Padre em Outro Mundo Brasileira

Autor(a): Raphael


Volume 1

Capítulo 11: Teste de resistência

O grupo olhou entre si, alguns com ansiedade, outros com medo e um inexpressivo, com essa diversidade um pouco problemática todos deram um passo para a frente e disseram:

— Sim!

O clima na guilda era desconfortável para os garotos, o grupo andou entre diversos guerreiros, cavaleiros e magos, alguns com uma cara fechada e raivosa para os novos membros.

A recepcionista tinha um belo corpo, era alta e forte, desfilava entre diversos homens musculosos e mal humorados como se não fossem nada, inclusive, botava medo neles quando preciso.

— Ei! Parem de olhar para os novatos assim! Seus idiotas!

O olhar de todos os aventureiros mudou, eles pararam de encarar o grupo de Crossy e ficaram envergonhados.

— D-Desculpa, senhorita Eva — disseram os aventureiros em uníssono.

— Muito bem, podem se inscrever aqui! — Apontou a atendente, mostrando algumas fichas vazias no balcão.

Crossy e seus companheiros se sentaram no balcão e observaram a atendente explicar o sistema da guilda com clareza.

— Depois de escreverem suas informações base na ficha o regente da guilda irá testa-los, a partir dos resultados desse teste vamos decidir seus ranks de aventureiros — A guilda funciona de forma simples, quando conseguirem suas licenças de aventureiros, poderão aceitar missões, que tem suas dificuldades baseadas nos ranks, ou seja, um aventureiro de rank menor não pode aceitar missões para enfrentar monstros poderosos! Simples assim!

Michiko não perdeu seu tempo e começou a escrever suas informações na ficha, Crossy se apressou e começou a sua também.

Deixa-me ver... Nome, origem, estilo de luta, idade, profissão, nível mágico... quantas perguntas.

— Acredito que seja obvio, porém como as pessoas que trabalham conosco não costumam pensar muito bem — disse Eva, a recepcionista, enquanto encarava os aventureiros envergonhados — A remuneração depende das missões que conquistaram, vocês podem observar isso no mural ao meu lado.

A recepcionista apontou para sua esquerda, onde ficava um mural feito de madeira escura, grande e repleto de poeira. Nele tinham dezenas de cartazes intitulados de missões, alguns chamaram a atenção de Crossy como:

Missão de Rank B: Caça aos tricórnios do Monte Urogi! Recompensa e espólios a se negociar;

Missão de Rank C: Procura pelo desaparecido “Johnson M. Saphira”, gerente do restaurante “Kaneky”. Recompensa: 35 moedas de ouro.

Um dos cartazes parecia estranho, estava apagado e bem amassado, como se tivesse sido removido e adicionado diversas vezes.

Missão de Rank A+: Irmãos vampiros de Pewter, 5 moedas de platinas pela cabeça dos dois.

Que loucura... quem poderia aceitar uma missão dessas? Imagina lutar contra vampiros!

— Pelo visto todos vocês terminaram! — afirmou a recepcionista, chamando a atenção de Crossy.

O garoto olhou para o lado e viu Leo, aparentemente muito irritado com sua escrita, que se assemelhava a uma rasura, de alguma forma a recepcionista a aceitou. A moça pediu licença e foi para os fundos, deixando os amigos sozinhos.

— Ei, Michiko, por curiosidade... O que você colocou na área de combate? — perguntou Crossy.

— B-Bom... eu sou uma maga iniciante!

— Sou um alquimista! Luto usando poções e alguns outros truques...

— Já eu sou um guerreiro! Luto somente com meus punhos! — respondeu Leo, totalmente confiante.

Crossy olhou para o amigo um pouco envergonhado, porém Michiko deu uma pequena risadinha, o que deixou o garoto confortável, embora Leo não entendesse o motivo da risada.

— Como será que vai ser o teste? — perguntou Michiko, um pouco receosa.

— Tomara que não seja outra prova — falou Leo.

— Espero que seja uma luta! — disse Crossy.

Leo olhou para o amigo e uma dúvida surgiu na sua mente, que logo se transformou em palavras.

— Espera aí, Crossy! Quais poções você trouxe?

— Bom... Trouxe algumas poções escorregadias, fumacentas... uma bomba de teia que eu desenvolvi com as aranhas e acho que só...

A face de Leo se contraiu em um instante.

— PERA AÍ! VOCÊ TÁ ME DIZENDO QUE VEIO PRO EXAME DA GUILDA COM DUAS POÇÕES E ALGUMAS TEIAS DE ARANHA?

Neste ponto todos os aventureiros se viraram para olhar a discussão e a guilda ficou movimentada.

— O-Olha... É o meu estilo de luta! Você sabe... Luto utilizando minha criatividade!

