Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 3

Capítulo 2: Apesar de tudo, Chinatsu Chitose não quer Desistir. ⑤

O restante do dia se resumiu a aulas massivas e conversas paralelas sobre estudos. Como não interajo na classe nem para assuntos gerais do tipo, permaneci como um fantasma perdido em meio a tantos preocupados com suas notas.

Sem me dar conta, resolvi agir de modo a suavizar tamanha angústia dentro de mim. Algo que considerei antes como impensável passei a cogitar como real... na verdade, algo concreto. Não consigo acreditar que seja algo verdadeiro a menos que saía da zona de ideias.

No entanto, ainda permaneci imutável sobre como me aproximar dos outros... só por considerar tamanho egoísmo não deveria sentir vergonha de mim mesmo?

Pelo soar do término das aulas, me levantei de forma automática e fui conduzido pelo aglomerado de estudantes ao hall. Pensava demais e, ao mesmo tempo, agi de forma impensável.

Balancei a cabeça, tentando me desvencilhar de outra possível dor de cabeça. Não posso desviar o foco das preocupações atuais... um problema fundamental e comum que muitas pessoas cometem é quando assumem várias tarefas ao mesmo tempo e não as realizam por completo.

— Sim, é isso mesmo... todos temos que cumprir nossas tarefas, não importa como.

Você não tem vergonha na cara pra dizer isso, não?

Himegi apareceu tão de repente que saltei no mesmo lugar. Ela permaneceu com o mesmo rosto sério de antes...

— Por que você sempre faz isso?! Quer me matar?

Ei, que tipo de situação é essa? Por acaso ela me esperou chegar ou algo assim? Senti um calafrio percorrer por todo o meu corpo. Não aja desta forma quando estamos rodeados por tantas pessoas! Desse jeito vou morrer envergonhado!

— Hum? O que foi?

— Não me diga que você esqueceu da sua promessa?!

— ...ah.

— ...

— Não era... semana que vem?

— SHIROYAMA, NÃO ACREDITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

Descobri da pior maneira que o melhor jeito de acalmar Himegi foi lhe oferecer um suco de maracujá depois de ser socado várias vezes no mesmo braço. Consegui convencê-la sobre conversar melhor a respeito. Ah, eu me refiro ao fato de que iríamos ao cinema — não apenas nós dois, não pense errado! —. Não me recordei daquilo e muito menos de que tínhamos combinado um dia específico.

Saímos da entrada da escola e fomos ao parque Nakatakahama, do outro lado do quarteirão. Pegamos um balanço vazio e permanecemos sentados ali durante algum tempo, iluminados pela melancolia do fim de tarde e da sombra das árvores ao redor.

Ao explicar meus motivos, ela bateu na própria testa e exclamou:

— Eu me esqueci completamente! E ainda estamos em semana de provas!

— E você me fala isso depois de ter me atacado... — retruquei, frustrado. A área onde ela bateu várias vezes ainda latejava, por sinal. — Eu... vi a sua posição da classificação geral. Você está bem?

— Eu pareço estar bem?! Você devia estar me ajudando já que sua posição ficou tão alta, sabia?!

— Hein? Yonagi não está ajudando vocês?

— Está! Está, mas... é meio difícil de entender quando ela explica as coisas...

 Resolvi não comentar nada a respeito dela.

— Eu vi que Kuroi não ficou em uma posição ruim... ela também poderia te ajudar, não?

— Ela está fazendo o melhor que pode para nos ajudar, como Yonagin. Mas as coisas não estão fáceis, Shiro.

Suspirei. Meu peito ardeu mais do que o braço esmurrado, ficou angustiante de manter minha posição como transeunte. Nesses momentos chego a cogitar em vacilar de agir, mas não tomarei essa decisão.

Mesmo tendo tantos problemas pra lidar, não conseguirei deixar Himegi e os calouros de lado... o fato de nem ao menos cogitar qualquer desculpa para não o fazer comprovou isso.

— ...

— O que foi, Shiro? Você está há algum tempo todo pensativo e quieto... no que está pensando?

— Se... e estou só supondo... acho que podemos todos nos ajudar a lidar com as provas e outras coisas a mais... isto é, se você concordar, claro.

— Onde quer chegar?

