Volume 4
Capítulo 3: Começa o Interescolar ③
Pouco tempo depois, todos decidiram ir ao banho. As fontes termais são bem convidativas em um clima tenso, pelo menos no meu caso. Enquanto trocava minhas roupas no vestiário, Teru veio desesperado até mim:
— Ei, Shiroyama! Eu... eu fiz alguma coisa errada, não é?!
Soltei um suspiro cansado.
— Acho que Kuroi está brava comigo! Parece que está me evitando, sabe!
— Deve ser impressão sua... — disse, irritado. — Apenas a deixe em paz por um tempo.
Teru continuou falando coisa inúteis enquanto me seguia até a fonte. Tatsuhiro e Makoto já se encontraram dentro da água. O único que faltava aparecer era...
— Oh, parece que todos os garotos estão aqui! — disse Rentaro, junto de Kiyoshi.
Ugh... me esqueci completamente da presença daquele cara... o rosto de raposa do Kiyoshi parecia ainda mais brincalhão do que mais cedo.
— Ué, já vão entrar no banho?
— Sim... porque a pergunta? — indagou Makoto.
— Vocês não têm ambição nenhuma, não? — retrucou Kiyoshi.
— Como assim?
— Vocês sabem que atrás daquela parede estão as garotas tomando banho, certo?
— Sim, mas...
— Vocês devem saber que parte da juventude dos garotos é a busca incessante de satisfazer os seus desejos, certo? Kaede, Sakuya e Tomoyo já saíram do banho, para informação de vocês.
Ei, uma comoção desnecessária está se formando aqui!
— Que raio de ideia é essa? — indaguei.
— Pare com isso, Kiyoshi... — alertou Rentaro, sério. — O que foi que deu em você?
Fiquei sem reação naquele momento. Afinal, ouvi as vozes de Himegi e Kuroi do outro lado... o que minha mente estava pensando?
— Sou amigo de Ayase, nunca poderia fazer isso... — expressou Makoto, aborrecido.
— Ei, Kiyoshi. Seu maldito! Deixa de nos atormentar com as suas ideias! — berrou Tatsuhiro, irritado.
— Era só uma brincadeira! — zombou o rapaz, estreitando seus olhos de raposa. — Mas, tenho certeza que por um momento vocês ficaram curiosos, não?
Todos emitiam murmúrios, mas ninguém realmente se pôs a dizer que ele se equivocou... como esse cara conseguia ser tão desprezível desse jeito?
No entanto. alguém ao meu lado tremia, como se tentasse conter a vontade de gritar.
Olhei de relance, e fitei Teru completamente vermelho.
— Ei, Teru...!
Será possível que ele iria perder sua sanidade naquele momento?!
Se aquele garoto começasse a berrar ali e atacar Kiyoshi só tornaria as coisas piores...
Quando pensei em me posicionar para impedi-lo, Teru berrou:
— Como homem, não posso me rebaixar a isso! Em primeiro lugar não vem a masculinidade, e sim a moral! EU SOU UM HOMEM DE CORPO E ESPÍRITO!
Aquilo foi extremamente chocante... não, inesperado. Espera, quem aquele calouro no início do ensino médio estava chamando de homem?
Deixando aquilo de lado, fiquei sem reação sobre o seu posicionamento. Mas então, Kiyoshi caiu em gargalhadas:
— Há! Há! Há! O que é isso?! Minha barriga está doendo!
— Não ria, maldito! Estou falando sério aqui! — rosnou Teru.
— Eu já esperava que fossem ficar incomodados..., mas não imaginei que teria um verdadeiro inocente no meio! Há! Há! Há! Há!
— Como disseram, isso não é questão de ser inocente ou não... — murmurei, exausto.
No entanto, o rosto de Teru ficou ainda mais vermelho do que antes, se é que isso fosse possível...
— Inocente...?
De repente, as garotas começaram a gritar fora das termas:
— Se vocês tentarem espiar as outras, vão ver a nossa fúria! — berrou Tomoyo.
— Seus garotos imbecis! Ninguém quer ver vocês nos olhando! — exclamou Sakuya.
— ...
Nós ficamos sem falar nada por um tempo.
— Eu sei que são minhas irmãs, mas... — murmurou Tatsuhiro. — Às vezes parecem duas gorilas...
Apesar da loucura de Kiyoshi, nossas tensões desapareceram. Todos nós rimos juntos após isso — exceto Teru — e o banho prosseguiu sem problemas. Apesar de me sentir cansado, aquele não foi um dia totalmente ruim. Mesmo após ter passado tanto tempo depois daquela corrida com Rentaro, minhas pernas ainda doíam. E ele ainda foi se exercitar no decorrer do dia, aquele cara era insano.
