Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 3

Capítulo 2: Apesar de tudo, Chinatsu Chitose não quer Desistir. ①

Naquela quarta-feira com o céu também nublado e uma leve névoa assoando o chão, dispersava-se pela ventania que aparecia de tempos em tempos. Era o momento perfeito para demonstrar o desespero dos alunos em relação as provas diagnósticas, que iniciarão hoje até a semana que vem.

Ao chegar em casa no dia anterior, dei uma breve estudada no conteúdo e fui para o museu. O cansaço de tentar memorizar várias matérias densas e lidar com várias crianças brincando com tintas foi tremendo. Chinatsu dividiu a preocupação entre as provas e o prazo de entrega das páginas, por isso tivemos que aumentar a velocidade de produção. Como não podia perder o último trem, sempre tinha de sair antes, mas ela já tinha me explicado que não havia problemas.

— Sempre volto para casa de bicicleta, então está tudo bem. Como meu avô sempre me espera, voltamos juntos.

Ela quis voltar ao assunto da discussão com o clube de literatura, mas me mantive irredutível.

— Como disse antes, não vou mudar. É a minha convicção contra a de Yonagi e não posso me dar ao luxo de voltar atrás com as minhas palavras.

Não é do meu feitio mudar de ideia tão rapidamente sobre algo que me dedicaria o máximo de mim. Era o meu jeito ninja de fazer as coisas!

Foi um dia realmente cansativo, o que me fez acordar totalmente exausto e com dor de cabeça naquela manhã. O número de vezes que passei a ver meu irmão antes de ir para a escola cresceu mais do que gostaria, Takashi me arrostou preocupado:

— Seu rosto está ficando cada vez pior... daqui a pouco seus olhos vão parecer com o de uma toupeira...

Não podia negar a vontade que tive de viver dentro da terra, mas a menos que um Gurren surja para trazer um novo significado à humanidade, resolvi descartar tal possibilidade.

Apesar de toda a correria do trabalho, não tive como esquecer daqueles rostos na biblioteca. O rosto cabisbaixo de Himegi foi o que mais surgiu em minha mente.

Cogitei que ela me esperaria no hall para me bater assim que chegasse e trocasse os sapatos, mas não a vi em nenhum momento antes da aula começar.

— A situação entre Shiroyama e Yonagi pode não melhorar —.

É o que deve estar se passando em sua mente agora.

Sequer consegui entender a razão dela querer tanto essa união. Não é como se tivéssemos um bom relacionamento desde o início. Além disso, todos do clube de literatura se davam bem, não? Então não existia problemas a respeito. Fui o único que não me relacionei direito, afinal...

— ...eu e Yonagi somos diferentes, certo?

A professora Harashima entrou na classe, mas não se sentou em sua mesa.

— Muito bem, vamos iniciar as avaliações diagnósticas. A maioria daqui já sabe do procedimento, mas não custa nada repetir.

Todos os alunos se endireitaram em seus lugares para ouvir o que a professora tinha a dizer.

Com o que disse sobre todos saberem dos procedimentos, devia ser pelo fato de todos estarem no segundo ano, obviamente tiveram a mesma experiência no ano passado. Como um aluno transferido, será bom prestar atenção nessas informações desde o início.

— As provas irão durar por uma semana. Os resultados finais virão logo após esse período. Como vocês sabem, haverá a classificação geral de pontuação exposta no mural. Conforme as notas de vocês forem liberadas, elas serão postas na equação geral dividida entre todas as disciplinas.

De repente, senti uma breve tensão percorrer por toda a sala. Olhei de soslaio aos alunos, que encaravam a professora determinados, como se estivessem se preparando para lutar contra um chefe final. Havíamos chegado ao centésimo nível de Aincrad tão rápido assim?!

Nisso, pude perceber também.

Naquele momento, verei a verdadeira face daquela escola.

Mitsuhara Kobune e a professora Harashima me disseram que os alunos poderão ser expulsos pelos resultados das avaliações.

Por ser transferido, talvez aquilo não fosse exatamente minha situação, já que precisarei realizar o teste especial. Então, terei que usar aquelas avaliações diagnósticas para reduzir o peso do teste em si, como a professora me instruiu de antemão.

— Bem, espero que todos os alunos tirem notas satisfatórias. Quem ficar entre os 10 últimos na nota de corte da classificação geral, será provavelmente expulso da escola.

— Hein?!

Não imaginei que fosse algo tão extremo! Aquela escola é insana! Tornou uma simples avaliação diagnóstica em uma provação de nível alto e eu que sou distorcido e problemático?!

— E após esses 10 últimos... — continuou ela. — ...os 10 colocados acima deles terão que fazer um exame de recuperação, em que apenas 2 serão resgatados.

Engoli em seco. Em qualquer hipótese praticamente possível, 18 alunos por classe serão mesmo expulsos por esta avaliação geral considerada simples...

— Claro que... posições empatadas serão desconsideradas a partir da nota de corte das avaliações.

