Volume 3
Capítulo 4: O Desenho de Shiroyama Hideo ③
Me senti derrotado, devastado e condenado.
Mal consegui me mexer na carteira após terminar a prova de biologia.
— Acho que estou lascado...
Esqueça sobre as respostas elaboradas das provas de humanas! Para conseguir pontuar em uma prova de biologia, precisa deter de um dossiê completo o suficiente pra descarar o próprio corpo humano!
Minha mente ficou em frangalhos por causa do desafio causado por Kumiko. Meu desejo de vencer pareceu não andar em conjunto com as minhas habilidades acadêmicas!
Infelizmente não restou tempo pra relaxar ou lamuriar, a prova de química veio logo em seguida. De repente, surgiu a imagem de uma pessoa muito conhecida por mim, da qual não quis lembrar nunca mais: minha irmã.
“Você nunca será alguém sendo tão patético!”
Novamente, senti meu semblante se alterar rapidamente por aquela lembrança. Mas, fechei meus olhos para não demonstrar minha expressão na frente de ninguém. Aquela pessoa que nunca acreditou em mim e apenas me viu como um benefício, resolveu me assombrar sempre que fraquejo...
Devido a muitas coisas, parei de pensar a respeito.
Pelo que aconteceu, eu mudei. Pelo que aconteceu, mudei de escola. Pelo que aconteceu, refleti tal situação nessas circunstâncias. Depois do tanto que prometi a mim mesmo, mudarei tudo e descartarei o sofrimento causado por aquelas memórias.
Foi o que transmiti para ___ ___, que nos ensinou da mesma forma.
“O quanto seus ensinamentos me levarão adiante?”
“O quanto poderei fazer sem seguir seus passos?”
“O quanto poderei agir se estiver sozinho?”
Essas foram as perguntas que fiz internamente quando decidi mudar para essa escola. Minha vida se tornou cinzenta por causa deles e essa decisão foi tomada para encontrar um novo sentido para mim.
Porém, se tiver que me desvencilhar de seus ideais, preciso compreender suas razões e conseguir questionar tudo. Por isso, devo usar tudo ao meu favor e vencê-los no próprio jogo. Cumprirei estes requisitos a todo custo.
Sob a consequência desses atos, construí várias promessas com o decorrer do caminho. O peso dessas memórias ameaça me afundar em um poço sem fundo, mas não se engane. Usarei qualquer peça disponível ou vantagem aparente ao meu redor para subjugá-los, provando o próprio veneno.
Puxei do meu bolso as anotações de Senjou Hana e as rasguei em vários pedaços, jogando-as no lixo. No fim das contas, ela foi de grande ajuda. Não fosse as circunstâncias, agradeceria pessoalmente.
Mas isso não vai acontecer.
Como disse antes, Kumiko e Yonagi possuíam um jeito de agir. Seja com uma mente brilhante, seja com apoio de pessoal. E o meu é: ter fontes de dados à disposição para utilizá-los quando preciso e, por mais que Senjou tenha me ajudado e tivéssemos nos conciliado de alguma forma, não contarei mais com sua ajuda.
É hora da minha Memória Relâmpago! agir. Aceitei em tirar notas baixas nas outras matérias de ciências pra não ter nenhum tipo de remorso. Porém, minha mente trabalhou nas informações frescas que obtive, não apenas em decorar. Decorebas não levarão a nada.
Com o sinal dado, desvirei a última prova de exatas. É tudo ou nada.
Na verdade...
Transformarei o possível “nada” em um completo “tudo”.
Quando deu o horário do último período, saí da classe e me dirigi a sala dos professores.
Quem me esperou foi ninguém menos que Mitsuhara Kobune, sentada com as pernas cruzadas no sofá.
— Oh, Shiroyama! Finalmente chegou! Vamos ao teste?
Acenei a cabeça em resposta.
Nós dois seguimos até outra sala, com mais alguns alunos. Contei uns cinco deles, no total.
Todos são alunos transferidos.
Essa foi a taxa da adesão de transferência, então? Fiquei até surpreso comigo mesmo por ser aprovado sob tamanha dificuldade.
— Ótimo! Todos estão aqui! Vamos começar!
