Volume 3
Capítulo 4: O Desenho de Shiroyama Hideo ②
Terça-feira. Todos no LINE mandaram mensagens de apoio um ao outro:
[O primeiro dia de exatas foi difícil, mas conseguimos passar por ele! Vamos com tudo neste segundo dia!] — Chinatsu.
Ela sempre animando os outros, como sempre.
[Lembrem-se das fórmulas básicas das formas geométricas, pessoal!] — Teru.
[Qual era mesmo a fórmula de volume do cilindro?] — Kuroi.
[...]
Ao chegar na escola e trocar os sapatos, cruzei os corredores até a classe, mas no meio do caminho me deparei com a professora Harashima.
— Está preparado para as provas de hoje, Shiroyama?
— Hum, claro. Tenho um dever a cumprir aqui, certo?
Ela se aproximou e bagunçou meu cabelo. Por que ela sempre faz coisas do tipo?
— A supervisora está com grandes expectativas. Apesar desse início de semestre ter sido conturbado, acredito que agora as coisas vão fluir bastante. Garanta seu lugar aqui, Shiroyama.
Mesmo que ela seja uma professora ríspida e sempre de olho em mim, ainda consegue motivar os outros de maneira tão positiva.
— Não precisa dizer duas vezes. Tenho algumas provas para fazer, já vou indo... — disse, retomando meu rumo.
Só não soube ao certo se as coisas se acalmarão após o resultado dessas provas, disso tive certeza...
Antes de chegar na classe, fitei Yonagi andando até sua própria sala no fim do corredor, distante da minha. Uma sensação confusa surgiu em mim, mas tenho consciência dos meus motivos mesmo com as turbulências.
E nisso, as provas do período matutino naquele dia deram início.
A visita ao mural geral se tornou impossível, devido à imensa aglomeração de alunos para ver suas médias. Decidi que verei a minha posição atual após a refeição.
Enquanto comia, as mensagens no LINE continuavam:
[Essa prova foi complicada. Tive alguns problemas em algumas questões...] — Teru.
[Vamos nos reunir no intervalo para revisar o que pudermos!] — Himegi.
[Nos encontramos na biblioteca, então! Yonagi pode nos ajudar!] — Kuroi.
Parece que Yonagi sempre fica na biblioteca para estudar... quem diria que até mesmo ela se preocupa com aquilo. Olhei para a janela da biblioteca por reflexo novamente e a imaginei sentada no mesmo lugar.
Meu peito apertou ao conter o desejo de estar naquele local. Que vontade foi aquela de estar próximo àquelas pessoas?
De repente, recebi uma mensagem de Chinatsu.
[Shiroyama. Você está ocupado?]
Ela se encontrou no clube de artes junto com Shiina. Ao lado delas, havia um quadro com um pano por cima. Quando me aproximei, Chinatsu revelou:
— O desenho está quase pronto! Hoje à noite irei terminá-lo! — exclamou, mostrando uma pose triunfante.
— Ela está confiante de que irá ganhar, Shiroyan... — disse Shiina. — Você deve ter cuidado com o que seja lá o que tenham combinado.
Esbocei um sorriso nervoso. Pode ser que ela realmente ganhe... se isso acontecer, não saberei como proceder pelo quanto mudaria meus planos.
Shiina nos deixou a sós na sala de artes. Não houve nenhum outro quadro à vista, exceto a de Chinatsu. Quando ouvi o som da porta de correr se fechando, ela me chamou:
— Shiroyama.
Eu me virei e a fitei em silêncio. Ela manteve as mãos para trás, sorria cansada, mas radiante. Às suas costas, o brilho dos raios de sol a iluminou intensamente, realçando-a por completo. Era como se ela fosse o próprio sol com toda sua resplandecência.
Fiquei alguns segundos a admirando, sentindo meu próprio rosto corar. Nisso, ela se curvou e:
— Ontem eu terminei as páginas. Hoje irei enviá-las para a editora. Tudo isso foi graças a sua ajuda. Sem você, não teria conseguido!
Aquele agradecimento foi por todo aquele tempo e trabalho duro... durante tal período conturbado, nos dedicamos arduamente em cumprir o prazo e manter a qualidade do desenho dela. Chinatsu é realmente uma pessoa incrível.