Isso queria dizer que, se houverem notas iguais à margem da nota de corte, dois ou mais alunos serão aprovados, sem precisar de um critério de desempate.

Isso também significava que se dois ou mais alunos tirassem a mesma nota abaixo da nota de corte, mais pessoas seriam expulsas. Era um caso totalmente extremo.

A professora pegou a caneta e escreveu na lousa, dizendo: — Cada classe terá uma nota de corte diferente, pois foi calculada em relação ao rendimento de cada aluno. No caso de vocês, a média de todas as provas diagnósticas devem ser superiores a... 60%. Ou seja, 600 pontos.

Era uma porcentagem aceitável pra um nível básico de avaliação. Mesmo que tire notas baixas em uma ou duas disciplinas, só vai corresponder a 10% ou 20% da média total. Tenho confiança no meu rendimento na maioria das matérias, então a possibilidade de pontuar dentro do esperado e não ficar abaixo das expectativas é alta...

Por mais que fosse uma tarefa trabalhosa, ainda assim não era algo tão alarmante... não fosse pelas consequências de falha. A professora Harashima passou em todas as mesas para entregar as provas, viradas.

— Se ninguém tiver dúvidas, então iremos começar as avaliações diagnósticas. Desejo boa sorte e que tenham estudado bastante.

Quando todos os alunos permaneceram em silêncio e com suas provas em mesa, ela retornou à mesa e decretou:

— Podem começar!

Todos viraram as folhas ao mesmo tempo. Pude sentir a pressão crescente naquela classe pelo risco de expulsão ser eminente! Estávamos sendo avaliados para uma academia de heróis ou de exterminarmos um monstro chamado Koro-sensei em até um ano?!

Encarei aquela professora desdenhosa pra todos da classe... e ela certamente é uma grande suspeita de ser o Koro-sensei!

Fora essas comparações fúteis, subitamente olhei para a direção em que o grupo Takahashi se encontra. Eles certamente não paravam de sorrir e de contar piadas. O período de provas começou e mesmo que mal se olhassem durante as avaliações, podia-se notar que todos se reuniram e estudaram juntos para que ninguém tivessem problemas.

Isso era um verdadeiro trabalho em equipe.

Uma atuação conjunta da qual nunca participei antes, já que... bem, sempre fui excluído de uma equipe, afinal.

Há uma grande diferença entre escolher alguém por ser um conhecido e já ter um laço de amizade daquele que escolhe alguém por ter certas habilidades que te interessem naquele momento oportuno e por alguma razão estão na mesma classe.

Foi o que aconteceu comigo.

No meu primeiro ano do ensino fundamental II, grande parte dos meus colegas do antigo ensino continuaram na mesma classe e a maioria deles já sabiam das minhas habilidades artísticas. Não querendo me achar único, mas aparentemente era o único dali que sabia desenhar bem.

Uma garota me convidou para entrar em seu grupo, sendo que mal falava comigo. Na época, fiquei feliz por ter sido incluído em alguma coisa, mas logo depois compreendi que tudo era uma armação.

Nada naquele convite foi verdadeiro.

Descobri que uma de suas amigas do grupo foi expulsa apenas para que eu entrasse devido minhas habilidades.

Vendo neste ângulo, é apenas uma questão de interesses entre colegas úteis para fazerem uma simples atividade escolar.

Mas e se você colocasse esse cenário em um ambiente diferente?

O ensino médio não é exatamente uma reprodução da vida adulta, mas está cheio de confusões do tipo.

Pessoas enganam as outras apenas por um interesse em comum. Querer pontuar aqui é o que importa, os meios não importam muito. Os meios não-convencionais não precisam ser mencionados para constarem como válidos.

Colar em uma prova era um bom exemplo disso.

Mês passado, houve uma comoção em conseguir informações das redações do clube de literatura para uma prova de história e ciências sociais.

Para isso, Takahashi apenas se aproximou de mim para obter tais informações em primeira mão.

Isso nunca quis dizer que fomos amigos.

Tal possibilidade sequer passou pela minha cabeça.

Pessoas são usadas pelas outras o tempo inteiro.

Por isso, trabalhos em equipe só se mostram úteis quando se há o interesse em usar os outros.

A coleta de informações era uma jogada preciosa naquele lugar. Quanto mais dados você possui, mais lances poderão ser feitos.

Em um jogo de baralho, obter certas cartas te ajuda a formar uma estratégia contra o inimigo. Takahashi jogava desta forma.

Para mim que jogava sozinho, ele era um oponente formidável. Desta forma, a melhor opção para mim seria ter alguém como ele ao meu lado, certo?

Mas as coisas não seguirão para este caminho.

Eu não preciso de pessoas como ele que apenas querem saber do que sou capaz e me usar quando lhes convém.

Antes que pudessem pensar isso de mim, montei uma estratégia para evitar todas essas possibilidades antes de surgirem.

Memorizar as coisas foi um bom exemplo disso.

