Volume 1
Capítulo 15: Consumindo o mal
Todo o cemitério tremia incessantemente, corpos se levantavam de suas covas com aparências bizarras, alguns completamente desfigurados, outros com seus olhos cor escarlate. Formando um exército, eles cercaram os aventureiros.
— Que cheiro horrível — resmungou Olka, um pouco entusiasmado — Muito bem! Vou ficar observando de longe, boa sorte pra vocês!
— COMO ASSIM SEU MALUCO!? — questionou Leo — Nem fudendo que você realmente vai fazer isso!
— Deixem o Licht com o Crossy, enquanto isso matem os mortos-vivos, se algum deles atrapalhar as coisas podem ficar complicadas… enfim, essa é a minha única dica!
O regente deu um salto rápido, quase instantâneo e foi parar no topo de uma árvore. Colocou uma ampulheta mágica em um dos galhos e passou a observar os aventureiros, que pareciam assustados e irritados.
O Licht olhava para tudo com muito cuidado, analisando seus inimigos meticulosamente, embora parecesse um monstro, era uma criatura muito inteligente. Apontou seu dedo indicador sem nenhuma carne e disse:
— Vocês ousam invadir a minha casa, aventureiros podres? Por acaso seres inferiores como vocês não recebem educação?
Suas roupas roxas e com toques dourados brilhavam quando ele falava, humilhando cada vez os novatos, que o olhavam com uma certa preocupação. A criatura exalava perigo e morte como um perfume único.
Antes que pudessem perceber, zumbis começaram a avançar em direção aos aventureiros.
Um deles se jogou no pescoço de Michiko, rangendo os dentes, preparado para morde-lo. Em um instante Leo o golpeou para longe, destruindo seu maxilar como se fosse nada.
— Hm… Eles são fracos, a carne é frágil demais.
— O problema é a quantidade — argumentou Michiko, recuando e preparando uma magia.
— Meus deuses… só aqui devem ter no mínimo 200 zumbis.
A garota tirou um tomo de sua bolsa, um livro com páginas negras muito misterioso, sem nem mesmo tocar nele o livro se abriu, parando na quinta página.
— Magia Elementar: Serpente de fogo!
Símbolos em espiral surgiram na capa do livro, que acendeu como uma vela. Do centro da página um projétil feito de fogo avançou em direção a multidão de zumbis, sua ponta se transformou na face de uma serpente conforme viajava até os monstros, queimando e destruindo as lápides no caminho.
A serpente acertou cerca de vinte zumbis de uma vez! Praticamente carbonizando a carne podre dos mortos-vivos no caminho e incendiando o resto.
— Cacete! Isso foi incrível Michiko! — elogiou Leo — Acho que tá na hora de eu te mostrar o que sei fazer também!
A fera fechou seus olhos por um segundo, se concentrando e flexionando seus músculos.
Controle sua raiva, dome sua fúria…
— Magia Bestial: Transformação híbrida!
Manchas pretas surgiram na pele de Leo, seus músculos cresceram imensamente e sua altura aumentou, sua cauda se movia intensamente e suas presas escapavam da boca.
Sem hesitar a fera correu em direção à multidão, se chocando com dezenas de zumbis e levantando eles para o ar. Seu estilo de luta despreocupado era muito efetivo, utilizava as pernas e o corpo todo em seus movimentos, como se estivesse lutando capoeira.
— Crossy, deixa que eu e Leo cuidamos disso! Vá atrás do Licht! Eu já entendi tudo! Isso é uma batalha contra o tempo, ele vai continuar invocando mais mortos-vivos! Esse cemitério é gigante, senão derrotamos ele a tempo, vamos perder!
Surpreso com a inteligência da companheira Crossy disse:
— T-Tudo bem!
Cara… os dois tão dando tudo de si! Preciso acabar com esse otário logo!
Correndo alguns metros ele ficou de frente para cinco zumbis, que serviam como guardas para o Licht. Os mortos avançaram para Crossy agressivamente.
— Não tenho tempo pra lidar com vocês!
O garoto colocou a mão na bolsa e tirou uma poção escorregadia, jogando no chão e fazendo os zumbis deslizarem pela terra.
Correu e desviou de alguns zumbis até que se deparou com o Licht na sua frente, além de uma horda de zumbis o perseguindo atrás.
— Mas que saco! Por que tem tantos deles!? Por acaso você não se garante sozinho?