Dito isto, não tive outro pensamento do que fazer o mesmo. Me curvei da mesma forma e disse:
— Eu que agradeço por ter atendido aos meus pedidos egoístas e me aceitado trabalhar no museu. Aprendi muito com o trabalho e com o processo das páginas. Sinto que isso me aproximará dos meus objetivos futuros. Não tenho palavras o bastante para expressar minha gratidão.
Chinatsu me olhou surpresa, mas emitiu um sorriso emocionado.
— Hoje será o seu último dia de trabalho lá, certo?
— Sim. Preciso agradecer a todos.
Com isso, apertamos a mão um do outro.
— O que precisar de mim estarei aqui para te ajudar, Shiroyama! — expressou a garota.
— Digo o mesmo. Mas ainda não acabou. Ainda preciso saber do seu pedido.
Naquele domingo conversei com ela, que insistiu em não dizer o que quer de favor pela sua ajuda. Disse que se contasse naquele momento, não conseguiria me concentrar nas últimas provas.
Aquilo com certeza me deixou assustado.
Ela acenou a cabeça com o que disse. Os termos serão cumpridos, era o que importava.
Abri a porta de correr, e disse a ela sem me virar:
— Boa sorte, artista de mangás. Espero que algum dia você possa ilustrar uma das minhas histórias.
Ouvi sua resposta com um tom emotivo ecoar as minhas costas.
— Pode deixar! Esta será a minha maior honra!
***
E enfim, a quarta-feira chegou.
Este será o dia decisivo para encerrar todas aquelas apostas.
Fiquei apreensivo pela expectativa dos resultados. Será que o peso em todo meu ser desaparecerá ou se prenderá para sempre?
No dia anterior, vi minha média no ranking de segunda-feira, na 22ª Posição. Não soube se a pontuação que tirei no dia anterior me fará alcançar a 20ª posição, mas já posso me sentir tranquilo em relação à imposição feita por Mitsuhara Kobune. Mesmo assim, não quer dizer que devo ficar calmo... possuo um objetivo maior que esse, afinal.
Kumiko Horie.
Alguns dias atrás, houve sua declaração contra mim e o afirmei para Takahashi. Naquele momento, ela ainda permaneceu à minha frente, detendo a 15ª Posição. Como esperado da tesoureira do Conselho Estudantil.
Em relação a Hiyatetsu, estávamos praticamente em páreo. Ele deteve a 19ª posição, as próximas notas serem as definitivas desses embates sem sentido tornou tudo mais intenso.
Cheguei mais cedo na escola do que de costume para entregar o desenho do concurso de artes. Deixei meu quadro no clube junto à Shiina e me dirigi para a classe.
Aquele foi o dia de ciências biológicas e suas tecnologias. São as disciplinas mais imprevisíveis, mas não tinha jeito. Terei que apostar tudo nelas e nas práticas rápidas vistas em Dr. Stone!
Como não me inscrevi em nenhum clube até então, receberei a penalidade de não poder suavizar o teste especial e, eventualmente terei que fazer as provas finais com um grau de dificuldade superior. Devo estar pronto para isso.
Logo, o professor Miyamura entrou na classe com as provas. A ansiedade para o intervalo chegar se tornou imensa, muitos alunos contavam com a média dos rankings para não precisarem se preocupar com essas avaliações. Ciências biológicas e suas tecnologias sempre tiram muitos pontos. Todo mundo possui pontos fortes, claro. Mas, em relação a ciências, você pode ser bom em biologia, química ou física. Ser bom nas três matérias era algo raro, ainda mais quando você não possui magia!
São momentos como esse que surge tal frase: — mas não comigo! Há! Há! Há! Eu sou bom nessas três disciplinas!
Mas não foi o caso. Definitivamente, não comigo. Eu não sou um usuário Especialista, afinal.
Por exemplo, sou horrível em biologia.
Física é difícil para todo mundo, mesmo.
Só me restou química, no geral. E se mesmo assim não conseguir pontuar direito, estarei completamente em maus lençóis.
Neste sentido, o termo: — reforce seus pontos fortes — cabe muito bem aqui. Isso não entra em questão se fosse uma disciplina da qual tivesse certeza de ser bom — como no caso de humanas —, pois assim só precisaria focar nos pontos fracos.
