Our Satellites Brasileira

Autor(a): Augusto Nunes


Volume 2

Capítulo 5: E a Decisão do Conselho Estudantil é... ④

No dia seguinte, o clube de literatura foi para a convenção de escritores, que seria no Centro de Convenções Makuhari. Localizado à oeste em Mihama, era um imenso local especializado em eventos de grande porte — como a Jump Festa! —, como shows e jogos olímpicos. Era um local bastante conhecido. Seu acesso era facilitado pelas ferrovias, então não era difícil chegar até lá.

Todos nós combinamos de nos encontrarmos no local, o que colaborou bastante de não ocorrer imprevistos. Levei cerca de 40min a partir da Estação Kemigawahama de ônibus. Desci na quadra à frente do Makuhari Seaside Park, adentrando-o e seguindo o caminho sugerido pelo GPS. Como ainda era cedo, a brisa refrescante do local inibia a exaustão de andar tanto.

O parque detinha de vários canteiros, então a todo momento a sombra das copas dominava o chão. Visualizei algumas partes da qual davam vista para o imenso lago visitado por vários tipos de pássaros. Era reconfortante estar ali.

— Talvez venha aqui depois do evento...

Após passar pelos canteiros de concreto, venci a distância do parque e cruzei o estacionamento de bicicletas da Zoff Mitsui Outlet — que se estendia pelo quarteirão inteiro —, atravessei uma galeria e avancei o percurso por uma plataforma, sobrepondo as ruas e acelerando minha caminhada em 40%. A maioria das lojas se encontrava fechada, então não tinha muitas pessoas caminhando nas ruas naquela hora da manhã.

— Você está atrasado, Shiro! — proferiu Himegi, ao ver me aproximando.

— Ah, é que eu vi um gato preto pelo caminho... então tive que pegar um atalho.

— Oh, você é supersticioso nesse nível? — indagou Kuroi. — Por acaso, você realmente acreditou naquela lenda urbana que eu disse outro dia?

— Não enche.

O centro estava lotado, vários estandes de escritores por todos os lados. Alguns eram famosos, outros totalmente desconhecidos. Você sabia diferenciá-los pela quantidade de pessoas que passavam pelas mesas. Força, desconhecidos!

De fato, tinha um forte desejo de me tornar um escritor de Light Novel para não precisar sair para trabalhar, claro que isso gerava muitas complicações, por ser algo impreciso. Pois, havia obras que faziam sucesso e outras não, poderia me acontecer as duas coisas. Por isso, muitos escritores trabalhavam em duas histórias simultâneas, até mais.

Fonte: um certo cara que começou uma história sobre ciência e magia.

Mas não tinha interesse em apenas Light Novel, pois lia muitos livros e trilogias. Querer saber mais de escritores que fazem sucesso por suas obras adaptadas em séries e filmes Live-Action era meu outro interesse.

Além do mais, se apenas lesse Light Novel, ficaria parecendo um puro viciado e que não conseguiria me adaptar a ler coisas mais cultas. Neste caso, saber ser versátil era uma grande vantagem.

Nisso, descobrir mais vantagens de lidar com esta situação era uma das razões para estar naquela escola. Minha posição nos rankings dos alunos era também envolvida.

Teru ficou totalmente entretido em um círculo de RPG, que constantemente gritava suas habilidades especiais, o quão rápido aquelas campanhas duravam? Que farsa de D&D!

Kuroi estava inerte com uma fileira de somente obras de suspense, provavelmente se decidindo quais livros tinham a sinopse mais assustadora para comprar. Oh, ela passou adiante as fileiras de obras do Junji Ito... era provável que já tivesse todos os volumes? Com certeza.

Himegi e Yonagi estavam juntas, vendo alguns livros sobre romance. Himegi bajulava Yonagi a ler algum deles, com ela recusando e querendo sair dali. Elas pararam à frente de um tabuleiro de gatos da Chica Umino e Yonagi foi dominada. Xeque-mate!

Eu fitei os estandes conforme caminhava, mas já tinha um objetivo em mente. Havia um escritor que queria muito conhecer e estava naquela convenção. Realmente valeu a pena pesquisar seu tour pelos eventos quando finalmente os revelaram!

Ele era Hisashi Masayoshi. Ele escreveu uma trilogia sobre pessoas vivendo no espaço. Era a mesma trilogia que eu e Yonagi conhecíamos. O homem magro de feição cansada — e enigmática — me encarou com um sorriso simpático. Pela sua biografia, tinha trinta e poucos anos. No entanto, a vivência e experiência pessoal o valiam muito mais tempo.

Ele era irmão do Junji Ito? As feições eram as mesmas...

Ao me aproximar, rapidamente peguei os meus livros para que os autografasse. Enquanto os assinava, notei que Yonagi olhava em minha direção, mais precisamente para Hisashi. Acho que ficou inconformada por ter sido o primeiro a falar com ele.

