Volume 2
Capítulo 5: E a Decisão do Conselho Estudantil é... ④
No dia seguinte, o clube de literatura foi para a convenção de escritores, no Centro de Convenções Makuhari. Localizado à oeste em Mihama, é um imenso local especializado em eventos de grande porte — como a Jump Festa! —, como shows e jogos olímpicos. Era um local bastante conhecido. Seu acesso se facilita pelas ferrovias, então não era difícil chegar até lá.
Todos nós combinamos de nos encontrarmos no local, o que colaborou bastante de não ocorrer imprevistos. Levei cerca de 40min a partir da Estação Kemigawahama de ônibus. Desci na quadra à frente do Makuhari Seaside Park, adentrando-o e seguindo o caminho sugerido pelo GPS, praticamente em linha reta. Como ainda era cedo, a brisa refrescante do local inibia a exaustão de andar tanto.
O parque detinha de vários canteiros, então a todo momento a sombra das copas dominava o chão. Visualizei algumas partes da qual davam vista para o imenso lago visitado por vários tipos de pássaros. Era reconfortante estar ali.
— Talvez venha aqui depois do evento...
Após passar pelos canteiros de concreto, venci a distância do parque e cruzei o estacionamento de bicicletas da Zoff Mitsui Outlet — que se estendia pelo quarteirão inteiro —, atravessei uma galeria e avancei o percurso por uma plataforma, sobrepondo as ruas e acelerando minha caminhada em 40%. A maioria das lojas se encontrava fechada, então não tinha muitas pessoas caminhando nas ruas naquela hora da manhã.
— Você está atrasado, Shiro! — proferiu Himegi, ao ver me aproximando.
— Ah, é que eu vi um gato preto pelo caminho... então tive que pegar um atalho.
— Oh, você é supersticioso nesse nível? — indagou Kuroi. — Por acaso, você realmente acreditou naquela lenda urbana que eu disse outro dia?
— Não enche.
O centro lotou pela quantidade de visitantes, vários estandes de escritores se estenderam por todos os lados. Alguns eram famosos, outros totalmente desconhecidos. Você sabia diferenciá-los pela quantidade de pessoas que passavam pelas mesas. Força, desconhecidos!
De fato, tinha um forte desejo de me tornar um escritor de Light Novel para não precisar sair para trabalhar, claro que isso gera muitas complicações, por ser algo impreciso. Pois, há obras que fazem sucesso e outras não, pode me acontecer as duas coisas. Por isso, muitos escritores trabalham em duas histórias simultâneas, até mais.
Fonte: um certo cara que começou uma história sobre ciência e magia.
Mas não tinha interesse em apenas Light Novel, pois lia muitos livros e trilogias. Querer saber mais de escritores que fazem sucesso por suas obras adaptadas em séries e filmes Live-Action é meu outro interesse.
Além do mais, se apenas lesse Light Novel, ficaria parecendo um puro viciado e que não conseguiria me adaptar a ler coisas mais cultas. Neste caso, saber ser versátil sempre se mostra uma grande vantagem.
Nisso, descobrir mais vantagens de lidar com esta situação foi uma das razões para estar naquela escola. Minha posição nos rankings dos alunos era também envolvida.
Teru ficou totalmente entretido em um círculo de RPG, que constantemente gritava suas habilidades especiais, o quão rápido aquelas campanhas duravam? Que farsa de D&D!
Kuroi ficou inerte com uma fileira de somente obras de suspense, provavelmente se decidindo quais livros detinham a sinopse mais assustadora para comprar. Oh, ela passou adiante as fileiras de obras do Junji Ito... era provável que já tivesse todos os volumes? Com certeza.
Himegi e Yonagi se acompanhavam, vendo alguns livros sobre romance. Himegi bajulava Yonagi a ler algum deles, com ela recusando e querendo sair dali. Elas pararam à frente de um tabuleiro de gatos da Chica Umino e Yonagi foi dominada. Xeque-mate!
Eu fitei os estandes conforme caminhava, mas já tinha um objetivo em mente. Havia um escritor que queria muito conhecer e naquela convenção marcou presença. Realmente valeu a pena virar a noite pesquisando seu tour pelos eventos quando finalmente os revelaram!
Ele é Hisashi Masayoshi. Ele escreveu uma trilogia sobre pessoas vivendo no espaço. Era a mesma trilogia que eu e Yonagi conhecíamos. O homem magro de feição cansada — e enigmática — me encarou com um sorriso simpático. Pela sua biografia, tinha trinta e poucos anos. No entanto, a vivência e experiência pessoal o valiam muito mais tempo.
Ele era irmão do Junji Ito? As feições são as mesmas...
Ao me aproximar, rapidamente peguei os meus livros para que os autografasse. Enquanto os assinava, notei que Yonagi olhava em minha direção, mais precisamente para Hisashi. Acho que ficou inconformada por ter sido o primeiro a falar com ele.
— Achei que os estandes estariam mais cheios... — comentei. — Cogitei até que não conseguiria vê-lo.
