Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 3

Capítulo 3: Formação do Grupo Shiroi Gamen ②

Assim que a última prova do dia foi realizada, os alunos saíram de suas classes. Alguns seguiram aos seus clubes e outros tomaram o rumo para suas casas. Como as notas das últimas provas só serão divulgadas na segunda-feira, muitos se encontravam apreensivos.

Aquela rotina chegou em sua metade e agora virão as provas de exatas.

Neste momento, terei que fazer meu movimento.

Por isso mesmo, me preparei pra agir...

Meus dedos batiam na tela do celular, digitando uma mensagem pra Himegi, mas demorei mais do que deveria... já que tremi a todo momento em decidir como enviar!

Éramos conhecidos, então usar um: — Ei! Sou eu. Siga diretamente com o plano... — poderá funcionar, mas iniciar uma conversa parecendo um cientista maluco não foi uma ideia convidativa...

Gh...! É difícil lutar contra a própria natureza solitária desse jeito, mas preciso superar esse limite! Ultimamente, andei tão estressado com todos aqueles acontecimentos que até mesmo pra notificar alguém me senti pressionado.

Nisso, enviei a mensagem e suspirei aliviado. De repente, senti uma presença conhecida se aproximar de mim.

Virei-me e fitei Takahashi atrás de mim.

Mas ele apenas virou seu rosto e fingiu estar mexendo no celular, passando por mim e seguindo em direção ao corredor.

Decidi afastar quaisquer pensamentos em relação a ele naquele instante. Tive que me concentrar no que planejei em fazer. Himegi fará sua parte do plano e agora preciso dar seguimento em outra coisa.

Saí da classe e segui pelo corredor com a mente fervendo, atento para não ser seguido... as ações de Takahashi o acusavam claramente como um vigilante de olho em mim para notificar Kumiko. Ou será que pensei demais?

Já me acostumei a imaginar qualquer um me encarando por meramente estar ali, mas a ponto de me sentir acuado foi algo surreal. E pela maneira que age ao encará-lo de tempos em tempos demonstra que não sou uma ameaça e que continuará a agir assim até quando quisesse.

Claro que, ele se enganou completamente sobre mim nesse quesito. Se pensam que agir assim torna alguém um caçador pressionando uma presa, estão errados.

Assim como foi com Kumiko, Takahashi não é um lobo. Pessoas não são capazes de virarem feras, mas podem se transformar em uma. O exemplo contrário também acontece: alguém sempre será uma presa. A única questão é saber quem será a caça e o caçador...

A partir daí, nós dois podemos ser ambas coisas. Tudo depende do ponto de vista... e sei qual o meu. Apesar dos meus planos, sou uma presa aos seus olhos e não negarei tal fato.

O alarme ressoou pelo fim das aulas e mesmo assim, Takahashi não deixou de me perseguir. Atravessei corredores e saguões com aquele agente ao meu encalço, até não ter outro local para me esconder.         

Preciso achar um lugar para me acalmar...

Preciso me tranquilizar...       

Agindo por impulso, cruzei o corredor suspenso que conectava os dois prédios escolares com a mente em prantos. Quando me dei pela razão, a porta da biblioteca se encontrou à minha frente.

E agora? Entrar ali é uma boa ideia? Hesitei em decidir de imediato, mas sem questionar pela consciência meu corpo se moveu primeiro. Fechei a porta rapidamente antes que alguém se desse conta que foi movimentada e fui inundado pelo silêncio da biblioteca.

O recinto se manteve o mesmo, as prateleiras cheias de livros me geraram calma e alívio. Tirei a máscara e suspirei profundamente, esgueirei por entre as seções cautelosamente, com sorte devo ter passado despercebido por...

Neste momento, não me movi. Da minha posição enxerguei a imagem tão costumeira, a mesa de madeira com suas cadeiras intactas envoltas por um silêncio abrasador. Porém, em vez de ver a rotineira garota lendo, Yonagi dormia sob o local, o rosto envolto pelos braços.

