Volume 3
Capítulo 2: Apesar de tudo, Chinatsu Chitose não quer Desistir. ②
Segundo Chinatsu, o prazo final para a entrega das páginas será até 15 de junho, dia que cairá na próxima semana. Ou seja, tínhamos apenas poucos dias para terminar tudo. E ainda, éramos inimigos no concurso de arte da escola. Se não a vencesse, Yonagi não iria me considerar de volta ao clube de literatura e viraria membro do clube de artes como consequência.
Aquela era uma situação desfavorável sem um lado decisivo. Afinal, tudo aquilo aconteceu por minha culpa.
Se me perguntassem sobre qual clube preferisse ficar, não saberia dizer com clareza. Apesar de estar desconfiado do ambiente do clube de literatura, não seria a mesma coisa se estiver no clube de artes?
Se não vencer Chinatsu nessa competição de artes, possivelmente a professora Harashima não queira mais que compita contra Yonagi. Por mais que minha relação com os integrantes do clube não fosse das melhores, dentro de mim ansiou de assegurar aquela disputa de continuar.
No fim, apenas pensei em mim mesmo. Por qual razão tive que dar tantas voltas em torno de um sentimento tão claro quanto aquele?
Com o início das provas, qualquer outro plano ficou em segunda instância. Era um tanto irônico, mas nestas épocas, as rixas entre alunos e grupos vira algo obsoleto pela preocupação das provas.
Isso mostra o quanto nossos problemas são pequenos em relação aos professores. Nossas vidas sempre aparentam ser mais vívidas aos nossos próprios olhos, afinal.
Como estou no segundo ano, a necessidade de pontuar bem era algo muito importante. Isso me fez pensar que os alunos do terceiro ano deveriam estar com as mentes perturbadas por imaginarem como será seus futuros dentro de poucos meses.
Deveria buscar no meio daquelas provações escolares além do que existia no próprio ego, afinal?
Esses pensamentos se dispersaram ao avistar Himegi cruzar a minha linha do horizonte. Estávamos apenas há alguns metros de distância, mas tive uma sensação estranha de que aquele espaço poderia significar algo maior do que aparentava ser.
O que era aquilo? Por que de repente me senti tão agoniado?
Antes que pudesse tentar me aproximar, uma outra figura surgiu de repente e me fez pular de susto. Seus longos cabelos loiros se esvoaçaram a minha frente, e Chinatsu balançou a cabeça confusa.
— O que houve, Shiroyama? Te atrapalhei em algo?
— Ah... não. Eu que fiquei distraído...
Ela aproximou seu rosto e subitamente recuei alguns passos, tentando conter minha visão do seu uniforme desarrumado... o colarinho azul ressaltou um decote quase discreto. Oh, meus olhos podem enxergar isso muito bem!
Chinatsu certamente é alguém que apenas se importa com seus desenhos, como o tipo de pessoa que fica dentro de casa o dia inteiro usando um macacão surrado e cheio de tinta enquanto permanece focada nas pinturas! Você é um exemplo de artista para as crianças, Chinatsu! Só restou um lápis mágico e ter cabelos ondulados e castanhos!
Neste momento, desviei meus olhos e reparei em suas mãos sujas de tinta.
— Então, você... esteve pintando, não é?
— Ah! É... bem... — Ela se conteve e tentou esconder as mãos. Como a tentativa não funcionou, soltou um suspiro e enfim disse: — Estou trabalhando no meu desenho para o concurso de artes...
— Oh...
Fiquei surpreso. Que energia toda é essa pra fazer tantas coisas ao mesmo tempo?! Chinatsu era algum tipo de gênio artista como o Niizuma Eiji?! Além disso...
— ...e as páginas? Pensei que estivesse se concentrando totalmente nelas...
— Eu sei que o prazo das páginas é mais curto, mas não posso me descuidar! Temos um desafio em jogo, certo?
Engoli em seco. Diante daquela determinação em querer me vencer no concurso, a vontade que senti foi de apenas desistir e não a fazer se esforçar tanto.
Aquilo era tão importante assim para ela?
