Volume 1
Capítulo 23: Rainha de Copas
— Então você consegue achar seu filho só por esse aparelho? — Curioso, Duque olhou o celular do Eliott.
Ambos estavam dentro do carro e observavam a casa da Morgana.
— Já solicitei reforços. — Eliott olhou melhor para entrada da casa. — Há vários espectros na entrada.
Um carro branco estacionou atrás deles; do carro desceu Daniel e Yuri, ambos foram até Eliott. Daniel bateu no vidro e chamou atenção de Eliott, que saiu do carro.
— O que ele está fazendo aqui? — Eliott perguntou a respeito de Yuri.
— Ele venho escondido — Daniel foi logo analisando a casa à sua frente. Ele olhou para o outro lado da rua, onde seu irmão morava. — Ela sempre esteve tão perto.
Assim que entraram na sala de estar, avistaram Sam e Johnny que dormiam no sofá, enquanto Morgana estava em uma espécie de meditação sobre um pentagrama. Yuri fez menção de acordar seus amigos, mas Eliott o impediu.
— Não é assim que funciona! Se você os acordar à força, apenas o corpo acordará, a alma irá para outro lugar.
— Mas então?
— Eu vou lá! — Daniel pegou uma das xícaras que estava sobre a mesa de centro, mas antes que pudesse beber, Carmila arremessou uma faca contra ele e atingiu a xícara que quebrou. — Há quanto tempo, Carmila! Des daquele dia, você virou cachorrinha da Morgana? — Daniel provocou a mulher que tinha uma expressão raivosa.
As unhas de Carmila se transformaram em garras vermelhas e pontiagudas, que causavam medo em qualquer pessoa desavisada. No entanto, para o azar dela estava contra dois Paladinos experientes, e havia também o fato de que Duque estava ao lado deles.
— Isso é... — Carmila se moveu rapidamente, diferente de um humano normal. Ela puxou o colar do Duque, transformando-o em um vampiro roxo com chifres negros.
— Me devolva, agora! — Duque disse ao ver Carmila analisar o colar.
A batalha que se seguiu foi difícil para os presentes. Ninguém na sala conseguiu acompanhar o ritmo da Carmila, ela era rápida e isso colocou os Paladinos em desvantagem. Enquanto estavam distraídos com a mulher, Yuri tomou uma decisão. O garoto pegou a xícara que ainda estava intacta e bebeu todo o líquido que havia nela, sem pensar duas vezes.
— Quais são seus poderes de vampiro? O que você faz? — Daniel perguntou a Duque.
— Eu... — Duque pareceu pensar no que iria dizer, como se tentasse se lembrar de algo.
Carmila foi arremessada longe por uma sombra negra que logo se personificou como Duque; sobre as costas dele, havia um par de assas negras.
— É por isso que os velhotes querem ele morto. — Daniel disse a Eliott.
☆☆☆
Yuri se viu na cabana sozinho novamente; seus pulsos sangravam e manchavam a madeira velha do piso.
— Lembranças felizes! — Ele repetiu para si mesmo, afim de manter a mente firme. — Vai, Yuri você consegue!
Yuri abriu a porta da cabana, o interior era a sala de aula. Sentados ao redor estavam seus amigos. Isso havia acontecido alguns dias atrás; as memórias felizes do Yuri pareciam mais recentes do que as do Johnny e Sam. Seria um ponto de encontro perfeito para os três.
— Vocês estão aqui!
— E agora? Como saímos desse sonho maluco? Acordamos? — Sam disse e deu de ombros.
— Boa ideia, gênio! — Johnny deu um tapa na cara de Sam. O que ele não esperou foi que Sam revidasse.
— Da última, vez não revidei porque minha irmã estava em perigo.
Ambos começaram a se estapear e trocar socos.
— Parem com isso! — Yuri separou eles. — Por que ela não nos segui?
— Ela só pode nos seguir em lembranças ruins.
— Acabei de ter uma ideia. — Sam disse e ergueu da cadeira, foi até o quadro negro. — Vamos desfazer o círculo mágico dela. — Ele desenhou um pentagrama no quadro — Se desafazemos ele aqui nos sonhos, ele vai se desfazer no mundo real também.
— Assim como se morrermos aqui...
— Sejamos positivos. Temos que ir até a sala, em uma lembrança. Então vocês dois, foco nas lembranças.
Os três garotos caminharam pelos corredores da escola, preocupados se Morgana aparecesse a qualquer momento.
— Mas eu só cheguei depois de vocês — Yuri disse preocupado. — Vão ser lembranças diferentes.
— Vamos nos esconder em outra memória.
Johnny abriu a porta do quarto e encontrou Yuri e Sam, que discutiam. Rapidamente, Sam fechou a porta e riu sem graça.
— Opa, essa lembrança não!
— Por que não?
Johnny abriu a porta novamente, mas a lembrança havia mudado. Estava noite e as estrelas iluminavam todo local. Na lembrança, Johnny acendeu e desligou a luz do quarto. Estranhamente, o armário era iluminado com um tom azulado, que não havia acontecido de verdade na lembrança dos garotos. Logo que perceberam, os três adentraram o móvel.
Johnny estava vestido com um traje azul, calção social branco e meias azuis e brancas, uma versão masculina das vestes de Alice do livro "Alice no País das Maravilhas". Sam usava uma roupa listrada e tinha um sorriso medonho desenhado em seu rosto. Yuri, por sua vez, estava vestido como o chapeleiro, usando um blazer verde e um chapéu que adornava suas madeixas castanhas. Ao adentrarem a floresta, eles logo perceberam uma mesa de chá à frente.
— Não vamos cair nesse de novo!