Me aproximei a passos leves, com seu corpo arqueando de forma suave pela respiração sonolenta. Toquei na cadeira da qual costumava sentar e sem querer a movi poucos centímetros, o suficiente pra gerar um ruído alto o suficiente para que Yonagi despertasse.

Ao me ver, ela resfolegou. Pareceu surpresa por me ver ali.

— O que... faz aqui? — indagou, imóvel.

— Eu... não sei.

— Você veio... sem razão alguma? — franziu ela, esfregando os olhos. — Depois de tudo o que aconteceu... vê-lo entrar aqui sem ter um motivo é um pouco...

— Imagino... que se sinta assim... — Apenas respondi de forma automática e me sentei na cadeira.

Yonagi me fitou, confusa:

— O que está fazendo?

Desta vez, decidi permanecer em silêncio. Fiquei tão nervoso que a única coisa que passou pela mente foi o livro abandonado dentro da mochila. Peguei-o rapidamente e virei suas páginas apressado, sem nem mesmo me recordar em qual parte o estacionei.

Como foi um dia de provas, os alunos poderiam escolher entre participar do clube ou ir para casa após o último período. Soube anteriormente por Himegi que todos os calouros foram estudar em vez de permanecerem no clube.

Por isso, decidi espontaneamente em ir para a biblioteca? Não, quis procurar um lugar para me acalmar... ah, que motivo idiota... De qualquer forma, não ficarei apreensivo com toda aquela paz, certo?

Claro que, não consegui parar de observar Yonagi a cada página virada do livro. Na verdade, não tive como me concentrar em ler! Minha mente não quis se desvencilhar de quem se encontra à minha frente!

Aquele sentimento que surgiu desde a primeira vez que nos encontramos ainda permaneceu nesse lugar. É algo que não consigo explicar muito bem...

Estou calmo e — ao mesmo tempo — ansioso.

Porque desejei estar naquele lugar?

Porque quis estar presente com aquela garota novamente?

Porque mantive aquele sentimento em meu peito?

Mesmo fitando aquelas páginas abertas, minha atenção se direcionou ao externo. Preso aos detalhes e por tudo que representam.

Senti um vazio profundo por dentro, no qual o tentei preencher com meus desejos. Porém, por mais que quis enganar os outros, não consegui comigo mesmo... e foi o motivo de me afastar desse recinto e parar de pensar a respeito, por me sentir enojado.

Conheço essa sensação, a de vaguear por um vácuo longínquo da qual não se escapa mesmo procurando uma direção. Uma coisa é certa: ninguém pode suportar quando o próprio vazio não se sobrepõe aos pensamentos mais perturbadores...

Com isto em mente, resolvi quebrar o silêncio dentro desse espaço.

— O [Astronauta], personagem principal criado pelo Hisashi Masayoshi, possui uma linha de pensamento parecida com a minha...

Conforme as palavras ecoavam pela biblioteca, Yonagi voltou sua atenção para mim.

— ...alguém considerado inferior que resolveu sair do local onde cresceu e quis um lugar da qual ninguém se interessou...

A garota silenciosa respirou delicadamente, ao decorrer do tom frívolo que escorreu de minha boca quase como um sussurro.

— ...e isso me fez pensar por quanto tempo estive rodeado em um vazio imensurável criado pela minha vida em algum momento... — sorri, absorto. — Um vazio que afasta qualquer um à minha volta.

— ... — Yonagi fechou o livro e o pousou na mesa. — E o que seria... esse vazio?

— ...minhas decisões. E nesse momento, elas são o que mais me atormentam.

— Você... em que sentido você fala isso?

Soltei um suspiro e comecei a falar:

— É algo parecido com o que Durkheim definiu como um de seus fatores sociais: quem não se adequa ou se sente adequado à sociedade fica à mercê de sua borda. É como se estivesse fora dos parâmetros que esse mundo proporciona.

