Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 18: Carmila

— O garoto se chama, Jonathan Helsing. — Carmila largou uma folha sobre a mesa de madeira.

— Você e Morgana tinham uma única missão: a maleta! — Lebre Branca pegou o papel. — Não consigo extinguir os humanos sem a maleta. Assim que a Lua Vermelha despontar no céu, não precisarei mais dela, e as hordas de carniçais tomarão esse mundo através do portal. — Ele entregou a folha para Carmila. — Eu quero esse garoto vivo! Essa é sua nova missão.

— Mas, senhor, ele é filho do Paladino Azul. — Carmila disse preocupada.

    Lebre Branca somente fechou a mão em punho e invocou seus estilhaços de vidro, o que fez Carmila dar um passo para trás.

— Peça ajuda ao Francis, diga a ele que mandei.

    Assim que Lebre Branca se retirou, Carmila começou a chorar, as lágrimas silenciosa e dolorosa se transformaram em raiva reprimida. Ela deu um grito estridente e jogou tudo que havia na mesa sobre o chão. Carmila limpou as lágrimas e respirou fundo.

***

      Carmila estava eufórica. Ela se olhou no espelho, seus olhos cheio de vida seus dentes brancos e perfeitos indicavam sua felicidade. O lindo vestido de noiva que usava era o motivo de sua alegria.

— Está perfeito! — Ela disse á atendente da loja. — Meu casamento é amanhã. Consegue ajustá-lo até lá? —  A moça da loja apenas confirmou com a, cabeça o que deixou Carmila ainda mais feliz.

     Carmila pulou de alegria pela rua. Suas vestes indicavam que a moça era abastarda de dinheiro, e as sacolas de lojas chiques e finas nas mãos só confirmavam o fato. Carmila vivia em um conto de fadas. Seu casamento aconteceu dentro do esperado. Na estrada, ainda vestida com o lindo vestido branco de noiva, Carmila teve uma surpresa.

— Nero! — Ela disse ao ver que o homem apontava uma arma para a sua cabeça.

— Não faz essa cara, querida! Eu penei muito para matar seu pai. — Ele engatilhou a arma — Eu estava com a empresa nas mãos já, mas aí descubro que ele tinha uma filha bastarda. Desce do carro. — Nero ordenou, ao mesmo tempo que apontava  a arma para Carmila.

      Temendo por sua vida, a moça obedeceu, e em questão de segundos a arma foi disparada. O lindo vestido branco agora estava manchado de vermelho, com o sangue da bela moça. Os olhos de Carmila seguiram abertos, mas ela só enxergava a escuridão. A vida se esvaiu cada vez mais de seu corpo. Nero puxou os pés de Carmila e arrastou para perto do lago. Ainda consciente, impossibilitada de se mover, ela sentiu pesos serem amarrados em seus pés. Seu final seria tão cruel e medonho como de uma mosca esmagada, sem chance alguma. Um som diferente foi escutado: Os gritos de pavor e medo de Nero.

— Olha só, o que fizeram você. Se quiser viver faça algum sinal — A voz feminina, doce e melancólico, disse a Carmila.

    Assim como pedido Carmila tentou mexer a mão, conseguiu mexer somente o dedo, foi o suficiente.

— Francis, a transforme!

      Da escuridão surge um vampiro, de pele azulada, olhos amarelo e cabelos da mesma cor. Sobre a cabeça, chifres como de um cervo em um degrade de azul e branco. Ele pegou o pulso de Carmila e a mordeu.
Em questão de minutos, Carmila enxergou a vida novamente. Os olhos castanhos agora  vermelho e a pele morena agora cinza, sem vida e sem brilho.

— Você ressurgiu como uma fênix! — A voz  grave de Francis ecoou pela cabeça de Carmila como uma música de terror.

***

     Yuri apagava o quadro negro enquanto cantava, e então, voltou seu olhar para a turma que estava treinando sob o sol escaldante da tarde.

— O senhor Daniel disse que se você não vir, vai levar advertência. — Johnny bateu na porta e chamou a atenção de Yuri. — Se quiser ser um Paladino, não pode pular etapas.