— É o hora do chá! — A voz de Morgana assustou os garotos, a mulher estava vestida igualmente a Yuri, como chapeleiro maluco. — Ou, não podemos ter dois chapeleiros. — Ela estalou os dedos e as roupas se transformaram em vermelho e preto, assim como a rainha de copas.— Eu represento o poder absoluto aqui! — Ela olhou para Yuri, e em seguida olhou para as xícaras. — Se me obedecerem, poderão viver feliz para sempre. Vocês só tem que ser bons garotos e não questionar. — Ela estalou o os dedos e as roupas de Sam e Yuri mudam, os dois agora estavam vestidos igualmente a Johnny. — Os três podem ser a Alice! — Ela sorriu para eles.
— Nós vamos sair daqui! — Johnny disse e se levantou da mesa, com sua expressão de raiva, bateu as mãos na mesa e virou o chá.
Morgana foi até ele, Johnny paralisou de medo. A moça pareceu sentir prazer ao ver o medo na feição do garoto.
— Estou lhes oferecendo vida eterna, e é assim que reage? — Ela apertou as bochechas do Johnny e estalou os dedos em seguida.
O cenário mudou para uma casa um tanto estranha, cheia de teias de aranhas, morcegos na escuridão, pó por todo lado e um cheiro de mofo.
— Aqui é minha casa, eu não venho aqui desde que o Silver levou você!— Morgana se referiu a Sam. — Vocês podem morar aqui, só não poderão sair além do jardim. Ninguém poderá ver vocês. O lado bom é que vocês não poderão envelhecer ou morrer.
— Por que a gente já vai estar morto! — Johnny disse com raiva.
— Explica. — Yuri olhou para Sam.
— Ela quer prender nossa alma na casa e ficar com nossos corpos. É um feitiço. Não vamos estar morto. Nosso corpos seguirão vivos, a diferença é que estarão sem alma.
— Podemos ter um cachorro? — Yuri perguntou, curioso e cogitou a ideia de se render.
— Um papagaio, uma galinha e um porco. O que quiserem. — Morgana disse e revirou os olhos. Ela caminhou até a mesa com uma folha em mãos. — É só assinarem aqui, e a alma de vocês será minha.
— Por que acha que faríamos isso? — Sam viu Yuri pensativo. — Não é, Yuri!
— Porque se não assinarem, eu vou deixar o feitiço dos sonhos... — Morgana é interrompida por Johnny.
— E vai matar a gente? — Johnny disse e quase riu.
— Não! — Morgana estalou os dedos e um livro se personificou em suas mãos. — Vou transformar você em um sapo e depois colocá-lo em um aquário. Depois, vou matar as pessoas que ama. — Ela abriu o livro em uma página onde havia uma fotos do, Eliott, Silver e Rose — E você vai estar observando no aquário sem poder fazer nada.
— Você pode prender outra alma que já morreu aqui? — Yuri perguntou com sua expressão pensativa. — Se fizer isso, eu assino.
— Viram, garotos? o amaldiçoado vai assinar. — Morgana entregou uma agulha par Yuri.
— Mas... — Sam percebeu que Johnny quase assinou. — Mas a vida vai passar nós, vamos poder ver e não vamos poder vivê-la!
— Veja o lado bom! — Morgana entregou uma agulha para Sam.— Vocês três estarão juntos de novo.
Ao ver que Johnny e Yuri haviam assinado, Sam cravou a agulha no dedo, assinando o papel com o sangue.
— Fizerem um ótimo negócio! — Morgana fechou o livro.
— E meu cachorro? — Yuri disse a ela. — E a alma que iria trazer para cá?
— Eu menti, não posso fazer isso. — Morgana estalou os dedos e um filhote de vira-latas apareceu em seus braços. — Mas pode ter o cachorro! — Morgana olhou para Sam e Yuri sorrindo. — E vocês dois irão morrer de qualquer forma, a alma do Johnny vai ficar sozinha aqui pra toda eternidade.
No momento em que Sam partiu para cima de Morgana com raiva, a mulher desapareceu e fez o garoto cair sobre chão. Johnny encheu o pulmão de ar e disse as seguintes palavras com raiva “Ela nos enganou!”
— Assinaram por que quiseram! — Yuri agachou para brincar com o cachorro.
— Você foi o mais enganado aqui. — Sam disse bravo. — Quem você queria ver que já se foi?
— Minha mãe. — Yuri colocou o cão sobre a mesa velha de madeira. — Mas eu vou voltar para meu corpo! E o pirata vai me ajudar. — Ele passou a mão no cão que mordeu seus dedos.
— Como?
— “Se ele sair, não vou atrás”, isso significa que o cachorro sabe sair do feitiço, e vai nos mostrar como. Não é mesmo, pirata do papai! — Yuri ergueu o cachorro e sorriu.
— Pirata? — Johnny questionou.
— É, ele tem essa mancha no rosto, parece um tapa olho.
Enquanto Johnny e Yuri tentavam decidir o nome do cão, Sam correu por toda casa, afim de tentar achar uma forma de sair dali.
— Eu vou morrer! Ela vai arrancar meu coração! — Desesperado, Sam sacodiu Johnny pelos ombros.
— Faça um feitiço! — Johnny deu um tapa em Sam e o fez se acalmar. — Você não é a porra de um bruxo? Então faça um feitiço e nos tire daqui!
Bravo, Sam pegou o cão e o largou no chão.
— O cachorro vai nos tirar daqui! — Eles observaram o cão que sentou e encarou os três garotos.
— Vamos, cuzcu! Nos tire daqui! — Yuri disse para o cão que continuou avoado.