Como não posso ter esse deleite de tranquilidade, terei que apostar tudo na disciplina de química. Isso incluindo com a pontuação em geometria do dia anterior.
E com isto em mente, dediquei-me a pontuar o máximo possível em todas as provas do dia.
Quando veio o intervalo, fui correndo até o mural geral para ver meu ranking. Consegui terminar a prova de física mais cedo do que a maioria dos alunos — infelizmente grande parte das questões foram respostas aleatórias — e me apressei em prol de não ser engolido por aquela aglomeração social esmagadora.
Mas no meio do caminho me deparei com alguém da qual não queria me encontrar: Kumiko.
— Está desesperado para ver sua média, Shiroyama?
— Acho que isso é o que todos os alunos têm em comum, não? — disse, ofegante. — Por acaso, você já viu a sua?
— Não. E é por isso que quero fazer um desafio para nós.
— Hein?
— Eu te disse antes, certo? Isto será uma guerra e está apenas começando, mas essa diversão pode acabar em um instante.
Ela se referiu ao meu resultado no teste especial. Se eu falhar no teste e na média do ranking, serei expulso. Aquelas foram as condições impostas por Mitsuhara Kobune. Não tive escolha senão ter de cumpri-las a todo custo.
— Não estou em uma posição desfavorável... — retruquei. — Acho que é um pouco tarde para querer impor um desafio, mesmo como uma “diversão” ...
— Não acho. Afinal, se você saiu cedo da sua classe, deve ter se saído mal na prova de física.
Um suor frio escorreu da testa. Que garota irritante...
— É, acertei... — Ela deu de ombros, rindo. — Portanto, não se sabe a pontuação que cada um de nós terá após esse resultado.
Espera, será que ela sabia das condições da coordenadora? Não ficaria surpreso caso tenha ciência através do Conselho Estudantil ou que tenha obtido a informação pela sua posição com um membro.
— Então, você quer propor que façamos as últimas provas sem sabermos dos nossos resultados pela média do ranking?
— Isso mesmo.
Soltei um suspiro.
— Está certo, aceito o desafio. O que vamos desafiar?
— Claro que, se você falhar, ficará à mercê de mim, já que não poderá ser expulso até o próximo teste especial. Será o bastante para mim neste momento ver seu rosto humilhado.
— E se eu ganhar? — Pela sua resposta, sanei minha dúvida. —Posso impor o que eu quiser?
— Como assim?
— Você disse em sua palestra que o reforço nos clubes será para o Festival Esportivo. Sendo assim, minha condição de vitória deverá ser cumprida quando isso acontecer.
— Qual é a sua condição? — grunhiu Kumiko.
— Vamos apostar em um dos alunos da escola em um dos jogos... — expliquei. — O jogo ainda não foi decidido, então irei escolher quando for a hora certa.
Kumiko ponderou durante alguns segundos.
— Aceito. Parece que você não se acovarda de se humilhar apenas uma vez pra aprender seu lugar, verme.
— E você não sabe calar a boca, visto que só fala palavras vazias. Imagino quem irá escolher para a disputa, não é?
— E? Quem você vai escolher? — Kumiko deu de ombros.
— Está preocupada com isso por qual razão? Há muitos alunos bons em esporte, mas os excepcionais são poucos.
— Entendo. Neste caso, seria bom estabelecer algum critério para ceder uma vantagem.
— Critério de vantagem?
— É claro. Por mais que eu esteja confiante, você ainda tem vantagem na situação, e isso entra em questão do que quero ganhar caso vencer.
Ela grunhiu, mas aceitou.
— E o que será esse critério?
— Quem de nós dois tiver a colocação mais alta do ranking médio, lógico. Como nenhum de nós teremos problemas com a nota de corte, é o único critério que nos iguala.
— Que seja, não entendo o que planeja querendo apostar tudo na posição de ranking, mas... — A garota riu. — Uma vantagem não deixa de ser uma vantagem, certo?
— Que confiança barata, hein? — peguei meu celular e verifiquei a hora. — Dito isso, o intervalo não dura para sempre, deveria estar mais atenta para a próxima prova vindo aí.
Dito isso, virei as costas e me dirigi para a cantina.
A guerra finalmente terá início, e agora tomarei as rédeas ao meu favor.
***