Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 3

Capítulo 2: Apesar de tudo, Chinatsu Chitose não quer Desistir. ④

Quinta-feira. O clima voltou a esquentar e o ambiente na escola ficou ainda mais agitado. Ao me aproximar de sua entrada já avistei a densa aglomeração estudantil divulgando seus clubes. Seria possível de acontecer uma reforma escolar pelo andar da situação? Não gostaria de ir a Tokyo resolver esse problema!

Parece que essa agitação perdurará por um bom tempo, devido ao fato da rotina das avaliações se manter até a semana seguinte.

Evitei contato direto dos anunciantes, apesar de sentir novamente aqueles olhares tortos sob mim... por quanto tempo aquele tormento se manterá? Na vez anterior, Kumiko espalhou falsos rumores sobre mim que apenas duraram um dia. Pelo visto, o ceticismo de seus seguidores ficou ainda mais forte. O que foi aquilo? Aquela garota tinha os poderes de uma deusa grega pra controlar qualquer um com seu poder ocular?

Resolvi andar mais rápido para me livrar de tanto incômodo... provavelmente, o conflito causado por Higusa já esteja ciente para todos dali. Por mais que não quisesse admitir, Hiyatetsu era bem conhecido e apoiado.

Decidi ignorar isso por ora e segui em direção a minha classe, mas antes decidi passar no mural para ver as notas do dia anterior. Os resultados das provas sempre são divulgados no dia seguinte. Por mais que as avaliações diagnósticas não se comparassem com as provas finais de semestre, ainda não podem ser menosprezadas.

Havia vários alunos se amontoando sob o mural, alguns rindo e outros chorando pelas notas. Aquele mural apresenta as notas num quadro geral, então os nomes de todos os alunos se encontravam ali.

São três murais, cada um representando um ano letivo escolar. Ou seja, a classificação entre os primeiros e segundos anos é diferente como exemplo. São 240 alunos do primeiro ano, 240 alunos do segundo ano e 130 alunos do terceiro ano. Um total de 610 alunos no total.

É através deles que a rivalidade entre os estudantes se incitava. As classificações de ranking asseguram quem permanece e quem é expulso dali. Apenas os considerados como verdadeira elite se mantém nas primeiras colocações... um dos motivos por estar ali foi justamente por tal razão.

Eu quero estar entre os melhores.

Procurei pelo meu nome entre a classificação do mural e avistei a minha pontuação como 32° lugar na colocação geral. Senti uma mistura de amargura e alívio por estar entre os 50 melhores logo no começo das avaliações, mas existe um longo caminho pela frente, já que precisarei assegurar a posição entre os 20 melhores, segundo Mitsuhara Kobune. Minha pontuação não foi ruim, de certo modo.

Apesar de ser solitário, tenho um espírito competitivo. Pode-se dizer que essas pequenas competições que surgem em nossas vidas são o que dão prazer de estar vivenciando aquele momento.

Agora que sabia minha colocação, poderei almejar o topo mirando naqueles que tiraram notas melhores. Porém, ao observar quem se encontrou na primeira colocação, tive uma surpresa chocante.

Não conheço muitas pessoas ali, já que só fez dois meses que me transferi, o que me deu uma ideia equivocada daqueles de meu conhecimento. Por exemplo, Yonagi Kaede.

Ela não pegou a 1ª colocação.

Ela deteve a posição de 4ª melhor.

— Incrível... por isso é considerada como uma das melhores...

Por aqueles números, era visível nossa diferença de habilidades. Se quisesse reduzir tamanha distância, precisarei me dedicar muito mais do que o imaginado... não entendi a razão, mas tornei a procurar por outros nomes conhecidos:

Kumiko Horie: 23ª Posição.

Hiyatetsu Bara: 25ª Posição.

Himegi Kyouko: 149ª Posição (Primeiro Ano).

Takahashi Kuroshima: 39ª Posição.

Nana Nishimura: 112ª Posição.

Chinatsu Chitose: 149ª Posição.