— E então... você juntou isso com o modo de pensar do livro de Hisashi Masayoshi? — perguntou ela.

— Sim. Seguindo a atmosfera do livro, é como se os solitários não pertencessem a esse planeta. Que irônico, não? — proferi. — Dizem que vivemos em uma bolha ou algo assim, quando apenas queremos nos proteger...

Yonagi desviou o olhar sob a janela à sua frente.

— Sim, tem razão. Ninguém quer se manter sozinho em um lugar frio... — disse ela. — Afinal, esse mundo é cruel. Que escolha temos se não nos protegermos?

Nesse momento, visualizei as cortinas da janela próxima à biblioteca esvoaçarem com a brisa do fim de tarde, assim como o cabelo de Yonagi levemente, e seu rosto voltou a me encarar.

Aquele ínfimo instante pareceu durar horas.

— Mas..., “eu decidi ir contra o peso do mundo inteiro”, certo? — Ela proferiu. — Mesmo tentando se proteger, essas palavras foram difíceis de se ouvir...

Senti meu corpo tremer e o coração bateu incessantemente. Meus olhos arderam e minha cabeça pesou tanto que a única vontade que tive era de encostá-la na mesa e observar o escuro através para sempre.

Subitamente, uma pessoa me veio à mente e apenas congelei no lugar. Palavras frias que me atingiram como estacas de gelo e das quais tentei esquecer voltaram à tona...

“Você sempre irá se afastar dos outros, os machucando. No fim das contas, apenas pensará em si mesmo quando for tomar decisões. É isso que o torna nesse ser desprezível”.

Como um turbilhão, tais palavras perturbaram minha cabeça. Não consegui escutar nada e, mesmo assim, o que Yonagi disse perfurou meu coração com tanta intensidade que a dor sobrepujou a do psicológico.

Não notei de imediato o momento em que uma mão tocou meu rosto suavemente. Saí imediatamente do estado de psique ao sentir sua feição dela, próxima a mim.

— ...pelo visto, parece que aquelas palavras também doeram em você... — Ela se afastou. — Porque dizer algo que o machuque também, Shiroyama?

— ...

— Ainda, por que infligir tanta dor em si próprio mais do que nos outros? — Sua voz se tornou mais serena. — Nunca foi nossa intenção nos afastarmos, você até parece...

Sua vacilou uma oitava... não. Ela hesitou. Só então notei que a fitei durante toda sua pausa sem nem mesmo virar o rosto.

— ...você parece uma criança ansiando por uma redenção, sabia?

Me levantei subitamente da cadeira e comecei a arrumar minhas coisas.

— Pelo seu rosto, parece que encontrou o que procurava... talvez. Foi por isso que veio aqui?

— Eu... só quis vir pra cá. Não sabia o que iria encontrar... e tive certeza de que receberia palavras do tipo, só que mesmo assim...

— Você é mesmo uma criança... e muitas vezes suas ações não fazem sentido.

— Eu... não tenho como negar. Cometi muitos equívocos, apesar de ainda estar amargurado... — cocei a nuca. — Seja como for, é melhor ir embora. Estou indo.

Avancei alguns passos à porta taciturno, mas Yonagi se aproximou rapidamente e segurou meu braço.

— O que você falou foi ruim, sim... — Ela proferiu. — ..., mas sei que foi por causa do calor do momento. Você pareceu estar se contendo, o que não compreendi. Himegi tentou me falar isso antes, mas não quis interferir.

— Himegi? — indaguei, incrédulo. — E o que ela disse?

— Você esteve... investigando Kumiko durante todo esse tempo pra ter certeza de que não iria inventar algo novo para nos prejudicar, certo?

— Isso é verdade, mas...

— Eu queria te perguntar isso... porque? — Seus olhos azuis me penetraram. — Você quis agir assim por conta própria? Ou foi por outro motivo?