Uma das habilidades que desenvolvi para não precisar da ajuda dos outros foi a memorização quase relâmpago. Se eu decorasse alguma informação poderia me lembrar dela em até 24 horas!

Com essa habilidade era capaz de guardar informações a ponto de não precisar levar cadernos nos dias de prova. Assim, ninguém viria até mim e não precisaria passar por aquelas situações sem eu querer!

E para mostrar isso de forma bem clara: em dias de prova, não levava a minha mochila.

Como esperado, ninguém se aproximou de mim durante as provas do período da manhã, nem mesmo Takahashi. De fato, tal carta de efeito mágico fez seu trabalho e fiquei aquele turno sem ser atacado!

Os períodos matutinos foram até bem tranquilos, o que quase me fez esquecer de todas as discussões que ocorreram no dia anterior.

***

Quando o terceiro período terminou, os alunos saíram de suas classes, comemorando ou lamentando seus prováveis resultados das provas. Resolvi sair também para comprar um cappuccino, meu estômago roncava muito! Se tivesse algo como o demônio da fome, certamente seria uma motoserra!

Porém, ao chegar na máquina de vendas mais próxima, me deparei com Takahashi munido de seu grupo comprando bebidas. O que eles eram pra sempre estarem juntos assim? Uma rede de clones com Takahashi como torre de controle, afinal?

Depois de tudo o que aconteceu com Kumiko durante a decisão do Conselho Estudantil, evitei de me aproximar dele. Não conseguia prever em que momento haveria alguma hostilidade entre nós, mas não queria testar para saber.

Tentei os despistar dando meia volta no corredor, mas fui visto...

— Ei, Shiroyama! Venha aqui!

Droga! Por que não tenho uma capa de invisibilidade?! Seria tão útil em momentos como esse!

— O... o que foi? — disse, intimidado.

— Você realmente se preparou para as provas, hein? Nem material escolar trouxe.

Soltei uma risada nervosa. Como esperado, ele já notou minha tática de evasão...

— Ah, é... bem... pois é.

— Nada mau, Shiroyama! — comentou Kuwasabe. Espera, porque ele parecia estar satisfeito como se eu fosse um desajeitado?

— Você deve ter uma memória muito boa, hein! — comentou Nishimura. — Eu quase não me lembrei de nada do que estudei!

Não venha com essa! Tendo tantos parceiros para te dar cola, não precisaria nem esquentar tanto a cabeça, né?

— Você sempre nos surpreende com alguma coisa nova, né?

Aquele comentário distraído de Takahashi fez todos rirem, mas seu tom de voz não foi do tipo de causar comédia. Sua ambiguidade descrita na face assolou o encaro silencioso. Seu sorriso discreto e tom de voz pareciam frequências de ondas distintas da qual somente uma delas era captada.

Engoli em seco. Tentei parecer calmo.

— Bom... talvez, né. Acho que todos nós temos uma surpresa ou duas...

— Realmente, mesmo após uma semana ter se passado ainda estou surpreso por tudo que aconteceu... e das consequências, também... — Takahashi deu de ombros. — Receber atenção indesejada pode ser uma faca de dois gumes, certo?

— ...preciso voltar.

Dei meia volta e retornei pelo corredor. Sentia um calafrio imenso me percorrendo como se perdesse todo meu calor corporal, mesmo segurando aquela lata de cappuccino. Tive o pressentimento através de Takahashi de que o interesse de Kumiko ainda não se deu por encerrado pelas entrelinhas.

Ou melhor, ele intimou exatamente essa ideia.

Se Takahashi foi incumbido de analisar minhas ações, quer dizer que Kumiko não lhe contou nada do que aconteceu antes do Conselho Estudantil decretar sua sentença, mas provavelmente ficou ciente das constantes ameaças que Higusa Amari me causou naqueles dias...

Kumiko é ardilosa, mas apesar disso não conseguiu me expulsar após duas tentativas.

Só que não significava que por não ter conseguido executar tal ação não o faria mais...

Apenas o fato dela ter me feito se relacionar com Chinatsu pelos nossos interesses artísticos se tornou uma prova concreta. A questão de como ela conseguiu manipular a situação de forma indireta foi realmente assustador. Takahashi é um de seus peões favoritos, um espião não intencionado perfeito.

O que implicava... que o fato de estar confiante nas provas podia ser algo que não o agradou.

Se ela planejava usar de algum novo artificio para conseguir me expulsar daqui usando sua rede de contatos seria um completo problema pra mim.

Além disso, outro pensamento me surgiu.

O fato de os alunos transferidos apenas entrarem naquela escola devido a expulsões... não tinha ciência se fui o único aluno transferido na minha classe. Então... houve alguém expulso naquela sala antes que eu entrasse, certo?

Para situações como aquela, necessitava ter mais informações sobre os arredores. Pode ser que tenha que me precaver ainda mais com quem me relaciono daqui pra frente.

E neste caso, devo formar minha própria rede de contatos à minha maneira.

***



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