Padre em Outro Mundo Brasileira

Autor(a): Raphael


Volume 1

Capítulo 10: Uma guilda aos pedaços

— E se eu não pedir?

A tensão entre os dois aumentava a cada segundo, o miasma no ar trazia um toque de suspense para o quarto. Marcas negras começaram a aparecer nos braços de Leo, que flexionou seus músculos em um passo.

— Não vou discutir com você, Crossy, muito menos te bater.

Tá de brincadeira, Leo!?

Crossy agarrou a fera pela roupa e olhou nos seus olhos com intensa fúria.

— DESCUBRO QUE MINHA MÃE FUGIU, MEU PAI É UM FRACOTE E EU DEVERIA PEDIR DESCULPAS?

A fera perdeu sua paciência e empurrou o irmão para o outro lado da sala, o garoto bateu as costas de forma agressiva, porém não se machucou.

— Seu pai está vivo e podemos procurar sua mãe... então me fale, irmão, será que você está pior que eu!? — questionou Leo.

O garoto ficou confuso, se sentiu irritado por toda aquela situação estressante, porém, ficou mal por ter machucado Leo, aquele em que mais confiava. Com certa tristeza e remorso ele se levantou e caminho até o amigo.

— Ei... Foi mal, eu não quis dizer tudo aquilo.

A face de Leo se contorceu, como se tentasse afagar a raiva.

A fera o abraçou com força e coragem, de uma forma que o garoto não esperava, foi então que com confiança Leo disse:

— Acha que não estou sofrendo por Icarus? Crossy, agora eu só tenho você! Irmãos, lembra?

O garoto afirmou com a cabeça com vergonha de suas ações. A fera ficou orgulhosa do seu irmão e sorriu deliberadamente.

— Céus... Como vamos dormir aqui? Tem teias de aranha pela casa inteira.

— Não consegue falar com as aranhas? Talvez possa pedir para elas se mudarem?

— Acha que elas são idiotas? Não aceitariam nunca.

Os dois riram da situação e Paul subiu as escadas um pouco desespero.

— Garotos! Eu escutei alguns barulhos... vocês estão bem?

Crossy perdeu seu sorriso, porém, olhou para Paul com uma expressão corajosa e disse:

— Pai! Por favor... me desculpa!

O homem com o aspecto destruído se iluminou, mesmo que por pouco tempo, Paul sentiu como se tivesse voltado no tempo em que a família estava reunida e bem, sua nostalgia repleta de felicidade curou sua mente como um remédio eficaz. Lágrimas gentis desceram pelos seus olhos e ele abraçou o filho, que depois de alguns segundos em choque, fez o mesmo.

Lentamente os dois se separaram e Paul informou que tinha preparado um lanche para os dois. Era um sanduíche feito com carne seca, não era bom nem ruim, mas, Crossy e Leo se acostumaram a apreciar qualquer comida com Icarus, portanto agradeceram e decidiram andar pela cidade.

Os dois andaram em direção ao centro lentamente, o pequeno humano observava as pessoas fascinado, encarando de forma estranha para cada uma.

Crossy se deparou com uma jovem de quinze anos, tinha uma face lisa e delicada, um pouco alta, com roupas verdes e marrons, além de um cabelo ruivo, o garoto quase parou sua caminhada para admira-la.

Caraca... Eu não me lembrava que pessoas podiam ser tão diferentes, por sinal, esse mundo sempre teve garotas tão bonitas, talvez eu devesse dar ideia?

— Ei! Crossy, pra onde você está olhando? — questionou Leo.

— Uh... Pra aquela garota ali, ela é linda, não é?

— Não acho... mas se você tem interesse eu apoio!

O garoto sentiu uma pontada no peito e uma dormência, além de um sentimento engraçado na barriga. Sua ansiedade o dominou, cada vez que considerava dar um passo sua mente o impedia.

M-Mas que merda!? Por que é tão difícil? Ela é só uma garota né? Por que caralhos o meu corpo tá em choque!?

Com muito esforço o pobre Crossy conseguiu se aproximar da ruiva. A garota lia um livro sobre explorações e caverna, na cor vermelho escuro.

— O-Olá! Tudo bem com você?

A moça ajeitou seu cabelo e notou a presença do garoto, um sorriso confuso surgiu na face dela, que comprimento o garoto com um aperto de mão constrangedor.

— Algum problema? Não estou incomodando, não é?  — disse a mulher.

— Não! Claro que não, na verdade...