Sentei em uma fileira vazia de carteiras, que continha o teste em questão virado ao avesso. Apenas o silêncio exalava ali, quebrado pelo: — comecem! — da supervisora e dos lápis rabiscando ecoando.
Não permitirei perder aqui. Não antes de tudo o que ainda tenho de fazer, e de provar a mim mesmo. Nada começou ainda.
Desafios, problemas, inimizades, nada daquilo importa.
No fim, tudo considerado realmente importante é o que cumprimos em nosso próprio nome. Por nós mesmos. É o que nos faz seguir em frente e evoluir como seres humanos.
Meu objetivo principal ao entrar nessa escola foi desviado do curso planejado devido a tantos acontecimentos, mas a estrada foi retomada naquele teste especial. Por tudo o que aconteceu para estar ali, não permitirei que a estadia termine tão facilmente. Isto não acontecerá.
Senti que Mitsuhara Kobune me observou conforme o tempo passava... não. Sua atenção se concentrou em todos os presentes. Não tive ideia de como funciona a mente daquela mulher, mas seus gostos por desafios são claros como água.
Minha mente fluiu nas folhas da prova. Aquele foi realmente um teste especial. Dividiu-se em várias partes, ao abranger todas as disciplinas. Não compreendi a intenção deles aplicarem tal exame logo após as provas de exatas, mas notei naquele instante:
O conteúdo de exatas foi o mais difícil de aprender. O único jeito de aplicá-lo na prática era realizando teste após teste simultâneo. Ou seja, a mente dos alunos estaria fresca após terminarem tantas provas avaliativas.
Não estávamos apenas sendo avaliados pelas nossas notas, mas também por nosso desempenho pessoal de intelecto. Naquele momento, todos se encontravam intelectualmente em boa forma para responderem as questões de exatas de alto nível, e quem realmente estudou e aprendeu não terá problemas com as perguntas. Isso representa quem realmente é da elite de quem não é.
Aquela mulher não é brincadeira. Se for isso mesmo, a partir de que momento estivemos sendo avaliados? Será que foi desde nossa entrada? Durante a entrevista?
De todo jeito, aquela mulher é assustadora.
Em meu âmago, quero ver até onde esse desafio chegará. É possível pressionar essa mulher? Serei capaz de arrancar seu sorrido pretensioso em algum momento?
De uma coisa não posso negar: quero ultrapassar as expectativas dessa supervisora metida, sem dúvidas.
***
O teste especial terminou e minha mente quase entrou em pane. Foram várias provas consecutivas em um curto espaço de tempo entre cada uma, senti vertigens só de pensar em tantas fórmulas de uma só vez...
Mitsuhara Kobune soltou uma gargalhada.
— Você realmente parece um zumbi como os outros dizem! Olha só esses olhos mortos! Nem precisa de maquiagem!
— Isso é realmente algo para você falar com tanta casualidade? — balbuciei.
Só há nós dois ali. Os outros alunos foram embora na mesma situação em que me encontrava.
— Se te chamassem pra gravar um clipe do Thriller, certamente te destacariam!
— Isso não tem graça... por mais que goste de Thriller...
Porque ela insinuou tal coisa? Será que ela quis dizer que posso encenar um zumbi melhor que o próprio Michael Jackson?
— Vá tomar alguma coisa e vá para casa descansar! — Ela se levantou e bateu em minhas costas, rindo alto. — O resultado só sairá amanhã! Se preocupe com o que está à sua frente, primeiro!
Após terminar de falar, saiu da sala. Ela realmente possui uma presença inesquecível...
No entanto, ela se enganou em apenas uma coisa.
— Não... não posso ir embora ainda.
Resta algo a se fazer ali.
Fui direto a uma máquina de bebidas pegar o usual cappuccino e me dirigi ao evento que ocorreu naquele instante.
Sim, o evento que antecedeu esses acontecimentos, que poderia ter me dado um passe de realizar aquele exame com mais calma. De fato, foi uma prova muito difícil. Se não fosse as anotações de Senjou, não conseguiria raciocinar mediante às questões e não aceitaria tamanha desvantagem. Caminhei confiante de que não me saí mal na avaliação.