— Ah, não sou tão conhecido assim... — Ele expressou. — Minhas histórias são não ortodoxas demais..., mas fico contente que aqueles que virão me ver saibam a meu respeito.
— Você chegou a viver uma juventude solitária no seu ensino médio? — perguntei quando me devolveu os livros assinados. — Sua visão é muito parecida com a minha.
Hisashi sorriu para mim com uma expressão de: — parece que você entendeu, cara —.
— Eu apenas transformei meus pensamentos em uma história que todos possam ler. No final das contas, não foi algo totalmente solitário.
— Viver de livros é algo honrável para mim. Mas não sei se terei sucesso sendo tão transparente assim com as palavras como você... — tirei um bloco de folhas da mochila e o entreguei. — Estou produzindo alguns contos inspirados em suas histórias.
Durante os curtos períodos de lucidez contra o sono pelo decorrer dos últimos dias, consegui finalizar alguns resumos de minhas histórias. Graças a isso, minhas olheiras ficaram tão profundas que, junto da máscara, me abordaram diversas vezes pelo evento com a mesma frase: — Você está com anemia? —. Fiquei tão aliviado que o Hisashi não ligou para minha aparência!
O escritor pegou aquele bloco de folhas e rapidamente os folheou. Subitamente, um sorriso discreto e nostálgico surgiu em seu rosto. Naquele momento, parece que a hora congelou. Não soube dizer por quanto tempo fiquei em silêncio aguardando enquanto prosseguiu com a leitura.
Hisashi Masayoshi é um ídolo para mim. Assim como cantores ou atores, todo mundo possui um astro da qual se espelha. O meu estava à minha frente lendo um manuscrito escrito por mim.
Eu morri?
Hisashi pousou o bloco de folhas na mesa e me respondeu:
— Certamente, são todas boas histórias. Você pode deixá-las cada vez melhores se focar em seus objetivos com mais clareza, sem dúvidas.
— Ainda... não sei como fazer isso.
Ele me fitou, em silêncio.
— Posso imaginar seus receios. É algo complicado quando não pode compartilhar seus pensamentos, mas isso é algo que você deve fazer para que o resto do mundo não o julgue como alguém que não saiba como as coisas funcionam.
— Algo que devo fazer...
— Você deve achar uma maneira de revelar isso ao mundo, direta ou indiretamente. Quando alguém expõe suas ideias, o mundo a abraça, pois pensamentos sinceros mudam os outros. Verdades podem ser doloridas, mas também servem para curar feridas. Não importe onde seja, suas palavras vão alcançar o coração de alguém.
— Pensamentos sinceros...
— Você... — Hisashi olhou atentamente para mim. — ...se sente fora de tudo isso?
Aquela era uma frase de um de seus livros. A história se passa por um astronauta que sempre se sentiu solitário no mundo em que vivia e se refugiou no espaço, compreendendo melhor sobre si mesmo e vivendo mais consciente.
Quando o protagonista fazia aquela pergunta no livro, ele falava com o leitor. Hisashi fez o mesmo comigo.
E ele acertou. Eu estou fora de tudo.
Se fosse para dar um exemplo melhor, é como se estivesse em um satélite e toda a sociedade fosse um planeta, da qual me encontro sob sua órbita sem conseguir sair.
— O sociólogo Durkheim tinha um fator que era: as pessoas que não se adequam aos padrões da sociedade em que vive estão à margem do que estabelecem estes padrões.
Hisashi sorriu.
— Isso mesmo. Pessoas que têm mentes solitárias são consideradas aqueles que vivem fora da órbita. Cabe a cada um querer resolver como se deve viver sob estas condições.
— Se sou aquele que está fora da órbita, posso optar entre querer me aproximar ou não, certo?
— Obviamente. Se é a sua forma de viver, decidir isso vai acalmar seu coração. Assim como o protagonista do meu livro.
Seriam aquelas palavras que tanto procuro enquanto observo as estrelas, quase todas as noites? Aquela procura incessante pelo próprio entendimento parecia estar no fim...
Sem dúvidas nunca me esquecerei delas.
E pode ser minha solução na disputa contra Yonagi. Eu sabia o tipo de pessoa que me encaixo e o que significa querer agir como um estrategista.
Essa foi a minha resposta.
Por ter me transferido de escola, pelas relações que tive, pelas próprias intenções e desejos. Almejei desde sempre em formar algo e sinto que em breve mostrarei isso à tona.
Já que... não quero mais me decepcionar.
Eu me curvei como agradecimento pela conversa e pelo autógrafo, assim que ele devolveu o bloco de folhas. Não soube dizer, mas tudo pareceu mais claro para mim após esse momento.
O evento pode estar no seu início, mas para mim já alcancei o auge de sua experiência, assim como senti que logo alcançarei a mesma coisa naquela escola em que decidi me ingressar.
Não, posso dizer que já se mostra bem próximo de acontecer. As peças moviam-se por vontade própria. Minhas experiências escolares se tornavam cada vez mais precisas.
Himegi se aproximou de mim ao me empurrar. Ei, não faça isso! Eu quase passei vergonha no meio de tanta gente!
