Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 17: Paladi

    Johnny caminhou até o lado do Yuri e mostrou que estava do lado do garoto na discussão.

— Não seria hipócrita da parte dos Paladinos deixarem o Duque vivo e matarem a mãe do Yuri! — Johnny perguntou a Daniel.

— Não, não seria. Não há cura para os Lich. Já os vampiros foram criados por uma maldição, jogada por uma bruxa em um pobre coitado há tempos. A mãe dele não foi amaldiçoada. — Daniel tentou achar uma forma de explicar para Yuri. — Um Lich tentou se apoderar do corpo de sua mãe, algo deu errado e agora ela esta assim.

— Não podemos separá-los?

— Infelizmente, agora são um só.

     Yuri começou a chorar, ele abriu passagem para que Daniel pudesse ter acesso ao alçapão.

— Você pode acabar com o sofrimento dela...

    Daniel silenciosamente abriu o alçapão e desceu as escadas de madeira. No andar de cima, Johnny abraçou Yuri com força e cobriu seus ouvidos para evitar que ele escutasse os agonizantes grunhidos vindos do alçapão.

— Vamos! — Daniel disse com a roupa suja de sangue negro. — A enterre em uma cova profunda. Quando terminarem, vamos voltar para escola.

***

— Não podemos mais usar a maleta. — Daniel olhou para o grande portão de metal da escola. — Um, dois, três... Cadê o Duque?

— Você só lembrou dele quando chegamos aqui.

— Não se mexam, vou buscá-lo. — Daniel abriu a maleta sobre o chão.

— Você acabou de dizer que...

     Daniel adentrou a maleta sem deixar Johnny terminar de falar. Em questão de segundos, ele voltou seguido por Duque.

— Meu... O que aconteceu com você? — Duque foi até Yuri, que segurava-se em Johnny. — Quase um cadáver!

— Ele está bem. — Daniel abriu o grade portão de metal.

— Essa é sua definição de “estar bem”?

    Assim que passaram pelo pátio da escola, ao longe foi possível ver Eliott e Silver com feições nada amigáveis.

— Daniel Benedetti! — Silver disse bravo.

— Eu trouxe a Rose de volta, olha! — Daniel tentou se justificar.

— Você tirou dois alunos da escola sem permissão. — Eliott puxou o braço de Johnny, onde havia uma ferida causada pelas batalhas anteriores. — Leve esses dois para enfermeira.

— Eu acho que vou com eles. — Rose fez menção de seguir Johnny, na tentativa de se livrar do castigo.

— Você não! — Silver segurou a gola da camisa da garota.

— Estou de castigo? — Rose perguntou, com medo da resposta.

— Até seus netos nascerem!

***

   Johnny caminhou até a grande janela e afastou delicadamente a cortina, revelando o céu nublado lá fora. O vento soprava suavemente e trazia consigo a promessa de chuva para aquele dia. Com cuidado, ele se dirigiu até a cama onde Yuri descansava, preparando-se para iniciar uma conversa ou compartilhar algo especial.

— Isso não é legal? — Yuri mostrou para Johnny um cubo mágico quase completo. — A guria me deu para passar o tempo.

     Johnny olhou para o uniforme da escola dobrado sobre a cama de Yuri, juntos às vestes havia uma cruz dourada, o símbolo dos Paladinos.

— O diretor da escola me deu isso, ele disse se eu quiser posso ser um Paladino, já que estou imerso nesse mundo.

— Eu conheço esse “se quiser” dele.

   Kristen adentrou a enfermaria com uma expressão brava, suas sobrancelhas franzidas denotavam claramente sua irritação. Ela parou em frente a Johnny e o encarou com os olhos cheios de raiva.

— Você disse que eu podia ir junto! — Ela disse e cruzou os braços.

— Você estava no dormitório feminino, sabe que garotos não podem entrar lá!

— Que desculpa esfarrapada. Era só mandar uma mensagem, ou ligar, até um sinal de fumaça!

— Não tenho seu número!

— Não seja por isso. — Kristen digitou o número de Johnny no próprio celular. — Peguei seu número com a Rose.

     O celular de Johnny tocou, mas ele ignorou a melodia que ecoou.

— Pode salvar agora! — A garota alterou a voz ao ver que Johnny ignorou a ligação.

— Salva isso logo, Johnny! — Yuri disse com medo do tom de voz da Kristen.

    Johnny mostrou o celular para Kristen onde exibia como ele havia salvo o contato dela – Coruja – em referência aos seus grandes óculos redondos. No entanto, o apelido a deixou brava, e Kristen saiu da sala bufando.
     Os alunos jantavam no grande refeitório da escola Paladi, criando um burburinho animado que só foi superado pelo som das conversas e risadas acompanhadas pelo ruído dos garfos e facas. Entre as diversas mesas, destaca-se uma onde estão sentados Johnny, Yuri e Sam, desfrutavam do jantar em meio à companhia animada de seus colegas.

— Eu nunca havia comido isso antes. — Yuri devorou o prato em questão de segundos.

     Johnny observou Yuri comendo à mesa, perdido em pensamentos sobre algo que parecia banal para ele, mas que era significante para muitos. De repente, Kristen interrompeu os pensamentos de Johnny e o deixou surpreso, ao largar o prato com fúria sobre a mesa, criou assim uma atmosfera tensa no ambiente.

— O que foi? — Johnny perguntou curioso.

— A Rose, ela está no mesmo quarto que eu.

— E qual o problema nisso? — Sam disse pronto para defender a irmã.

— Ela colou várias estrelas florescentes no teto, as estrelas brilham a noite inteira, isso chama minha atenção e não consigo dormir.

— Só lamento por você, se fosse comigo, arrancaria os dentes de quem colou.

— Bom é melhor eu ir. — Yuri se ergueu da cadeira e carregou a bandeja com o prato sujo, ele largou sobre o balcão e agradeceu a moça da cantina.

     Johnny fez um sinal discreto para Sam o seguir, e juntos eles seguiram Yuri sem serem notados, até chegarem ao dormitório masculino. Ao abrir a porta do quarto, eles se deparam com Yuri que descolava várias estrelas de várias superfícies - teto, parede, janelas e armários - e até mesmo atrás da porta. A quantidade de estrelas é surpreendente, e quando Johnny desligou a luz do quarto, um tom verde néon tomou conta do ambiente devido à quantidade de estrelas e luas brilhando na escuridão. A situação é levada a sério por Johnny, enquanto eles observam Yuri imerso nessa atividade

— Mas que porra! — Johnny ligou a luz e apagou várias vezes seguidas. — Vão achar que nosso quarto é um laboratório.

    Johnny apertou o interruptor para ligar a luz novamente, mas a lâmpada não acendeu.

— Parabéns, agora vamos ficar de castigo mais uns dias. Já não basta ter que limpar o refeitório todos os dias?

   Em Paladi, os alunos limpam o refeitório, pátio e salas, com um cronograma, mas o cronograma para o refeitório foi deixado de lado e Johnny, Rose e Sam limpam a cozinha diariamente durante meses.

— É melhor voltarmos para o refeitório antes que o tio Daniel venha nos buscar.

— Esperem! Eu vou com vocês. — Yuri bateu a porta do quarto e seguiu os dois garotos. — Eu só não quero ficar sozinho.

 



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