— Achei que os estandes estariam mais cheios... — comentei. — Cogitei até que não conseguiria vê-lo.

— Ah, não sou tão conhecido assim... — Ele expressou. — Minhas histórias são não ortodoxas demais..., mas fico contente que aqueles que virão me ver saibam a meu respeito.

— Você chegou a viver uma juventude solitária no seu ensino médio? — perguntei quando me devolveu os livros assinados. — Sua visão é muito parecida com a minha.

Hisashi sorriu para mim com uma expressão de: — parece que você entendeu, cara —.

— Eu apenas transformei meus pensamentos em uma história que todos possam ler. No final das contas, não foi algo totalmente solitário.

— Viver de livros é algo honrável para mim. Mas não sei se terei sucesso sendo tão transparente assim com as palavras como você — tirei um bloco de folhas da mochila e o entreguei. — Estou produzindo alguns contos inspirados em suas histórias.

O escritor pegou aquele bloco de folhas e rapidamente os folheou. Subitamente, um sorriso discreto e nostálgico surgiu em seu rosto. Naquele momento, parece que a hora congelou. Não soube dizer por quanto tempo fiquei em silêncio aguardando enquanto prosseguia a leitura.

Hisashi Masayoshi era um ídolo para mim. Assim como cantores ou atores, todo mundo possui um astro da qual se espelha. O meu estava à minha frente lendo um manuscrito escrito por mim.

Eu estava morto?

Hisashi pousou o bloco de folhas na mesa e me respondeu:

— Certamente, é uma boa história. Você pode deixá-la cada vez melhor se focar em seus objetivos com mais clareza, sem dúvidas.

— Ainda... não sei como fazer isso.

Ele me fitou, em silêncio.

— Posso imaginar seus receios. É algo complicado quando não pode compartilhar seus pensamentos, mas isso é algo que você deve fazer para que o resto do mundo não o julgue como alguém que não saiba como as coisas funcionam.

— Algo que devo fazer...

— Você deve achar uma maneira de revelar isso ao mundo, direta ou indiretamente. Quando alguém expõe suas ideias, o mundo a abraça, pois pensamentos sinceros mudam os outros. Verdades podem ser doloridas, mas também servem para curar feridas. Não importe onde seja, suas palavras irão alcançar o coração de alguém.

— Pensamentos sinceros...

— Você... — Hisashi olhou atentamente para mim. — ...se sente fora de tudo isso?

Aquela era uma frase de um de seus livros. A história se passava por um astronauta que sempre se sentiu solitário no mundo em que vivia e se refugiou no espaço, compreendendo melhor sobre si mesmo e vivendo mais consciente.

Quando o protagonista fazia aquela pergunta no livro, ele falava com o leitor. Hisashi fez o mesmo comigo.

E ele acertou. Eu estava fora de tudo.

Se fosse para dar um exemplo melhor, era como se estivesse em um satélite e toda a sociedade fosse um planeta, da qual me encontrava sob sua órbita sem conseguir sair.

— O sociólogo Durkheim tinha um fator que era: as pessoas que não se adequavam aos padrões da sociedade em que vive estão à margem do que estabelecem estes padrões.

Hisashi sorriu.

— Isso mesmo. Pessoas que têm mentes solitárias são consideradas aqueles que vivem fora da órbita. Cabe a cada um querer resolver como se deve viver sob estas condições.

— Se sou aquele que está fora da órbita, posso optar entre querer me aproximar ou não, certo?

— Obviamente. Se é a sua forma de viver, decidir isso vai acalmar seu coração. Assim como o protagonista do meu livro.

Seriam aquelas palavras que buscava enquanto fitava as estrelas, quase todas as noites? Aquela procura incessante pelo próprio entendimento parecia estar no fim...

Sem dúvidas nunca me esqueceria delas.

E poderia ser minha solução para a disputa contra Yonagi. Eu sabia o tipo de pessoa que me encaixava e o que significava me intitular como um estrategista.

Aquela era a minha resposta.

Por ter me transferido de escola, pelas relações que tive, pelas próprias intenções e desejos. Algo se formava e em breve teria que mostrar à tona.

Eu me curvei como agradecimento pela conversa e pelo autógrafo, assim que ele devolveu o bloco de folhas. Não sabia dizer, mas tudo pareceu mais claro para mim naquele momento.

Aquele evento poderia estar no seu início, mas para mim já alcancei o auge de sua experiência, assim como naquela escola de elite em que estava. Sentia que o momento de me mostrar se aproximava a passos largos.

Não, podia dizer que já era bem próximo. As peças moviam-se por vontade própria. Minhas experiências escolares se tornavam cada vez mais precisas.

Himegi se aproximou de mim ao me empurrar. Ei, não faça isso! Eu quase passei vergonha no meio de tanta gente!

— Ei...! O que foi?

— Soube o que aconteceu na audiência. Você ajudou a Chinatsu com a Kumiko, não foi?