— Veja... acho que mesmo distantes, podemos colaborar uns com os outros com facilidade. Posso não ser muito comunicativo, mas mesmo eu sei explicar muito bem. Porém, estou com alguns problemas e não tenho escolha senão pedir ajuda. Talvez... possamos nos ajudar se todos trabalharmos juntos, talvez.

Himegi suspirou.

— Lá vem você de novo com essa língua enrolada...

— Hum? Língua enrolada?

O que ela quis dizer com isso? Eu não sou um Lickitung!

— O que quis dizer é que toda vez que quer pedir ajuda, você se enrola em tramas complicadas. Se quer algo, apenas seja direto!

Sua voz firme me deixou sem palavras, como se fosse simples de ser feito de uma hora pra outra...

— Olha aqui, dessa vez não vou te criticar já que deseja nos ajudar! — continuou a garota. — Mas isso era o que deveria ter feito antes de ter discutido daquela forma com a Yonagin!

Ela me deu outra tapa no ombro, no ato. Do que adiantava não me criticar e continuar batendo?

Porém, assenti com sua opinião. De fato, a situação seria diferente não fosse por tantas consequências...

— Está bem.

— Aposto que vai fazer algo egoísta de novo, não é? — indagou Himegi, da qual lhe dei um sorriso amarelo. — Você nunca muda...

Eu realmente criei um histórico de agir sem pensar... não que isso fosse realmente mentira.

— Aliás, soube de algumas coisas... todos estão dizendo por aí que você e Hiyatetsu se envolveram em uma briga. Isso é verdade?!

— Bom... já esperava que as notícias se espalhariam rapidamente, só peço que não comente por aí que foi verídico e... o que está olhando?

Conforme falava, Himegi me atrelou de vários ângulos como se procurasse algo.

— Você ficou com algum hematoma? Disseram que recebeu um forte chute do Hiyatetsu...

— Ei, acha que sou fraco a ponto de receber um golpe desses? — retruquei.

— Por que está tão cheio de si por ter se defendido? — indagou a garota, incrédula. — Isso é algo pra ficar orgulhoso, por acaso?

— Com toda certeza! — Me vangloriei. — E não tive dano algum! Ele nem mesmo conseguiu acertar nenhum dos golpes!

Qual é o problema desses fofoqueiros? Se vão espalhar rumores, que ao menos façam direito!

— Então... você se desvia de ataques tão facilmente, é? Parece que até tem experiência nisso...

Himegi me arrostou como se fosse um perito em fugir de brigas... ei, não sei apenas desviar de ataques! Só o fato de não parecer um Steve Rogers antes de virar o Capitão América já é algo louvável, certo?!

Antes que pudesse responder, ela apenas riu e disse aliviada:

— Desculpa, desculpa. Pelo menos, os professores não vão poder te acusar de nada sobre o que aconteceu.

— Acho que essa foi a única notícia boa que recebi no dia..., mas não me faz sentir melhor...

— Mudando de assunto. Você... não quer mesmo pedir ajuda da Yonagin, não é?

— Não... — disse, rouco. — Acho que mesmo se quisesse, o orgulho dela não a permitiria. Além disso, estamos lidando com um assunto que nos afeta, não a ela.

— Orgulho dela, né... — retrucou Himegi. — E então? No que você vai precisar de ajuda desta vez?

— Bom... o que quero por ora é sua aprovação. Sei que falará com os outros por mim, o que já basta. Será o escambo que preciso em troca do conhecimento que possuo. Serve, certo?

— Você não tem jeito mesmo... — Ela riu. — Certo, vou ver com os outros se vão participar. Mas não é nada sério que envolva outras pessoas, não é?

— Não. Isso posso te garantir que evitarei. Com isso, poderemos ir no cinema no final de semana sem termos problemas.

— Feito! É bom você me ajudar nas provas de exatas, hein!

— Então você ficou mesmo preocupada com as provas de exatas...

***

Depois que Himegi foi embora, permaneci inerte no balanço. Minha vista ficou tão cansada pelo dia exaustivo que até senti sonolência... ao cogitar ir logo para casa, ouvi uma voz conhecida ao longe.

— ...ali...

Hum, mas de quem é tal voz?

— ...ah... logo... aqui...

O ruído se aproximou, mas senti tanto sono que não consegui identificar direito.

— ...Shiroyama, você sempre se afasta demais!

Chinatsu veio correndo em alta velocidade em minha direção, carrancuda. Me assustei a tal ponto que tornei a correr também.

— Não fuja!