A caveira do monstro se inclinou em confusão, como se estivesse pensando “ ele realmente disse isso?” seus olhos brilharam escarlate conforme Crossy o questionava.
— Oh… eu não preciso deles — disse o Licht, estalando os dedos.
Todos os mortos pararam de perseguir Crossy e voltaram para atacar Leo e Michiko.
Que merda… Preciso acabar com ele logo! Os dois não vão aguentar muito tempo.
Leo e Michiko lutavam desesperadamente, cercados por zumbis e esqueletos. O meio fera estava repleto de cortes e arranhões, sangrando, e totalmente exausto, enquanto Michiko respirava com dificuldade, suas pernas tremiam graças a quantidade de mana que estava usando.
— E-Eles não param de aparecer! — disse a fera — Não sei quanto tempo vou aguentar, Michiko! Me canso muito nessa forma!
— Precisamos segura-los pra que o Crossy mate o Licht! Aguente mais um pouco Leo! Por favor!
Mesmo quase sem mana, a garota continuava dando suporte para a fera, que rugiu em fúria e cortou um esqueleto ao meio com suas garras, rasgando as costelas do monstro em diagonal.
Em seguida, Michiko tomou alguns goles de uma poção misteriosa, estendeu suas mãos para seu amigo e recitou:
— Feitiço de Fortalecimento: Vi Eterna!
Uma aura verde iluminou a dupla, fortalecendo os pontos fortes de cada um e dividindo o cansaço entre os dois. O feitiço queimou o suor no corpo dos aventureiros, emanando uma fumaça gloriosa. A fera se reergueu, agora com muita energia e Michiko golpeou um zumbi na cabeça, destruindo ela completamente com a força de um leopardo.
Os dois se entreolharam e sorriram.
— Você é incrível, Michiko! Vamos acabar com esses fudidos!
— Esse é minha ultima cartada, Leo! Só consigo manter esse feitiço por alguns minutos! É melhor a gente matar o máximo possível!
Olka observava de longe, coçando o queixo e admirando a bela luta, porém, tinha uma sincera dúvida.
Rapaz… Isso não tá parecendo um Licht de nível baixo não… Ele deveria invocar no máximo uns dez esqueletos, chutando deve ter uns oitenta aí.
Será que eu deveria ajudar eles? Acho que não, se eles morrerem pra um Licht desse nível não valem a pena!
Enquanto isso, Crossy avançou em direção a Licht, carregando seus punhos com energia espiritual, uma sensação de formigante corria pelas suas veias conforme ele se sentia mais forte.
Fez sua guarda no estilo boxe e disparou um soco em direção ao morto-vivo, que desviou do ataque como se fosse uma pena. O Licht estendeu seus dedos e recitou:
— Morra.
Uma coluna de ossos afiados emergiu do chão duro e desolado do cemitério, avançando em direção ao pescoço de Crossy em uma velocidade descomunal.
Os olhos do garoto se fixaram no ataque, em total surpresa ele reagiu, mudando sua posição de ataque para defesa e chutando a coluna na horizontal. O golpe repleto de energia espiritual destruiu os ossos como se fossem um galho de árvore.
Caralho! Essa foi por pouco, achei que fosse morrer!
A aura do Licht permanecia imponente, seus olhos vermelho escarlate se concentraram no garoto.
— Reflexos impressionantes, humano.
— Vão ser ainda mais impressionantes quando eu acertar um jab no seu queixo de palito!
— Você tem uma linguagem estranha, mas saiba humano… Estamos só começando!
O Licht juntou seus dois braços em um tapa e a terra se rachou, surgiram círculos mágicos roxos das lápides próximas, brilhando intensamente.
Merda! O que esse monstro vai fazer!?
— Sabe garoto… uma vantagem que nós monstros temos sobre vocês é que não precisamos recitar encantamentos, facilita muito para fazer isso por exemplo!
Um círculo mágico à direita do garoto sumiu, surgindo dele uma mão gigante em decomposição, que fechou seu punho e atacou o garoto, o forçando a esquivar.
O ataque levantou uma nuvem de poeira, quebrando todo o chão em volta e chamando a atenção dos zumbis e esqueletos.
Crossy estava jogado no chão, em puro choque, por pouco sua perna não foi completamente esmagada.
— Que irritante! Você parece uma barata! — xingou o Licht.
Antes que o garoto se levantasse os outros círculos se ativaram, cinco mãos pútridas se estenderam ao céu e tentaram golpear o garoto, algumas estavam em decomposição e outras eram puro osso.