Inspirei fundo e disse:

— Quis assegurar que esse ambiente não fosse perturbado... não, não é isso que devo dizer.

Senti meu rosto aquecer. Tentei me conter.

— Não... sei colocar bem em palavras... — murmurei, enrubescido. — Só que... quis evitar a todo custo que ela voltasse a te fazer mal novamente.

Yonagi permaneceu imóvel, mas seus olhos surpresos piscaram rapidamente.

— Hein? Ah... você ficou todo apreensível daquele jeito... por causa disso?

— Eu... quer dizer...! Não exatamente! Mas, também fez parte! Grande parte, isso!

— Fez parte...? — Ela piscou, corada. — Quanto... que isso te significou?

— Quanto? Isso é difícil... calma... — tentei me distanciar, mas aquela garota se aproximou, convicta.

— Agora vai ter que me dizer! — Ela elevou a voz. — Não vou te deixar sair daqui sem antes se abrir comigo!

— Ah... achei que não... queria que me abrisse com você...

— Não sei... quando dei por mim... aos poucos, você se tornou uma figura presente. E passei a querer saber que tipo de coisa falaria... passei a me acostumar com esse seu jeito...

— E eu com o seu...

Nós nos encaramos e viramos o rosto, envergonhados. Yonagi largou meu braço naquele mesmo instante, mas ainda pude sentir seu toque nele.

— Se fosse pra dizer com clareza... acho que essa preocupação com Kumiko foi coisa de... 80%.

— Tudo isso... e o resto?

— Sobre isso... é algo que não soube ao certo até recentemente. E no momento, há muito o que preciso fazer antes de encarar essa resposta.

— Mesmo com tudo o que está acontecendo, o que isso quer dizer?

— Só consigo te responder que isso remete o começo...

— Você... também foi uma criança assim, não é?

Com aquelas palavras, nos observamos durante alguns instantes sem dizer nada. Acenei como resposta.

— Posso te prometer que, quando tudo isso terminar, quero poder ter a chance de tentar me explicar melhor.

Yonagi olhou me ateve e deu uma tossiu levemente, demonstrando um interesse incomum.

— Se quiser... podemos incluir isso nas condições de vitória e derrota, que tal?

— Não, eu quero falar a respeito independente do resultado... — respondi, balançando a cabeça.

Yonagi ficou em silêncio. Pelo que pude entender, ela aceitou a minha ideia.

Mesmo quando saí da biblioteca, aquele sentimento em meu peito não se esvaiu. Tanto corpo quanto mente ficaram leves como uma pena. Me escorei na parede e desejei com todas as forças para que tal imagem não suma em minha mente.

Após mandar uma mensagem, caminhei pelos corredores da escola com calma, enquanto aquele sentimento permaneceu aos olhos.

***

Minutos depois, Himegi me passou a informação que busquei. Como a promessa de ir ao cinema foi marcado para aquele final de semana, tive que resolver o máximo de pendências naquele mesmo dia. Fiz uma anotação mental de que confrontarei aquela caloura sobre o que conversou com Yonagi...

Aliás, após aquela conversa franca precisei manter a cabeça no lugar, como se a qualquer momento fosse capaz de sair do pescoço e voar longinquamente de tão desnorteado que me encontrei. Conforme meu coração se acalmou e relutou contra a vontade de regressar à biblioteca, perdurei a determinação de prosseguir com meus preparativos.

— Ela realmente me deixa sem jeito...

Naquele momento, era quase na hora do encerramento dos clubes, então não haveria muitas pessoas andando pelos corredores.

Me apressei e galguei a escadaria rapidamente até o último andar, onde fica o Conselho Estudantil.

Como esperado, o corredor se encontrou vazio, mas a porta do Conselho seguiu fechada, significando que Kumiko e os outros membros permanecem em reunião.

Me certifiquei de que não fiz ruído algum durante o percurso. Me esgueirei pela janela do corredor para ver o lado de fora e notei algo que já suspeitava...