Shiina Toshi: 67ª Posição.

Kuroi Hoshida: 112ª Posição (Primeiro Ano).

Teru Yamada: 137ª Posição (Primeiro Ano).

        

— ...

Ei, o que foi aquilo?

Achei que a situação não fosse um mar de rosas, mas...

— ...O QUE AQUELES CALOUROS TÊM NA CABEÇA?!

***

Conforme divagava em minha carteira sobre o que tinha acabado de ver, os alunos se sacudiam por todos os lados. Isso é o que chamo de olho do furacão. A cacofonia se tornou gradativa à medida que cada um comunicava entre si seus resultados.

Agora que as provas iniciaram, os resultados da colocação geral não sumirão da atenção dos estudantes até que o ano letivo se encerre. Preciso admitir, é uma verdadeira competição agressiva...

O fato de estar em uma posição relativamente favorável me deixou bastante aliviado, exceto pelo fato de Kumiko e Hiyatetsu terem pontuado mais do que eu.

— Tenho certeza de que ela vai esfregar isso na minha cara na primeira oportunidade que apareça... e aquele cara vai ficar mais confiante...

Kumiko é muito inteligente, sem dúvidas. Não me admira o fato dela querer ultrapassar Yonagi, por ser algo que também desejo. O seu problema se mostrou através da intensidade dessa intenção que tomou proporções perigosas e absurdas. Hiyatetsu provavelmente ficou sedento em querer me eliminar a todo custo.

Porém, o que me surpreendeu foi a colocação dos outros que conheço. De todos do clube de literatura, apenas Yonagi e Kuroi ficaram entre os 100 melhores.

Não podia julgar Chinatsu, devido sua rotina exaustiva e durante toda a situação que passou pouco tempo atrás..., só que como Shiina obteve uma posição boa, as duas podem se ajudar.

Eu devo focar em pontuar cada vez mais para passar Kumiko e alcançar Yonagi. Não, espere...

— Por mais que seja doloroso de admitir... do jeito que estou, não tenho como alcançar Yonagi...

Analisando minhas condições atuais, será difícil conciliar tanta pressão por causa do trabalho de meio-período, as páginas de Chinatsu e o desenho do concurso de artes pra terminar...

Ah, vou ter que ficar várias noites sem dormir direito novamente!

Lamentei mentalmente aquele fato catastrófico, quando uma professora chegou na classe para aplicar mais uma prova.

— Essa, não. Prova da Rumiko, não! — lamuriou-se Nana. — Eu não me preparei psicologicamente pra lidar com essa mulher!

— Andem logo, seus preguiçosos! — ressoou a professora. Apesar do corpo rechonchudo, tinha uma língua afiada. — Seja pra rirem ou chorarem, apenas se organizem de uma vez!

— Que ótimo... — bufou Takahashi. — Era só o que faltava...

— Se eu ouvir qualquer cochicho no meio da prova, vou jogar o apagador! — exclamou ela. — Estão avisados. Principalmente você, Takahashi! Estou de olho!

Engoli em seco... esqueça sobre planejar algo naquela ocasião, a questão é se sairei vivo com uma intenção assassina daquelas se virar alvo dessa mulher!

De qualquer forma, não foi possível agir com as avaliações em andamento. Tudo o que conseguirei fazer é lidar com cada prova e encontrar uma maneira ao mesmo tempo...

        

No intervalo, os alunos pareciam uma marcha de zumbis que vagavam sem direção. A causa do apocalipse zumbi não foi por causa de fungos? Devia ter continuado a assistir as cenas trágicas de The Walking Dead, viu...

As provas de humanas requerem respostas recheadas e exigem altamente de conhecimento memorizado. Suspirei cansado, aliviado de ter contornado tamanha dificuldade — em troca de uma noite de sono... —, consegui absorver grande partes das informações corretas.

Quer dizer, não foi apenas pontuar na prova.