Todas se levantaram e se contorceram, avançado em direção a Crossy, deixando o garoto totalmente cercado. A primeira se fechou e tentou esmagar o aventureiro.
— Agora você morre! — gritou o Licht.
O ataque estava perto de atingi-lo, quando o braço subitamente parou, começou a se contorcer, sendo apertado com uma força descomunal.
— O que?…
Quando olhou para frente, Crossy viu Leo repleto de cortes, todos seus músculos estavam flexionados como se estivessem gritando, utilizando toda sua força ele segurava o braço gigantesco.
— CROSSY! SAI! AGORA
A multidão de cadáveres começaram a chegar no campo de batalha, Leo estava perdendo suas forças enquanto lutava contra os braços gigantes. Michiko estendeu sua mão e atirou uma bola de fogo contra a palma, queimando ela por inteiro.
Os três se dividiram, correndo em direções diferentes e lutando contra o exército de mortos. Crossy correu em direção ao Licht, desviando por pouco de ser esmagado por um braço gigante zumbificado.
Assim que se aproximou, o morto-vivo o atacou, erguendo dezenas de ossos afiados do chão em direção ao garoto. Crossy fortificou seu corpo com energia espiritual e golpeou boa parte dos ataques, porém não pode evitar uma minoria de ossos, que acertaram seus ombros e pernas, cortando e rasgando superficialmente.
Leo respirava com muita dificuldade, seus músculos diminuíam cada vez mais e seu pelo perdia a cor, dando lugar a pele humana. Michiko estava esgotava, sem qualquer mana ela matava os zumbis com sua adaga, com muita dificuldade.
Crossy se recuperou dos ferimentos e avançou mais uma vez em direção ao Licht, preparando um soco em direção ao esqueleto. O monstro fixou seus olhos no golpe e disse:
— Tolo! Não consegue aprender com seus erros!?
O esqueleto se aproveitou da guarda baixa do garoto e tentou o atacar invocando um de seus ossos, porém, não pôde esperar que Crossy mudasse o seu golpe de ultima hora.
O aventureiro desviou da magia do morto-vivo com o impulso do seu soco, girando, ele chutou a costela do monstro em cheio.
Isso! Finalmente acertei esse desgraçado!
O impacto do golpe jogou o morto-vivo para longe, batendo de costas em uma de suas lápides com um círculo mágico, cancelando sua magia.
Leo finalmente chegou ao seu limite e caiu desmaiado no chão, teria sido devorado completamente se os mortos não tivessem subitamente caído no chão, um por um.
— A-Acabou? — questionou Michiko, enquanto fincava sua faca no pescoço de um zumbi, que caiu no chão junto de seus semelhantes.
Crossy andou em direção ao Licht, escorado em uma lápide quebrada, os ossos das suas costelas estavam totalmente quebrados. O morto-vivo se tremia, seus olhos escarlates falhavam e piscavam.
— Que absurdo… um ser humano com tanta energia espiritual assim…
— Você… não merece o corpo que tem, garoto! — gritou o Licht, estendendo sua mão e agarrando a perna de Crossy.
Antes que pudesse perceber, o aventureiro se sentiu mergulhado na própria mente, como se estivesse dormindo. Uma sensação horrível abalava todos os sentidos da consciência.
Onde… eu estou?
Não… Onde… nós estamos?
A sensação horrível crescia, uma falta de ar surgiu e o desespero tomou conta do garoto, que em um ato de salvação tentou respirar, acordando em uma cabana.
O sol raiava fortemente, todo o cheiro do cemitério tinha se esvaído, Crossy podia sentir o cheiro de um belo ensopado sendo preparado.
Os pássaros cantarolavam e tudo parecia calmo.
Todos os machucados de Crossy estavam enfaixados, alguns precisando de um cuidado a mais. A perna do garoto doía um pouco, porém ele não sentia a necessidade de reclamar, sem hesitar, levantou e saiu da tenda.
— Oh! Crossy! Você acordou! — disse uma voz fina e gentil.
Michiko… O que aconteceu!?
— Você… tá bem?
A garota estava com um aspeto magro e acinzentado, além de ferimentos enfaixados no braço e na perna.
— Não se preocupe! Eu usei muita mana ontem, então estou me sentindo um pouco fraca, mas é normal! Você deveria se preocupar com Leo… a situação dele é mais… séria.