O campo de futebol se encontrou bem abaixo da linha de visão do corredor. Dali, vi claramente o time de Takahashi treinando. No momento em que o próprio marcou um gol e comemorou com todos, subitamente olhou para cima, o que me fez me abaixar para não ser visto!

Isso explicou muita coisa.

Primeiro, aquele cara era assustador. Isto já ultrapassou o sentido de fazer um favor a uma amiga...

Segunda coisa, desta forma Kumiko se comunica facilmente com ele. Desse jeito, ela prevê quem se aproxima do Conselho Estudantil em questão de instantes. Só restou dizer que aquele cara tinha um Haki da Observação ou algo do tipo...

Todos do Grupo Takahashi a apoiavam, sem dúvidas. Não devo descartar tal possibilidade de jeito nenhum. Fiz outra anotação mental de que devo descobrir os clubes de Nana e dos outros se quisesse evitar quaisquer erros futuros em algum momento.

Voltando à situação atual, preciso tirar uma dúvida dentro daquela sala sem ser visto por qualquer um dos membros e — obviamente — por Kumiko.

Por ora, o primeiro passo foi lidar com a questão do tempo. Olhei no relógio do celular, constando que ainda resta alguns minutos para a reunião encerrar pelo horário do último período. Decidi me esconder em um dos boxes do banheiro naquele corredor e esperar o momento chegar.

Não demorou muito para ouvir a voz da porta do Conselho se abrindo e os passos dos alunos se afastando. Alguns dos membros foram até o banheiro, mas não fui visto.

Resolvi sair do box quando não ouvi nenhum barulho aparente e me dirigi para a sala do Conselho. Tive que contar meramente com a sorte de não me encontrar com Kumiko sob nenhuma circunstância, esperei até mais do que o previsto para tal possibilidade ser a mínima possível. Ao abrir a porta, me encontrei com quem desejei.

E, como esperado, ela está sozinha.

— Você... eu o lembro da última audição...

— Sim, sou Shiroyama Hideo. É um prazer poder finalmente me cumprimentar direito com você... presidente do Conselho Estudantil.

À minha frente se encontra a imponente presidente, uma garota de longos cabelos verde escuros, Kiboumori Suzune.

Seu olhar afiado atravessa qualquer um sob o rosto rígido. Desde o primeiro momento em que a vi, notei sua presença incrível. Não tinha como não se sentir intimidado por ela.

— Imagino que esteja ciente das ações de Hiyatetsu, certo? — indaguei. Há uma semana atrás, lhe dei um aviso de que um dos membros do Conselho Estudantil foi o responsável por vazar informações internas.

— É, soube dos rumores... parece que vocês dois realmente se confrontaram... — retrucou a garota, fria. — Estamos no ensino médio, mas vocês agem como crianças birrentas.

— Não vou negar isso..., mas, foi você que aplicou a suspensão nele?

— Hiyatetsu está a um passo de ser expulso do Conselho e talvez até da escola. No mais, sua maior acusação foi o envolvimento com aquele fórum. Agir dessa forma é claramente uma quebra de nossa confiança em suas decisões... — explicou Kiboumori. — Por mais que tenha nos causado problemas antes, fico agradecida pela sua contribuição no caso.

— Apenas quis me redimir pelo que causei, antes... — Me curvei polidamente. — Agora, no momento, quero pedir ajuda como um mero estudante.

— Certo... e o que deseja com o Conselho Estudantil, Shiroyama?

— Gostaria de tirar algumas dúvidas quanto à ação do Conselho Estudantil em relação às admissões aos clubes, por favor. Pode me ceder um pouco do seu tempo?

Perguntei a Himegi por mensagem quem é ela anteriormente, de fato. Kiboumori Suzune está no terceiro ano, além de ser um dos mais influentes neste local. Pode-se dizer que ela já detém um futuro garantido, pois sua competência nos anos anteriores a deixou com um status mais polido que aço.