— Tudo bem. — Yuri sorriu para Johnny. — Vamos lá!

    Ao ver os dois garotos se aproximarem, Daniel jogou um bastão de madeira para cada um.

— Podem começar!

— Começar o que? — Yuri perguntou confuso. — Devo bater no Johnny com isso?

— Este não é mais o Johnny; é um vampiro com garras e chifres. Você deve abate-lo da melhor forma possível. — Daniel disse e afastou-se.

     Yuri passou a bater em Johnny com o bastão. Johnny não tinha chance e tempo de reação para poder se defender.

— Você tem que se defender!

     Yuri percebeu que Johnny estava começando a se irritar. Isso foi evidenciado quando Johnny puxou o bastão das mãos de Yuri e usou toda força par atingir o amigo no rosto. A feição de Johnny mudou drasticamente ao ver que machucou Yuri.

— Desculpa, eu não queria!

     Yuri ignorou o pedido de desculpa, pegou o bastão do chão e correu em direção a Johnny.

— Vai, lá Yuri, carimba a testa de marquise dele! — Sam gritou enquanto ria.

— Você não vai detê-los? — Rose perguntou a Daniel, que somente ignorou a pergunta da garota. — Se eles se machucarem, o papai vai brigar com você.

      Daniel deu um longo suspiro, antes de gritar para os garotos: “Parem já com isso! Existem várias formas de se matar um vampiro. Mas vocês precisam ter uma energia espiritual treinada para poder combatê-los” — Daniel mostrou os punhos a qual ganhava uma coloração vermelha.— Quando aprenderem a controlar a energia espiritual de vocês não dependeram mais de armas ou poções. Mas até lá, Sam poderia me dizer quais as formas de se matar um vampiro?

— A poção que há na cruz dourada, estaca no coração e eu não sei mais.— Sam disse dando de ombros.

— O sol, caramba! — Kristen virou a cabeça de Sam para o céu. — Está em cima de você!

— Bem se vê que fugiu da escola. — Johnny disse em tom rude.

— O que você disse aí, seu fedelho! — Sam disse bravo.

      Já impaciente, Daniel olhou no relógio de pulso, ele bufou ao ver que os garotos retornaram a brigar. Já sem paciência, Daniel gritou: “Chega, vão para próxima aula. Tô sem saco pra isso.”

     Rose olhou Johnny que se afastava solitário. Ela o observou pensando em dizer algo, mas desistiu ao perceber que não se tratava mais do mesmo garoto que um dia conheceu.

— Yuri! — Ela acenou para o colega. — Espera!

— Fala, guria!

— Eu queria saber se você quer ir ao cinema comigo. Estreou um filme novo e quero muito ver.

— Tem certeza? Tu tem certeza que era eu que queria convida? — Ele desviou o olhar para Johnny à frente.

— O Johnny não é mais o garoto que conhecia. Ele não sorri mais, deixou de fazer as coisas que gosta, deixou para trás todos os planos para o futuro.

    Yuri observou Johnny e gritou até que o garoto curioso desse meia volta.

— O que foi? — Johnny cruzou os braços em sinal de impaciência.

— Depois que matar Lebre Branca, o que vai fazer?

— Como assim,“o que vou fazer?", eu vou limpar essa terra dessas pragas imundas...

       Yuri interrompeu Johnny com uma risada abafada.

— O que vai sobrar pra você após se vingar?

— Eu não consigo viver quando lembro que quem matou meu irmão está por aí tramando contra todos. A minha vida só começa quando ele estiver morto.

     Johnny olhou Yuri com desdém. Ele soube que a busca por vingança tiraria sua paz interior e o levaria a um estado de agitação e insatisfação. Embora a vingança pudesse proporcionar uma sensação temporária de satisfação ou justiça, muitas vezes era seguida por sentimentos negativos duradouros. A raiva, a amargura e a culpa podem permanecer, causando sofrimento contínuo.

— Eu torço para que abra seus olhos e enxergue que a vida passa.

     Johnny permaneceu em silêncio enquanto via Yuri e Rose se afastar.