— Como posso não pensar em fugir com você emanando essa intenção assassina com tanta intensidade?!

— Não estou!

— E como eu ia saber?!

— Chinatsu, você está com uma cara horrível. Eu também correria se fosse ele.

Do lado de Chinatsu, Shiina a acompanhava.

— Estou é cansada de correr por toda a escola procurando por ele, isso sim! Quando o vi parado no parque, vim depressa antes que fosse embora!

— Você não parece nada cansada, sabia?!

— Será que podemos parar de correr, então?

Seguindo o conselho de Shiina, nós paramos. Ofegantes, fomos comprar bebidas.

— E então... o que foi?

— Queria... te devolver... — Chinatsu entregou meu caderno enquanto recuperava o fôlego.

Me esqueci completamente que lhe emprestei meu caderno mais cedo, dado as circunstâncias.

— E então, Shiroyan? Como foi hoje?

Shiina tomou um gole de suco e me fez aquela pergunta.

— Ah, acho que fui mais ou menos... é difícil lembrar de tantas coisas.

— É difícil ouvir tal coisa de alguém com uma posição alta... — murmurou Chinatsu. — É surreal ainda pra mim...

— Você estava realmente duvidando?!

Como ela pediu meu caderno por conta dos rumores, considerei que já me considerasse inteligente sem restar dúvidas. Fiquei um pouco triste. Não éramos rivais como Niizuma Eiji e Ashirogi Muto?!

— Shiina, acha que as próximas provas serão ainda mais difíceis, na sua opinião?

— Ah, sim. É o que acho, Shiroyan... — concordou a garota. — Mas não deve ser nada muito trabalhoso para você, no entanto.

— Você está sendo modesta. Não estamos em posições estáveis, então tudo pode mudar, não é mesmo?

— Sim, ainda mais na semana que vem, que serão as provas de exatas... hum, vou ter que terminar as páginas no fim de semana se eu quiser ter tempo de estudar direito!

Chinatsu complementou com sua lamúria, segurando a cabeça com as mãos.

De fato, se terminássemos as páginas antes do prazo limite do concurso, terá mais tempo para estudar. Ela precisará exceder seus limites por si mesma, já que não poderei ajudar muito nisso.

— E então? — Chinatsu chamou minha atenção. — Já conseguiu a reposta que precisava?

— Sim — respondi, prontamente. — Vou providenciar os detalhes mais tarde com você, então...

— Espere... há ainda outra coisa que precisava falar com você.

— Hum? O que foi?

— Ontem você e Hiyatetsu brigaram, não é? Toda a escola está espalhando rumores... e ele parece estar muito enfurecido!

— Tentamos manter a calma quanto a isso, mas muitas pessoas vieram interrogar Chinatsu sobre esse problema... — disse Shiina. — Por isso que quisemos te ver mais cedo, mas...

Aqueles rumores se espalhando como poros pelo ar mostrava o real ambiente da escola por trás dos panos. Se você for conhecido, não poderia andar fora da linha uma única vez que tão logo seria dedurado por aqueles ao seu redor.

O que me frustrou ainda mais foi a questão de chamar atenção indesejada e ter falhado durante todas minhas apresentações hábeis... que droga.

— É, tivemos apenas discussões. Nada sério. Estou pra me resolver com ele pacificamente, caso queiram saber...

— Ah, que bom... — Chinatsu suspirou, aliviada. — Se precisar de algo, pode contar comigo. Ainda tenho algum contato com os membros do Conselho Estudantil.

— Bem... isso poderá ajudar em algum momento. Obrigado...

— Então, é isso. Nos encontramos mais tarde pra vermos todos os detalhes que precisamos! — Chinatsu jogou a lata de suco na lixeira e Shiina a acompanhou.

— ...certo.

Observei em silêncio as duas garotas se afastando junto à multidão. Tal ação me fez sentir estacionado no tempo, mas a realidade era completamente oposta.

Realmente me amaldiçoei pelas ações que cometi, por ter sido a segunda pessoa a me causar martírio das palavras que propriamente acatei. Sendo assim, deverei ter certeza de cumprir todos os requisitos de desfazer aquele caminho tortuoso que percorri.

Aos poucos, meu plano tomou forma. A fim de obter um palco estável de realizá-lo, consegui todas as chaves necessárias. Se este é o caminho correto ou não, ao menos tenho agora uma direção correta pra qual devo seguir adiante.



Comentários