Dito isto, ela é a pessoa mais imparcial de todo o Conselho. Talvez sua neutralidade seja ainda mais intensa do que a minha...

Para obter informações do Conselho, tem de ser com os próprios membros. Poderia ter conversado com Chinatsu sobre isso, mas o fato de não estar atualizada sobre os planos de Kumiko não tornaria sua investigação para mim muito efetiva, somando o fato do possível abalo emocional em relação ao antigo grupo.

Minha única chance foi agir como um aluno curioso igual qualquer um faria. Sim, agir como um simples civil ou uma simples ovelha querendo ser amparada por um pastor.

— Entendo... parece que a palestra de Kumiko nas classes não foi tão clara quanto deveria... — murmurou a presidente, com os olhos imutáveis e ferozes. — Tive que cuidar dessa questão da suspensão de Hiyatetsu e de seu retorno, assim como as devidas explicações. Como ela se ofereceu para divulgar os avisos, a permiti.

— Não vi muita gente falando a respeito, por isso vim querer saber pessoalmente...

— Você não foi o único a vir perguntar sobre isso, então não se acanhe em querer saber mais detalhes.

A tática mais efetiva — como esperado —, foi ter agido desta forma. Cheguei a suar frio pelo deslize de Kumiko, será que obterei esta informação tão fácil assim?

— O que realmente quer saber sobre as punições? — questionou a presidente. — Sabe que as atividades só irão ocorrer depois das provas, certo?

— Não soube exatamente quando vão começar as atividades para os novos membros... — fingi estar surpreso.

O quanto Kumiko ocultou as entrelinhas? Ela quis que os alunos fossem tirar dúvidas com a própria presidente de propósito?

— Bom, vamos por partes... — disse. — Primeiro: quero saber qual será a punição por não participar de nenhum clube.

A presidente me agravou ainda mais seriamente.

— Você sabe que o clube que participar estará no boletim e dependendo dos resultados que obtenha, poderá incluí-lo em seu currículo profissional. Por que não almeja entrar em um clube?

Aí está, a típica crítica generalizada por não querer escolher o que todos querem..., mas a minha mente de solitário sempre soube tornear este tipo de pergunta!

— Sei que estou em posição de ser criticado, só que quero saber de mais informações para saber se posso ter vantagens. O tempo livre fora dos clubes representa mais tempo para estudar, não?

A presidente me estudou em silêncio.

— Mesmo que seja, isto não é totalmente completo. Mas, enfim... a punição que pelo visto Kumiko não citou é algo que difere de acordo com a pessoa em questão. agravou

— Difere?

— Sim. Vamos ver... — Ela procurou minha ficha em uma das inúmeras gavetas atrás dela e olhou os meus relatórios. — Por exemplo, você é um aluno transferido, certo?

— Isso mesmo.

— Como você não esteve presente durante todo o período do primeiro ano, sua punição será diferente dos demais.

De novo aquela história de alunos transferidos. Estou começando a me arrepender de ter entrado dessa maneira...

— Preciso de uma explicação, então... há muita coisa desta escola que ainda não sei.

— Certo, é para isso que estou aqui, imagino... — comentou a presidente. — Você sabe que todos os alunos transferidos precisam fazer testes especiais em todos os semestres, não é?

— Sei, sim.

— Digamos que, a partir do rendimento pelo decorrer do semestre, você terá a possibilidade de fazer o teste especial sem problemas. Mas, se não estiver em nenhum clube, o nível de dificuldade deste teste será maior.

Dito isso, raciocinei a respeito, mas a deixei prosseguir:

— Para todos os alunos, caso não entrem em um clube, terão que fazer as avaliações em um nível de dificuldade maior. Neste caso, os alunos transferidos terão o dobro de dificuldade ao realizar as provas.

— Hein?!

Quase me engasguei com aquela resposta, enquanto a presidente apenas suspirou.

