Volume 1
Capítulo 8: Novos aprendizados
Ele por acaso estava se perguntando alguma coisa? Agora eu sei que ele consegue considerar pelo menos duas coisas, é mais inteligente do que eu pensava.
— Como assim!? Acha que consegue domar toda a floresta humano!? — perguntou a fera.
— Claro que eu consigo, mas, tem algo me incomodando...
— Vai ver que alguns dos seus insetos entrou na sua bunda haha.
— É sobre isso! Eu não faço ideia de como eu posso te chamar, tem certeza que não quer um nome? Eu posso pensar em um bem criativo...
O meio fera fez uma careta de puro nojo.
— EU!? USANDO NOMEZINHO DE HUMANO? NEM MORTO!
— Ah qual é!? Como caralhos as pessoas na sua tribo se comunicavam?
— Simples — respondeu a fera — Quem não for filho ou irmão é primo.
Crossy olhou para ele entediado.
— Já sei... Que tal Leo? É simples e não é muito humano.
— Hmmmm...
A fera estava com um olhar sério, considerou todas as possibilidades que vieram em sua pequena mente e disse:
— Tudo bem humano! Eu permito você me chamar de Leo! Porém, somente você! É a minha forma de retribuir pela sua ajuda!
Caraca... Ele tá sendo um pouco humilde ou impressão minha? Achei que ele fosse só um narcisista idiota, mas... quem sabe ele é um cara legal?
Bom, tenho que retribuir na mesma moeda!
— Tudo bem Leo... Mas pode me chamar de Crossy por favor?
— Verei se é possível! — disse Leo, com um sorriso maléfico.
Os dois jovens entraram para dentro do chalé, a noite estava linda, repleta de estrelas. Icarus se encontrava na cozinha cortando alguns legumes e cozinhando um caldo de carne, o cheiro na sala era divino.
— Finalmente chegou Crossy! Sua língua já voltou ao normal?
— Sim, valeu pela preocupação vovô.
— Oh! Será que a poção também te deixou mais educado? — perguntou Icarus, com um sorriso malandro.
O jantar nessa noite foi agradável para todos, o clima um pouco frio combinou com o ensopado de carne. O velho Icarus adorou o novo nome do garoto fera, e ele também.
— Sério? Você realmente usou os insetos pra isso? — perguntou o velho.
— Sim... As pessoas usam essa poção pra isso, né?
O velho deu uma risada desconcertante e disse:
— Cara... As crianças usam essa poção pra conversar com seus pets, no máximo é usada pra lidar com cavalos da realeza ou algo assim. Sinceramente, você a usou de uma forma bem inteligente, parabéns pirralho.
— Haha! Eu não esperava menos do meu subordinado Crossy! Aquele que dominará essa floresta inteira ao meu lado! Lutaremos batalha por...
— Ei! Desde quando eu sou seu subordinado?
Todos riram da situação. A noite terminou rapidamente, os garotos dormiram no mesmo quarto, para a infelicidade de Crossy que perdeu seu cobertor para Leo no meio da noite.
Os três viveram no chalé pacificamente durante cinco longos anos. Crossy aprimorou seus conhecimentos em alquimia o máximo que pôde com os velhos livros de Icarus.
Leo cresceu muito mais que o garoto, o tempo revelou que Crossy era naturalmente baixo, com seus um metro e setenta, enquanto Leo tinha um metro e oitenta e seis, os dois agora tinham doze anos, com um aspecto muito mais maduro eles andavam pela floresta tranquilamente.
— O que o velhote quer mesmo? — perguntou Leo.
— Um javali rochoso, disse ele que é pro jantar de despedida — respondeu Crossy, com uma voz um pouco mais grossa.
— Acha mesmo que ele vai ficar bem sozinho Crossy?
— Eu não duvido do velho Icarus, agora vamos achar esse javali logo...
Crossy colocou sua mão dentro da bolsa e retirou uma poção azul, muito brilhante, ela parecia leve e gelada. O jovem tomou um gole dela e a guardou.
— Aranhas! Preciso da ajuda de vocês!
Dezenas de aracnídeos saíram das árvores em direção ao garoto.
— Crossy! Quanto tempo jovem! — disse uma aranha enorme.
— Ah para com isso! Foram só alguns meses ancião Park.
Park era o líder das aranhas, tinha provavelmente dois metros de envergadura, seu relacionamento com Crossy era amigável, o garoto utilizou a mesma tática que aprendeu aos sete anos, ele fez amizade com os animais e criou um trato com eles.
— Então, o que precisa que nós façamos?
— Icarus pediu um javali rochoso pra janta, hoje é minha despedida então preciso que localizem um pra mim.
— S-Sua despedida!? É sério isso!? — grunhiu Park.
Todas as aranhas pareciam desesperadas, elas reclamavam e discutiam em sincronia.
— Ei! Parem de chorar rapazes! Vocês ouviram! Localizem um javali rochoso em cinco minutos!