— VOCÊ VEIO PARA WHITEWALK COM UMA MOCHILA GIGANTESCA COM SOMENTE TRÊS COISAS!?

— N-Não pensei que iriamos direto pra guilda, cara! A floresta daqui não tem muita diversidade, sabe!?

Todos na guilda estavam rindo da briga, talvez por se lembrarem de seu passado nostálgico. Os novatos se tornaram a principal atração da bebedeira de todos. Até que Eva chegou e colocou ordem em tudo com uma palavra.

Chega.

A presença da mulher era tão imponente que até mesmo os novatos se calaram. A face da recepcionista estava séria, todos sentiram um certo medo, os guerreiros que estavam rindo da briga fingiram olhar para outro lado. O clima estava tenso, até que a cara de Eva mudou para um tom suave quando se referiu aos novatos.

O regente vai testa-los agora, novatos, me sigam!

O grupo se levantou e começou a andar com a recepcionista, antes de entrarem nos fundos do balcão eles puderam escutar algumas risadas dos aventureiros, além de comentários esquisitos.

— Hahahaha... Eles tão fodidos! — comentou um guerreiro baixinho.

— Duvido que vão passar! Quem tá regindo hoje é o Olka, não é? Se eles não forem recusados significa que já são incríveis! — comentou seu amigo, segurando uma caneca de cerveja quase vazia.

O grupo caminhava pelos fundos da guilda, o lugar estava acabado, repleto de paredes rachadas, com um cheiro peculiar de mofo e urina.

— Então... como é o teste? — perguntou Crossy.

Eva olhou para os novatos com aflição, suando frio. A recepcionista gaguejou um pouco antes de iniciar a resposta, parecia preocupada em pronunciar um certo nome.

— B-Bom... Geralmente é um combate avaliativo, onde não só forças são consideradas! Coisas como a estratégia, velocidade, criatividade e potencial garantem pontos que decidem o rank do aventureiro no final, mas... ele é complicado.

— Como assim...

Antes que Michiko pudesse questionar, um barulho abafado e estranho saiu de uma porta atrás dos novatos. Eva se tremeu de vergonha instantaneamente, sua face ficou vermelha de raiva, a recepcionista bateu na porta suspeita e gritou:

— OLKA! SEU DESGRAÇADO! TÊM NOVATOS PRA VOCÊ TESTAR AQUI!

Uma voz repleta de fúria saiu de trás da porta, junto com um cheiro repugnante de fezes e um barulho de água.

— CARALHO, EVA! DEIXA EU CAGAR EM PAZ!

Depois de mais alguns minutos de gritaria entre os dois a porta do banheiro finalmente se abriu, dele saiu um homem gigante, com quase dois metros de altura e uma barba escultural. O homem parecia um soldado, completamente musculoso e repleto de cicatrizes.

— Hum? São esses novatos aí que eu tenho que rejeitar? — perguntou Olka.

— Nem vem com essa! Você vai fazer a avaliação conforme o protocolo! Se falhar de novo eu vou pedir para tirarem do seu salário!!!

A recepcionista lançou um olhar de repreensão e voltou para a bancada, abandonando os pobres novatos na mão do regente mais cruel de toda guilda.

Eles olharam para o gigante assustados. O homem tinha uma aura de muita experiência, embora não tivesse o mínimo de paciência e tratasse eles como se fossem pedras no caminho.

A face de Olka estava neutra, ele olhava para os novatos com ódio e impaciência, até que um sorriso maldoso surgiu e ele teve uma ideia.

— SEGUINTE! VOCÊS PARECEM SER DIGNOS DE ENFRENTAR OS DESAFIOS PARA SE TORNAREM AVENTUREIROS! ESCUTEM COM MUITA ATENÇÃO!

Crossy, Leo e Michiko ficaram empolgados e nervosos por um minuto, todos se concentraram o máximo em Olka, que ria de forma estranha.

— SEU PRIMEIRO TESTE É...

A ansiedade de todos chegou no ápice! Todos ficaram em silêncio e nem mesmo o vento ousava produzir nenhum ruído!

— Limpar o vaso. Tudo que vão precisar está no armarinho, boa sorte! HAHAHAHAHAHA!

A reação do grupo foi de pura angústia. Crossy começou a discutir com Olka rapidamente, enquanto Leo se estressava cada vez mais, Michiko parecia confusa e com vergonha.

— VOCÊ SÓ PODE SER MALUCO! — gritou Crossy.

Olka ria intensamente da cara dos novatos, chegava até mesmo a lacrimejar, sua face séria era inexistente naquele momento. Mesmo com os dois garotos praticamente o confrontando o superior continuava a gargalhar.

Leo se cansou das risadas, manchas negras surgiram em seus braços e ele estendeu sua mão direita até Olka. O guerreiro desfez sua alegria em um segundo, por um pequeno momento ele nem sequer piscou.