O interescolar ocorrerá a partir do dia seguinte e, segundo Rentaro, será até quarta-feira, a mesma data final da estadia. Ou seja, verei Takahashi jogando e não sei se deveria torcer por ele, já que Rentaro participará em uma escola adversária. Mas... ao pensar melhor, vi que não devo pensar muito a respeito, pois o nosso acordo vai se validar durante e até o final do Festival Esportivo. Só que... também não quero torcer para Rentaro. A posição social dele era bem alta e isso me incomodava de certo jeito, apesar de ser alguém legal. Isso, apenas serei um espectador e veria como as coisas vão se desenrolar.
Vi Yonagi algum tempo depois, mas ela parecia estar perdida em seus pensamentos. Ela combinou comigo no dia anterior que a nossa conversa ocorreria naquele domingo, mas pela forma que as coisas foram inesperadas naquela tarde deve ter esquecido do combinado. Não tinha o porquê de apressar isso, no entanto. Na verdade... uma parte de mim queria evitar essa conversa, seja como fosse. Só de lembrar da expressão de Yonagi quando viu aquele desenho...
O que devo fazer?
Não sabia o que fazer, surgiu um desconforto em meu peito por vê-la daquela forma. Por mais que não fosse algo da minha conta, ela queria aproveitar aquela estadia com sua família. Eu poderia entender aquele sentimento.
Por isso, me fixei analisando um pensamento meu:
— O que farei quando descobrir a razão para ela estar assim?
...
Hein?
Fazer?
O que deveria fazer? Tenho o direito de fazer alguma coisa, por acaso?
Balancei a cabeça, desvencilhando aqueles pensamentos. O que estou pensando, afinal?
Parece que agi estranho, pois Kiyoshi se aproximou de mim.
— Algo de errado, Shiroyama?
— Porque está agindo tão casualmente? Não faz nem um dia inteiro que nos conhecemos...
— Há! Há! Sabe, eu meio que gosto do seu jeito desconfiado.
— E eu fico incomodado com esse jeito desleixado de você agir, quando na verdade está analisando o fundo da minha alma com esses olhos de raposa...
Kiyoshi ficou parado em silêncio durante alguns instantes. Ele ficou tão surpreso assim com o que disse a seu respeito?
— Você é mesmo uma pessoa que fala tudo o que pensa, não é? — indagou, me encarando com olhos ferozes e travessos.
— Não é como se você fosse ficar incomodado com esse tipo de coisa, não é? — disse, indiferente. — Estou acostumado a receber uma péssima impressão dos outros, mesmo.
— Não, não de mim. E sim da forma que Yonagi me falou de você... — expressou ele, com aquele mesmo sorriso infantil. — Está curioso em saber?
— Nem um pouco... — omiti. — Já tenho muitas coisas pra lidar, e sou apenas um membro de clube como qualquer um. Não deve ser nada além de insignificante, mesmo.
— Oh? Achei que tivesse uma imagem melhor de si... — comentou Kiyoshi, surpreso. — Apesar da sua pose solitária, no fundo há alguém desanimado com a visão da sociedade?
— Droga... — grunhi, deixei me levar. O que aquela raposa queria comigo?
Kiyoshi tornou a rir novamente.
— É, eu acertei em cheio. Você é realmente interessante. É muito legal brincar contigo.
— Não, eu realmente não acho. Pare com isso. É estranho... — retruquei.
— Como posso fazer isso se você foi a única pessoa que foi atrás de Kaede? — interrogou Kiyoshi. — Fora Rentaro e os outros, não conheço os amigos que ela tem na escola.
— Na... na... não é como se fôssemos próximos, mesmo que coloque as coisas dessa forma... — balbuciei na mesma hora. Ah, como me achei patético. — Só achei que tinha que agir e fui atrás. Apenas isso!
— Bom saber. E estou agradecido por isso... — Ele me fitou diferente desta vez.
— Pelo... pelo quê? — indaguei, incomodado.
— Por “apenas isso”, como você disse... — Kiyoshi sorriu, dando de ombros. — Você é realmente alguém interessante e que sabe agir.
O que havia por trás daquela visão distante?
— Sei agir? Como assim?
— É exatamente o que disse. — Kiyoshi me encarou seriamente. — Saber agir na hora certa e no momento certo. O que as pessoas acham que precisam, mas não agem em prol disso perdem suas chances. Isso vale pra qualquer pessoa. Qualquer um.
— ...então, títulos pra você também são coisas vazias? — O fitei quando subitamente se levantou do sofá e me encarou. — Você consegue entender o sentido de ser contra a maré do favorecimento além das suas habilidades?