Crossy se forçou a dizer as próximas palavras, mesmo que parecessem idiotas e desesperadas ele as falou com um certo orgulho e ousadia:

— Eu te achei muito bonita! Eh... Qual é o seu nome?

A face da garota adquiriu um tom rosa, ela fechou seu livro com pressa, se levantou e disse:

— M-Meu nome é Michiko! E... obrigada! Qual é o seu nome?

— Eu sou Crossy! Bom, Michiko... o que acha de comer algo comigo?

A cara da garota ficou mais rosa do que nunca, embora ela sorrisse gentilmente de um jeito apaixonante.

— E-Eu adoraria!

 O QUE!? IMPOSSÍVEL! ACHEI QUE NÃO IA DAR EM NADA!

Enquanto isso, Leo observava a situação de longe e tentava analisar a conversa pelas expressões deles, deduziu que a garota tinha aceitado pela cara de surpresa absurda de Crossy, a fera ficou extremamente orgulhosa do seu irmão, como se tivesse o criado.

Rapidamente Leo andou em direção a eles, sem falar nada ele olhou para Crossy, os dois se entenderam como telepatas.

Belo encontro, Crossy!

I-Irmão!? Ele já sacou tudo? Tudo bem, Leo... Não vou te decepcionar!

Os dois se cruzaram e se separaram fisicamente, porém, como irmãos, estavam mais juntos do que nunca.

Crossy caminhava junto com Michiko, sua vergonha estava aparente, ele contava os segundos de silêncio, que pareciam anos. Foi então que a garota, percebendo isso, disse gentilmente:

— Então... você conhece algum restaurante bom na região?

— Bom, faz tempo que não venho aqui — respondeu Crossy, um pouco decepcionado de não poder responder bem à pergunta da garota.

—  Sendo sincera, eu também. Passei alguns anos em Whitewalk e vim passar um tempo com minha família aqui, porém, vou voltar pra lá daqui a três dias.

— Sério!? Eu e meu irmão vamos para Whitewalk também! Quem sabe... podemos ir juntos?

Os dois acharam um pequeno restaurante local, era um pouco apertado, porém aconchegante. Crossy puxou a cadeira para Michiko em um ato de cavalheirismo, o qual a mesma apenas se sentou, sem entender.

Será que eu fiz algo errado? As garotas não deveriam sorrir quando um homem é cavalheiro?

Não... Acho que estou me apressando, talvez o costume desse mundo seja diferente.

Rapidamente o rapaz se sentou e observou a garota fazer o seu pedido.

— Vou querer uma salada de Pinip.

O garçom anotou o pedido rapidamente e sem problemas, até que olhou para o garoto e perguntou:

— E você, senhor, qual é o seu pedido?

— Oh... Um bife de javali da montanha por favor.

O garçom ficou confuso e um pouco envergonhado, até que disse:

— Nós não servimos isso, alguma outra coisa?

— O que? Sério? Tá... Uma sala de Pinip então.

Rapidamente anotou o pedido em um piscar de olhos e correu para a cozinha.

— Nossa...

O coração do garoto gelou com a surpresa da garota, ele pensou:

MERDA! SERÁ QUE PEDIR JAVALI FOI UM ERRO? DROGA! ELA VAI ME ACHAR UM ÓTARIO!

— Você gosta de javali da montanha também!? — perguntou Michiko.

A cara do garoto se iluminou, toda a preocupação se esvaziou do seu coração e ele relaxou com um sorriso no rosto.

— Sim... eu gosto!

Com o tempo os pedidos chegaram, a salada estava apetitosa, não parecia muito bonita, mas era deliciosa.

— Sinceramente, não esperava que você comesse javali — falou Crossy.

— Pois é! Eu cresci nas montanhas boa parte da minha vida.

— Sério!? Você também!? Caraca, temos muita coisa em comum!

Os dois riram levemente e continuaram o jantar, Michiko contou sua história rapidamente, omitindo as partes ruins de Crossy, que a cada segundo ficava mais apaixonado pela garota.

— Então, Michiko... Por que está voltando para Whitewalk?

— Oh! É que eu finalmente consegui aprovação da minha família para me tornar uma aventureira da guilda, então estou viajando para lá! E você Crossy?

— Bom... Eu...

A garota o olhou com estranheza.

— Eu... estou indo para me tornar um aventureiro também! Junto com meu irmão!

— Sério!? Que incrível! Que tal formamos uma equipe?

— Me parece uma boa ideia!

Continuaram conversando por algumas horas, até que o garoto percebeu o horário e pensou em se despedir, porém Michiko saiu de repente do lugar se despediu primeiro.