— Esse foi o principal tema da reunião de hoje. Vamos colocar um aviso nos murais com todas estas informações. Os alunos terão até o final das provas diagnósticas para entrarem em um clube. Ou seja, até a próxima quarta-feira.

— Estou vendo que essa Kumiko está bem empenhada em fazer com que os alunos tenham um desempenho maior, hein...

— Pensei que você já a conhecesse quando apareceu no dia da audição. Estou errada?

— Isso. Eu era um... um conhecido da... Chinatsu. Precisei tirar algumas dúvidas com ela.

Foi difícil de circundar a conversa sem preparo, mas parece que a presidente não achou forçado. Sua expressão indiferente não se alterou, ao menos.

— Mesmo? E naquela ocasião em que esteve presente na disputa entre o clube de literatura e de jornalismo?

— Saí do clube de literatura há pouco tempo após o desfecho dessa disputa. Não conheço nenhum dos membros do clube de jornalismo depois que isso aconteceu. Estou sem clube desde então.

— Certo, parece que você foi apenas um desafortunado pelas circunstâncias... — expressou a garota. — Mas ainda não entendo. Se você conhece a Chinatsu, por que não entra no clube dela?

— Isto é algo que decidi arcar de não fazer. É claro que terei que escolher em qual clube devo entrar... — disse, consciente das próprias ações.

— Pretende correr o risco de ser expulso se não for bem no teste especial e nas provas apenas por não conseguir se decidir nesse momento?

— Há algo que devo fazer por mim mesmo antes. Para isso, tenho que provar que posso passar por períodos de dificuldade e conseguir solucionar todos esses problemas.

— Não consigo entender... — A presidente balançou a cabeça. — Por que não simplesmente tenta seguir o caminho mais prático?

— Às vezes, o caminho mais prático não impressiona ninguém. O nosso esforço é a única coisa que nos torna mais práticos, não o caminho que tomamos.

Não recebi nenhum outro comentário dela. Pelo horário, devo me apressar para ir ao museu. Por isso, a agradeci e sai da sala, sendo observado por aqueles olhos afiados e silenciosos.

Fui cauteloso ao cruzar os corredores, para evitar de me encontrar com Kumiko e Takahashi. Decidi seguir pelos atalhos menos convencionais para não chamar atenção. Troquei rapidamente os sapatos no hall e fui direto para a estação de metrô, tentando manter o máximo de calma possível.

Assim que peguei o trem e me certifiquei de não haver nenhum conhecido, soltei um longo suspiro de alívio.

— Aquela garota... quer que eu viva o próprio inferno...

Me arrisquei demais falando com a presidente, já que poderá repassar o que conversamos com Kumiko em algum momento. Mas dada a situação, foi um preço pequeno a se correr... agora que sei muito bem de suas intenções.

Kumiko decidiu omitir todas aquelas informações para não dar tempo de escolha aos alunos. Além disso, gerou muitas desvantagens para mim, devido ao concurso de artes ser naquela quarta-feira e não fiz a inscrição como pretendente a membro. Por mais que vencer Chinatsu possa me condicionar como um parcialmente, só o resultado trará essa decisão e não antes disso.

Aquela garota ardilosa determinou que quem não consiga entrar nas avaliações dos clubes, terá que lidar com as punições, sendo os adicionais do grau de dificuldade nas provas de finais de semestre. Com o tempo limite até quarta-feira, o raciocínio lógico seria tentar ingressar em outro clube, mas não era o certo a se fazer devido a competição com Yonagi.

Definitivamente não farei isso apenas para me livrar de um grau de dificuldade de provas e testes.

Só precisarei resolver a questão da punição causada pelos clubes posteriormente ao resultado do concurso de artes. Para esse meu primeiro semestre nessa escola, devo acabar com as suposições que os outros tem de mim — incluindo a professora com suas ressalvas.

Ao chegar no museu, contei para Chinatsu o que planejei e — mesmo com os imprevistos —, tudo saiu como planejado.

***



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