Volume 1
Capítulo 17: Flor Letalis
Todo o grupo comemorava no meio da rua, exceto Olka, profundamente irritado com as palavras da guilda, porém mesmo assim disse:
— Parabéns, pivetes. Eu sabia que vocês tinham potencial! Mas saibam que isso é só o começo.
— Como assim? — questionou Michiko.
O regente ficou sério de repente, levou os aventureiros para um café e se sentou com eles.
— Vou explicar tudo pra vocês… Primeiro, eu odeio trabalhar na guilda e na verdade estou lutando contra ela.
Os três reagiram com surpresa, embora Leo parecesse mais desconfiado enquanto Michiko e Crossy permaneciam curiosos.
— A família real tem planos para transformar a guilda em um exército, transformar aventureiros em soldados… é uma grande idiotice! Devemos ajudar a todos! Se essa revolução acontecer… milhares de vidas vão ser mudadas, diretamente e indiretamente — disse Olka, com um olhar triste e reflexivo.
— Esconder minha opinião nunca foi meu forte… então eles ficaram sabendo do meu posicionamento, por isso os aventureiros daquela guilda estavam me olhando estranho, eles apoiam a revolução real.
— Caraca… Como você ainda não morreu? — perguntou Crossy, impressionado com a coragem do chefe.
— Hahaha! É simples moleque! Eu sou forte pra caralho!
O grupo relaxou um pouco e Olka decidiu pagar pelo almoço, todos comiam bem enquanto discutiam o assunto.
— A questão é… poucos caras tão fortes quanto eu tem audácia de ir contra a realeza, então eu decidi ir atrás de novatos corajosos e com grande potencial, foi quando eu encontrei vocês… então, o que me dizem? Querem ir contra os idiotas da realeza junto comigo?
Parece idiotice… mas ele tá lutando pelos próprios objetivos, eu valorizo isso… Quem sabe isso é uma boa oportunidade? Eu posso resgatar minha mãe! Parece melhor do que me tornar um capataz do governo.
— Não sei — disse Leo, desconfiado — é claro que humanos são idiotas, mas tem algum motivo especifico pra você desconfiar da realeza?
A desconfiança do meio fera fazia sentido, desconhecia boa parte da natureza humana, além de que respeitar os que estavam “acima” fazia mais sentido para ele do que se rebelar.
— Boa pergunta, você entenderia melhor se soubesse o quão suja a realeza pode ser para conseguir o que eles querem… e o pior, a guilda também tem seus podres, seja lá o que surgir dessa união, vai causar desgraça pra todos os lados.
Crossy pensava com muito cuidado enquanto comia seu pedaço de pão, estava crocante, embora sem sal e com um gosto simples.
— Eu vou treinar vocês para serem os mais fortes! Vou garantir que o objetivo de vocês seja completado é claro! Mas no final… a decisão é de vocês.
Todos terminaram de mastigar e olharam diretamente para Olka, atitude que fez o regente derramar algumas gotas de suor, estava incrivelmente nervoso.
— Por mim tudo bem! — disse Leo, voltando a comer logo depois.
— Me parece uma péssima ideia! Mas eu nunca gostei da realeza… então eu tô dentro! — falou Michiko, com um entusiasmo confuso.
Olka se encheu de esperança, olhando para Crossy com um sorriso ousado ele perguntou:
— E você? Moleque maldito!? Será que vai dar pra trás agora!?
— Claro que não! Vou com você até pro inferno! Velho desgraçado, haha!
O regente sorriu como nunca, enquanto gargalhava ele agradecia aos novatos. A emoção foi tanta que ele decidiu beber em pleno horário de almoço, pedindo uma cachaça das mais caras.
— Então, o que vocês querem da vida?
— Como assim? — questionaram os novatos.
— Seus objetivos, moleques idiotas! Tipo… mulheres, homens, grana… esse tipo de coisa!
Os três pensaram seriamente, parecia uma pergunta boba, porém no final todos demoraram um pouco para responder, Michiko foi a primeira a abrir a boca.
— Dinheiro!
Todos se surpreenderam um pouco com a resposta, porém Olka gargalhou e disse:
— É um ótimo objetivo! Você é mais interessante do que eu pensava garota! E os dois idiotas?