— Oh, você até diz coisas do tipo, hein... — Ele descontraiu, mas senti que seus olhos se contraíram em algum momento. — ...só que entender o sentido e ser contra são coisas fundamentalmente diferentes. Se obter essa resposta, venha falar comigo novamente.
Grunhi baixo, aquele cara era difícil de se lidar... como pensei. Ele agiu como se não estivesse mais ali e subiu as escadas, provavelmente se dirigindo ao quarto. Permaneci imóvel no mesmo lugar com a mente fervendo.
Espero nunca mais ter de encontrá-lo depois daquela estadia...
E então, a campainha tocou. Depois de mais alguns toques incessantes, a recepcionista abriu a porta e um homem desconhecido entrou e trocou palavras rápidas com a mulher, que agilmente fez um telefonema.
Não entendi ao certo, mas a recepcionista o pediu para aguardar nos sofás, pois ele se aproximou subitamente e sentou próximo a mim. Era um homem de quase meia-idade, a julgar pelos seus cabelos brancos e expressão cansada. Ele parecia estar abatido, então poderia ser que tivesse menos idade do que aparentava.
O homem esperava por alguém, pois sua perna não parava de tremer de ansiedade. Pouco tempo após, tio Ikishi e tia Mikoto desceram as escadas apressados e ele se levantou. Ambos se cumprimentaram e falaram algo como: — vamos conversar no quarto. É bom vê-lo, Ugawa! —, e subiram rapidamente a escadaria, desaparecendo do saguão.
Ponderei um pouco e então me recordei. Ugawa era o nome de um dos parentes de Yonagi. Se não me engano, ela disse que alguns deles não iriam comparecer naquele local. Se ele era um de seus parentes, por qual razão carregava uma expressão tão tensa como aquela? O homem sofria, por algum motivo.
Senti um arrepio por todo meu corpo e quando dei por mim, galguei a escadaria. Aquilo definitivamente não era da minha conta, mas não fiquei curioso apenas por querer saber da situação. Algo estava realmente errado, Yonagi não pareceu indisposta à toa desde aquela tarde e, Kiyoshi tinha ciência daquilo. E era claro que não foi o motivo para tal.
Cheguei no corredor do andar de cima e me deparei com Rentaro e Tatsuhiro escorados na parede do quarto dos tios Ikishi e Mikoto. Pelo visto não fui o único a querer saber do ocorrido. Me aproximei silenciosamente e fiquei ao lado dos dois. Não fui repreendido pela ação, em vez disso assentiram e juntos encostamos nossas orelhas na parede, que parecia ser mais fina do que imaginávamos. Não demorei muito para começar a escutar a conversa que se passava do outro lado:
— Diga-nos todos os detalhes, Ugawa. Por favor! — começou tio Ikishi, apreensivo.
— Eu juro... juro que tentei encontrá-lo de várias formas, mas ele desapareceu totalmente! — explicou o tal Ugawa. — Quando estávamos na estação de Hiranumabashi... nos misturamos com a multidão e... tudo durou um instante... ele desapareceu do meu lado!
— Mas isso...
— Não, Ikishi. Foi intencional! Ele aproveitou a oportunidade e fugiu de mim! — exclamou o homem, amargurado.
— E pensar que ele o usaria desse jeito... — lamentou tia Mikoto.
— É, ele foi surpreendentemente rasteiro... fiquei bem surpreso — soou a voz de Kiyoshi. — Apenas pude reagir por impulso quando me encontrei com minha irmã.
— Você fez bem, Kiyoshi... — murmurou Ugawa. — Não posso perdoar o que meu filho fez a você... meras desculpas não são o bastante!
— Não se incomode com isso, tio... — suavizou Kiyoshi. — Apenas fiz o que um irmão mais velho deve fazer com a sua querida irmãzinha. E... isso não é culpa sua.
Pude notar um traço emocional carregado nas palavras de Kiyoshi, como se seu ressentimento fosse direcionado para outra pessoa. Espera, filho de Ugawa?
— Se você não o encontrou até agora, então aquele pivete deve estar com os seus amigos... — ponderou tio Ikishi.
— Isso mesmo. Não consegui descobrir até agora onde eles estão hospedados e nem quantos são, pode até ser que um deles more nessa região...
— Essa viagem pode acabar dando problemas inesperados... — murmurou tia Mikoto. — Será que fomos tão ingênuos assim por nós cometermos esse erro tremendo?
— Não diga isso, tia. Isso não é culpa de nenhum de vocês! — proferiu Kiyoshi. Sua voz era rouca, parecendo irritado. — Os planos não mudaram e não quero que mudem. Enquanto o interescolar estiver acontecendo, vamos procurar por ele. Irei pedir para os garotos ficarem próximos de Kaede e com o bônus da multidão nos jogos, ninguém indesejado se aproximará facilmente.