  Duque, preso no subsolo da escola, assobiava uma linda melodia semelhante à que Johnny ensinou para Rose. Enquanto isso, ele desenhava nas paredes da cela um lindo jardim visto da perspectiva de uma janela de madeira.

— O que é isso? — Daniel abriu a cela o que fez Duque parar de assobiar.

— Eu não sei, só me venho à mente.

— O Silver vai vê-lo!

— Sério! — Duque abriu um lindo sorriso e deixou as presas à mostra. — Estamos esperando o que? — Ele puxou Daniel em direção à saída.

     Duque adentrou a sala de Silver com um sorriso no rosto ao mesmo tempo que cantava, ele parou no momento em que percebeu Eliott concentrado em uma folha de papel.

— Ela não era vista há mais de quinze anos — Eliott disse e largou o papel sobre a  mesa. — Não é a Carmila o problema, e sim quem anda junto a ela, Francis, vampiro de classe especial.

    Duque fez menção em pegar a folha de papel, mas Silver agiu rapidamente e puxou o papel para si, em seguida olhou para Duque com desdém.

— Você vai sair hoje à noite. — Silver disse a Duque.

— Onde nós vamos? — Duque olhou alegre para Silver.

— A lugar algum, você vai com Eliott. Vão investigar sua conexão com o Lebre Branca.

      Duque olhou Eliott dos pés à cabeça e revirou os olhos em desprezo.

— Tente algo e está morto. — Eliott disse e sinalizou para Duque segui-lo.

— Acha mesmo que eu iria tentar algo contra o tão “majestoso, corajoso e piedoso” Paladino Azul? — disse em tom de deboche.

    Duque e Eliott passaram pela cozinha, onde Johnny, Sam e Rose limpavam tudo. Ao ver os garotos, o vampiro acenou sorridente.

— Vocês vão sair? — Sam começou a caminhar ao lado de Eliott

— Vamos! E não, você não pode ir! Volte à limpeza!

       Johnny observou Sam e decidiu ir junto a ele falar com Eliott. O garoto guardou em sua mente o último encontro que teve com Lebre Branca, e por algum motivo Johnny acreditava que Silver esta envolvido com o vilão.

— Falou com o senhor Silver? — Johnny perguntou a Eliott.

— Ele disse, o que você escutou é inviável, ele não tem nada que o Lebre Branca queira.

— Mas e o pai biológico da Rose?

— Seria como achar uma agulha no palheiro. Agora voltem no que estavam fazendo!

     Johnny e Sam observaram Eliott seguir caminho em direção ao estacionamento.

— Tenho um pedido para fazer. — Johnny olhou para Sam com uma expressão pensativa.

— Eu já imagino o que seja: segui-los.

      Johnny confirmou com a cabeça.

— Vamos! — Johnny mostrou as chaves do carro de Eliott par Sam. — Ele vai voltar para buscar. — Ele colocou as chaves sobre a mesa da cantina.

— Vamos nos meter em enrascada.

     Johnny e Sam se esconderam de parede em parede, até chegarem no estacionamento. De longe, eles observaram Eliott voltando para o refeitório.

— Duque! — Johnny assustou Duque.

— O que estão fazendo aqui?

— Nós vamos junto.

— Duvido que seu pai deixe.

Johnny mostrou uma chave para Duque.

— Retirei do chaveiro, é a chave do porta-malas. — Ele abriu o porta-malas e fez um gesto para Sam entrar. — Você vai na frente!

       Sam revirou os olhos em desaprovação, mas fez a vontade de Johnny.

— Pegou as chaves, Eliott! — Duque deu um sorriso com um toque de culpa.

       Eliott olhou para o chaveiro, repleto de chaves prateadas e douradas. Ele percebeu que faltava uma, ele pensou por uns segundos e disse: “Deixa pra lá”. Ele abriu a porta do carro e sinalizou para Duque entrar do outro lado.
Eliott e Duque foram em silêncio até chegar na cidade, onde os olhos de Duque receberam um brilho a normal ao ver todas as luzes, prédios e comércio. Eliott estacionou o carro e desembarcou, seguido por Duque.

— Vamos conversar com algumas bruxas a respeito do lebre branca.

— E elas vão querer falar?

— É só barganhar.



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