Leo foi o próximo, engoliu o ultimo pedaço do seu almoço grátis e disse com orgulho:
— VOU ME TORNAR O REI DAS FERAS!
As pessoas olharam estranho para o meio fera, que não se envergonhou nem um pouco, para ele, sonhos não eram motivo de vergonha, embora seus amigos ficassem constrangidos com a atenção.
— Bom… não se precisa de um motivo para buscar dinheiro, mas esse eu acho que sim… então, por que quer ser o rei das feras Leo?
— Minha tribo foi atacada por alguns humanos… antes de conhecer Crossy eu achava que todos eram como eles! Porém ele me fez ver que existem pessoas boas por aí… o povo fera precisa entender isso! Somos diferentes e por isso precisamos de alguém forte para nós manter unidos!
Nossa… não sabia que ele pensava tanto assim nesse sonho.
— Que motivação incrível! Vou te ajudar com isso, moleque! E agora o nosso aventureiro Licht.
— Não me chama disso de novo… bom, acho que… eu quero me divertir.
Todos observaram curiosos e surpresos.
— Tipo… quero aproveitar a vida de verdade! Comprar coisas caras, talvez me tornar um cara grandioso, parecem coisas bem divertidas! Mas agora minha prioridade é salvar minha mãe, ela faz parte da realeza até onde eu sei… pode ser difícil de achá-la, mas eu quero reunir a família de novo!
Olka sorriu do sonho ousado de Crossy. Todos descansaram um pouco até que o regente pagou a conta, reclamando um pouco do preço, após isso o chefe decidiu que seria uma boa ideia explicar mais sobre a guilda.
— Aqui o seu Crossy — disse o velho, entregando uma fruta roxa para o garoto.
— Como eu estava dizendo… Vocês agora estão no rank B, o que significa que pra guilda vocês são um pouco acima da média. Finalmente vamos poder pegar algumas missões mais divertidas agora! Não acham?
— Como se você não fosse pegar as missões mais difíceis se a gente não fosse — reclamou Crossy, enquanto comia sua fruta roxa, que tinha um gosto similar a acerola — Caraca! Qual é o nome disso?
— Yami, é minha fruta favorita por sinal! — respondeu Michiko.
— Foco, idiotas! O que querem fazer agora, sendo ranks B?
— Bom… quanto ganhamos com a missão?
O regente olhou para o saco de moedas e começou a conta-las, soube o valor em alguns segundos.
— Uma moeda de ouro e vinte cinco moedas de prata.
Michiko e Crossy exclamaram em surpresa, Leo acompanhou a reação um pouco tarde por não entender o dinheiro humano.
— COMO GANHAMOS TANTO ASSIM!? — questionou Michiko.
— Isso é muito? — perguntou Leo, sinceramente.
— CLARO QUE É SEU IDIOTA! DEVE SER TIPO… UM ANO DE ALUGUEL EM UM APARTAMENTO DAORA! — respondeu Crossy.
— Quanto isso dá em carne? — perguntou Leo, novamente, sem entender o primeiro exemplo.
— HAHAHA! — gargalhou Olka — Deve dar uns 10 quilos de uma das boas!
— Cacete!
Como caralhos ele consegue entender esse exemplo e os outros não? Pera… isso não importa.
— Olka! Tem certeza que não teve nenhum erro nisso aqui?
— Tenho, isso infelizmente é uma prova que a guilda tá de olho em vocês, acha que tem potencial, então eles mandam um extra, além de que vocês pularam do rank F pro rank B.
Bom… a culpa da gente ter começado no rank F foi dele pra começar, então me parece justo.
— Não se deixem enganar por alguns trocados! Vamos ganhar muito mais desses, haha! Agora que são rank B podem dormir em alguns alojamentos da guilda de graça, são nível médio então nada demais, porém pelo menos são limpos… eu acho. Dividam o dinheiro entre vocês e vão fazer umas comprinhas! Michiko pode comprar uma adaga boa e Crossy pode comprar algum remédio que seja bom pra fortalecer os ossos!
— Haha… engraçadinho! Será que tem algum remédio pra vergonha na cara?
Michiko e Crossy ficaram com a maior parte do dinheiro, conseguiram convencer Leo que não teriam como estocar tanta carne se ele gastasse o dinheiro todo nisso, a fera então decidiu pegar a sua parcela e comprar alguns peixes.