Ei, ei... o que está acontecendo?
— A única dúvida que resta é... porque a Kaede? — indagou tio Ikishi. — O que esse moleque quer agindo desse jeito?
— Por ora, não quero nem imaginar... — grunhiu Kiyoshi. — Mas daremos um jeito de mantê-la segura, prometo.
— Deixo isso com as suas mãos, Kiyoshi... — disse Ugawa. — Por favor, vá descansar. Agora, vou discutir com seus tios as possíveis rotas que eles poderão estar amanhã.
Engoli em seco, olhei para os dois e parece terem pensado o mesmo que eu. Era hora de sair dali o quanto antes. Descer as escadas era arriscado por causa do barulho, então fomos para o quarto dos garotos o mais rápido que pudemos. A porta do quarto ao lado se abriu e Kiyoshi saiu. Achei que ele viria direto para cá, mas desceu as escadas, provavelmente foi esfriar a cabeça antes de vir falar conosco.
Fechei a porta do quarto e suspirei aliviado. Os outros dois estavam do mesmo jeito. Me sentei no chão e fiquei ponderado o que acabei de ouvir.
— Aquele idiota...! — esbravejou Tatsuhiro, socando o chão.
— Nunca imaginei que ele poderia tentar fazer tal coisa... — murmurou Rentaro, segurando os joelhos.
— Ei... — chamei a atenção deles. — Preciso que me expliquem. Quem é o filho do Ugawa?
Agora que me envolvi naquela situação, preciso saber dos detalhes. Os dois assentiram e fizemos uma roda no chão.
— Kushibe Oguro. Esse é o nome dele... — explicou Tatsuhiro. — Ele é filho único, então sempre que podia, nos visitava para brincar. Antigamente, era bem carente por quase sempre estar sozinho.
— Por conhecer Yonagi desde criança, o vi algumas vezes e brincamos muito... — complementou Rentaro. — Oguro podia ser carente, mas também era orgulhoso. Sempre gostava de se gabar das habilidades que tinha.
— Não é difícil imaginar o tipo de pessoa que ele seja, então... — cogitei, e eles assentiram.
— O problema... é o que ocorreu depois que entrou no ensino médio... — continuou Tatsuhiro. — Não sei bem dos detalhes, mas ele passou por muitas dificuldades e, era muito próximo de Yonagi, mas depois de algo que aconteceu, pararam de se falar. Ele se afastou de todos da família e passou a fazer amizades duvidosas. Não ouvi mais a seu respeito desde então.
— Então, tudo isso aconteceu há mais ou menos um ano atrás, certo? — ponderei.
— Sim, soube que ele assumiu uma postura mais agressiva, mas nunca soube direito dos detalhes... — comentou Rentaro.
Se Kiyoshi o confrontou no museu antes que eu tivesse chegado lá, então...
— Oguro deve ter tentado agredir Yonagi e Kiyoshi o impediu.
Eles me olharam surpresos.
Bom, essa foi a única alternativa que aconteceu naquele momento.
— Não achei que você fosse tão próximo de Yonagi... — murmurou Rentaro.
— Hum? Como assim?
— Você falando dela tão casualmente me fez parecer que são bastante amigos...
— Ah... — Nem percebi aquilo. Diante das discussões que tínhamos, virou um hábito. — Nem é para tanto...
Desviei o olhar, e Tatsuhiro tossiu para chamar nossa atenção.
— Certo. O que importa é que agora teremos que agir como os guardas dela, então? O que será que ela fez que o enfureceu tanto assim?
— Não saberemos disso a menos que a perguntemos diretamente... — disse. — Mas, sinto que essa não é a melhor alternativa a se fazer neste momento...
— Eu concordo! — assentiu Rentaro. — Afinal, ela mesma já sabe da situação atual. Devemos fazer isso de forma discreta para que não perceba, mas como irei jogar no interescolar, terei que deixar isso para vocês dois.
— Makoto pode nos ajudar nisso, então tudo bem... — assegurei.
— Vamos torcer para que algo a mais do que isso não ocorra... — desejou Tatsuhiro. — Que complicado...
— Por enquanto, vamos fingir que não sabemos de nada para Kiyoshi — expliquei. — É o que podemos fazer por agora. Tatsuhiro, você pode usar suas irmãs para que elas não deixem Yonagi sozinha.
— Pode deixar comigo, sei como lidar com elas.
Minhas mãos suavam, mas a situação se manteve sob controle. O que poderíamos, tínhamos e deveríamos fazer era claro. E mesmo assim, senti como se tateasse o escuro.
***
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios