Volume 3
Capítulo 3: Formação do Grupo Shiroi Gamen ①
Nessa sexta-feira, foi o último dia das provas de humanas. Por um acaso do destino (ou ironia?) foi a professora Harashima encarregada de passar a prova desta vez. Não fiquei preocupado com o conteúdo de ciências sociais, é claro. Mas o incrível é que tudo que a envolva gera algum tipo de consequência para nós, especialmente para mim...
Como sempre, o grupo Takahashi demonstrou sua presença na classe. O próprio se encontrava de bom humor, fazendo brincadeiras e incitando debates com a professora àquela hora da manhã.
— Agora não é hora pra isso, seu encrenqueiro! — retrucou ela. — Mesmo levando um apagador na testa pela professora Rumiko ontem, ainda insiste em fazer essas brincadeiras?
A classe inteira caiu na gargalhada. Decidi não fazer contato visual com nenhum deles, por serem igualmente imprevisíveis em relação a como reagem. Ainda, com o fato dos rumores em relação ao Hiyatetsu em circulação, tive a impressão de que me analisavam silenciosamente para saber da verossimilhança com o que diziam sobre o assunto.
É estritamente irritante estar submetido àquele julgamento sem ter como revidar, mas o afastei da mente. Tinha coisas mais importantes para me concentrar naquele momento.
A prova dela não foi exatamente difícil, mas houveram questões muito pessoais embutidas. De maneira indireta, as respostas serviram como opiniões que nos assolavam dentro do espaço educacional e por sua vez transmitiam uma conversa direta entre professora e aluno.
E por ter me envolvido bastante com ela e o clube de literatura, o ponto de vista expresso tornar-se-ia mais característico pelas vivências. Se ela me perguntar: — de que maneira você pode resolver seus problemas? — naquele momento, como devo responder?
— ...
Portanto, se foi a interpretação correta que fiz neste instante e o meu papel necessita emitir uma resposta à altura, minha solução se firma em apenas uma.
***
— Shiroyama, não acredito que resolveu colocar visões pessoais em uma simples avaliação diagnóstica...
Por incrível que pareça, em apenas cinco minutos após o sinal da aula ter tocado e todos saírem da classe, fui o único chamado por ela à sala dos professores. Já estou ficando cansado de ir para lá...
— Olha aqui, você não deveria considerar as respostas dos alunos de maneira filosófica, analisando os parâmetros psicológicos de cada um?
— Isso aqui não é filosofia, Shiroyama. Ciências sociais não aborda pensamentos irreais!
— Ah...
Pressenti outro esporro vindo dela usando seu caderno, no entanto, a professora se conteve desta vez.
— Você não tem jeito, mesmo... sinto que às vezes você faz isso só pra chamar atenção...
— Professora, aproveitando que estou aqui com você, gostaria de te perguntar algo...
— Hum? Pode falar.
Decidi discutir a respeito do discurso de Kumiko pelo Conselho Estudantil e a indignação dos alunos naquele momento.
— Eu sei que o que ela fez em relação ao clube de literatura e de jornalismo foi errado, já que fui eu mesma que apliquei a punição. Mas, ela alcançou a posição de membro do Conselho Estudantil por si própria. Além disso, a proposta foi feita pela própria diretamente aos membros superiores. Não posso opinar em nada quanto a isso.
Já imaginei que não possuísse detalhes de como foi aprovada a proposta de Kumiko. Aquela garota foi mais perspicaz e negociou diretamente com o diretor. Não esperava menos de alguém do seu calibre.
Ou seja, o caso do clube de jornalismo foi abafado e não repercutiu ao próprio diretor. Pessoas influentes como Mitsuhara Kobune não permitiriam que meros estudantes estragassem sua posição por causa de intrigas superficiais...
— Infelizmente, Shiroyama.... há mais uma coisa que você precisa saber — proferiu ela.
— Hum? O quê?
— Mitsuhara Kobune lhe disse que o teste especial será realizado após as avaliações e que seu peso seria aplicado conforme o resultado da sua média de ranking, certo? Houve alterações.
— Alterações?
— Sim. A questão é que o tempo para realizar as provas finais depois das avaliações será muito curto, então a única maneira foi de alocar o teste especial para ser realizado logo após da última prova ser aplicada. Isso quer dizer que terá que fazer a prova no seu máximo grau de dificuldade, sem exceções.
— Hein?
Isso quer dizer que mesmo que fique entre os 20 melhores, não terei chance alguma de suavizar o teste especial?!
— Mas não se preocupe. Mesmo que não vá bem em uma das disciplinas dentro do teste especial, se você pontuar bem na média de ranking dentro das expectativas, o pior desempenho dentro do teste especial será desconsiderado. Esta foi a maneira que a supervisora encontrou de conseguir organizar tudo a tempo.
Aquela mulher... ela é um monstro!
Suspirei. Não tive o que fazer pra mudar aquela decisão, só me restou aceitar o desafio e superá-lo.
— E então? — continuou a professora. — O que irá fazer? Você não está em nenhum clube e suas avaliações de entrada ficaram complicados. Isso também é algo importante.
Suspeitei que ao incitar o tópico, minha posição entraria em pauta. Porém, em vez de expressar desespero como um aluno perdido em não saber o que fazer, apenas sorri como resposta.
— Hum?
— Isso não está em questão para mim, professora. Só pretendo seguir adiante o concurso de artes apenas pra provar meu valor, nada mais.
— Como assim?
— Neste momento, estou à procura de outra coisa. Entrar em um clube não vai resolver estas pendências, e sim ingressar em um conjunto.
— Você está pensando em outra coisa, não é? Sua mente insiste em não querer seguir outra direção senão a própria, certo?
— Isso mesmo. Não importa como, as coisas vão se acertar... farei isso acontecer.
— Porque trilhar o caminho mais difícil, garoto? — Ela coçou a nuca. — Você aliviaria mais a cabeça se decidisse logo seu clube, mas prefere se martirizar pelas consequências...
— Eu sei. E sabendo isso que não posso recuar... — expressei. — Além disso, Kumiko está comprando briga com a escola inteira, e isso pode não acabar bem.
— Estranho logo você estar comentando sobre isso. Achei que não se importasse com os outros a este ponto, ainda mais com Kumiko. Fora que, soube que foi envolvido com a questão da suspensão de Hiyatetsu Bara, do Conselho Estudantil. Isso também não te ajudou a melhorar sua imagem...
— Bem, vamos dizer que os meios continuam não importando, apenas o resultado final, não é? — sorri, despretensioso. — Não importa como vejam essa situação, agi em prol dos conceitos corretos. Mesmo que ninguém acredite em mim, ainda poderei virar o jogo.
— Se está dizendo..., mas acabou chamando atenção negativa demais, Shiroyama... — alertou a professora, afagando meu cabelo de repente.
— O... o que é isso? Alguma técnica especial nova pra me pegar desprevenido? — grunhi, surpreso.
O fato de ter sido a primeira vez que ela agiu gentilmente comigo em vez de me bater na cabeça foi realmente surpreendente!
— Idiota, isso é apenas preocupação minha! — rebateu ela, ainda sorrindo. — Mesmo que diga que ninguém acredite em suas ações, comigo é diferente. Eu quero poder acreditar, moleque.
— ...
— Você pode esconder suas intenções, mas notei claramente pelo evento dos dois clubes... sua preocupação com aqueles ao seu redor, que podem não acompanhar todos os seus embates... — suspirou ela. — Sei de todos os detalhes da discussão que teve com Yonagi, seu cabeça-oca...
Assegurei o silêncio em meu peito, que o senti tão pesado quanto carregar uma bola de ferro... isso de novo, não.
— Apenas... eu, só...
— Pare de enrolar, inventar desculpas a essa altura só o deixará mais patético... — proferiu ela, com desdém. — E se o fizer, saiba que poderá repercutir em sua participação na disputa, entendeu?
Grunhi, permanecendo congelado no lugar. Ela voltou a se sentar em sua cadeira e me foi direta:
— Se está ciente, então não abra essa boca pra falar besteiras... seu pirralho. Resolva todo esse problema como fez antes e assume suas responsabilidades!
Após alguns segundos repassando suas palavras pela mente, fiz um rápido aceno de cabeça e me dirigi ao corredor, dizendo:
— Meu objetivo não mudou, professora... — entoei, decidido. — E não permitirei que qualquer um destoa minhas intenções. A disputa vai continuar de pé, isso é algo que não foi alterado... e nem será, de forma alguma. Além disso, lidarei com todos os requisitos do teste especial, como queiram.
Nos entreolhamos novamente, e sorrimos. Saí da sala sem dizer mais nada, sentindo um imenso alívio percorrer meu corpo.
A professora Harashima tinha um senso de captar os sentimentos das pessoas de forma excelente, por isso ser a responsável pelas Ciências Sociais foi uma ótima escolha.
Como conseguiu me desconcertar, demorei um pouco pra perceber que a intenção de suas palavras demonstrou muitos sinais a respeito de minhas dúvidas. Seu senso é muito aguçado, mas houve algo que não reconheceu com clareza...
Eu nunca me importei com Kumiko, afinal. Isso é algo totalmente imutável, com toda certeza.
***
Por ser sexta-feira, os alunos exalaram euforia. Não restou muitas provas a serem feitas no dia, então os prosseguimentos ocorreram de forma rápida. No entanto, como as provas de exatas serão na semana que vem, não haverá descanso para distrações exceto ao estudo.
E isto se tornou a maior preocupação de todos no momento, até mesmo os rumores sobre mim foram abandonados.
Durante o intervalo do dia, vi muitos grupos reunidos para revisar conteúdo e trocar informações, o que não se limitou a alunos da mesma classe. Eles viraram formigas quimeras por gerarem grupos táticos e organizados?
Como não me importou se todos colaboravam uns com os outros e fui o único excluído, decidi me afastar o máximo possível a fim de encontrar um lugar tranquilo.
No entanto, uma figura conhecida surgiu no meu campo de visão. Higusa Amari se esgueirou pelos cantos, agindo como uma foragida. Ela saiu apressada do refeitório, esbarrando com quem estivesse à sua frente em direção ao pátio externo.
Mas antes que pudesse me afastar daquela aglomeração social e fosse em seu encalço, algo puxou o meu colarinho, quase me enforcando. Ao me virar assustado, me deparei com uma Himegi sem um pingo de senso de culpa em seu rosto juvenil.
Ei, você quer me matar enforcado?!
— O... o que foi?
— Hum... — Himegi bufou e estendeu o seu celular para mim. — Seu número. Estou cansada de ficar sempre te mandando e-mails ou te procurar.
— Ah...
Devo imaginar o que está pensando... que aquilo será o primeiro passo para ficarmos mais próximos do que já éramos. Isto até poderia ser verdade, mas não nas circunstâncias que existem nos padrões.
Uma garota conhecida fazer tal pedido concedia a si o direito de usufruir o contato ao seu próprio benefício no momento que queira!
— Certo... — passei o meu contato para ela, que logo se virou com um semblante sério.
— Você... vai mesmo cumprir a promessa, certo? — indagou ela, analisando minha reação.
Suspirei, perdendo Higusa de vista. Procurei as melhores palavras para dizer naquele momento:
— Sim. Eu te disse isso antes, mas preciso da sua ajuda... de todo mundo. Foi o acordo que fizemos como escambo, não é?
— Não quero que as coisas sejam definidas deste jeito, Shiro... — retrucou Himegi. — Não quero que tudo continue como está. A Yonagi...
— ...eu irei falar com a Yonagi quando o momento certo chegar... — intervi. — Não precisa se preocupar quanto a isso. Mas, temos que chegar a um consenso que este não é o melhor momento.
— Como assim?
— A principal razão de estarmos aqui querendo ajudar uns aos outros é para estabilizarmos nós mesmos. Como posso querer pensar em falar com Yonagi se ela nem mesmo está demonstrando qualquer tipo de preocupação?
— Shiro, é exatamente por essa razão que você não compreende as garotas...
— Isso não vem ao caso...
Ela quer que maneje toda aquela situação atual — que se agrava a cada dia — com a questão de procurar me reconciliar com Yonagi? Eu não sou um computador!
— Além disso... — Himegi continuou. — No que isso vai exatamente te ajudar? Você não está totalmente em apuros nas provas...
— Acredite... isto vai me ajudar e muito.
— Por que tenho a impressão de que isso é apenas um pretexto pra que eu seja obrigada a te ajudar com algo em segundo plano?
***