Apesar de tudo, isso é passado agora.
Desci as escadas e segui ao prédio especial.
Ao chegar lá e subir até o andar onde fica o clube de artes, me deparei com uma extensa multidão. Acho que quase todos os alunos da escola foram presenciar os desenhos...
Afinal, muitos se inscreveram no concurso e precisavam estar entre os 10 melhores na classificação para serem aceitos. Os alunos normais não precisavam se preocupar pelo grau de dificuldade dessas provas avaliativas, e sim com as provas finais.
Os desenhos expostos se encontraram nas paredes do corredor. Mesmo eu não soube que foram tantos candidatos participando até ter entregue o quadro mais cedo.
Tentei aos poucos cruzar aquele mar de pessoas. Não demorou muito para ver Himegi e o pessoal do clube de literatura, assim como Chinatsu e Shiina.
Mas quando os alcancei, eles me encararam incrédulos.
— O que foi? — perguntei.
— Você... — Himegi murmurou, mas a voz de Shiina a interviu, pois ela comunicou a todos:
— Como a presidente do clube de artes, a classificação foi feita por mim. Aqui estão os 10 melhores desenhos das pessoas que entrarão neste clube!
Os desenhos escolhidos se localizaram dentro da sala do clube e cobertos por lonas brancas. Quando Shiina os tirou, todos os alunos vibraram pelos resultados. Me esgueirei para ver qual foi minha posição descrita na lousa da sala.
1º Lugar: Tsuna Chise
2º Lugar: Shiroyama Hideo
[...]
4ª Lugar: Chinatsu Chitose
[...]
Não acreditei no que vi... venci Chinatsu naquele concurso?!
Mas, a questão do meu espanto não foi essa.
Ela fez um desenho de uma garota chorando de felicidade, dado o rosto. Retratando do tema proposto, foi uma ideia relacionada a lágrimas de felicidade? Pareceu até mesmo uma das capas de A Voz do Silêncio... mesmo assim, ficou muito bom.
Mas também, a questão não foi essa.
O desenho que ficou acima do meu é um belo retrato de uma garota radiante sorrindo. A imagem foi tão cintilante que você é capaz de sentir a felicidade, a emoção e os sentimentos transmitidos pela tinta. Uma belíssima obra de arte.
— Ei...! Isso está mesmo certo? — indaguei para Shiina.
— É claro. Afinal, fiz um julgamento justo... — respondeu a garota.
E mais outra questão do meu espanto também não foi sobre ter pego o segundo lugar.
A resposta se mostrou na reação de Kuroi, Teru e Himegi em relação ao meu desenho respectivamente, e...
— Ela é...
— Praticamente...
— Idêntica...
— ...a mim — concluiu Yonagi, ao lado deles.
Nos fitamos e corei imediatamente, virando o rosto.
Meu desenho, diferente daquela garota radiante do primeiro lugar, foi totalmente o oposto. Meu desenho era uma garota de longos cabelos pretos em tonalidades monocromáticas, realçando profunda reflexão, mas transbordando uma captura de sensação que cada um já sentiu alguma vez na vida.
Desde que vi aquele panfleto do clube de artes, percebi que não precisei me desviar dos próprios sentimentos e pensamentos. Chinatsu seria ela mesma até o fim, e tive que agir da mesma forma.
Senti meu rosto inteiro arder. Não fazia ideia de que toda a escola iria prestigiar aquela exposição... na verdade, não passou pela cabeça que Yonagi veria aquilo!
Mas é claro que veria! Foi ela que aceitou o desafio de Chinatsu! Burro, burro!
Senti-me sufocado pela própria inocência dos fatos. Decidi sair logo dali e quem sabe nunca mais sair de casa.
Mas uma mão me deteve.
Aquela mão segurou o meu braço e me fez parar.
Mesmo sem me virar, soube quem me impediu de prosseguir.
Essa mesma pessoa, confusa sobre o que sentir por conta própria, chamou meu nome em tom baixo:
— Shiroyama... espere.
Naquele momento, perdi a força nas pernas e não me mexi. Apenas me virei e fitei o rosto de Yonagi, tão vermelho quanto o meu.
— Podemos... conversar?
***