Cerrei os dentes e segurei o silêncio pelos punhos, de forma que os pressionava incessantemente. Mesmo sendo muitas vertentes, não conseguir acompanhar os acontecimentos me afligia. Quis prever os movimentos de Takahashi e Kumiko a todo custo e ainda me preparar para enfrentar Yonagi..., mas se não fosse por nenhuma daquelas razões aquela garota pairada à minha frente não precisaria se submeter daquela maneira.
A cabeça latejava, mas novamente minha atenção se voltou ao ambiente. Um aglomerado de alunos caminhava adjacentes à nossa posição e senti suas expressões direcionadas a mim. Aparentemente, Chinatsu não notou aquilo e agiu normalmente.
— Espero que esteja se preparando pro concurso também, hein!
— Ah... sim....
Nós nos distanciamos com rápidos acenos e rumei para classe, fitando aqueles terceiros. O pressentimento ainda durou por mais alguns corredores até instigar incomodado o pequeno grupo, que ainda tentaram disfarçar pateticamente.
Ao chegar na sala, decidi manter a calma. Naquele momento, o grupo Takahashi havia acabado de regressar do intervalo, brincando e fazendo piadas com Kuwasabe e Ota.
O que estava acontecendo?
A menos que tivesse ganhado na loteria e não tinha ciência do fato (nem mesmo jogava na loteria) pra receber tanta atenção negativa, não conseguia entender por qual razão outras pessoas fora Takahashi me fuzilavam como se fosse algum criminoso.
De repente, surgiu uma comoção no corredor. Os alunos restantes surgiram logo após e voltaram aos seus lugares assim que o professor Miyamura entrou na classe. Devido aqueles burburinhos gradativos, Takahashi o interrogou:
— O que está havendo lá fora?
— Parece que alguns representantes do Conselho Estudantil estão vindo de classe em classe para emitir um comunicado, ou algo assim.
— Comunicado? Será a presidente, talvez? — indagou Nana. — Não gosto daquela garota...
— Ela é bem séria, né? — Takahashi sorriu, sem jeito. — É assim mesmo, já que aquela garota faz as coisas como bem entende e todos a acarretam.
— Lógico, Takahashi. Atitudes do tipo que se espera de alguém responsável como Kiboumori Suzune, viu? — proferiu o professor Miyamura. — Alguém do nível dela estar no cargo de presidente do Conselho Estudantil não é de se surpreender ninguém. Por isso que as coisas funcionam nesta escola de maneira efetiva.
Então... Kiboumori Suzune é o nome daquela garota de cabelos verdes lustrosos e rosto fechado... de fato, ela possui uma presença tão imponente que qualquer um a respeita. A aura que emite parecia com o líder de uma máfia, dando a sensação de harmonia e ordem como um céu esplendoroso!
Passos se aproximavam de nós, o que me fez suar frio. Dado o meu histórico atual com o Conselho, não causei uma boa impressão mesmo tendo auxiliado um pouco sobre o vazamento de informações... era bem capaz que fosse petrificado com o poder daquelas chamas causadas por aquela garota!
Mas, quem entrou na sala de aula não foi a presidente do Conselho. Em vez disso, apareceu uma garota de cabelos roxos usando a farda de tesoureira.
Kumiko Horie.
— Olá aos presentes. Venho aqui em nome do Conselho Estudantil para comunicar que precisaremos da colaboração de todos! — Ela se apresentou lustrosamente. — Como devem saber, apesar do Festival Cultural ainda estar distante, teremos ainda o interescolar durante as férias de verão e o Festival Esportivo, muito em breve. Estes são eventos que requerem um investimento planejado e controlado. Dito isso, o Conselho Estudantil entrou em consenso com a escola de comunicar a todos os clubes de que haverá corte de gastos para que sejam dedicados a estes eventos!
Depois de tais palavras proferidas, a maioria dos alunos fizeram protestos contra o decreto, mas a voz de Kumiko permaneceu firme:
— Compreendo o incômodo de vocês, mas acuramos tudo previamente e prometo que iremos realizar os melhores eventos que esta escola já viu! O interescolar e o Festival Esportivo serão realizados para que os alunos dos clubes de esporte mostrem todas as suas habilidades e valores! Além disso, o Festival Cultural precisará mostrar toda a capacidade da escola aos visitantes. Teremos que mostrar o quão bom somos, pois somos uma escola de elite!