Centenas de aranhas pequenas se distribuíram através da floresta. No entanto, o ancião das aranhas ainda parecia deprimido com a despedida de Crossy.
— Que lástima... Fico me perguntando quem irá nos alimentar com carne boa de agora em diante... Mas, gostaria de saber para onde você vai.
— Eu vou visitar minha cidade natal, depois disso eu e Leo pretendemos viajar pra cidade grande, queremos ficar mais fortes sabe? Buscar novos companheiros, viver a vida como der, coisas desse tipo.
— Claro, claro... Vocês ainda são jovens! Precisam viver a vida! Só não deixem de mandar cartas quando puderem.
— Tudo bem!
Eles conversaram por três minutos, até que escutaram um barulho de galope vindo de um arbusto, eram passos pesados e desastrosos.
— Tá na hora, Crossy — disse Leo.
— Ok, vamos ver se você já aprendeu a controlar a transformação!
Os dois se aproximaram dos arbustos e um monstro se revelou. Um javali de dois metros de altura e 3 metros de comprimento, a criatura tinha seis chifres extremamente afiados e pernas muito musculosas.
— Esse aí é dos bons...
— Deixa comigo Crossy.
Leo caminhou em direção a fera determinado, cada passo dado em direção a fera o deixava mais ansioso. Quando o javali o percebeu ele se virou e correu em direção a ele sem nem mesmo hesitar.
— Vai logo! — gritou Crossy.
De repente a forma de Leo começou a mudar. Manchas de leopardo apareceram nos seus braços e corpo, seus músculos se contraíram e aumentaram junto com sua altura, que agora chegava nos incrível dois metros.
Antes que o Javali pudesse o acertar, Leo desferiu um soco rápido e potente na mandíbula do animal, o impacto do soco fez a fera recuar alguns metros e sangrar pela boca.
— Que merda... Eu queria ter derrubado com um só!
— Tente não usar a segunda fase! Ok? — avisou Crossy.
— Eu tô ligado!
A luta se desenrolou rapidamente, Leo atacava com socos e chutes rápidos, que o Javali não conseguia desviar, porém, a fera o pegou de surpresa quando sua guarda estava baixa, utilizando uma investida mortal.
Leo se chocou com uma árvore graças ao impacto do golpe, Crossy sentiu que se fosse ele no lugar do seu amigo ele teria morrido na hora, porém, Leo não era tão fraco assim.
Do tronco quebrado da árvore ele ressurgiu com alguns arranhões. Tentou lutar de outra forma, com um olhar sereno e calmo ele esperou o Javali investir, coisa que a fera fez sem hesitar, quando o ataque se aproximou, Leo pulou o mais alto que pôde, o animal se chocou com o tronco da árvore e Leo caiu chutando o crânio da criatura.
Mesmo atacando de forma inteligente, Leo não conseguiu matar a criatura, que recuou um pouco e se preparou para atacar de novo.
— Crossy... Da uma ajudada aqui!
— Achei que você nunca fosse pedir irmão!
Crossy surgiu no campo de batalha, da sua mochila ele tirou uma poção roxa, muito mais líquida que as demais. O javali se virou contra ele e investiu, Leo tentou correr atrás quando o garoto jogou a poção na frente da fera.
O animal pisou no chão em que a poção foi quebrada, ele estava em investida a toda velocidade quando seus pés escorregaram e ele deslizou em direção a Crossy sem equilíbrio nenhum.
O garoto desviou da fera gigantesca sem controle, ela bateu em uma rocha gigante, levantando uma poeira enorme.
— Há! Quem diria que loção escorregadia seria tão útil?
— Ele morreu — confirmou Leo — Vamos levar pro velhote logo.
O meio fera segurou o cadáver do Javali como um troféu e andou em direção ao chalé. Crossy bebeu mais um gole da sua poção antropomorfista e agradeceu as aranhas pela ajuda, o relacionamento do garoto com os aracnídeos era geralmente amigável, as aranhas localizavam a caça e ele matava, no final, dava um pouco de carne para os pequenos e todo mundo ganhava.
Os animais também respeitavam Leo, ele sempre andava com Crossy, portanto, mesmo que se recusasse a tomar a poção antropomorfista pelo gosto, ele conseguiu fazer amizade com todos.
Nesse ponto, os dois garotos conheciam toda a floresta, cada planta útil e cada animal interessante.
— Chegamos, velhote — anunciou Leo, trazendo o Javali com muita dificuldade para dentro da casa.
— Em tempo recorde, parabéns pivetes.
O velho Icarus não mudou tanto com o passar dos anos, embora tenha ficado um pouco mais grisalho e talvez mais doce. Rapidamente eles começaram a limpar o Javali e preparar as panelas.
Limpar um javali rochoso era um trabalho desafiador, isso para aqueles que não estão acostumados é claro, Icarus fez questão de ensinar os garotos muito bem está tarefa.