Se você colocasse desta forma, então tirar nota máxima em todas as provas o colocaria no topo sem questionamentos. Só que as coisas não se facilitam em apenas — acertar a questão —. Ao pensar a respeito, as provas de humanas são pontuadas pela forma em como se respondem as questões, então respostas contendo poucas informações receberão notas menores.

Durante aquela semana, serão apenas provas de humanas. Minha posição depois do primeiro dia me fez pensar naquilo. Tenho mais dois dias para comprovar minha teoria.

De que pontuar nas provas nessa escola não será tarefa fácil.

Depois de conseguir pegar meu sanduíche, fui na máquina de bebidas e segui em direção ao pátio central à procura de um pouco de paz. Mesmo com a atenção de todos virada às avaliações, mantiveram aquela perseguição sobre mim...

No entanto, mesmo no lugar calmo onde me encontro a todo momento visualizei grupos diversos reunidos em coletar e compartilhar informações.

Aquela era a mais clara desilusão da sociedade: uma pessoa ajudar outra em plena situação de desespero. Desde sempre, nunca recebi uma ajuda do tipo. Tive que me virar em obter informações e pontuar da melhor forma possível. Foi desta forma que consegui chegar ali.

Não vi nenhum dos rostos conhecidos, mas pude imaginar o que fariam nessa situação. O clube de literatura se reuniu com Yonagi, por ter tirado a melhor pontuação. O grupo Takahashi deve ter trocado informações de Kumiko.

No final, permaneci sozinho. E por que os calouros apareciam tão constantemente em minha mente, afinal? Me perturba tanto vê-los passando por dificuldades?

— Oh, é o Shiroyama! — anunciou uma garota. Chinatsu veio em minha direção junto com Shiina para me cumprimentar.

— Ah... olá.

— O que houve? Você parece bem abatido...

Tirando o fato das minhas olheiras estarem horríveis, parece que alguém radiante como Chinatsu é capaz de observar o estado mental dos outros com maestria...

Mas simplesmente dizer o que me atormenta para ela me fará um completo hipócrita. Muitos títulos desagradáveis sobre mim mesmo vagueavam na cabeça, não gostaria de obter mais um...

— Só... ando preocupado. Nada demais... e você?

— Na verdade, eu... preciso de um favor seu... — continuou Chinatsu, nervosa por algum motivo.

Ei, que situação é essa? Por favor, não fique corada assim de repente! Ah, sinto que fiquei nervoso também... não, nervoso já estou! Minhas pernas tremiam mais do que qualquer mentiroso!

Desconcertado, fitei para Shiina, que não reagiu. Tive de aguardar pacientemente que dissesse suas intenções...

— É que... sabe... eu vi...

— Viu...? Viu o quê?

— Que...  que você é uma pessoa inteligente! Você conseguiu uma pontuação alta no ranking geral e é algo incrível, viu! Preciso que me ajude, Shiroyama!

De repente, o clima se suavizou de tal modo que toda minha tensão desapareceu.

— Ah, isso? Hum, eu consegui..., mas...

— De... de qualquer forma, você conseguiu lidar rapidamente com a intensidade imposta pela escola. Por isso, quero te pedir...

— ...ajuda nas provas? Tudo bem por mim.

— Hein? Nem vai contestar?

— Não é porque estamos em uma escola de nível alto que coisas assim não podem acontecer. Somos seres humanos, afinal.

Chinatsu deu uma risada envergonhada. De fato, não é errado querer pedir ajuda em momentos como aquele. Ou a escola realmente achava que os alunos realmente não recorrerão a outros meios pra obter resultados?

No caso, Kumiko foi a principal responsável pelos alunos quererem recorrer a este método... culpem ela!

— Viu? Eu te disse, Chitose... — proferiu Shiina, indiferente. — O Shiroyan ia entender sua situação...

— É, mas... sinceramente, gostaria de poder resolver essa situação por mim mesma...

— Não precisa se forçar a tanto... — abri minha mochila e entreguei meu caderno a ela. — Você realmente está lidando com coisas demais...