Os dois saíram juntos para o centro, buscando coisas diferentes lado a lado. Primeiro foram em uma loja de armas um tanto quanto chique, tudo brilhava e parecia ter sido feito com o mínimo cuidado.
Foram recebidos com um olhar desconfiado do atendente, que os levou para ver as adagas a pedido de Michiko.
— Temos alguns modelos! Tem algum metal em mente?
— Bom, acho que…
— Espere! Me fale a forma como luta e eu acharei a arma perfeita para você!
A garota se surpreendeu com a interrupção, porém decidiu dar uma chance.
— Sou uma maga elementar, uso magia de fogo! Então precisa ser algo que aguente o calor, geralmente só uso adagas quando preciso poupar mana ou ela realmente acaba.
O atendente olhou fixamente para coleção e resmungou:
— Então precisa ser um metal resiste ao calor, ágil para ser sacado rápido, com uma boa condução de mana e de baixo custo…
— Ei! Eu não mencionei essa última parte…
— E nem precisa, consegui contar quantas moedas vocês tem assim que ouvi o som delas balançando dentro do saco marrom na mão do seu namorado!
Os dois ficaram de queixo caído, Crossy ficou extremamente surpreso com a percepção do atendente.
— Incrível! Você só errou uma coisa… não somos namorados!
— Ah é? Então vão ser, aqui milaide, está é de seu agrado?
A cara de Michiko estava tão vermelha quanta a lâmina que o atendente a ofereceu. A adaga era feita de aço mágico, porém feita especialmente para usuários de magia de fogo.
— Ela é feita para aqueles que optam pelo combate corpo a corpo em algum momento da batalha! Imbuindo um pouquinho de mana a lâmina se aquece facilmente graças a condução de calor, permitindo que você corte e até queime os seus inimigos com pouco esforço! Perfeito para situação de última hora.
A garota ficou genuinamente interessada pela lâmina, tinha algo referente a forma como o atendente falava que fazia ela parecer mais incrível do que realmente era, porém Michiko ignorou isso e a comprou sem pensar duas vezes.
— Acho que é isso — disse a aventureira, segurando sua nova faca e andando para fora da loja junto com Crossy.
— Esperem! Vocês são interessantes… aqui meu cartão — disse o atendente — Se precisarem de alguém que entenda de equipamentos mágicos sou eu mesmo! E claro, me chamem se decidirem se casar! Meu primo é casamenteiro.
Crossy resolveu não olhar nos olhos de Michiko, que tentava de toda forma esconder sua cara vermelha e pernas ansiosas, ao invés disso deu uma olhada no cartão.
— Obrigado… Cliff?
— Isso mesmo, tenham uma boa tarde!
Crossy colocou o cartão no seu bolso e continuou as compras com Michiko, entrando em uma loja de herbologia e dizendo:
— Preciso criar algumas poções mais agressivas… não faço ideia do que a gente vai enfrentar, mas se os monstros forem do nível do Licht…
— Por que não faz alguns tipo de ácido? — sugeriu Michiko.
— Boa ideia! Nunca tive os ingredientes pra fazer… é algo fora da minha rotina, mas pode funcionar! Quem sabe algum veneno também?
Crossy comprou muitos ingredientes na loja, gastando quase todo seu dinheiro. Na sua sacola ele tinha coisas como:
Flor Letalis, uma flor roxa que quando esmagada liberava uma seiva venenosa para quase todos seres vivos.
Venenata Toxex, a asa de um réptil verde e muito resiste que guarda uma bolsa de ácido.
Além de ingredientes básicos para algumas poções de recuperação.
O sol estava se pondo e o dinheiro estava acabando, Crossy estava feliz admirando seus ingredientes caros enquanto via Michiko se decidir sobre algumas roupas que queria comprar.
— Acha que vermelho combina comigo?
— Com toda certeza!
— A-Ah… obrigado!
Depois de um tempo os aventureiros se reuniram em uma hospedagem afiliada da guida, o lugar se chamava “Bela siesta” e parecia decente. Assim que se identificaram todos puderam descansar em um quarto mediano, embora Crossy escolhesse passar a noite trabalhando nas suas novas poções.