Antes que pudessem perceber, o grupo estava sendo pressionado no chão por uma força misteriosa. O olho esquerdo de Olka brilhou com uma cor verde intensa, a mente dos novatos parecia vazia, como se estivessem sendo hipnotizados e atacados ao mesmo tempo.

O-O que é isso!?

Crossy tentava pensar em qualquer tipo de coisa para evitar perder a consciência, seus amigos tinham desmaiado nos primeiros segundos. O garoto olhou para Olka com ódio, rangendo os dentes.

O guerreiro parecia surpreso com essa reação, a pressão sumiu de repente quando o homem piscou incrédulo. Com muito esforço o garoto se levantou em meio a Leo e Michiko inconscientes.

— Tá tentando matar a gente!?

Um silêncio se instaurou na sala, até mesmo o rebelde comandante parecia pensativo, até que abriu a boca e disse:

Foi mal, pivete... Foi só um pequeno teste, entende?

— PEQUENO TESTE!? VOCÊ QUASE QUEBROU TODOS OS NOSSOS OSSOS!

Olka voltou a gargalhar alto enquanto Crossy exigia explicações, toda a barulheira despertou os outros aventureiros no chão, que levantaram desesperados, como se tivessem voltado da morte.

— Você só pode ser maluco! disse Michiko.

A guilda contrata psicopatas por acaso!? questionou Leo.

A face do general parecia mais tranquila e confiante, ele não se irritava mais com os novatos. Os garotos deixaram de ser um dever e se tornaram algo interessante.

— Vocês têm potencial, moleques! Quem sabe eu pense em testar vocês a sério se limparem bem esse banheiro — Falou Olka, enquanto saia sem qualquer explicação.

Os garotos tentaram chamar a atenção do regente, que simplesmente os ignorou com algumas risadas egocêntricas. No fim, eles ficaram sozinhos com um banheiro fedorento.

— Olha... Talvez a gente tenha entrado na guilda errada? — sugeriu Leo — É só a gente ir embora.

— Não — responderam Michiko e Crossy.

— Vocês estão brincando comigo!? Aquele velho quase mata a gente! — argumentou Leo.

— Bom... é verdade, mas eu não posso desistir agora! Mesmo que tenha que fazer algo tão... repugnante — respondeu Michiko, incomodada.

Crossy se mantia em silêncio, os dois olharam para ele, esperando uma opinião ou um motivo.

— Aquele cara... era muito forte, essa habilidade sinistra... E se a gente aprender com ele?  

Os amigos de Crossy ficaram surpresos e um pouco indignados.

— Acha que aquele maluco vai te ensinar!?

— Só precisamos limpar um banheiro, não é? Quanto mais rápido a gente fazer isso maior a chance de ele pedir outra coisa!

— Nem fudendo que a gente vai fazer isso — resmungou Leo, enquanto pegava um balde.

A tarefa foi complexa e nojenta. Os três passaram mais de uma hora somente cuidando do vaso, Leo não parava de reclamar sobre o absurdo que Olka tinha criado, Crossy também estaria fazendo o mesmo se não estivesse morrendo de rir do ódio de seu amigo e Michiko parecia extremamente incomodada.

Os novatos estavam perto de terminar o serviço quando ouviram barulhos de passos pelo corredor. Crossy foi espiar e viu quase a guilda toda rindo.

— HAHAHA! EU DISSE QUE ELES ESTAVAM LIMPANDO! — gritou Olka, praticamente chorando de rir.

— HAHA! JÁ É A VIGÉSIMA VEZ QUE EU VEJO ISSO E NUNCA PERDE A GRAÇA! — admitiu um aventureiro baixinho.

A multidão continuou zoando os novatos por algum tempo, até que as risadas cessaram e todos sorriram para eles, enquanto Olka se aproximou de Crossy e o estendeu a mão.

— Sejam bem-vindos a guilda, moleques.

— Ei!? E o teste? — perguntou Leo.

— Foda-se o teste! Se eu tô dizendo que passaram é porque me surpreenderam, então deixem de ser ingratos e vamos festejar!

A noite certamente foi longa, a festa de boas vindas foi marcada por uma comida horrível feita por Olka, o mesmo que passou boa parte da festa tomando um sermão de Eva.

Mesmo com todo o clima sendo muito estranho, o grupo se sentiu acolhido. Crossy tentou perguntar sobre o teste de forma séria, porém seu superior estava bêbado demais para explicar algo, então ele presumiu que saberia no futuro, de um jeito ou de outro.

Acho que... só sobrou curtir.

— O que acha de um suco, Michiko? — perguntou Crossy.

— Por mim tudo bem!

Leo observou os dois com uma certa duvida e inveja enquanto comia quieto.



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