— É isso aí! — exclamou o grupo de Takahashi, assim como outros alunos sortidos aqui e ali.
Permaneci inalterado durante todo o tempo de seu discurso. Era frustrante, mas não se via segundas intenções em relação àquele planejamento visual de querer investir nos eventos e não na renda dos clubes.
Acho que ela acabou levando a sério demais o meu aviso de dever se dedicar ao Conselho Estudantil...
Tudo aquilo pareceu realmente algo que visa melhorar a imagem da escola, mas...
— ...por conta disso, todos devem se sair bem nessas avaliações diagnósticas! Aqueles que ficarem em recuperação causarão ainda mais desconto nas rendas dos clubes em que pertencem! O clube que tiver melhores desempenhos terá mais destaque nos eventos!
Ela tornou uma ilusão utópica em uma disputa de larga escala totalmente meritocrática!
Isso pareceu mexer com todos os alunos, expressões confusas perduravam sob os presentes. Claro, como alguém poderia reagir a uma interação tão informacional quanto aquela? Mesmo que se perguntasse: — alguma dúvida? —, dificilmente geraria oposições e, por fim, menos argumentos.
Dito isso, resolvi levantar a mão junto de alguns dispostos. Não realizei comoção nenhuma para tal, mas sabia que ela me notaria pelo ato. Não era somente por não reagir surpreso e sim por apenas querer dar minha opinião.
Kumiko fitou todos, atendendo assertivamente às quaisquer perguntas emitidas:
— As avaliações já são complicadas e ainda querem nos pressionar com essas penalidades? — indagou uma garota, próxima a ela.
— As regras da Daiichi incluem o total comprometimento do aluno em realizar qualquer tipo de atividade proposta pelos professores, incluso as avaliações. Resolvemos agir assim em prol de incentivarmos todos a se dedicarem ao máximo, consegue entender?
— Mas só consigo ver os times de esportes tendo vantagem... — murmurou um garoto, inconformado. — Há clubes só focados nos meios acadêmicos...
— Saiba que estamos priorizando os dois tipos, caso não tenha prestado atenção... — rebateu ela. — Os dois festivais servirão para o palco de toda a atuação da escola, é só que cada um focará em partes diferentes e temos que direcionar essas atenções de maneira devida.
Em dado momento, o cara chamado Ota — lembrei do seu nome! — quis levantar a mão, mas recebeu olhares dos colegas e manteve-se quieto.
Mais algumas perguntas foram feitas e respondidas à altura, até que ao fim daquela espera ela se dispôs a me dar direito de fala.
— ...isso não me parece muito produtivo, tesoureira. Você está insinuando que o Conselho Estudantil quer agir como um CEO e realizar aumentos de salário por produção extra? Não vi você comentando em nenhum momento sobre as atividades dos alunos.
Kumiko sorriu antes de me responder.
— Ora, isso é apenas a obrigação de cada um, certo? Se não puderem se dedicar em algo do seu interesse, terão que lidar com os grupos que o fizeram. Coisas assim acontecem o tempo todo. Melhores resultados realizados pelos melhores jogadores formam os que resistem até o fim, certo?
— E quem não conseguir estes resultados? Apenas um desconto na renda do clube não parece ser algo que realmente assuste. Você pode dizer que danos individuais podem comprometer um grupo ao todo e não significa que eles em si queiram causar estes danos. Querer e causar são coisas diferentes, e causas de efeito acometem os maiores problemas aqui.
Causa de efeitos são os maiores problemas em jogos de carta e RPG. Isso era algo básico. Kumiko não ter explicado algo assim queria implicar não fornecer todos os tipos de informações e tentar intimidar os alunos com o simples fato de os grupos formados pelos clubes não quererem se voltar contra o movimento apenas para mantê-los em ordem.
Isso não foi um decreto visando incentivar os alunos como descrito, e sim visou apenas um controle de todos por meio da ameaça de um prejuízo possível. São todas as características perfeitas de uma dialética erística elaborada por aquela garota ardilosa e, durante nosso diálogo, todos os alunos voltaram se sentar e me fitavam em silêncio.