— Bem, por aí. E ela realmente ganhou.

— Sinto um futuro sombrio se aproximando... — lamuriou a garota. — Será que poderemos viver o amanhã?

— Não seja dramática. Ainda nem sabemos como será.

Nós olhamos juntos o momento em que Yonagi se aproximou da mesa de Hisashi Masayoshi, segurando seus livros contra o peito e olhando para os lados, receosa. Quando me viu, fez uma careta de desgosto.

Credo, parece até que eu carregava algum tipo de maldição para ser encarado assim. Bem, que seja.

Teru e Kuroi tentavam decidir quem iria tirar a foto com um escritor do qual gostavam. Quem diria que teriam algo em comum...

De longe, a professora Harashima fitava os livros nos estandes com as mãos no bolso. Quando me viu, fez um gesto pra que tirasse minha máscara.

Não vou tirar essa máscara!

— Eu espero que estes momentos tranquilos continuem, apesar da turbulência que esteja por vir... — continuou Himegi, preocupada.

— Sei que quando isso acontecer, você terá muito apoio... — assegurei a ela. Não queria admitir, mas também me incluía.

— Espero que você não tenha esquecido da nossa promessa, viu... — advertiu Himegi.

— Ah, eu não esqueci...

Ela se referia ao dia que iremos para o cinema juntos (o clube todo, não eu e ela). Ainda não havíamos marcado o dia, então poderia ser a qualquer momento... eu teria que deixar ativado meu Instinto Superior para estar pronto a qualquer instante.

— Acho bom! — bufou ela, esboçando um sorriso travesso. — Que esse mês passe bem rápido para que não sofrer com as provas!

— Você só não quer ficar de recuperação, então?

— Claro que não! Aliás, você está no segundo ano, deveria me ajudar!

— Ei...! Peça isto para Yonagi! — exclamei, querendo excluir uma possível sessão de estudos apressados. Tudo o que mais queria naquele momento era poder relaxar, por mais que fosse o período de provas. E eu também achava que Yonagi seria uma melhor opção...

— Eu... eu tentei... até agora não consegui a convencer...

Ah, fazia sentido. Eu fui sua última opção de escolha, compreendo. Poxa, isso me deixou triste. Agora teria que lidar com aquela garota que foi abandonada.

— Bom... Em algum momento, então... eu também preciso me preparar... — disse, deixando-a com um largo sorriso de orelha a orelha.

— Parece que você realmente gosta de fazer promessas, hein?

— Acho que no seu caso, não tenho escolha, certo?

Himegi avistou os outros dois do primeiro ano e foi até eles, me deixando sozinho.

Pode ser que os próximos dias fossem árduos e tudo mude. Kumiko era uma pessoa muito imprevisível, visto que ainda tinha intenções de me derrubar. Quem iria saber o que poderia aprontar agora que estava no Conselho Estudantil?

Era capaz que os tempos de paz estivessem chegando ao seu fim, foi o que passou pela cabeça enquanto caminhava até o Centro Makuhari. Ei, espera. Era apenas início de junho, como esse tipo de situação me aparece antes das férias de verão? Ah, sinto como se esse mês fosse demorar para passar...

Vendo todos separados daquele jeito, sinto como se aquela distância fosse algo invisível que ninguém notou, mas resolvi não me importar, pois haveria uma resolução para isso.

As relações que tinha com Himegi e os outros do primeiro ano me deram uma experiência da qual nunca vivenciei antes. Ter interações sociais que poderia escolher depois quais que deveria manter. Era algo realmente muito importante.

Poderia haver o dia que me desvencilharia deles. Se isso ocorresse, como me sentiria? Talvez me importasse com alguns, outros não.

Mas naquele momento, tinha que aprender e entender como seria esse sentimento.

Peguei um pedaço de papel dobrado em meu bolso, que era um número de armário que Senjou Hana me deu. Fiz o primeiro passo de me aproximar de Kirisaki.

Logo após aquela audiência, escrevi um bilhete e o deixei em seu armário, dizendo:

 

“Sou Shiroyama Hideo, do segundo ano.

Sei que já nos conhecemos antes, mas senti que deveria me apresentar mais uma vez...

Kirisaki, gostaria de poder te conhecer melhor.

Queria poder te agradecer por toda a sua ajuda que me deu com Senjou Hana. Você teria algum tempo depois? Gostaria de saber a sua resposta.”

 

Dava ainda um pouco de vergonha ao lembrar daquelas palavras escritas, mas já estava feito. Agora me restava esperar pela resposta e ver o que iria acontecer.

Pode-se dizer que após dois meses de entrar naquela escola, eu finalmente iria me mover.

Com o senso de dever cumprido, decidi voltar para casa e — ao ver todos entretidos com o evento —, senti que era o momento perfeito para ficar um pouco sozinho até o próximo amanhã chegar.



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