Crossy ficou parado em sua cadeira, em pura felicidade por ter encontrado uma garota tão incrível em seu primeiro dia, parecia até mesmo hipnotizado.

— Cacete! Parece que foi bom! — comentou uma voz familiar.

— Leo!? Você estava vendo tudo!?

— Claro! Como se eu fosse perder isso, ela parece legal.

Crossy insultou levemente o irmão e os dois andaram juntos para a casa de Paul. Dessa vez, só precisaram bater uma vez e o pai estava na porta, ato que tirou um sorriso dos garotos.

— Vocês demoraram... Por acaso estavam explorando o centro? — perguntou Paul.

— Bom, eu sim, mas Crossy arranjou outros planos.

— Ei! Leo!

Em um piscar de olhos os cinco dias se passaram, Crossy conseguiu se tornar um pouco menos antissocial e se acostumou com as pessoas nas ruas, Leo passou boa parte do seu tempo em Zohakuten se exercitando.

— Filho... Tem certeza que quer fazer isso?

— Eu vou busca-la, pai! Até lá... se reerga!

Um último abraço marcou a despedida para Whitewalk. No caminho os dois garotos se encontraram com Michiko, que tinha preparado uma pequena carroça para transportar todos.

A carroça parecia estar caindo aos pedaços, era velha e repleta de poeira, além de ter dezenas de furos e cortes no teto. Leo tinha uma cara de pura decepção, enquanto Crossy se mantinha grato pela carona de Michiko.

O condutor recebeu algumas moedas de prata e ordenou que seus animais andassem iniciando a viagem. As bestas que moviam a carruagem eram cavalos extremamente fortes, pareciam quatro vezes mais musculosos que cavalos normais, além de suas peles parecerem couraças.

Em alguns minutos, o grupo estava fora do vilarejo de Zohakuten, todos pareciam estar levando pouca coisa, sendo Leo aquele que não levou nada.

A roda em péssimo estado e a estrada repleta de pedras facilitou para o barulho ensurdecedor em boa parte da viagem, além da tremedeira infernal nas paredes.

— Então... Algum plano para quando chegarmos? — perguntou Leo, entediado.

— Primeiro precisamos nos inscrever na guilda, depois fazemos os testes e se passarmos nos tornamos aventureiros! Assim que obtermos a licença vamos poder fazer missões envolvendo monstros e ganhar um bom dinheiro.

— Parece divertido — resmungou a fera.

— E quanto tempo demora pra essa licença sair? — perguntou Crossy.

— Bom... Um mês?

— TUDO ISSO!? — gritaram os dois garotos.

— Tá achando que eu tô rico é!?

O motorista silenciou os três garotos com um breve: “xiii”

— Falando em dinheiro, quanto vocês trouxeram? — perguntou Michiko

— 50 moedas de prata — respondeu Crossy.

Um silêncio se instaurou na espera pela resposta de Leo.

— E o seu irmão... quanto ele trouxe?

— Existe alguma moeda que represente o nada?

— Esquece Crossy.

A viagem foi monótona, a única coisa relevante que aconteceu foi quando Crossy ensinou seus amigos a jogar pedra, papel e tesoura — Jogo que eles levaram um pouco a sério demais.

Depois de três horas viajando o grupo chegou a Whitewalk. A entrada da cidade era majestosa, com um letreiro rústico e gigante, o motorista cogitou deixa-los na entrada, porém eles pagaram um extra e o mal humorado os levou para a guilda.

A cidade como um todo era aconchegante, com uma bela arquitetura medieval e decoração de madeira.

Eles se depararam com uma guilda um pouco acabada, parecia um bar por fora, com uma aparência descuidada e paredes rachadas.

— T-Tem certeza que é aqui, Michiko?

— B-Bom... era pra ser.

Leo foi o primeiro a entrar no lugar, assim que a fera pisou sentiu um cheiro devastador de bebida, o lugar fedia a álcool e fumaça. Por dentro a aparência de taverna era ainda maior, tinham algumas recepcionistas com roupas estranhas servindo bebidas, além de homens fortes com armaduras bebendo até cair.

— E-Estamos no lugar errado, impossível isso ser a guilda! — resmungou Michiko.

Uma das balconistas escutou a reclamação e sorriu gentilmente, andando em direção ao grupo.

— Sejam bem-vindos a guilda! Pelo que vejo são novos aqui, gostariam de fazer o cadastro?

O grupo olhou entre si, alguns com ansiedade, outros com medo e um inexpressivo, com essa diversidade um pouco problemática todos deram um passo para a frente e disseram:

— Sim!



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