— Ei...! O que foi?
— Soube o que aconteceu na audiência. Você ajudou a Chinatsu com a Kumiko, não foi?
— Bem, por aí. E Kumiko realmente ganhou.
— Sinto um futuro sombrio se aproximando... — lamuriou a garota. — Será que poderemos viver o amanhã?
— Não seja dramática. Ainda nem sabemos como vai ser.
Nós olhamos juntos o momento em que Yonagi se aproximou da mesa de Hisashi Masayoshi, segurando seus livros contra o peito e olhando para os lados, receosa. Quando me viu, fez uma careta de desgosto.
Credo, parece até que eu carrego algum tipo de maldição para ser encarado assim. Bem, que seja.
Teru e Kuroi tentavam decidir quem iria tirar a foto com um escritor do qual gostavam. Quem diria que teriam algo em comum...
De longe, a professora Harashima fitava os livros nos estandes com as mãos no bolso. Quando me viu, fez um gesto pra que tirasse minha máscara.
Não vou tirar essa máscara!
— Eu espero que estes momentos tranquilos continuem, apesar da turbulência que esteja por vir... — continuou Himegi, preocupada.
— Sei que quando isso acontecer, você terá muito apoio... — assegurei a ela. Não quis admitir, mas também me incluí nisso.
— Espero que você não tenha esquecido da nossa promessa, viu... — advertiu Himegi.
— Ah, eu não esqueci...
Ela se referiu ao dia que iremos para o cinema juntos (o clube todo, não eu e ela). Ainda não havíamos marcado o dia, então poderá ser a qualquer momento... eu tenho que ativar meu Instinto Superior para estar pronto a qualquer instante.
— Acho bom! — bufou ela, esboçando um sorriso travesso. — Que esse mês passe bem rápido para que não sofrer com as provas!
— Você só não quer ficar de recuperação, então?
— Claro que não! Aliás, você está no segundo ano, deveria me ajudar!
— Ei...! Peça ajuda pra Yonagi! — exclamei, querendo excluir uma possível sessão de estudos apressados. Tudo o que mais queria naquele momento era poder relaxar, por mais que fosse o período de provas. E eu também acho que Yonagi seja uma melhor opção...
Afinal de contas, ela não é considerada uma das melhores à toa, certo?
— Eu... eu tentei... até agora não consegui a convencer...
Ah, faz sentido. Eu fui sua última opção de escolha, compreendo. Poxa, isso me deixou triste. Agora vou ter que lidar com aquela garota que foi abandonada.
— Bom... Em algum momento, então... eu também preciso me preparar... — disse, deixando-a com um largo sorriso de orelha a orelha.
— Parece que você realmente gosta de fazer promessas, hein?
— Acho que no seu caso, não tenho escolha, certo?
Himegi avistou os outros dois do primeiro ano e foi até eles, me deixando sozinho.
Pode ser que os próximos dias sejam árduos e tudo mude. Kumiko era uma pessoa muito imprevisível, visto que ainda tem intenções de me derrubar. Quem sabe o que vai aprontar agora que foi aceita no Conselho Estudantil?
Era capaz que os tempos de paz estivessem chegando ao seu fim, foi o que passou pela cabeça enquanto caminhava até a entrada do Centro. Ei, espera. É apenas início de junho, como esse tipo de situação me aparece antes das férias de verão? Ah, sinto como se esse mês fosse demorar para passar...
Vendo todos separados daquele jeito, sinto como se aquela distância fosse algo invisível que ninguém notou, mas resolvi não me importar, já que aplicarei uma resolução para tal sentimento.
As relações que tenho com Himegi e os outros calouros me deram uma experiência da qual nunca vivenciei antes. Ter interações sociais que poderia escolher depois quais que devo manter. Era algo realmente muito importante.
Pode haver o dia que me desvencilharei deles. Se isso ocorrer, como me sentirei? Talvez me importasse com alguns, outros não.
Mas naquele momento, tenho que aprender e entender como será essa sensação.
Peguei um pedaço de papel dobrado em meu bolso, um número de armário que Senjou Hana me deu. Fiz o primeiro passo de me aproximar de Kirisaki.
Logo após a audiência, escrevi um bilhete e o deixei em seu armário, dizendo:
“Sou Shiroyama Hideo, do segundo ano.
Sei que já nos conhecemos antes, mas senti que deveria me apresentar mais uma vez...
Kirisaki, gostaria de poder te conhecer melhor.
Queria poder te agradecer por toda a sua ajuda que me deu com Senjou Hana. Você teria algum tempo depois? Gostaria de saber a sua resposta.”
Dava ainda um pouco de vergonha ao lembrar das palavras escritas, mas já estava feito. Agora me resta esperar pela resposta e ver o que irá acontecer.
Pode-se dizer que após dois meses de entrar naquela escola, eu finalmente farei meus movimentos.
Com o senso de dever cumprido, decidi voltar para casa e — ao ver todos entretidos com o evento —, senti que era o momento perfeito para ficar um pouco sozinho até o próximo amanhã chegar.