A primeira parte é retirar os chifres e a pelagem grossa do animal, porém, limpar e separar a carne do osso é a parte mais difícil, pelo fato de ser um animal gigante poucas facas conseguem fazer algum efeito, além dos seus músculos super densos dificultarem mais ainda. O prato com a carne desse animal é considerada uma iguaria, já que poucos cozinheiros podem trata-lo de forma correta, embora o gosto seja um tanto quanto forte demais.
Icarus o preparou rapidamente com um facão gigantesco — provavelmente tão velho quanto ele. O cadáver do pobre animal foi despedaçado tão facilmente que parecia um quebra cabeça, o velhote conhecia todos os ossos e juntas do Javali, portanto, não foi um desafio.
Quando a única coisa que sobrou do Javali foram os chifres — Que eram usados para as poções de Crossy. O velhote colocou os grandes pedaços de carne em um panelão com algumas ervas e legumes da horta de Crossy.
O cheiro dominou a cozinha, tinha um toque de carne adocicada e apimentada. Demorou quase duas horas para cozinhar completamente, portanto, Icarus fez um almoço simples enquanto se focava no jantar incrível de despedida.
Com o tempo a noite chegou e o jantar estava pronto, a mesa estava repleta com um banquete maravilhoso. No centro da mesa estava o pedaço mais nobre do Javali, porém assado, além de outros pratos com a carne do animal seguida por um molho. Ao redor tinha acompanhamentos como uma farofa de Pinip, uma planta semelhante a soja e algumas frutas exóticas da floresta, que foram presentes dos insetos.
— Cacete! Quanta coisa! — disse Leo, chocado.
— Pois é! Agora eu quero que comam até suas barrigas explodirem, pivetes!
— Ainda bem que quer isso, velhote! Porque eu tô morrendo de fome! — afirmou Crossy.
A refeição foi calorosa e confortável, os três passaram a noite comendo, bebendo e se divertindo. O leopardo foi o primeiro a se deitar, deu a desculpa de que a caça tinha deixado muito cansado e deixou Crossy a sós com Icarus.
— Sabe vovô... pra ser sincero com o senhor, estou com medo.
— Medo? Por que, garoto? — perguntou Icarus, genuinamente curioso.
— Sinto falta dos meus pais, mesmo depois de tantos anos, porém, a ideia de visita-los faz o meu coração bater mais alto, não tenho nenhuma notícia do que aconteceu com eles... e se eles começaram a me odiar? Ou simplesmente se esqueceram de mim?
O velho Icarus deu uma risada honesta, junto com um cascudo leve no garoto, não na intenção de machuca-lo, mas na de corrigi-lo.
— Não fale uma bobeira dessas, moleque! Eu conheço Paul há anos, tenho certeza que ele nunca te esqueceria, ele te ama! E maia também, por isso o deixou vir comigo, para ensina-lo a se controlar!
— Eu... nem sei mais se consigo interagir com outro ser humano, nunca fui de muitos amigos — retrucou Crossy.
— Bom... isso aí eu já esperava, moleque, você fala com insetos e todo tipo de coisa.
Os dois continuaram conversando por algum tempo, até que Icarus foi dormir e Crossy também. O dia amanheceu rapidamente e os dois garotos começaram a se arrumar, a mochila de Crossy era gigante, repleta de plantas, frutas e comida dos animais da floresta, enquanto a de Leo só tinha no máximo algumas mudas de roupas.
— Vai levar a casa também é?
— Só estou levando o necessário, Leo.
O sol estava muito belo, o cantar dos pássaros trazia um pouco de tristeza para Crossy e até mesmo um pouco de nostalgia da primeira vez que chegou. Infelizmente a hora chegou, Crossy e Leo tiveram que se despedir do velho Icarus.
— Vovô... se cuida beleza? — disse Crossy, com algumas lágrimas do rosto.
— Vai embora logo, moleque! Eu odeio despedidas. Leo, no começo eu achei que você fosse só um idiota, mas, agora eu vejo que seu irmão é o verdadeiro idiota, então cuide dele, ok?
Os dois garotos riram com um sorriso triste no rosto.
— Eu tô brincando, mas, sério garotos... Se cuidem, ok?
Os três se abraçaram com toda a força que puderam, Crossy o olhou com uma melancolia, sem força para virar suas costas e seguir seu caminho, porém, Icarus deu um último cascudo e disse para ele:
— Vamos, moleque! Não é hora pra você recuar como um fracote!
O garoto segurou nos braços de Icarus e seguiu seu caminho para fora da floresta, eles andaram pela montanha conversando, o dia estava quente e ensolarado, por mais que não estivesse usando a poção antropomorfista, muitos animais foram ver Crossy.
Ele deu alguns petiscos para os insetos e seus amigos aracnídeos. Leo e Crossy demoraram o dia todo para cruzar a floresta, quando chegaram na metade do caminho decidiram acampar.
— Olha.. eu retiro o que disse, quem diria que os pedaços de carne seca na sua mochila iriam ser úteis? — falou Leo.
O garoto ficou em silencio, a fera estranhou e perguntou, até que Crossy disse com certa melancolia.
— O último cascudo dele... não doeu, nem um pouco.