleta de vidros contendo sapos, ratos, olhos de peixe e asas de morcegos. Em outra estante, havia uma coleção de folhas e flores, algumas secas e outras ainda frescas, que adicionavam um toque enigmático ao ambiente.
— Temos que ser rápidos! — Os garotos começaram a vasculhar o local, tentando não tirar nada do lugar.
— Achei! — Yuri segurava um livro roxo em mãos. Ele largou o livro sobre a mesa no centro da sala. — É o grimório da Morgana!
— Ainda não acho isso uma boa ideia — Sam disse aos amigos.
— Não se preocupe, isso não vai sair daqui, a gente promete. — Johnny colocou o chapéu de bruxa que havia na estante, sobre a cabeça de Sam.
— Agora faça um feitiço e nos tire daqui!
Sam pegou o grimório e começou a folear.
— Que tal um feitiço de regressão temporal? — Sam sorriu.
— Não, não vamos mexer com o tempo.
— Ah vai, o que é um peido para quem já está todo cagado? — Yuri pegou o livro das mãos de Sam. — Aqui, tenta transformar Johnny em um rato, se conseguir fazer isso, a gente parte para o próximo nível.
— É o que? — Johnny disse preocupado.
— Não posso transformar o Johnny em um rato. Já você é outro assunto!
— Sam leu os ingredientes e pegou-os na prateleira das estantes. Ele misturou tudo no caldeirão, criou um líquido rosa borbulhante. — Bebe! — Ele entregou a colher de madeira para Yuri.
Yuri bebeu o líquido rosa sem hesitar. Sua feição enjoada virou comédia para Sam que riu das caretas de Yuri.
— Acho que você fez alguma coisa errada, ele não está se transformando.
— Não vou transformá-lo em nada, isso só vai criar uma cauda de rato no traseiro dele.
Os dois começaram a rir e não perceberam que Yuri estava cada vez mais enjoado. Yuri vomitou sobre o caldeirão e espirrou em Johnny e Sam, que automaticamente pararam de rir e ficaram sérios.
— Agora vamos ter que limpar tudo. — Sam retirou o grimório debaixo do vomito e o ergueu. — Ferrou!
— É só arrancar as páginas que manchou! — Johnny pegou o grimório e tentou ver o que havia sobrado. Ele folheou até o final, onde havia um nome: “Samanta”.
— Era minha filha, que seu pai matou. — A voz de Morgana tomou conta da sala e assustou os garotos, menos Yuri, que estava enjoado de mais para sentir algo. — Nunca pensei que pudessem ter essa ideia. — Ela puxou o chapéu da cabeça de Sam, e o colocou no lugar novamente. — Olha o que você me obrigou a fazer! — ela pareceu falar com o chapéu. — É tudo culpa sua! A maldição nunca será quebrada. — Ela faz menção para que os garotos saiam dali.
—Há muito tempo, em terras distantes, viveu um homem, um Duque. Ele era apaixonado por uma linda filha da realeza e o amor deles era recíproco. Mas outra mulher também o amava, sua noiva de um casamento arranjado. Ela era uma bruxa. Ela amaldiçoou a linhagem do Duque e da mulher eternamente. — Morgana pegou seu grimório. — Não há um único dia que não me arrependo de ter amaldiçoado o homem que eu amo. Quando eu vi o que ele se tornou, e saber que é culpa minha...
— É para isso que você quer o caos, para quebrar a maldição?
— Essa maldição não foi feita para ser quebrada, e ele não é o único afetado por ela. O Lebre Branca também foi atingido pela maldição.
— E o que você ganha ajudando ele?
— Talvez ele seja a chave para quebrar a maldição de vocês!
— “Vocês?”
— Um bardo que perdeu sua voz, uma bruxa morta na fogueira, um cavalheiro leal ao império... todos foram amaldiçoados.
Morgana, acompanhada pelos garotos, sobiram as escadas e adentraram em seu quarto. O ambiente era envolto em escuridão, mas surpreendentemente estava perfeitamente arrumado. No canto do quarto, destacava-se um manequim com um belo vestido de noiva, porém, era evidente que se tratava de um vestido antigo, com mais de 400 anos de idade. Surpreendentemente, o tecido ainda estava em boas condições, preservando, elegante e misterioso. A atmosfera no quarto era enigmática e envolvente.
— Não há um dia que não me arrependo da maldição, mas faria tudo igual, sem hesitar. O arrependimento é apenas uma consequência, como quando você devora um delicioso bolo e depois se arrepende de tê-lo comido todo, sentindo-se culpado, mas o bolo não estava bom?
Ela puxou o lençol que cobria um quadro na parede. No quadro, era retratado um lindo jardim e, ao longe, havia uma moça que bebia chá enquanto observa as flores. Ela então retirou outro lençol de um quadro. Nesse quadro, era retratada outra moça diferente da primeira. A moça era loira e estava olhando por uma janela, parecia apreciar as rosas com um olhar apaixonado. O que espantou os garotos foi a semelhança da moça com Silver. O quadro estava totalmente rasgado, como se alguém o tivesse esfaqueado em um momento de raiva.
— Quem diria que, mesmo reencarnando como homem, essa praga conseguiu ser mais bonita que eu.
— É por isso que o Duque chama meu pai de, “amor da minha vida”.
— O destino unirá as almas entrelaçadas.
— Eu não acredito nisso. Isso é coisa de bruxas
— Todos temos nossos destinos, não importa no que acredita. — Ela apontou para a porta do quarto. — Limpem toda bagunça que fizeram, agora!
Quando estavam longe o suficiente para que Morgana não escute, Sam disse:
— Vamos continuar tentando! — Sam correu até o porão. — Finjam que estão limpando. — Ele colocou várias coisa no caldeirão e tentou acertar a poção.
— Faça uma poção para dormir! — Johnny virou a folha que recuperou do grimório para Sam. — Faça isso e vamos dar a ela. Depois, vamos vasculhar o quarto dela em busca do grimório que contenha uma forma de sair daqui.
— Mas como vamos fazer ela beber?
— Em um momento oportuno, deixamos escondido até conseguirmos faze-la tomar sem perceber.
— Pelas suas contas que dia é hoje? — Yuri disse ao varrer o chão. Ele para e fala com Johnny.
— Nove de novembro!
— Acabei de ter uma ideia. — Yuri pulou de empolgação. — Esperamos até onze do onze para vazar daqui. Ela estará ocupada com o portal e aí aproveitamos para fazer o feitiço. — Yuri entregou várias frascos para Sam. — Faça o feitiço para dormir. Eu vou pegar a folha do grimório dela. — Yuri disse empolgado.