— Sobre o que esse garoto está falando? — retrucou Nana. — Não estou entendendo nada...
— Espere. Vamos prestar atenção... — interveio Takahashi.
— ...claro que queremos que não aja pessoas em recuperação. Ninguém quer ser punido, mas temos que estabelecer objetivamente que as recompensas para quem realmente se dedicar serão valiosas. Isso não é algo verdadeiramente motivador para todo mundo?
— Pode até ser, mas as circunstâncias já são desafiadoras em relação às regras das provas diagnósticas. Por mais que tenhamos que obter 60% no resultado total, isso não alivia a mente daqueles que se preocupam com o clube mais do que qualquer coisa.
Aquela garota é tão egoísta quanto o próprio discurso... usar da dialética erística em uma discussão foca pressionar o lado oposto a concordar com sua ideologia. Uma tática manivelada de obter controle sem que detenha de verdadeira razão para tal... uma jogada típica de alguém como Kumiko.
— Onde quer chegar? — intimou Takahashi. — Isso não é uma porcentagem alta para nós e também não aflige todo mundo daqui.
— Pra nossa classe, não é mesmo... — ressaltei. — Mas um clube é formado por integrantes de várias classes, certo? O que estou dizendo aqui é que as regras das provas diagnósticas se variam pra cada um. Sem contar que aqueles sem clube podem não querer se dedicar como o restante, não é?
— Isso vale ainda mais para quem não participa de nenhum clube, pois deverão se incluir em um... — continuou Kumiko.
— O quê?
— Cada clube deverá aplicar uma avaliação para aceitar membros. Assim, teremos um controle geral, para também não haver membros indesejáveis.
— Como assim, “membros indesejáveis”?
— Simples. Quem não entrar em nenhum clube receberá uma punição. Então, não façam nada de errado nas decisões que tomam individualmente!
Grunhi e cerrei meus dentes, mas decidi não dizer mais nada. Pude sentir o Grupo Takahashi me encarando, como se esperassem que fosse comentar algo a mais. No entanto, as convicções de Kumiko foram tão sólidas que quebrá-las seria como minerar diamante em uma caverna sem lava.
Desde o começo, a opinião dela permaneceu inabalável.
— Se ninguém não há mais nada a dizer, está decidido... — proferiu a garota, triunfante. — Boa sorte para todos.
Kumiko se retirou da sala, deixando para o professor tentar conter a algazarra dos alunos.
Segundo Schopenhauer, o uso dessa dialética é de demonstrar autoridade para qualquer um que for contra seus ideais. Na minha opinião, não passa de um truque sujo!
Contive a frustração. Como se não bastasse o fato de Takahashi se meter alheio em qualquer assunto a envolvendo, ainda incitou que as atitudes dela realmente trará benefícios. Naquele momento, pode-se dizer que minha posição não comprometia a ninguém, por não estar mais no clube de literatura e nem do clube de artes, mas...
Por conta disso, receberei penalidades além da recuperação se não tirar boas notas nas avaliações caso perca no concurso de artes. Mesmo que ganhasse e escolhesse ficar no clube de artes ou literatura, terei que contar com boas notas para que não causasse descontos na renda por minha causa.
Eu poderia contornar aquele problema se apenas continuasse a pontuar bem nas provas. Mesmo que não fosse bem no concurso, poderia tentar lidar com o que poderia vir de punição, mas receberia a penalidade por não estar em um clube...
O que aconteceria se recebesse todas aquelas punições?
Por qual razão tinha que me preocupar com aquilo? Já não decidi o curso de minhas ações? Por que fiquei tão preocupado agora?
Por que Kumiko Horie dialogou daquele jeito apenas para repassar aquelas condições? O que foram todas aquelas dúvidas repentinas?
Não podíamos agir individualmente, somente em grupo? O que ela quis dizer com tomar decisões individuais?
Por que não quis se aprofundar na parte das punições? Ela não quer que ninguém desafie o Conselho?
Espere...
Espera um pouco...
Parece sucinto que qualquer uma destas alternativas não fossem impossíveis de se acontecer...
Será que era porquê provavelmente foram planejadas para lidarem com pessoas na minha situação?
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