— Obrigada! Vou te devolver depois das aulas! — expressou a garota, radiante. — Realmente fico agradecida por querer me ajudar!

— Certo, agora sabemos que você é, de fato, alguém capaz, Shiroyan... — completou Shiina. — Fico contente por isso.

A julgar pela minha colocação, não me classificaria como alguém capaz, visto a quantidade de pessoas na minha frente nesse ranking, como Yonagi. Devo admitir que ela realmente é alguém vil para ser citada desta forma...

Como esperado, essa rotina árdua de Chinatsu agravou-se no pior momento possível. Não é apenas uma rápida consulta no meu caderno que ela poderá escapar de obter notas ruins...

Sem pensar duas vezes, ao vê-las se afastando gritei:

— Chinatsu!

Ela e Shiina me encararam surpresas. Pode ser capaz que tenha endoidecido de vez, mas proferi:

— Estive aqui pensando... e se tiver uma forma de suavizar todo esse cargo que esteja suportando? Quer dizer... pode haver outra maneira de melhorar toda essa situação, mesmo eu estou apreensivo com essas provas, entende?

— Está sugerindo... que também quer receber ajuda? — ponderou a garota. — Ou que quer oferecer apoio?

Porque o peso em meu peito oscilou quando senti seu semblante mudar? As duas garotas se entreolharam e sorriram.

— Se esse é o caso, devia ter dito antes. Na verdade, podia ter dito antes das provas começarem!

— É o que dizem... — Shiina deu de ombros. — Antes tarde do que nunca.

— Colocar dessa forma é um pouco...

— Você quer fazer valer o favor que me deve mais do que se pretende, certo? — Chinatsu me ateve, serena. — E acho muito interessante, mas o que tem em mente?

— Ainda... não elaborei direito esse plano... — proferi. — Mas, até o final do dia te darei mais detalhes.

As duas me fitaram, como se para elucidar minhas intenções. Nisso, Chinatsu respondeu:

— Está feito, então. Parece que você encontrou alguma resposta...

— Na verdade, devo dizer que foi graças a isso daqui... — mostrei o panfleto do clube. — ...que consegui ajeitar meus pensamentos.

— Por causa... do panfleto?

— Digamos que tive uma epifania ao vê-lo e me deu muitas ideias... — Logo, pigarreei. — A propósito, logo iremos terminar as páginas para o seu concurso, certo?

— Oh, é verdade...

Através da minha pretensão e da mudança de nossa atmosfera, Chinatsu demonstrou surpresa durante poucos segundos.

— Mesmo que não dure por muito mais tempo a partir de agora, consegui aprender muitas coisas graças a você... — falei, rouco. — Mas, já comecei a trabalhar no meu desenho para a competição de artes e já aviso, não pretendo perder!

A garota mudou de expressão ao me encarar seriamente:

— Entendo... quer dizer que logo nos tornaremos inimigos de vez, certo? Mas você já sabe a minha opinião. Quero você no clube de artes, Shiroyama. Eu acho que você tem muito potencial para isso e poderá nos ajudar a chegar mais longe!

— Eu sei. Tenho ciência disso, mas...

Desde que nos conhecemos, mantive aquela dúvida na mente sobre a razão dela me querer no clube. Era um fato ser alguém desconfiado e compreendia essa consciência. Apesar de todos os problemas existentes, a reminiscência desse caso ressurgia de tempos em tempos. Poderia até pensar em trocentas suposições, como o acordo que propôs à Yonagi ter a ver..., mas decidi não me ater àqueles pensamentos. 

Afinal, não consigo entender o que as garotas pensam no fim de qualquer forma.

— ...mesmo com esse impasse, não quer dizer que temos de ser inimigos a todo momento... — estendi a mão. — Por isso pretendo estabelecer uma forma de valer a pena esse favor.

— Apesar de tudo, você não é tão egoísta quanto faz parecer... — Ela apertou minha mão. — Sejamos colegas ou apenas competidores, aceito sua ajuda!

***



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